TELEFONEMA
October 16, 2015 16:20Foi bizarro.
Mais uma vez o telefone fixo de casa disparou às dez da manhã, com aquele ruído agudo e insuportável. Eu já havia desligado o celular e o despertador, mas não tive outra opção a não ser me levantar pra encarar a luz do sol pela janela enorme da sala. O céu estava azul, sem nenhuma nuvem, e eu estourei logo que ouvi o nome e o bom dia da operadora do outro lado da linha. A funcionária me perguntava sobre o pagamento da próxima fatura e o porquê do atraso nas contas anteriores. No meio da fala dela, eu interrompi com um “Escuta”, já me programando pra lançar um sermão sobre o péssimo sistema de atendimento da operadora, mas não cheguei até esse ponto. Nem me preocupava tanto, na verdade, com esses detalhes. As contas de luz, internet, celular, condomínio, cartão de crédito e aluguel já haviam sido abandonados há uns três meses. E eu me resguardava na minha toca escura, animal acuado, sempre à espreita da possível fera do oficial de justiça e sua comunicação de despejo. Mas a realidade é que nada disso interessa.
Como ia dizendo, eu nem bem completei o meu falso sermão cotidiano contra a trabalhadora quando, numa inédita intervenção, a operadora estourou e começou a me xingar na linha. Grosso, cretino, mal-humorado, filho da puta, uma série infindável de palavrões me fizeram desligar o telefone e tentar me refugiar novamente debaixo das cobertas e regressar aos meus sintomas de um arrastado início de depressão. Sem chance: não consegui mais dormir.
Minha aula no curso técnico industrial seria apenas à noite, então eu teria a tarde inteira pra não fazer nada. Na condição de professor, meu único vínculo atual com este mundo, ao menos já não me preocupava em preparar as aulas e deixava tudo por conta do improviso. O telefone seguia tocando de maneira permanente. Na aula, ao mencionar com os alunos o tema das doenças do trabalho, equipamentos de segurança etc, de maneira desinteressada, de repente uma aluna relacionou isso com a história de uma amiga vizinha de bairro, trabalhadora do call center da mesma operadora que a minha, que havia tentado suicídio pela terceira vez naquela mesma manhã. Minha aluna reforçava o fato de que, mesmo com a pressão normal neste tipo de trabalho, a amiga precisava continuar trabalhando lá, fazendo milhares de ligações por dia, escutando todo o tipo de reação em nome das cobranças, anúncios, tentativa de vendas e todo o tipo de coisa que aparecesse. O mal trato de hoje, sofrido pela manhã, foi mais uma gota de água em mais um copo que já quase transbordava. E viriam outros.
Na hora eu gelei e não deixei a jovem estender muito o assunto. Parti pra outro tópico da aula e não abri mais o debate. Estremeci e minha pressão baixa e a falta de alimentação turvaram meus olhos. Não sei como, mas não desmaiei. Tal quem se agarra no primeiro toco de madeira pra se salvar, desandei a falar e vomitar conteúdo, uma enxurrada de conceitos, tentando levar até o final este jogo que já não me favorecia. Eu suava frio e voltei pra casa com a pior sensação do universo. Apanhei e pedi trégua pra mim mesmo no que parecia ser o meu último round. Fiquei remoendo a história da telefonista, buscando as várias razões possíveis pra que, entre milhares de telefones e de trabalhadoras de telemarketing, eu não tivesse conversado e tratado mal justamente a trabalhadora amiga da minha aluna. O telefone seguiu tocando na minha casa e, a cada som estridente e alto, eu ficava mais tenso, me encolhia ainda mais e o mundo ia parecendo um lugar cada vez mais hostil, fora e agora também dentro da minha própria casa. Eu não tinha coragem de atender aqueles chamados, ao mesmo tempo em que me remoía com a possibilidade de ter sido responsável pela tentativa de suicídio de uma trabalhadora.
Precisei de um banho quente e de muitos exercícios de respiração pra ter coragem de dar aula, duas noites depois da revelação da minha aluna. Eu sequer a encarei na hora de fazer a chamada e nas outras vezes quando ela falou em sala de aula, subitamente animada com o que seria um possível vínculo professor e aluno. Mas eu logo fugia do assunto. Eu tinha medo que voltasse a contar a história da amiga dela. Então, retomava a teoria sobre o impacto do assédio moral entre os trabalhadores da comunicação. Mas foi inevitável e, desta vez, ao final da aula, a aluna estava me esperando na hora do intervalo.
