Radar da Luta | Crimes de Temer
November 4, 2017 10:52A ordem do governo golpista é acabar com conquistas do período dos governos do PT, entre 2003 e 2014
Um dos maiores crimes do golpe e das medidas de Temer pode ser resumido no roubo de um sentido de futuro e de projeto, principalmente para a juventude trabalhadora.
Quando participei da organização da campanha “O Petróleo tem que ser nosso”, ainda em 2009, pouco antes da definição do marco regulatório da partilha para as áreas de petróleo do pré-sal, eu e amigos recebíamos notícias semanais de novos concursos, oportunidades nas mais diferentes áreas, até da comunicação, a partir do ramo petrolífero.
Mesmo que não virássemos petroleiros ou mesmo isso se refletisse em algo na nossa área, havia a sensação de viver em um momento mais favorável para a totalidade dos trabalhadores. Agora, o cenário é diferente, depois da quebra de ramos da economia, caso do setor naval.
A questão atual do desemprego está longe de se limitar a uma questão de ordem individual. Se a classe trabalhadora está com acesso ao trabalho e se o índice é menor de desemprego, isso afeta positivamente a todos os trabalhadores e melhora a sua disposição para defesa e ampliação dos direitos.
Com a precarização do trabalho vinda da aprovação da reforma trabalhista, o próprio Dieese duvida de dados positivos em relação ao número de novos empregos no curto prazo, como tem sido divulgado recentemente.
Nesse sentido, nas ruas, percebe-se a olhos nus mais violência, aumento de moradores de rua, pessoas mais tensas, crises pessoais que não estão desvinculadas do contexto geral. No plano objetivo, o setor do funcionalismo público ultrapassa novamente o setor privado em termos de paralisações – afinal, ainda apresentam algum nível de estabilidade maior para resistir contra as medidas de Temer.
Com várias organizações populares apontam, o golpe buscou desmontar uma estrutura do Estado nacional, com velocidade que nenhum outro governo de outros períodos havia conseguido. Essas medidas de aplicação do programa neoliberal é o que dá inclusive unidade programática e de classe social ao bloco golpista.
Ataque a três conquistas dos trabalhadores
A orientação do atual governo é acabar com as principais conquistas dos trabalhadores no século vinte: entre as quais está a indústria de base, conformada pela Eletrobras, Petrobrás, Telebras e a mineradora Vale do Rio Doce – as duas últimas desmontadas e leiloadas no período FHC. E somam-se agora os Correios, o ramo de Fertilizantes, o próprio serviço público municipal, estadual e federal.
O famigerado Programa Nacional de Desestatização (PND) agora é incorporado ao Programa de Parcerias de Investimentos (PNI). O PND já não havia trazido resultados para o país, leiloando empresas estatais, bancos públicos, rodovias e hidrelétricas, nos anos 90 e 2000.
A ordem é também acabar com as conquistas expressas na Constituição, que foram resultado de pressão e organização social, caso do Sistema Único de Saúde (SUS) e do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), o que tem gerado lutas nacionais contra o desmonte e é preciso prestar apoio a elas.
A ordem do governo golpista é, por fim, acabar com conquistas do período dos governos do PT, entre 2003 e 2014, expressas em melhores condições para os trabalhadores, ainda que insuficientes, caso do aumento salarial, de conquistas em campanhas salariais, de programas para o trabalhador do campo e da cidade, caso do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).
A Frente Brasil Popular tem sido um espaço de organização que se consolidou desde 2015 na oposição ao golpe, apontando o vínculo entre a queda da presidenta Dilma Rousseff e a intenção de retomar o programa neoliberal no país.
A Frente está hoje inserida em várias cidades, não só nas capitais, buscando unidade entre diferentes movimentos sociais, partidos e sindicatos, pautando a unidade da esquerda e o Plano Popular de Emergência, com propostas contrárias ao que Temer tem feito.
Não é hora de pequenas críticas ou ressalvas de fora da mobilização. Sem participação, organização e presença nas ruas Temer vai continuar aplicando o programa neoliberal, que é justamente o que lhe sustenta!
A coluna Radar da Luta é publicada pelo jornalista Pedro Carrano originalmente nas edições semanais do jornal impresso Brasil de Fato Paraná
FOTOS: Vozes da violência em Kasai, no Congo
November 3, 2017 13:27Em depoimentos prestados a Médicos Sem Fronteiras (MSF), moradores de Kasai contam como tiveram que fugir de casa quando seus vilarejos foram atacados por milicianos ou viraram palco de confrontos entre milicianos e os militares, quando a violência eclodiu em agosto de 2016. Muitos perderam filhos, maridos e mulheres, e viveram meses na floresta com pouca comida e sem nenhum acesso à assistência médica. Confira abaixo os relatos e as fotos de Marta Soszynska.

Coordena o departamento de admissões no centro de saúde de Mukendi, em Tshikapa. É da cidade de Luebo, mas está há anos em Tshikapa e trabalha em Mukendi desde o início do ano.
“Alguns dos pais que chegam com os filhos ao centro ambulatorial de nutrição terapêutica são daqui, de Tshikapa, mas a maioria é de pessoas deslocadas pela violência que vêm de lugares diferentes, como Muyeyi ou Ngombe. Perderam familiares e entes queridos, e seus filhos estão desnutridos. Como não há acampamentos de deslocados internos, alguns vivem na igreja, outros vivem com parentes ou alugam quartos. Antes do conflito, também havia crianças desnutridas em Kasai, mas na época as pessoas tinham recursos para enfrentar a situação. Há pessoas que ficaram muito tempo escondidas na floresta. Elas sofreram muito. Há pessoas que vêm de muito longe para este programa. Às vezes os pais não nos contam que a criança já está doente, com diarreia, o que agrava a situação. Nosso trabalho é muito importante para a comunidade.”

