Orangotango (da série “Vintão”)
December 7, 2016 15:19Por Pedro Carrano
Terra Sem Males
Meu trabalho não é difícil, até agora nunca tive problemas. É só acenar pro dono do carro, dizer quando o motorista tem que torcer a direção e ser um pouco simpático. Puxar um pouco o saco. Sei que sou olhado como um orangotango de zoológico, exótico e solitário. No fim, só preciso dizer “bem cuidado, patrão!” – piadas e comentários sobre o tempo são batidos. Mas pega bem elogiar o adesivo em defesa do Sergio Moro.
Meu ponto fica na frente de uma igreja. Durante a semana não trabalho por aqui, estou fora. Querem me converter. Me salvar. E quem disse que eu quero ser salvo? Sou barco sem rumo. Tem uma história por aí que fala de um guardador que mata pessoas. Corta seus pés. E só ele pode fazer isso? A história dos bons é ilusória como a dos monstros. Pensam que a gente acredita em tudo.
Nas noites de casamento os convidados vão estacionando os carros. Ficam preocupados. O carro deles deve ter alma de certo. Tenho pena dos piás, pensando que agradam a mamãe com terno, gel e sapato. Ninguém ri, acho que rir também é pecado. E aí é tchau e benção. Até outro dia se Deus quiser, o próximo fim de semana traz outros carros.
Nunca tive vergonha. Mas na hora quase saí correndo. Ela também, quando desceu do carro, deixou cair a bolsa, ficou paralisada, e as crianças tiveram que sair pelo lado do marido. O marido não entendia por que eu não tirava os olhos da mulher dele, perguntou se eu queria o pagamento antes da festa, pra logo me perguntar, em tom de ameaça, o que eu estava olhando. Mas com aquele terno lustroso, ele não ia ter coragem de me bater, a sujeira me protegia.
Ela tremia inteira. Eu tinha noção que estava sendo comparado com o cara de cinco anos atrás. Agora, a barba grossa, os cabelos sebosos, uma crosta de sujeira nos pés de quem ia guardar o seu Renault, o mesmo cara com quem planejou viver pela eternidade afora. Que era dos nossos sonhos de muito trabalho e estabilidade financeira? E o são bernardo que ia cuidar da nossa casa? O passado estava vivo, e eu esperava vintão do seu marido.
O cara nem sabe quantos segredos eu guardo. O filho a puxou pelo braço. Olhou com nojo pra mim. Ela saiu do transe e não se voltou pra trás. Talvez. Ou passou medo imaginando que eu entrasse pela porta da igreja, com a garrafa nas mãos, arrastando minhas boas e surdas palavras na condição de mendigo. E se eu entrasse sem roupa, pra mostrar a tatuagem idêntica que nós dois temos na virilha? Na verdade, fiquei no meio da rua, bobo, se me atropelassem nem sentia.
Teríamos sido felizes. Não fosse o seu passado, e outra: o amor mostra todo o esgoto que sou feito. Nele se esconde um réptil de coração pronto pra queimar no sol. Larguei você, voltei pro lodo. O que você sentiu vendo que agora eu é quem estou comendo o tal pãozinho do diabo? E teu marido, ele sabe das nossas noites loucas? Uma lembrança é moeda de cotação alta, minha cara. Quem dança esta noite como uma mariposa em volta da luz sou eu. Talvez você. Semana que vem são outros carros. Um novo maço de notas e moedas nesse meu bolso rasgado.
(Texto publicado pela primeira vez em 2002)
Desdenham da cultura
December 7, 2016 9:42Por Manoel Ramires
Terra Sem Males
Só pode ser a falta de cultura dos ilustres políticos para que eles tomem decisões que asfixiem a promoção e desenvolvimento de atividades culturais. Isso revela que a cultura é independe da classe social ou da formação intelectual. Ela é resultado do desejo, de uma pungência, como diria Schopenhauer, de transformação e elevação humana. Sentido distante das decisões recentes dos prefeitos Gustavo Fruet, Rafael Greca e João Dória.