– Professor, ela precisa de orientação, não aguenta mais o lance do assédio moral. Eu comentei com ela sobre a tua aula e ela se animou. Ela já não sabia mais o que fazer.
Atônito, agora as coisas se invertiam, e da culpa de ter feito mal pra ela, agora a amiga da minha aluna dependia de mim. No desafogo, em meio a um corredor repleto de jovens gritando, cumprimentando, tirando sarro, eu acabei agendando o encontro pra tarde seguinte, mesmo tendo presente em mim a certeza de que não compareceria. Mas, novamente acuado, não soube dizer não.
Nem preciso contar a série de reações que experimentei naquela mesma noite, que não foram aplacadas sequer com uma dose de remédios pra dormir. O telefone não tocou nem uma única vez naquela noite, mas eu mesmo assim já estava decidido a colocar um fim naquilo tudo. O problema não estava nela, mas em mim. A hipótese do suicídio atravessou a minha cabeça das cinco da manhã até às seis e pouco mais ou menos, mas nem isso eu teria coragem.
Pra tentar matar a ansiedade, mandei uma mensagem no zap da minha aluna explicando que não tinha como a gente se encontrar na parte da tarde. Mas não melhorei nem um pouco.
No último fiapo de bravura que me restava, às nove e quarenta e cinco me posicionei em frente ao telefone, frente à mesma janela de sol do dia da ligação.
E fiquei esperando pra atender a ligação da operadora. E ficarei aqui mesmo até atendê-la novamente.
Por Pedro Carrano
Crônicas de Sexta
Terra Sem Males
GREVE DOS BANCÁRIOS É ENCORPADA POR MILITANTES ESTUDANTIS E DE OUTRAS CATEGORIAS DE TRABALHADORES
October 16, 2015 15:51A greve nacional dos bancários completou 11 dias nesta sexta-feira, 16 de outubro, e neste ano, conta com apoio mais efetivo da militância em frente às agências bancárias. Em Curitiba e região, além dos trabalhadores bancários, quem auxilia no convencimento de colegas e esclarecimentos à população sobre a greve são estudantes, dirigentes de outras categorias cutistas, como os vigilantes, e concursados aprovados na Caixa Econômica, que ainda não foram convocados pelo banco para trabalhar.
Os concursados estão integrados na luta dos bancários há algum tempo. Durante o ano de 2015 eles têm atuado junto ao Sindicato em frente às agências defendendo as bandeiras de luta dos empregados da Caixa, como a mobilização pela Caixa 100% Pública e, principalmente, na campanha “Mais empregados para a Caixa, mais Caixa para o Brasil”.
Os trabalhadores da Caixa aguardam a contratação de mais funcionários para que o banco feche 2015 com 103 mil empregados, conforme acordo assinado na campanha nacional dos bancários 2014. Atualmente, a Caixa conta com pouco mais de 95 mil trabalhadores. A redução no quadro (no início do ano eram 101 mil funcionários) afeta as condições de trabalho e de saúde dos bancários, com consequências no atendimento aos clientes.
Em contrapartida, os concursados, já aprovados, examinados e aguardando somente a convocação, deixaram seus empregos e mudaram suas vidas na expectativa de assumir o cargo para o qual foram aprovados no banco público. Enquanto esperam, se colocam em frente às agências colhendo assinaturas num abaixo assinado por mais contratações. E agora estão juntos na greve, dando apoio à paralisação.
MTST apoia greve em São Paulo
De acordo com informações divulgadas pela imprensa e confirmadas tanto por líderes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) quanto do Sindicato dos Bancários de São Paulo, por lá quem atua ativamente nos piquetes são os militantes por moradia. O apoio também é vinculado à Caixa: é a militância unida em prol da moradia, via Minha Casa Minha Vida, e pela Caixa 100% Pública.
Números da greve
Na base de Curitiba e região, com o avanço da greve pelos bairros mais distantes do centro da capital, cerca de 13,8 mil bancários de 301 agências e 11 centros administrativos estão de braços cruzados nesta sexta. No Paraná, já são 19.215 bancários e bancárias em greve, 734 agências paralisadas.
Por Paula Zarth Padilha, com informações dos sindicatos
Terra Sem Males
VERSÃO ONLINE DO JORNAL TERRA SEM MALES “DÍVIDA PÚBLICA” JÁ ESTÁ DISPONÍVEL
October 16, 2015 14:23A versão online do jornal impresso Terra Sem Males – Dívida Pública já está disponível para leitura. É a terceira edição impressa do TSM, publicada no mês de setembro de 2015. A distribuição foi iniciada em Curitiba no início de outubro.