Mashanga com Mulumba, seu neto de 11 meses. Eles visitaram o centro ambulatorial de nutrição terapêutica apoiado por MSF no centro de saúde de Mukendi, na cidade de Tshikapa.
“Somos do vilarejo de Senge, próximo à cidade de Muyeyi. O povoado era dedicado principalmente à mineração, e foi atacado em maio passado. Tudo aconteceu durante a noite. Os milicianos chegaram ao vilarejo e então entraram em nossa casa. Decapitaram o pai e a mãe desta criança. Não posso amamentá-lo, pois sou sua avó. Ele tinha poucos meses. Encontrei a criança viva depois do ataque. Ficamos três semanas escondidos em uma montanha. Foi muito difícil. Tivemos que atravessar muitos campos para chegar até aqui. Só tínhamos experimentado esse tipo de violência antes da independência. Agora estamos vivendo em uma igreja com outras dez pessoas que são de povoados como Kamako ou Kamonia. Não é fácil viver assim. Não tenho nada para fazer durante o dia agora. Estou sozinha com meu neto. Temos outros parentes dispersos por outros locais. Antes do conflito, a situação era tranquila: nos comunicávamos com pessoas que falavam outras línguas e havia casamentos entre pessoas de comunidades diferentes. Mas agora não é possível voltar à nossa cidade natal. Todas as casas foram destruídas.”

Está internado no centro de saúde de Diketemena, em Tshikapa. Sua mulher e filha estão com ele.
“Saímos do vilarejo de Senge depois de um ataque de milicianos e do exército. Nos refugiamos em uma floresta próxima e, depois de dois meses vivendo ali, a polícia disse que poderíamos voltar ao povoado, mas logo à noite alguns militares chegaram e dispararam contra nós. Chegamos até aqui passando pela floresta. Levamos três ou quatro dias. Passamos por todos os tipos de problemas: mosquitos, falta de alimento. Algumas crianças morreram. Eu era garimpeiro de diamantes. Em Senge, também havia agricultores e outras pessoas fazendo outros tipos de trabalho. Para minha família, neste momento não é possível voltar, por isso procuramos um quarto em Tshikapa. Conheço muitas pessoas – homens, mulheres e crianças – que foram assassinados. Não consigo contar quantos. Foram enterrados em fossas comuns, com 30 ou 40 pessoas juntas, em frente às suas próprias casas. Minha casa foi incendiada. Espero que possamos recuperar a paz. Nunca havia visto algo parecido em Kasai. Há muitas necessidades e, ainda, muitas pessoas escondidas. Estamos condenados à morte se profissionais humanitários não vierem até aqui. Antes do conflito, a convivência entre as pessoas era boa.”

É do povoado de Senge, próximo a Kamonia. Seu braço esquerdo tem um ferimento antigo causado por uma machete e deverá ser amputado. Ela está no centro de saúde de Ditekemena em Tshikapa e tem um filho de dois anos e nove meses de idade.
“Um grupo de milicianos nos atacou depois de entrar em meu povoado. Nos refugiamos com nossa família em casa. Quando saímos, nos atacaram com machetes. Uma criança pequena sofreu muitos cortes e a outra morreu. Depois, me escondi. Não posso retornar ao meu povoado porque todas as casas foram queimadas e não sei o que poderia fazer ali. Minha madrasta e minha tia estão vivas. Cinco filhos meus morreram. Meu marido levou um tiro. Quase todos do vilarejo morreram. Somente um grupo de 50 a 100 pessoas sobreviveu. Os milicianos queriam expulsar da região todos que não fossem como eles. Tudo o que desejo é que a paz volte e que possa cuidar de meu filho, o único que está vivo. Meu marido era garimpeiro de diamantes e eu vendia farinha. Quando me recuperar, vou tentar voltar ao comércio.”

Vive agora em Tshikapa, perto do centro de saúde de Kamalenga.
“Somos de um povoado próximo a Kamonia. Alguns trabalham como garimpeiros de diamantes ou ouro. Meu marido levou um tiro e fugiu depois de ser atacado. Não sei está vivo ou não. Tenho quatro filhos e três netos. Agora estamos vivendo em uma igreja em Tshikapa. Chegamos aqui há quatro meses. Desde então, sempre estivemos aqui, no mesmo lugar. Vi pessoas fugindo. Tenho familiares aqui, como o pastor da igreja. Temos medo de voltar, apesar de a violência ter diminuído. Nossas casas estão destruídas. Antes do início da violência, as relações eram boas e havia casamentos mistos. Podíamos cultivar nossas terras, mas agora não tenho nenhuma atividade para fazer aqui. O que posso fazer? Sempre estamos aqui, no mesmo lugar, apenas nos movimentando. Tenho o suficiente para conseguir algum alimento. Em Kasai tudo estava calmo. Os milicianos atacaram as forças do Estado e por isso houve represálias. Não sei qual é a solução para essa crise. Quanto a mim, tenho que encontrar alimento todos os dias e me assegurar que ainda tenho onde me abrigar.”

Vive em Masanga Anaï, povoado atacado por milicianos.
“Voltei ao vilarejo há cinco meses. Enquanto estava na floresta, enfrentei problemas porque meus filhos adoeceram muito. Minha casa foi destruída. Vivo temporariamente na escola e reconstruí a casa durante uma semana. Levarei até dois meses para completá-la, porque não temos material adequado para este trabalho. Perdi meu irmão e meus quatro sobrinhos devido à violência. Meu neto também morreu. Também perdi muitos bens. Minha principal preocupação, neste momento, é voltar a ter um lar. Tenho a esperança de que tudo mude para melhor.”

É a pessoa encarregada do centro de saúde da cidade de Mayi Munene, área rural da província de Kasai. Ele é de Kananga, mas está há dez anos em Mayi Munene.