Fruet perdeu a chance de ser o grande mecenas em Curitiba. Prometeu que a sua gestão atingiria 1% do orçamento público para a cultura. No período eleitoral, fez malabarismo matemático para atingir o índice valendo-se da receita líquida do município. A mágica não surtiu efeito eleitoral, com ele sendo apagado do segundo turno. Ao final, o cancelamento do edital de cultura para 2017 no valor de R$ 2 milhões, que foi longamente discutido, assemelha ainda mais a sua imagem de leão do Mágico de Oz.
Já Greca, como Rei Momo da onda conservadora e radical de direita que volta ao poder, segue disparando suas bravatas. Ele sugeriu a Fruet que cancelasse a 35a Oficina de Música. O objetivo é se esquivar do ônus de um possível fracasso. Como argumento, recorreu a um velho clichê dos políticos contemporâneos: disse que priorizaria a saúde. Como um indivíduo que gosta de artes a ponto de levá-las pra sua casa, Greca tem conhecimento que eventos culturais e esportistas geram receita para a cidade e para o comércio. Cidades como Paris, a cidade luz, tem boa parte do seu turismo ligado à cultura. No entanto, para Greca, é preferível criar falsa polêmica entre serviços públicos do que cortar, por exemplo, cargos de indicação política como a nomeação do filho de Beto Richa para secretaria de esportes. Nem começou o governo e o Pingüim já arrepia Curitiba City.
Já João Dória, prefeito de São Paulo, é a representação perfeita de uma classe média que viaja ao exterior para tirar selfie em frente a Mona lisa e coloca na legenda que admira muito Michelangelo. A única coisa que talvez ele entenda de cultura é arte morta. Aquela coisa de retrato a óleo de uma mesa repleta de canapês e tacinhas de frisantes. Sua ideia de colocar um cercadinho e food trucks na Virada Cultural, enjaulando o evento em Interlagos, revela muito de uma mentalidade de camarote e sorriso amarelo em foto de Caras. Dória, na verdade, está fazendo para o que foi eleito. É seu objetivo matar o centro de São Paulo, “lixo vivo”, segundo suas palavras, separar a periferia do resto da cidade e ainda dar uma graninha para a iniciativa privada com o aluguel do autódromo. É o verdadeiro “Homem de Cobre” de Higienópolis.
Imoral
É inaceitável a militância política do juiz Sérgio Moro. No espaço de 24 horas, o responsável pela maior investigação do Brasil, que envolve toda classe política, foi flagrado em dois eventos ligados ao PSDB. Na segunda-feira, em Mato Grosso, ele discursou para uma plateia de tucanos sobre transparência a convite do governador Pedro Taques (PSDB). Chegou a elogiar o deputado federal Nilson Leitão por votar a favor das 10 medidas. Se esqueceu que o tucano é investigado por desvio de verbas da educação estadual. Na terça, em evento da revista “Istoé” que, entre outros, concedeu a Michel Temer o título de “brasileiro do ano”, Sérgio Moro foi flagrado aos risos com Aécio Neves, citado dez vezes em delações premiadas, mas sequer “conduzido coercitivamente” uma única vez. Moro não esconde mais sua militância política, abonado por uma massa raivosa que o apoia a qualquer custo, mesmo após ele ter sido mutilado em audiência no Senado.
A culpa é tua, Renan
Renan Calheiros decidiu descumprir liminar que o afastava da presidência do Senado. Declarou que não respeitava decisão monocrática do ministro Marco Aurélio Mello e aguardava posição geral do STF. Isso ocorre hoje (7). Renan disse que era um triste fim da democracia. Como disse um amigo poeta, “o homem é o único animal que cai em sua própria armadilha”. Renan foi fisgado.