Nesta edição, o jornal traz charges e infográficos para entendermos o que é a dívida pública, como o governo utiliza seu orçamento para pagar os juros da dívida e o que poderia ser investido no país em melhorias para a população se a dívida passasse por uma auditoria cidadã.
O jornal também traz uma entrevista exclusiva com Maria Lucia Fattorelli, coordenadora da organização Auditoria Cidadã da Dívida e que esteve em Curitiba nos dias 10 e 11 de setembro para a criação do Núcleo Paranaense da Dívida Pública.
O ensaio fotográfico desta edição traz fotos de Joka Madruga sobre onde esses recursos poderiam ser investidos para melhorar a situação da população brasileira. O pôster é uma foto sobre a reforma agrária, próximo tema do TSM impresso, que será viabilizado com captação coletiva. Acesse aqui e saiba como ajudar.
As charges são de Lattuf.
Confira a edição completa:
Todas as matérias publicadas no Terra Sem Males sobre o tema dívida pública estão disponíveis no link www.terrasemmales.com.br/divida.
Acesse aqui a íntegra da entrevista com Maria Lucia Fattorelli.
Por Paula Zarth Padilha
Terra Sem Males
A MÁ-FE MIDIÁTICA: RESPOSTA AO EDITORIAL DO JORNAL GAZETA DO POVO DE 15/10/2015
October 15, 2015 17:36Ingenuidade, falta de informação especializada ou má-fé? Apostaríamos todas nossas fichas na última opção. O editorial do jornal Gazeta do Povo desta quinta-feira, dia 15 de outubro de 2015, cometeu uma série de erros crassos ao tentar criticar o marco regulatório do setor petróleo no Brasil.
Já no título “Prejuízos da ideologia estatizante – Fiasco do leilão da ANP semana passada comprova a falência do modelo ideológico imposto pelo governo à exploração de petróleo”, contata-se a primeira cinca. O referido leilão da Agência Nacional do Petróleo (ANP) não foi feito nos moldes da lei da partilha, como sugere o jornal, mas sim no modelo de concessão, porque os blocos ofertados – 266, em 22 setores de 10 bacias sedimentares – não estão na área do pré-sal. A lei 12.351/2010 estabelece que o regime de partilha de produção deve ser aplicado para a exploração e a produção de petróleo, de gás natural e de outros hidrocarbonetos fluídos na área do pré-sal.
Ao discorrer sobre o regime de partilha, mais uma pataquada da Gazeta. O periódico afirma que o modelo “tem se mostrado um fracasso”. O curioso é que não explica com fatos tangíveis o tal insucesso, apenas remete à determinação da lei de que a Petrobrás seja operadora exclusiva nos campos do pré-sal, com a participação mínima de 30% na produção dos poços. Para deixar a situação ainda mais vexatória ao jornal do Grupo RPC, rede afiliada da TV Globo, o modelo de partilha sequer foi testado. A 12ª Rodada de Licitações da ANP foi o primeiro leilão que ofertou áreas de exploração do pré-sal – no caso o Campo de Libra – foi realizado em 2013. Porém, a produção naquela área está prevista para começar apenas em 2019.
O editorial segue sua sina de constrangimento ao debochar da “ideologia estatizante”. Apresenta um profundo desconhecimento (ou má-fé) da geopolítica do petróleo. 13 são as estatais entre as maiores empresas de petróleo e gás do mundo – as chamadas national oil companies (NOCs). Entre elas, estão a Saudi Aramco (Arábia Saudita), a NIOC (Irã), a KPC (Kuwait), a ADNOC (Abu Dhabi), a Gazprom (Rússia), a CNPC (China), a PDVSA (Venezuela), a Statoil (Noruega), a Petronas (Malásia), a NNPC (Nigéria), a Sonangol (Angola), a Pemex (México) e a Petrobras. Em uma estimativa conservadora, feita em 2008, antes do pré-sal ser bem conhecido, as NOCs já dominavam 73% das reservas provadas de petróleo do mundo e respondiam por 61% da produção de óleo.
Até 1970, as chamadas international oil companies (IOCs), as grandes multinacionais, as Sete Irmãs, dominavam inteiramente 85% das reservas mundiais de petróleo. Outros 14% das jazidas eram dominados por empresas privadas menores e as NOCs tinham acesso a apenas 1% das reservas. As estatais que existiam na época, como a YPF (Argentina) a Pemex (México), a Petrobras e a PDVSA, não tinham a menor influência real nesse mercado.