“No mês de março, os milicianos chegaram e começaram a matar policiais e soldados. Os policiais morreram. Professores, pastores e enfermeiras foram as vítimas seguintes. Queimaram a casa do administrador, a escola. Os ataques mais graves ocorreram em abril. Saquearam todos os medicamentos do centro de saúde e logo incendiaram o resto do edifício. O centro cirúrgico, a corrente de frio para as vacinas, a farmácia, os consultórios e a recepção foram destruídos. Chorei quando cheguei ao edifício e vi tanta destruição. Não é certo fazer isso. Os milicianos ocuparam a cidade por aproximadamente dois meses. Decapitaram algumas pessoas e logo os militares os mataram.
Tínhamos 150 pacientes por mês aqui e este era o centro de saúde de referência para cerca de 128 mil pessoas da região. Costumávamos realizar cesarianas, tratamentos renais, laparotomias etc, mas de março a julho a atividade médica foi interrompida. Voltamos somente em julho, depois de os militares estarem aqui novamente. Neste momento, somos 12 funcionários, mas apenas seis estão trabalhando. O número de consultas é menor do que antes do conflito. Muitas pessoas ainda não retornaram. Ainda faltam medicamentos, materiais etc. Agora realizamos atividades de cura, mas a vacinação não é possível. Todas as sextas-feiras abrimos o centro ambulatorial de nutrição para os pacientes. Há cerca de 50 crianças no programa. As necessidades mais urgentes são de alimento e educação. Sementes e ferramentas agrícolas foram perdidas. A maioria da população local trabalhava no garimpo de diamantes. É muito difícil começar de novo: precisamos de mais ajuda humanitária. O mundo se esqueceu de Kasai.”

Atualmente ela vive no vilarejo de Mayi Munene com seus dois filhos: Dani e Ale, de cinco e dois anos de idade. Ela traz o filho menor ao centro de nutrição terapêutica apoiado por MSF.
“Somos de Kamako, próximo à fronteira com Angola. Meu marido, garimpeiro de diamantes, foi assassinado ali. Estava lavando roupas no rio. A violência começou e decidimos ficar na floresta. Em um momento me separei de meu marido. Cada um dos nós levava um de nossos filhos, mas ele levou um tiro. Fiquei um mês escondida na floresta perto de Kamako. Logo fui para o povoado de Kamonia, onde fiquei mais um mês, e então passei três meses vivendo em uma igreja de Tshikapa. Em Tshikapa me informaram que minha irmã mais velha estava me procurando. Por isso vim a Mayi Munene, porque é onde ela vive. O mais difícil, para mim, foram as ameaças dos milicianos do grupo Bana Mura. Durante minha viagem, vi muitas pessoas morrendo. Vimos cadáveres, provavelmente mais de 100. Vivi emoções fortes às vezes; em outras ocasiões, tremia de medo. Hoje é muito difícil sobreviver com filhos e sem alimento. Só recebemos assistência humanitária. Não acho que seja possível voltar a Kamako. Perdi tudo o que tinha ali.”
Fonte: Médicos Sem Fronteiras
Lançamento do livro ” Trincheiras da resistência camponesa”
November 3, 2017 10:24Recentemente publicado, o novo livro do religioso e dirigente social Frei Sérgio Antônio Görgen, “Trincheiras da resistência camponesa sob o pacto de poder do agronegócio”, será lançado em Porto Alegre no próximo dia 16, quarta-feira, as 18h30min. A atividade contará com a presença do autor e será realizada na sede do Sindibancários (General Câmara, 424), contando ainda com coquetel servido aos participantes, com produtos cultivados pela agricultura camponesa.
O autor é referencial na história dos movimentos sociais do campo, com especial aproximação ao Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). Frei Sergio Antônio Görgen, para além de uma rotina que se divide entre a espiritualidade da vida religiosa e o front de luta social, é uma voz respeitada e que, através de textos opinativos publicados nos mais diversos meios de comunicação ao longo dos anos, traz uma narrativa em primeira pessoa do tempo histórico que caracteriza a contemporaneidade no Brasil e América Latina. “Trincheiras da resistência camponesa sob o pacto de poder do agronegócio” foi apresentado pelo autor no lançamento coletivo de obras realizado durante a 13a Feira Latino Americana de Economia Solidária em Santa Maria (RS) e de lá pra cá vem sendo apresentado em atividades com a presença do autor em todo o estado.
“Este livro contempla um relato construído no calor dos acontecimentos em que narra e analisa a resistência e a persistência da agricultura camponesa e do campesinato, como sujeito histórico, na sociedade brasileira do século XXI”, analisa o autor na apresentação do livro. A publicação recupera textos dos últimos 16 anos em uma publicação que facilmente pode ser interpretada como testemunho crítico e histórico, onde as bandeiras de luta se mantém, mas os objetivos específicos foram se transformando.
Publicado pela editora do Instituto Cultural Padre Josino, o livro estará a disposição para compra no local, mas também pode ser adquirido através do site http://padrejosimo.com.br/loja ou solicitado pelos telefones (51) 32814820 ou (51) 32288107.
Brasileiros de origem palestina querem reconhecimento de estado independente e pedido de desculpas da Grã Bretanha
November 2, 2017 12:47Documento entregue na embaixada britânica marca os 100 anos do aval do governo daquele país para criar um território apenas para o povo judeu, o que causou a expulsão dos palestinos
A diretoria da Federação Árabe Palestina do Brasil (FEPAL) protocolou na tarde desta quarta-feira (1), na Embaixada da Grã Bretanha, em Brasília, uma carta oficial para lembrar os 100 anos da Declaração Balfour, documento do governo britânico que deu sinal verde para a criação do Estado de Israel.
Balfour gerou os problemas que culminaram com a expulsão em massa do povo palestino de suas terras. Em forma de carta, a comunidade palestina pede ao governo britânico o reconhecimento do Estado Palestino independente, a exemplo do que já fizeram outros países, como o Brasil, além da formalização de desculpas públicas por causa do êxodo e os conflitos que se seguiram, tendo os palestinos como as maiores vítimas.