Seminário debate em Curitiba ações que dão certo da Agricultura Familiar
December 6, 2016 16:37O Seminário Regional “Educação Alimentar e Nutricional – Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) Modalidade Compra Institucional: Fortalecendo ações para promoção da Alimentação Saudável”, organizado pelo Conselho Federal de Nutricionistas (CFN), será realizado nos dias 07 e 08 de dezembro, no Hotel Dan Inn, em Curitiba, e reunirá representantes dos governos federal, estadual e municipais de diversas regiões do Paraná, lideranças da agricultura familiar, nutricionistas e profissionais ligados à aquisição de alimentos.
Os debates do Seminário têm os objetivos de sensibilizar profissionais e gestores das áreas da saúde, educação, assistência social e agricultura do Estado do Paraná sobre a importância da prática de Educação Alimentar e Nutricional (EAN) e a realização da modalidade Compra Institucional do Programa de Aquisição de Alimentos (CI-PAA), além de apoiar a construção de Agendas Intersetoriais de promoção da Alimentação Adequada e Saudável no contexto do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN).
Durante o seminário, que conta com o apoio do Conselho Regional de Nutricionistas da 8ª Região e é realizado pelo Ministério do Desenvolvimento Social de Agrário e CFN, também haverá exposição de produtos da Agricultura Familiar.
Seminário: Educação Alimentar e Nutricional – Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) Modalidade Compra Institucional: Fortalecendo ações para promoção da Alimentação Saudável
Data: 07 e 08/12/2016 (quarta e quinta-feira)
Horário: a partir das 8h30
Local: Auditório do Hotel Dan Inn. Rua Amintas de Barros, 71. Centro/Curitiba.
Acesse aqui a programação
Secretário de governo quebrou hierarquia em Curitiba
December 6, 2016 16:22Ricardo Mac Donald se negou a publicar decretos da prefeita em exercício Mirian Gonçalves
Por Manoel Ramires
Terra Sem Males
O secretário de governo, Ricardo Mac Donald, criou uma crise no último mês do mandato do prefeito não reeleito de Curitiba Gustavo Fruet. Tudo porque ele se negou a publicar três decretos assinados pela prefeita em exercício Mirian Gonçalves, na semana passada. Os textos tratam de anistia em faltas de servidores municipais, algo já feito pelo prefeito em sua gestão, declaração de área pública de ocupações na região CIC e homenagem ao advogado trabalhista Edésio Passos.
Ao não publicar os decretos, Ricardo Mac Donald, cujo cargo é indicação política, “ameaçou” Mirian Gonçalves com improbidade administrativa. Em documento obtido pelo Terra Sem Males, ele escreve: “Vossa excelência pode incorrer em afronta a lei de responsabilidade fiscal por determinar despesas sem lastros”, sugere. Mac Donald ainda pergunta se a prefeita, que foi eleita, deseja rever ou manter a decisão.

Em resposta à mão, Mirian Gonçalves é categórica: “Publique-se!” A vice-prefeita concedeu entrevista ao TSM hoje (6). Nela, argumentou que assumiria qualquer risco de improbidade administrativa.
O único decreto que poderia envolver recursos financeiros trata do abono das faltas dos servidores municipais. Esse decreto não atinge 15% dos trabalhadores. O objetivo maior é retirar da ficha funcional as faltas, em uma conciliação, como observou o Supremo Tribunal Federal em recente decisão sobre direito de greve no serviço público. As greves abonadas via decreto estão ajuizadas pela Prefeitura de Curitiba que ainda teria que desistir das ações.
Saiba mais: “O secretário de governo está criando problemas”, define Mirian Gonçalves
“O secretário de governo está criando problemas”, define Mirian Gonçalves
December 6, 2016 14:22Vice prefeita alega que 1200 famílias e servidores municipais estão sendo prejudicados.
Texto: Manoel Ramires/Sismuc
Foto: Joka Madruga/Terra Sem Males/Sismuc
A vice-prefeita de Curitiba, Mirian Gonçalves, detectou o problema da não publicação dos decretos que anistiavam paralisações de servidores públicos e regularizava moradia para 1,2 mil famílias na CIC. O responsável é o secretário de governo, Ricardo Mac Donald. Para Mirian, que havia assinado os decretos enquanto exercia o cargo de prefeita, “o secretário de governo faz o que mais sabe: criar problemas”, identificou.