A partir do final da década de 60 e início dos anos 70 houve uma onda de nacionalização do petróleo por parte dos países detentores de grandes reservas. Os governos passaram a se apropriar de uma renda muito maior da cadeia do óleo, até mesmo porque descobriram que as IOCs escondiam deles os reais custos de produção, reduzindo artificialmente a remuneração devida aos países. Na lógica da Gazeta, o modelo a ser seguido deveria ser dos Estados Unidos, onde “a exploração de petróleo é feita por empresas privadas normalmente e sem ameaça à segurança nacional”. Só esqueceram um pequeno detalhe: o histórico dos Estados Unidos no setor é de ser um grande importador e preservar suas reservas para serem utilizadas no futuro. Afinal de contas, o petróleo é uma fonte de energia estratégica.
Ainda na linha dos erros, o editorial sustenta que a Petrobras desfruta de “um monopólio que a livra de ter de ser eficiente e competir”. Cabe lembrar que o monopólio estatal do petróleo foi quebrado durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, através da Lei Nº 9.478/1997. A partir de então, o capital privado e internacional tiveram a oportunidade de investir e atuar no setor petróleo brasileiro, mas não foi exatamente o que aconteceu. O mercado brasileiro era considerado de risco e apenas a Petrobrás seguiu investindo. O resultado é que a empresa detém 95% de participação no setor do país. Com o anúncio da descoberta do pré-sal, em 2008, os olhos das grandes petrolíferas começaram a se voltar para o Brasil.
A Gazeta do Povo também ataca o fortalecimento do mercado interno ao criticar as cláusulas contratuais que obrigam as empresas que atuam na área do pré-sal a adquirirem parte dos equipamentos de empresas brasileiras, o chamado conteúdo nacional. Ainda que o custo inicial seja um pouco mais elevado que o praticado no mercado internacional, o ganho social é relevante, com o desenvolvimento da indústria nacional e a geração de emprego e renda no Brasil.
É lamentável que um jornal de grande circulação exponha sua linha editorial com críticas infundadas e até mesmo inverídicas, o que leva desinformação aos seus leitores, patrimônio humano pelo qual a Gazeta deveria zelar.
Sindicato dos Petroleiros do Paraná e Santa Catarina
Leia o editorial da Gazeta do Povo aqui
UFPR ABRE INSCRIÇÕES PARA REFUGIADOS E MIGRANTES QUE ESTUDAM EM CURSO SUPERIOR
October 14, 2015 15:42A Universidade Federal do Paraná está recebendo inscrições, até 13 de novembro, de refugiados ou migrantes portadores de visto humanitário que estudam em instituições de ensino superior no exterior, para solicitar o acesso a cursos de graduação da UFPR no primeiro semestre de 2016.
As inscrições não têm custo para o candidato, que terá que apresentar documentação específica no ato da inscrição. Acesse as informações completas no site da UFPR.
Por Paula Zarth Padilha
Terra Sem Males
1ª FEIRA NACIONAL DA REFORMA AGRÁRIA
October 14, 2015 11:22De 22 a 25/10, mais de 500 agricultores de 23 estados mais o Distrito Federal estarão presentes na 1° Feira Nacional da Reforma Agrária no Parque da Água Branca, em São Paulo.
A população paulistana terá acesso a toneladas de alimentos a preços populares, produzidos nas áreas de assentamentos da Reforma Agrária de todas as regiões do país.
Além da feira, quem vier ao Parque encontrará também uma vasta programação, com shows, intervenções culturais, seminários e uma Praça de Alimentação com comidas típicas de cada região.
A Feira também é uma oportunidade de estreitar o diálogo entre a população do campo e da cidade, mostrando a importância da Reforma Agrária na produção de alimentos saudáveis para a mesa do povo brasileiro.
Confirme presença aqui.
Fonte: MST
JUSTIÇA PARA A PROFESSORA ESTELA PACHECO
October 13, 2015 23:54Neste 14 de outubro, o assassinato da professora Estela Pacheco completa 15 anos. O acusado de matá-la, Mauro Janene, ainda não foi levado a julgamento. Para marcar o dia e protestar contra a lentidão da Justiça, o Movimento Justiça para Estela realizará um manifesto na Praça do Fórum, às 12 horas, em Londrina-PR. O objetivo é mostrar que a sociedade não vai se calar diante do risco de prescrição de um crime bárbaro como este.