A carta da FEPAL é assinada pelo presidente nacional da entidade, Elayyan Taher Aladin, e foi endereçada ao embaixador do Reino Unido da Grã Bretanha no Brasil, Alan Charlon. Na carta, a FEPAL afirma que a Declaração Balfour “marcou o início de um longo processo de desapropriação, de opressão e de morte e expulsão massiva da população palestina nativa, que durante séculos viveu em paz com os crentes de qualquer religião no território sob mandato britânico, habitantes estes que viviam sob seu controle e responsabilidade e com os quais vosso governo central à época se havia comprometido em dar independência, considerando que eram a população originária.”
Elayyan lembra que foi o povo palestino que acabou tendo que se sacrificar para dar ao povo judeu um país após a Segunda Guerra Mundial. Com isso, nações européias que promoveram perseguições a judeus e outras minorias durante o conflito não foram responsabilizadas. “A rigor, a Grã Bretanha dá a europeus de fé judaica uma terra que não é sua e que é habitada desde tempos imemoriais. E, mais, para que outro povo, o palestino, pague pelas perseguições que os judeus sofrem não entre os palestinos ou os árabes, mas entre os europeus.
“Diante dos crimes que são praticados na Palestina desde a Declaração Balfour, entre eles a monumental limpeza étnica levada a cabo por Israel, podemos tranquilamente equiparar a Inglaterra à Alemanha ou à Itália, ou a outras nações que cometem crimes de guerra, crimes de lesa humanidade. E, como sabemos, muitos destes países pagam até hoje compensações às suas vítimas, ou pagaram vultosas somas em dinheiro aos países quer sofreram com suas ações. Assim, o mínimo que se deve exigir da Inglaterra é o mesmo em relação aos palestinos. Se, por exemplo, a Alemanha paga indenizações aos judeus pelos crimes que lhe são imputados na 2ª Guerra mundial, é mais do que lógico que tanto Inglaterra quanto Israel devem compensar aos palestinos por todos os crimes que contra eles cometeram”, completa o diretor de Relações Institucionais da Fepal, Ualid Rabah.
Limpeza étnica e traição
Rafael Araya Masry, presidente da Confederação Palestina da América Latina e do Caribe, afirma que a Declaração Balfour representa “o começo de todo um processo de limpeza étnica, possessão das terras e expulsão da população palestina que dura até os dias de hoje”. O líder palestino lembra que o império britânico decidiu sem qualquer critério autorizar “um povo de muito longe a se apropriar de uma terra que não era deles”.
“Lá havia um povo originário que já tinha o direito de permanecer em suas terras”, afirma Rafael. O ativista palestino lembra ainda que, à época da Primeira Guerra Mundial, a Grã Bretanha pediu ajuda para os povos árabes e palestinos para derrotar os otomanos. Em troca, dariam aval para criar de uma nação palestina, entre outras que surgiram após a saída do império britânico do Oriente Médio. Mas na prática, esse acordo não foi cumprido e os povos que ajudaram a derrotar os otomanos na região sentiram-se traídos, afirma Rafael.
Exclusão
A Declaração Balfour é o nome dado à carta assinada pelo então ministro britânico de Negócios Estrangeiros, Arthur James Balfour. Datado de 2 de novembro de 1917, o documento foi apresentado ao banqueiro Lord Lionel Walter de Rotschild, líder da comunidade judaica nas ilhas britânicas, para oficializar o apoio do governo britânico à criação de um território judaico na Palestina.
Essa declaração não levava em consideração os interesses do povo palestino, que são os habitantes nativos daquele local. Balfour tinha o perfil de um líder político conservador. Seu mandato como representante do governo britânico, com a Inglaterra à frente do comando, sofria grande influência de representantes sionistas, partidários de um projeto que via na Palestina o local de restabelecimento de uma nação própria, apenas para o povo judeu.
Na época da oficialização da carta de Balfour, a Palestina estava passando do controle do Império Otomano (derrotado e extinto com o fim da Primeira Guerra Mundial) para o Império Britânico. O território palestino tem cerca de 28 mil quilômetros quadrados. Na região, ao final da Primeira Grande Guerra, em 1918, havia uma população de aproximadamente 700 mil pessoas, sendo cerca de 90% compostas por palestinos cristãos e muçulmanos e 10% de judeus, porém palestinos também, apenas que professantes do judaísmo. Com a declaração de Balfour, oficializou-se o início de uma imigração em massa de estrangeiros de fé judaica, basicamente europeus, para o território palestino, o que culminaria com a autoproclamação do Estado de Israel quatro décadas depois. A fundação foi marcada por violenta repressão contra famílias palestinas para que deixassem suas terras.
Sem direitos políticos e o apartheid
A questão central da Declaração Balfour é que o documento não se refere à Palestina como um território onde estavam presentes populações de culturas e origens diversas. O documento registra que a Palestina é um território nacional para o povo judeu, implicando que só essa parcela populacional tivesse acesso a direitos políticos. As outras populações já presentes na região antes da chegada em massa dos judeus europeus são classificadas como meramente “comunidades não-judaicas”, cabendo a elas apenas direitos civis e religiosos, ou seja, sem representatividade e poder para participar das decisões governamentais.
“A tragédia palestina que se perpetua é indissociável da Declaração Balfour, encampada pelo mandato britânico, que por sua vez viabilizou o projeto sionista e a limpeza étnica da Palestina, com o Estado de Israel mantendo a mesma perspectiva racista e colonialista”, analisa o historiador paranaense e professor da UEPG (universidade Estadual de Ponta Grossa) Fabio Bacila.
“Al-nakba”, a catástrofe palestina
A Declaração Balfour desrespeita o direito inalienável de um povo a promover sua autodeterminação. Como resultado prático do apoio do governo britânico, milhares de palestinos foram mortos ou expulsos das terras de seus ancestrais.