Em entrevista exclusiva (em breve na íntegra), a Mirian destacou que os decretos assinados por ela não trazem despesas para a Prefeitura de Curitiba. Também disse que suas decisões trazem justiça social. “O que menos estão se preocupando nesses casos é com a população”, comenta. Ela disse que se isso gerasse crime de responsabilidade, ela assumiria o ônus.

Política de primeiro mandato, Mirian Gonçalves nega que tenha tentado embaraçar o prefeito Gustavo Fruet. “É final de mandato dele. Não tenho como prejudicá-lo. Eu não estou subordinada ao prefeito, pois fui eleita junto”, destaca.
Para a vice-prefeita, foi o ato do secretário que expôs o prefeito. “É inadmissível que a Prefeitura fique sem publicar um decreto na internet ou em jornal de grande circulação”, exemplificou. Ela informa que já solicitou uma agenda com Gustavo Fruet e espera que ele seja solidário a causa. Para Mirian, os decretos não trazem prejuízo à gestão e atendem pautas de interesse coletivo.
Entenda o caso
A vice-prefeita assumiu quando Gustavo Fruet estava em viagem ao México. No exercício do cargo, ela assinou três decretos tratando de conciliação de greves de servidores municipais, de regularização de terras e homenagem ao advogado trabalhista e ex-deputado federal Edésio Passos, falecido em agosto.
Mirian justificou que o prefeito havia abonado greves do período de 2007 a 2012. Depois paralisação da educação em 2013. Fruet também teria recebido o MTST para discutir a regulamentação de terras. Com relação à homenagem, ela conta que conversava com o prefeito desde o falecimento do político.
Após o boicote do decreto, o Sismuc cobrou ação do prefeito Gustavo Fruet. “É lamentável não só a obstrução do exercício democrático da prefeita Miriam Gonçalves, mas também – e principalmente – que esses três decretos fossem descartados. Os decretos não acarretariam oneração dos cofres públicos e resolveriam conflitos instaurados na gestão Gustavo Fruet. Além disso, traria uma demonstração de respeito aos servidores que legitimamente brigaram por valorização”, destaca Irene Rodrigues, coordenadora geral do Sismuc
Áreas ocupadas
MTST lança campanha #publicaFruet
O Movimento dos Trabalhadores Sem Teto está lançando campanha para que o prefeito Gustavo Fruet publique o decreto assinado por Mirian Gonçalves. Com a hastag #publicaFruet, o MTST busca sensibilizar o prefeito para a importância de considerar a área utilidade pública. O coordenador do MTST, Paulo Bearzoti Filho, destacou a coragem de Mirian Gonçalves em assinar os decretos. “São 1,3 mil famílias que ficaram em situação de vulnerabilidade e que conquistavam um direito”. Por outro lado, questionou a não publicação do decreto. “Isso me parece irregular. Se ela tinha o poder de editá-lo, que entre em vigor. É como se houvesse um boicote no detalhe da publicação”, questiona.

Bearzoti também recordou que o prefeito aprovou o aluguel social, mas não implementou. “Nós fizemos reuniões na prefeitura. Todos garantiram que Fruet não ia vetar a lei. Mas nunca regulamentou. Isso já faz mais de um ano. Ele fica no meio termo e a coisa não acontece”, critica a indecisão.
O decreto declarou a área de utilidade pública regiões que envolvem as ocupações Tiradentes, Nova Primavera, 29 de Março e D. Cida. É uma grande área para ser desapropriada, cerca de 210 mil m2. “A decretação das áreas de interesse social é o que a gente precisa, pois é o primeiro passo para dar estabilidade. Todo mundo falou isso na campanha. Por que não fazer agora?”, finaliza o coordenador.