Estela foi morta, em 14 de outubro de 2000, dentro do apartamento onde morava Mauro Janene e depois atirada de uma altura de 36 metros. O Movimento foi criado a partir da indignação e revolta com a lentidão da Justiça e a série de manobras da defesa do acusado, que conseguiu adiar o júri popular por cinco vezes. Atualmente, o júri está suspenso devido à liminar no Habeas Corpus nº 125.610-PR, concedido pelo Ministro do STF, Marco Aurélio.
Desde então, o grupo passou a se reunir para pensar formas de mobilização para pressionar o Judiciário. Algumas ações já foram desenvolvidas a partir de audiências com o promotor Ronaldo Costa Braga. Também foi criado um site com informações sobre quem era Estela, a cronologia completa do crime, as manobras da defesa para adiar o julgamento de Mauro Janene e notícias do processo.
A cobertura da imprensa é muito importante para não deixar esquecido este crime e ajudar a fazer com que a Justiça seja efetiva para todos e não apenas para poderosos. O Movimento Justiça para Estela busca o apoio da sociedade. Infelizmente, sem pressão popular é grande o risco de prescrição do crime.
Queremos justiça para Estela!
Serviço:
Local: Praça do Fórum, em Londrina-PR.
Horário: às 12 horas, de 14/10/2015.
Fonte: Movimento Justiça para Estela
COMISSÃO DO SENADO MANTÉM SIMBOLO “T” PARA INDICAR PRODUTOS TRANSGÊNICOS
October 13, 2015 14:37De acordo com informações da Agência Senado, a Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT) rejeitou, nesta terça-feira, 13 de outubro, o Projeto de Lei da Câmara (PLC) 34/2015 que retira a obrigação de estampar o símbolo “T”, indicando a presença de ingrediente transgênico nos rótulos de produtos alimentares.
A atual regra para rotulagem de alimentos que contém organismos geneticamente modificados (OGM), como óleo de soja, fubá e derivados, entre outros, obriga o símbolo nas embalagens. O PLC 34/2015 prevê somente a informação escrita: “(nome do produto) transgênico” ou “contém (nome do ingrediente) transgênico”.
Para o relator, senador Randolfe Rodrigues, a retirada do símbolo “T” das embalagens fere o direito constitucional à informação, “um dos pilares da democracia e do Estado de Direito”.
O projeto de lei ainda será analisado pelas Comissões de Assuntos Sociais (CAS) e de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA).
Por Paula Zarth Padilha
Terra Sem Males
BANCÁRIOS MANTÉM MOBILIZAÇÃO FORTE APÓS FERIADO
October 13, 2015 14:01Nesta terça-feira, 13 de outubro, oitavo dia de paralisação nacional, os bancários da base do Sindicato de Curitiba e região ampliaram a mobilização. Agora são os trabalhadores de 255 agências bancárias mais 11 centros administrativos em greve.
Com a estimativa de adesão 12,9 mil bancários, 70% da categoria está paralisada. Em Curitiba e região trabalham 18.525 bancários (dados do Caged de agosto/2015), distribuídos em 539 agências e centros administrativos.
Além da região central de Curitiba, a mobilização avançou em mais cidades da região metropolitana: Campo Largo, Balsa Nova, Lapa, Rio Branco do Sul, Itaperuçu, Fazenda Rio Grande e parte de São José dos Pinhais. O Sindicato tem notícias que em agências do Banco do Brasil e da Caixa da base o atendimento só é feito via caixas eletrônicos.
Greve no Paraná
De acordo com apuração da Fetec-CUT-PR, 644 agências bancárias estão paralisadas nas bases de Apucarana, Arapoti, Campo Mourão, Cornélio Procópio, Curitiba, Guarapuava, Londrina, Paranavaí, Toledo e Umuarama, com aproximadamente 17,9 mil bancários de braços cruzados. Essas bases representam 80% da categoria no Estado. Em todo o Paraná a categoria é formada por 31.514 trabalhadores (Caged/ago2015), distribuídos por 1.592 agências (BC/set2015).
Por Paula Zarth Padilha
Bancários de Curitiba
O BRANCO E O NEGRO DOS OLHOS – PARTE I
October 13, 2015 12:34Um mosaico de contos curtos latino-americanos, narrativas recolhidas no México, América Central e Andes.