Em 1948, com o surgimento do Estado de Israel, cerca de 800 mil palestinos eram forçados a deixar suas terras históricas, época que ficou conhecida como “al-nakba”, a catástrofe do povo palestino, uma questão pendente a ser solucionada ainda nos dias de hoje. Muitas famílias tiveram de sair à força para campos de refugiados criados às pressas na própria palestina e nos países da região, ou para outros continentes, como as Américas (do Sul e Central), que possuem grandes colônias de árabes e palestinos que perderam suas terras na época da expulsão para a formação do Estado Judeu.
“O apartheid palestino é mantido pela etnocracia israelense, por sua vez viabilizada pelo Mandato Britânico e Declaração Balfour. Sem estes, não haveria apartheid hoje”, afirma o historiador Fábio Bacila.
Por Gibran Mendes, texto e foto
Justiça obriga os Correios a manter vigilantes nas agências do Paraná com Banco Postal
November 2, 2017 12:36Multa por descumprimento é de R$ 30 mil por agência
A Justiça do Trabalho obrigou os Correios a manter seguranças nas 412 agências do Paraná onde funcionam o serviço de Banco Postal. Dois memorandos da empresa obrigavam os gestores a romper com os contratos de postos de vigilantes nas agências. O Sindicato dos Trabalhadores dos Correios (Sintcom-PR) ingressou com uma ação e conseguiu a liminar para a manutenção dos seguranças. A multa pelo descumprimento é de R$ 30 mil por agência. Apesar de a empresa poder recorrer, ela terá que cumprir a decisão assim que for notificada. A sentença foi publicada na segunda, 30 de outubro, pela juíza Luciene Cristina Bascheira Sakuma, do TRT de Curitiba.
Outra sentença foi publicada terça-feira (31), obrigando os Correios a indenizar em R$ 10 mil cada trabalhador de Curitiba, Região Metropolitana e Litoral, que estavam em agências assaltadas nos últimos cinco anos. Essa ação também foi movida pelo Sintcom-PR. Mais 11 ações dessa natureza já foram ajuizadas pelo sindicato em outras regiões do Estado e aguardam decisão.
O secretário geral do sindicato que representa os 5,8 mil trabalhadores dos Correios do Paraná, Marcos Rogério Inocêncio, afirma que essas decisões são vitórias importantes tanto para os funcionários quanto para a população.
“Em muitos municípios, as agências com os bancos postais são as únicas a ofertar serviços bancários e pagamento de benefícios. Os Correios não existem somente para dar lucro ao Tesouro Nacional. A empresa tem um papel social fundamental aos brasileiros, principalmente nos locais mais distantes e de difícil acesso. No Paraná, mais da metade (204) dos 399 municípios têm até 20 mil moradores e dependem dos Correios para ter acesso à rede bancária e recebimento de correspondências e produtos, onde a iniciativa privada não realiza entregas”, informou Inocêncio.
Em setembro, os Correios confirmaram o encerramento das atividades do Banco Postal, em todas as 1.836 unidades em que o serviço é oferecido. Deixariam de funcionar a partir do dia 11 de outubro. No Paraná, 412 agências seriam atingidas, sendo 12 em Curitiba. Em meio a protestos da população pela descontinuidade do serviço, a estatal voltou atrás e decidiu manter o Banco Postal até o fim de janeiro de 2018.
Não falta dinheiro
A alegação dos Correios é que o serviço estaria gerando prejuízos e que não é possível bancar os custos com segurança nas agências. Essa afirmação é repudiada pelo Sintcom-PR. Estudos feitos pelo DIEESE, comprovam que os Correios geram uma receita de mais de R$ 19 bilhões/ano. Nos últimos três anos, a estatal repassou antecipadamente ao Governo Federal mais de R$ 6 bilhões de reais a título de antecipação de dividendos, corroendo os cofres da empresa, gerando um prejuízo artificial e irresponsável.
“É inaceitável que a direção dos Correios continue a ignorar o crescente número de assaltos a mão armada nas agências, sujeitando as pessoas a todo o tipo de violência física e psicológica. A empresa deveria estar cumprindo essas medidas espontaneamente, sem que tivéssemos que apelar ao Poder Judiciário. A preservação da vida deveria ser o princípio de qualquer atividade. Infelizmente, não é esse o entendimento dessa gestão temerária”, afirmou Inocêncio.
O número de assaltos em agências dos Correios nos últimos dois anos foi solicitado pelo Sintcom-PR à Polícia Federal, já que a empresa se recusa a divulgar os dados. Sabe-se que em 2016, houve aumento de 600% dessas ocorrências, em relação a 2015, com três registros diários, em média.
Por Cinthia Alves
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Correios deve indenizar em R$ 10 mil cada trabalhador vítima de assaltos nas agências da Grande Curitiba e Litoral
October 31, 2017 16:13A Justiça do Trabalho condenou os Correios a indenizar em R$ 10 mil cada trabalhador de Curitiba e Região Metropolitana cujas agências foram assaltadas nos últimos cinco anos. A ação foi movida pelo Sindicato dos Trabalhadores dos Correios do Paraná. Apesar de representantes dos Correios não terem comparecido à audiência, ainda cabe recurso.
Na sentença, a juíza Christiane Bimbatti Amorim, do Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região, afirma que “ainda que a adoção de portas giratórias e vigilantes não sejam mecanismos suficientes a impedir investida de criminosos… é fato que são obstáculos que dificultam sua atuação. E que o fato de não ter sido adotado medidas suficientes a fim de evitar roubos e, via de consequência, abalo mental dos que lá trabalham já enseja em culpa”.
A falta de reforço no sistema de segurança nas agências dos Correios onde funcionam o Banco Postal, tem sido alvo de inúmeras denúncias por parte do Sindicato. Em muitas cidades, as agências dos Correios são as únicas a ofertar serviços bancários aos moradores, incluindo o pagamento de benefícios como INSS e FGTS.