Saiba mais sobre a luta por moradia em Curitiba:
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Retratos da luta pela moradia em Curitiba
Deu pra ti, Renan
December 6, 2016 10:19Presidente do Senado foi pego de surpresa com liminar que o retira da presidência. Foto: Marcelo Camargo/ Agência Brasil
Por Manoel Ramires
Terra Sem Males
O afastamento do presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB/AL) é má notícia para toda classe política. Além de intensificar o choque entre a política e a justiça, deixa muita gente refém dos seus próprios discursos. Parece que a sangria pode não estancar. A hemorragia em que o país foi enfiado deve ainda derrubar muita gente. Aliás, é sempre bom destacar: nos seis meses de Temer se foram seis ministros e dois presidentes. Efeito de um governo em colapso após o golpe que a classe política, o mercado e a grande mídia não vão admitir até passarem todas as reformas liberais como a PEC do Fim do Mundo e da Previdência.
O afastamento de Renan é de uma inoportuna oportunidade. O senador tem 12 processos nas costas, mas só agora está tendo revés em sua vida política e por um caso de nove anos. Trata-se do pagamento da pensão alimentícia de uma ex-amante por empresas. Aliás, caso bem parecido com o que fez Fernando Henrique Cardoso. Fecha aspas. O ministro do STF, Marco Aurélio Mello, pode alegar que foi provocado por um partido, a REDE, a avaliar a linha sucessória presidencial após Renan se tornar réu. Não estará mentindo. O curioso é que outras tentativas de afastamento ou de parar o golpe não foram acolhidas. Aí mora a pulga atrás da orelha. Outra coceira diz respeito “as ruas” pedirem o afastamento do político. Mas as ruas têm pedido muito coisa. Uma delas é a paralisação da PEC 55. Contudo, alguns clamores parecem não chegar aos ouvidos de vossas excelências. De fato, a saída de Renan é mais uma “vitória” dos conhecidos verdes-amarelos.
Marco Aurélio enquadrou Toffoli
A decisão de Marco Aurélio Melo não é a primeira nesse sentido. A diferença é que Dias Toffoli vacilou. Há poucos meses, Marco Aurélio Mello, também provocado pela Rede, ia afastar Eduardo Cunha da presidência da Câmara dos Deputados. Naquela ocasião, o ministro Teori Zavaski, que estava sentado sobre um pedido, foi “mais rápido” e enfim colocou a solicitação a votação. Cunha foi afastado e Mello não foi protagonista da liminar.
Agora, Toffoli fazia algo semelhante. Ele se sentou em cima de uma decisão que desfavorecia Renan Calheiros. Só que cochilou e Mello tomou decisão monocrática com apoio popular. Com isso, Toffoli ficou mal na fita. Mesmo que o pleno do STF casse a decisão de Mello na terça-feira, Toffoli não terá condições de continuar protelando seu voto. Por outro lado, se o STF mantiver a decisão de Renan afastado, de nada adiantará a Toffoli ter pedido vistas. Ele ficará completamente isolado na corte.
Fritando Renan
O presidente não eleito Michel Temer havia dado a senha para jogar Calheiros aos leões. No domingo, ele afirma ter conversado com a “amiga” e presidente do STF, Carmen Lúcia. Disse a colega que era contra o projeto de abuso de autoridade e investigação sobre salários do judiciário acima do teto constitucional. O juiz Sérgio Moro, por exemplo, recebeu R$ 651 mil reais em 2015, média mensal de 54 mil. Já o procurador Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, recebeu 86.850,59 reais em abril de 2016. Menos de 24 horas depois da conversa entre os presidentes, Renan foi defenestrado.