(Chiapas, México)
Instante
A rede de Hector sacoleja apenas com a visão de Ramiro chegando à vizinhança e com a lembrança daquele dia.
Naquele dia Ramiro pediu pra Hector uma ajuda com o trabalho na plantação. Não tinha dinheiro pra pagá-lo, mas a qualquer hora chamaria o amigo para um pozol, a bebida de milho de todas as manhãs.
Os dois levantaram cedo, bem antes que o meio-dia pesasse e desse o trabalho por terminado. Cortaram caminho pelo milharal, entre as trilhas imperfeitas da Selva Lacandona, em Chiapas.
Eles eram apenas sandália e calção curto. Nunca havia acontecido nada, mas sem grandes pretensões uma cobra mordeu a canela de Hector. Numa fração de segundos os dois se olharam, embora já soubessem. Ramiro sacou o facão da cintura. Hector ainda gritou que não, na verdade mais por desafogo, antes de ver Ramiro dar um golpe seco e separar a perna envenenada do resto do corpo do amigo.
Três silêncios
Eles vivem em casas iguais de madeira e telhado de zinco. Agora viajam juntos pendurados numa caminhonete de transporte de gente. São três, todos indígenas falantes de tzeltal, mais de 30 anos e mais de três filhos. Isso é o que à primeira vista é possível saber desses camponeses vizinhos de uma mesma região, porque ninguém diz ou pergunta algo no silêncio sepulcral do trajeto.
Talvez eles até saibam. Mas por enquanto o primeiro não pode contar que é base zapatista e participou do levante armado de 1994. O segundo não pode dizer que há anos recebeu apoio do governo pra criar um grupo paramilitar e expulsar zapatistas dessas terras. E o outro não pode dizer que é soldado do exército mexicano, ainda que o tio tenha morrido combatendo as forças do exército oficial ao lado dos zapatistas – um tio que ele admirava muito.
Cegueira
Ao norte de um continente submerso eles se triplicam. Na cidade de San Cristóbal de Las Casas carregam uma caixinha amarrada no peito, como um homem do realejo, só que seu objetivo é vender tesouras produzidas na China, canetas do Vietnã, camisas produzidas nas fábricas maquiladoras estadunidenses instaladas no Caribe.
Eles não sabem. Eles não imaginam de onde vem essa Babel de mercadorias que preenche a sua caixinha. Não sabem das 18 horas de trabalho nas maquiladoras, dos centavos de dólares pagos por dia no Vietnã. Da política e das transnacionais. Eles apenas atravessam esquinas sem roteiro. E, desse modo, eles nos dão a impressão de ter, nesse teatro moderno das cidades, o papel de carregar e colocar à venda nossa própria cegueira.
Pai
O pai sempre esteve em todos os lugares, na conversa com os amigos, nos sonhos e fora deles, nas madrugadas sem sono. No sol, na nuvem, nos morros.
Ele nasceu com isso: a lembrança do pai que morreu na guerra de 1994, do mau governo contra os povos. Conhecido, o pai. Os amigos sabiam e todos sabiam e era quase como se ele fosse o filho do pai que morreu combatendo. O pai o companheiro que não voltou. E assim viveu a mãe, e assim as irmãs e assim viveram eles todos lembrando. Eles lembravam vivendo.
Só que o pai não morreu na guerra. “Foi o Estado mexicano que o botou na cadeia e criou uma história”, diz a folha desgastada do jornal, que passa pipocando pelas mãos incrédulas de todos.
A mãe sempre levou nas costas os filhos e as lenhas. A irmã sempre andou devagar. Faz sol faz nuvem faz vento e faz raio na penugem das montanhas. Um pássaro quetzal se atravessa no caminho distraído. A folha do jornal está contando que há anos o pai foi muito torturado, mas que está vivo.
Cão
Em La Realidad, os cães caminham pela estrada equilibrando os dois pêndulos, vida e a morte, no abismo entre a pele e os ossos.
Os galos são mais saudáveis que os caninos, onde o calor reforça o nome da comunidade e só não incomoda as crianças.
O estrangeiro se impressionou com o estado lastimável de um dos cães e perguntou a uma senhora indígena:
– Vocês não veem que este cachorro está com fome?
– Sim, pois – respondeu a velha.
– Este cachorro está velho e doente.
– Verdade.
– Então por que não o matam de uma vez se sabem que vai morrer?
– Pois eu estou velha, doente e tenho fome. Você acha que deviam me matar?
Por Pedro Carrano
Crônicas de Sexta
Terra Sem Males