“Temos agências que foram assaltadas seis vezes um uma única semana. Sempre com criminosos armados. É crescente o número de funcionários desses locais sofrerem com síndrome do pânico, depressão, aumento de pressão arterial e riscos cardíacos e de AVC”, comentou Marcos Rogério Inocêncio, secretário geral do Sintcom-PR.
Diante da recusa da direção dos Correios em informar o número de boletins de ocorrência de assaltos ocorridos no Paraná, o Sintcom solicitou os dados à Polícia Federal e está aguardando pelo levantamento. Somente em 2016, o número de assaltos aos Bancos Postais no Estado, saltou 600% em relação a 2015, com três registros diários, em média. “Sabemos que 2017 foi muito pior”, adiantou-se Inocêncio.
O Sintcom-PR ingressou com mais 11 ações dessa natureza, uma para cada subsede e sua região, e também em lugares caóticos em relação a assaltos.
As cidades abrangidas pela indenização são: Adrianópolis, Cerro Azul, Doutor Ulysses, Lapa, Porto Amazonas, Almirante Tamandaré, Araucária, Balsa Nova, Bocaiúva do Sul, Campina Grande do Sul, Campo Largo, Campo Magro, Colombo, Contenda, Curitiba, Fazenda Rio Grande, Itaperuçu, Mandirituba, Pinhais, Piraquara, Quatro Barras, Rio Branco do Sul, São José dos Pinhais, Tunas do Paraná, Antonina, Guaraqueçaba, Guaratuba, Matinhos, Morretes, Paranaguá, Pontal do Paraná, Agudos do Sul, Campo do Tenente, Piên, Quitandinha, Rio Negro, Tijucas do Sul.
Por Cinthia Alves
Bancários do Paraná lutam contra discriminação
October 31, 2017 15:47Lançamento da campanha “Não precisa ser para sentir” pauta debate da diversidade em momento crucial.
“Não precisa ser mulher, negro, LGBT ou PCD para sentir a dor do preconceito e da discriminação que essas pessoas sofrem. Todos têm o direito à felicidade. E a luta por uma sociedade mais justa, igualitária e feliz é de todos nós.” Foi com essas palavras que a secretária da Mulher da Contraf-CUT, Elaine Cutis, fez o lançamento da Campanha Nacional Contra a Discriminação em Curitiba, nesta quinta-feira, 26 de outubro.
Com o slogan “Não precisa ser para sentir”, a campanha foi idealizada pelo Coletivo de Gênero, Raça, Orientação Sexual e Trabalhadores com Deficiência (CGROS) e pretende valorizar a condição humana de cada indivíduo. “Nosso objetivo é retirar o debate do gueto e expô-lo a toda sociedade. Desejamos convencer os não-convencidos da importância dos direitos humanos. Mais do que isso, queremos que cada um se aproprie das ideias desta campanha e a torne um símbolo da luta contra a discriminação”, acrescentou Elaine.
O lançamento foi realizado pela Federação dos Trabalhadores em Empresas de Crédito do Paraná (Fetec-CUT-PR) e reuniu dirigentes sindicais do estado, no Espaço Cultural e Esportivo do Sindicato dos Bancários e Financiários de Curitiba e região. Para o bancário e secretário-geral da CUT-PR, Márcio Kieller, a campanha surge em um momento muito oportuno: “Em uma conjuntura de retrocessos, esvaziamento das políticas sociais e avanços da criminalização das minorias, é fundamental que este debate seja pautado”, disse.
“Nós sabemos que nos momentos de crise, as questões das mulheres, negros, LGBTs e PCDs são as primeiras a serem deixadas de lado. E é exatamente por isso que o tema se torna estratégico”, relembrou Cristiane Zacarias, secretária de Cultura do Sindicato. “Nossa missão é levar o debate para além do ambiente sindical”, acrescentou. “Trata-se de debater o modelo de sociedade que queremos: você quer uma sociedade excludente, intolerante e com menos direitos?”, questionou Mauro Salles Machado, secretário de Políticas Sociais da Contraf-CUT. “Nos direitos humanos, o principal direito é ter direitos!”, finalizou.
O presidente da Fetec-CUT-PR, Júnior César Dias, destacou que, com o esvaziamento dos programas sociais que vem acontecendo, as minorias são os principais penalizados. “Nós temos uma parcela de responsabilidade na construção da resistência à retirada de direitos”, afirmou. “O mais importante desta campanha é que nós saímos do discurso para encampar mais uma luta, com políticas afirmativas. Ao regatar valores humanos, nos colocamos no lugar do outro e percebemos que se trata de uma luta de todos”, concluiu Elias Jordão, presidente do Sindicato.
“Muito mais que apenas para os bancários, esta campanha se estende para toda a sociedade. Precisamos mudar a forma como se enxerga o outro. Precisamos sentir mais; se importar mais; resistir, lutar, informar e reagir”, resumiu Daniele Bittencourt Azevedo Perich, secretária de Políticas Sociais da Fetec-CUT-PR.
Por sensibilidade e empatia
A advogada e representante da Rede de Mulheres Negras do Paraná, Cibelle Santos de Oliveira, iniciou sua fala destacando que é preciso admitir que existe racismo no Brasil e que todos os brasileiros são responsáveis por combate-lo. Segundo ela, 90% da população afirma conhecer alguém racista, porém, 96% diz não ser racista. Enquanto mulher negra, Cibelle relatou várias situações de discriminação que sofre cotidianamente, como ser vigiada quando entra em mercados e lojas ou ser desqualificada por usar o turbante, adereço símbolo de resistência e empoderamento.