Base sólida
A saída do alagoano da presidência do Senado preocupa mais os governistas por causa da votação da PEC do Fim do Mundo. Em seu lugar, assume o vice Jorge Vianna (PT-AC). Rapidamente, articulistas, jornalistas e políticos dizem que nada interfere na votação. “Renan é apenas mais um”. Há tanto tempo no poder, ele não pode ser simplesmente descartado em sua capacidade de formar maiorias. Há, portanto, uma chance da base de Temer derreter no Senado. Mas a tendência é pelo contrário. Cabe lembrar que mesmo com a saída de Eduardo Cunha da Câmara, o governo se manteve intacto na base do toma lá da cá. Portanto, não é de se duvidar que no Senado, a PEC passe novamente com folga. O que une a todos? A necessidade de estancar sangria.
Presente de grego
Com o afastamento de Renan, a presidência do Senado cai nas mãos do PT no pior momento. Do jeito que estava, o partido podia espernear à vontade e alegar que qualquer resultado era fruto do golpe parlamentar. Agora, com a caneta, Jorge Vianna pode frear a votação da PEC como pede a militância. Seria um ato de heroísmo e coerência que a sigla não tem demonstrado há tempos. No fim das contas, poderá ter assinatura petista a aprovação da PEC ou servir como contragolpe.
Relatos da manifestação em Brasília contra a PEC do Fim do Mundo, por Herman Felix
December 5, 2016 17:53
Fidel retorna à Santiago ovacionado por uma multidão em seu último adeus ao povo cubano
December 5, 2016 12:47Por Gibran Mendes
Direto de Cuba
Milhões de cubanos reuniram-se ao longo deste sábado (3) nas ruas de Santiago para dar o ultimo adeus ao líder da revolução de 1959. A carreata com os restos mortais de Fidel Castro chegaram pela carretera central, a principal rodovia do País, por volta das 12h30. Ao todo foram 900 kms percorridos desde Havana até Santiago, cidade onde descansarão as cinzas ao lado do seu mentor, José Martí.
A comitiva responsável pela segurança era formada por dois carros da policia, um furgão, duas motocicletas, um caminhão do exército e dois jipes, sendo que o último carregava o ataúde com as cinzas de Fidel. A primeira parada em Santiago foi o Parque Céspedes, local em que no dia 24 de novembro de 1958 Fidel chegou acompanhado de seu irmão Raúl, Ramiro Valdez, Armando Acosta e outros guerrilheiros em sua campanha pela liberação do País.
Um pouco antes da comitiva chegar ao parque uma leve chuva caiu por aproximadamente cinco minutos. Não era difícil ouvir o povo falando que tratava-se do céu chorando a morte do seu comandante.

“Fidel não estará sozinho, sempre terá alguém com ele. Pode anotar o que eu estou dizendo, as pessoas farão visitas ao seu túmulo a partir do momento em que o cemitério Santa Ifigênia abrir e então nunca ficará só”, afirmou Maria Tavaréz, de 52 anos, moradora de Santiago.
Ela era apenas uma das milhares de pessoas que acompanhavam emocionadas o “último tributo ao comandante”. Assim como o músico Hélio Torres, de 64 anos, que veio prestar sua homenagem a Fidel. “Para mim sempre foi um exemplo com um objetivo infinito de ajudar os cubanos a evoluírem. Não é coincidência que depois de tanto tempo várias gerações pensem o mesmo”, disse embaixo de um sol de mais de 30 graus.
Questionado sobre a quantidade de pessoas presentes no Parque Céspedes neste dia histórico, Torres disse que, neste caso, trata-se de uma visita de Fidel como outra qualquer. “Igual como sempre esteve quando entrava na Praça. Hoje não há mais nem menos pessoas que vieram para vê-lo quando estava vivo. Era sempre uma energia muito positiva”, comentou.

Mas Fidel não foi a única referência cubana a ser saudada neste sábado no Parque. O que convencionou-se a chamar de “Os cinco”, um grupo preso pelos Estados Unidos acusados de espionagem estavam no prédio onde funciona a prefeitura da cidade. Eles foram saudados, tiraram fotos e distribuíram autógrafos para a população. “Eles foram condenados a prisão perpétua, poderiam estar lá ainda”, avaliou Rider López, de 37 anos. Mas o que eles significam exatamente para Cuba? “São líderes, heróis e exemplos de Cuba. Foram presos injustamente pelo império e o povo lutou junto ao seu comandate até que os liberaram. Mas não foi só isso, foram vários países que lutaram pela sua liberdade, somando a nossa luta de Cuba, até que conseguimos. Por isso representam tanto. Cuba, no final, sempre vence”, disse com sorriso na boca e também no olhar.