“Mais do que apoio, nós precisamos lutar juntos contra o racismo e, principalmente, contra o racismo cordial – tipo de discriminação que se esconde em brincadeiras, ditos populares e piadas. Espero que esta campanha seja capaz nos sensibilizar e de nos fazer compreender que não existe inferioridade entre os seres humanos, independente de qualquer condição”, resumiu.
O também advogado Lucas Bulgarelli, especialista nas causas LGBT e membro da Crivelli Advogados Associados, destacou a importância de discutir diversidade no atual momento político, permeado por reformas e retrocessos. “Pode parecer que não se trata de um assunto prioritário, mas é preciso entender o que ele significa na conjuntura atual. A polarização política dos dias de hoje – nome moderno para a luta de classes – revela um projeto muito maior de retirada de direitos”, afirmou. “Discutir diversidade é compreender que estamos lutando contra um determinado grupo que há muito tenta nos tirar a democracia”, completou.
Por meio das peças da campanha, Bulgarelli reafirmou a necessidade de respeitar toda e qualquer diferença, colocando-se no lugar do outro. “Não é possível que em 2017 as pessoas ainda façam ou riam de piadas racistas, misóginas ou homofóbicas. Não se trata de ser politicamente correto, mas de respeito e empatia”, finalizou.
Também participaram do lançamento da campanha o dirigente sindical Neil Emídio Jr., membro do Coletivo Nacional de Gênero, Raça, Orientação Sexual e PCD, Paulo Tharcisio Motta Vieira, dirigente sindical e diretor da Federação Umbandista do Paraná, Giuliana Alboneti, advogada especialista em Direito do Trabalho, feminista e representante da Rede de Mulheres Negras, e Giulia Eloíse Araújo, diretora da União Paranaense dos Estudantes.
Por Renata Ortega/Bancários de Curitiba e Região
Fotos: Joka Madruga/FETEC-CUT-PR
Enciclopédia promete revelar papel das instituições no Golpe de 2016
October 31, 2017 14:58Livro, que será lançado em novembro, trará verbetes assinados por intelectuais das mais diversas áreas
Qual o papel que a história reservará para cada um dos atores do Golpe de 2016? Como eles agiram? De que forma a institucionalidade foi rompida? Ações internacionais, a participação da classe média, o estado de exceção, a função das delações e das igrejas, a participação de veículos de comunicação, Polícia Federal e o poder judiciário. Todos estes personagens representam ao menos um verbete no livro “A Enciclopédia do Golpe” que será lançado em novembro.
A obra reúne 22 artigos, transformados em verbetes, assinados por intelectuais e personalidades das mais diversas áreas. O historiador Luiz Alberto Moniz Bandeira, o sociólogo Jessé Souza, o jornalista Luís Nassif, o ex-ministro da Justiça, Eugênio Aragão, a desembargadora, Magda Biavaschi e o economista Luiz Gonzaga Belluzzo são alguns dos personagens que ajudam a dar nome aos bois.
“Não pode ser negado, aos brasileiros, o Direito à Memória. É preciso que saibam e tenham o registro histórico de quem foram os golpistas e o papel de cada um deles no golpe iniciado em 2016 por intermédio do afastamento ilegal do afastamento da Presidenta da República eleita. Afastamento que se deu pelo pior Parlamento sob o beneplácito do pior momento do Judiciário da história do Brasil”, explica Wilson Ramos Filho, um dos organizadores da enciclopédia e que assina o posfácio da obra.
“As futuras gerações têm o direito de saber o papel que, em cada instituição, as pessoas que nelas mais se destacavam tiveram para a desconstrução da democracia no Brasil e, como consequência direta, dos direitos sociais”, completa. Segundo Xixo, como é mais conhecido o professor, ainda não é certo quanto tempo o golpe ainda durará. Contudo, é correto afirmar, que este período um dia chegará ao fim.
“Já escutamos, mesmo que discretamente, menções ao arrependimento do apoio ao golpe. Pequenos empresários que vêm suas vendas caírem em virtude da redução do poder de compra, médicos assustados com o desmantelamento do SUS, advogados preocupados com o futuro que está tomando o direito da forma como o conhecíamos. São vários exemplos. Contudo, ainda não é certo quanto tempo será necessário para reorganizar o Brasil. Mas é certo que isso mais cedo ou mais tarde acontecerá”, projeta o advogado.
Neste momento é que a Enciclopédia do Golpe terá um papel ainda mais importante a desempenhar. “Seja como for, os algozes de hoje, os golpistas nos três Poderes, no empresariado, nos movimentos sociais de Direita, nas Instituições, nas igrejas, na classe média, nos órgãos de comunicação, estarão sujeitos à análise histórica de suas condutas”, garante.
Segundo volume – Antes mesmo de lançar o livro, Ramos garante que novos volumes da enciclopédia serão lançados. Contudo, as próximas edições, deverão tratar de forma temática os principais atores do golpe. Edições específicas com o papel de cada serão publicadas ao longo de 2018.
Serão obras específicas, também por verbetes, dedicados aos meios de comunicação, ao poder judiciário, aos intelectuais de direita e personagens que de uma forma ou outra foram relevantes para a destruição do Estado Social, mesmo que precário, que existia antes do Golpe de 2016.
“Não se trata de apenas um ‘para que nunca se esqueça e para que nunca mais aconteça’, mas sim, de uma essencial memorização. Um olhar histórico nos mostra que avanços e recuos, idas e vindas, são frequentes quando colocamos os fatos em perspectivas. Não há conquista irreversível e nem refluxo que dure para sempre. Esse é o papel que desejamos cumprir com o livro”, finaliza Ramos Filho.
Por Gibran Mendes
O holocausto brasileiro e o Garotos Podres
October 27, 2017 17:11LP é a coluna de crônicas musicais do jornalista Regis Luís Cardoso no Terra Sem Males
Esses dias fui ao show do Garotos Podres, no Jokers, em Curitiba. Uma das grandes bandas do punk rock nacional. Eu já tinha visto eles anos antes, mas esse show foi diferente. Talvez pelo atual momento… confuso… louco!
Como meu amigo JC, que foi surpreendido pela certeza de ter perdido seu cartão do bar. Aí ele disse: “putz, cara. Perdi minha comanda”.
O engraçado é que ele estava ao meu lado durante o show. Ele ficava se mexendo de um jeito meio estranho e eu achava que aquilo era algum tipo de dança…
Pelo jeito não era…
Era somente ele procurando, sem parar, seu cartão nos seus quatro ou cinco bolsos (no máximo) até ter certeza que perdera.
E é nesse momento que somos profissionais em dar conselhos. “Vai lá no bar e avisa que perdeu o cartão”, disse. Meu amigo estava cabreiro, mas foi. Poucos minutos depois ele volta com aquele sorriso no rosto e um copo cheio de chope. “Achei”, disse JC, sarcástico.
Enquanto isso o show continuou forte. Destaque para o momento em que Mao falou: “você é louco”. E apontou para o seu guitarrista parceiro ‘véio de guerra’, que respondeu: “não, louco é você”. Aí eles ficaram nesse ‘pingue-pongue’ durante um tempo.
Detalhe: o Mao, nos últimos anos, veste um “uniforme” que é uma mistura de cientista norte coreano com algum tipo de espião nada secreto da KGB.
Outro detalhe: essa foi a introdução da música ‘Hospício’, que está presente no álbum “Contra os Coxinhas Renegados Inimigos do Povo”. Esse disco era pra ser do Garotos Podres, mas devido a treta entre os integrantes, foi lançado clandestinamente com o nome ‘O Satânico Dr. Mao e os Espiões Secretos’.
Mais um detalhe: Foi nesse momento que a Ana, minha companheira, lembrou-me do livro da jornalista Daniela Arbex (O Holocausto Brasileiro).
E é aqui o ponto chave: esse show remeteu ao livro!
…
‘O Holocausto Brasileiro’ retrata uma época em que ter opinião contrária era sinônimo de loucura. Liberdade era motivo de prisão. Política era autoritarismo. Respeito era medo. Uma época em que a sociedade permitiu, durante décadas, que seres humanos fossem jogados num manicômio imundo, lá em Minas Gerais. Um lugar onde pessoas tinham que tomar o próprio mijo, comer as próprias fezes.
Foram décadas de uma prática que se resumiu ao cárcere, choque e anulação da personalidade. Seres humanos definharam no esquecimento, 60 mil morreram! *Leia aqui entrevista feita pela Vice com Daniela Arbex, autora do livro. Já aqui você pode assistir ao documentário.
…
O show do Garotos Podres me lembrou que nos últimos meses o debate sobre a Reforma Psiquiátrica voltou. Isso porque um integrante do governo Temer, gestão que consegue ressuscitar todo e qualquer monstro que aterrorizava nossa frágil democracia, propôs a volta dos manicômios nos moldes de antigamente.
Na sequência, a Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva) emitiu um comunicado assinado por diversos profissionais da área sobre a questão:
“A redução do uso de leitos de hospitais psiquiátricos não ocorreu à toa, observa. Há um acúmulo de relatos de histórias de violação de direitos humanos nessas instituições. Isso trouxe para o Brasil até mesmo condenação em cortes internacionais”.
“O nosso compromisso, portanto, é com a ampliação e fortalecimento desse modelo, e não com o seu retrocesso e desestruturação”, conclui o manifesto de docentes e pesquisadores. Leia na íntegra aqui.
Por fim, confesso que posso estar engando em relação ao nosso momento, assim como meu amigo JC estava (após ter certeza que havia perdido seu cartão), mas às vezes me vejo dentro de um gigante manicômio, com administradores sociopatas, milionários, traficantes e assassinos.
Os vejo sorrir ao ver toda uma sociedade definhar. A extrema pobreza volta, os manicômios voltam, os fantasmas voltam. E isso me causa pânico.
Gostaria de chegar ao bar ‘chamado vida’ pensando ter perdido meu cartão da esperança, mas aí, ao dar aquela última procurada, sentir aquele alívio ao encontra-lo.
É melhor eu parar por aqui, dar o play nessa música e sair por aí batendo minha cabeça na parede.
Por Regis Luís Cardoso
LP – Crônicas musicais
Foto: Leandro Taques/Porém.net
Terra Sem Males
Raqqa/Síria: É urgente a retirada das minas para garantir segurança de civis
October 27, 2017 14:14À medida que o inverno se aproxima na Síria, as pessoas que fugiram de Raqqa e planejam voltar para casa precisarão de apoio para suprir suas necessidades básicas, como abrigo, água potável, comida e aquecimento, afirma a organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF). A maioria das casas foi demolida e a população perdeu seus meios de sobrevivência.
Depois de seis anos e meio de guerra, a situação da saúde pública é precária. Sistemas essenciais de água potável e esgoto estão em ruínas. A vacinação infantil de rotina é muito limitada – a maioria das crianças de até 5 anos nunca foi vacinada.
Áreas que estiveram na linha de frente do conflito, como Raqqa, geralmente estão contaminadas com minas, explosivos não detonados e armadilhas explosivas. As partes em conflito usam essas armas não só como defesa; visam também civis que voltam para casa depois do fim das hostilidades ou que tentam fugir para áreas mais seguras. As armadilhas explosivas parecem ser direcionadas a civis (bombas são armadas em bules, ursinhos de pelúcia, geladeiras etc.). A coalizão liderada pelos Estados Unidos também é responsável pela contaminação por explosivos não detonados devido à intensa campanha de ataques aéreos contra o autoproclamado Estado Islâmico – muitos dos dispositivos não explodiram e representam uma ameaça crítica.
Confira abaixo algumas fotos de Agnes Varraine-Leca:
Fonte: Médicos Sem Fronteiras. Edição: Joka Madruga