Após deixar o Parque Céspedes a comitiva seguiu até Moncada, onde os restos mortais foram transladados até a ida para a Praça da Revolução, onde um grande ato teve início a partir das 19 horas, mas desta vez acompanhada de delegações de diversos países. Na comitiva brasileira, destacaram-se as presenças de Lula e Dilma, sempre lembrados pelos cubanos pelas parcerias estabelecidas entre ambos os países durante as gestões dos ex-presidentes.

Ao contrário da homenagem em Havana, onde os chefes de estado foram o destaque, em Santiago lideranças locais ligadas ao governo cubano e aos movimentos sociais precederam o discurso de Raul Castro. Na cerimônia, também mais curta do que na capital, o chefe de governo do País recordou a história da revolução, destacou as qualidades do irmão falecido e listou conquistas que a ilha alcançou nos últimos anos. “Ele nos mostrou que sim era possível derrotar os racistas sul africanos, salvando a integridade
territorial de Angola e conquistando a independência de Namibia. Nos mostrou que era possível transformar Cuba uma potência médica reduzindo a mortalidade infantil com as taxas mais baixas do terceiro mundo e depois do mundo rico”, exemplificou.
Castro reforçou que o legado de Fidel é mostrar ao povo cubano que tudo é possível para os moradores da ilha. “Ele nos mostra que sim é possível fazer e que é possível continuar fazendo, superando os obstáculos para construir o socialismo em Cuba e defender a soberania da pátria”, enfatizou em suas últimas palavras antes de encerrar o último evento aberto ao público.
No dia seguinte, às sete horas da manhã, em um evento reservado para família e poucos convidados no cemitério Santa Ifigênia, onde os cubanos reuniram-se para a última homenagem ao seu líder. Pessoas discursavam enquanto jornalistas reuniam-se para gravar e tomar depoimentos. Entre choro e alegria ao lembrarem os que chamam de ensinamentos de Fidel, o último adeus deixou menos d/vidas do que se esperava. “Nada vai mudar” era a resposta mais ouvida quando questionava-se o que acontecia com cuba após a morte de Fidel Castro.
Insistem na estupidez
December 3, 2016 20:41Por Manoel Ramires
Terra Sem Males
Raras vezes a vida nos dá a chance de nos tornamos diferentes. Na realidade, a oportunidade ocorre todos os dias, mas com sinais quase imperceptíveis. No nosso aniversário ou de um familiar, no Natal, em uma demissão, em um novo emprego, em uma discussão. São muitos os momentos para agir de outra forma. Todos esses instantes, porém, dependem muito de uma percepção individual sobre o mundo. Por outro lado, as chances coletivas ocorrem em ocasiões de grande amor ou de grande dor. Esse é o caso da tragédia que acometeu o voo da Chapecoense. Além da mágoa, ela ofereceu a oportunidade de muita gente mudar o comportamento, ela ofereceu uma onda de tolerância, amor, solidariedade e humildade diante da leveza que é a vida.
Essa chance piscou forte, como uma luz de Natal, como uma chama de respeito e gratidão, na homenagem que o povo colombiano prestou aos falecidos nessa semana. Quem conhece Medellín, tem a noção de quanto essa cidade e a província de Antioquia tem em sua rotina a convivência com a dor, com a tragédia, com a banalização da vida. Medellín é terra de Pablo Escobar e conviveu por década com chacinas de ambos os lados, carros bombas, explosões e a queda de um avião em atentado terrorista. Na homenagem às vítimas trágicas do voo da Chape, o prefeito da cidade colombiana brevemente passou por esse histórico de “falta de esperança”. Mas desilusão foi tudo o que não se viu na homenagem prestada no estádio do Atlético Nacional. Pelo contrário, a força e a energia que mandaram aos familiares das vítimas brasileiras, bolivianas e paraguaias comoveram o mundo. A começar pelo próprio clube que realizou diversas ações – muito além do marketing, mas calcado na solidariedade – para marcar positivamente a dor a ponto de abrir mão do título. As atitudes do Atlético Nacional concretizam a frase de que “futebol não é apenas um jogo”.
No entanto, os idiotas de plantão têm dificuldade de entender o sentido dessa sentença. Para eles, o jogo só vale a pena se de alguma forma eles obterem uma vitória ou alguma vantagem. Esse é o caso dos diretores do Internacional, do presidente Michel Temer e do presidente da CBF, Marco Polo Del Nero. Esses fazem uso de uma outra frase, bem associada ao capitalismo e ao individualismo de nossa era. Para esses, “é na crise que se obtém os maiores lucros”. São asnos letrados.
2016, definitivamente, foi um ano em que muitos idiotas se revelaram quando defenderam impedimento sem crime, intervenção militar, bandido de estimação, entre outros. Muita gente se esforçou para passar vergonha em público ou nas redes sociais. Mas ninguém supera os dirigentes do Internacional na capacidade de ser non sense. Desde a primeira declaração do vice-presidente Fernando Carvalho, comparando tragédias, passando pela ação no STJD tentando tomar os pontos do Vitória e concluindo com a sugestão de cancelar a última rodada com a possibilidade de um super tapetão, o clube gaúcho se esforçou para ser o time mais detestado no Brasil. As redes sociais pontuaram muito bem ao dizer que a Chapecoense conquistou a América, o Atlético, o mundo, e o Inter, a Série B antecipada. Daqui pra frente muito pouco do que seja dito será capaz de remediar tantas declarações mal empregadas. A melhor posição é ficar em silêncio, de luto, até o final do ano.
Outro personagem que mostrou sua pequenez de caráter é o presidente golpista Michel Temer. A cada dia que passa, a afirmação de que ele era um vice decorativo ganha mais veracidade. Realmente, o melhor que podia acontecer é ele ficar encostado no canto, como um abajur desligado, para que ninguém o percebesse. Mas não, ele insiste em querer brilhar com sua luz negra. Temer mostrou mais uma vez quanto é covarde quando decidiu não ir à Arena Condá para prestigiar os falecidos sob medo de ser vaiado. Preferiu que os familiares e os corpos fossem até ele no aeroporto, onde, cercado de falsa pomba, ele pudesse ganhar algumas linhas nessa história. Mas o livro da vida é onipresente. E o parágrafo que define sua postura foi escrito por um pai de um jogador quando cobrou humildade de vossa excelência e de que ele, Temer, deveria ser coadjuvante nesse momento. Uma dura lição em personagem secundário na história do Brasil.
Para concluir o pódio dos idiotas, figura o presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, aquele que não viaja. Nem na pior tragédia do futebol mundial ele se dispôs a ir ao local do ocorrido e, como autoridade, representar o Brasil e o futebol nacional. Del Nero, pequeno, sabe que se sair do país, deve ser preso pela Interpol. Para evitar a imagem do uniforme listrado, não aparece na foto em homenagens à aqueles vestidos de ataúde. Como se não bastasse essa ausência, Del Nero quer impor que a Chapecoense dispute a última partida do Brasileirão, mesmo que o adversário, Atlético Mineiro, não queira, que a Rede Globo não cobre a multa por WO, mesmo que os clubes desejem ceder um jogador por time, mesmo que defendam anistia de três anos a Chape. Del Nero se diferencia pela estupidez. Ele quer uma partida festiva em cima do luto do povo. Para essa postura, o ex-jogador Zé Elias propôs que o jogo ocorra nos EUA, de onde, após o ponta pé inicial de embuste dirigente, o mesmo seja levado para trás das grades. De sua sapiência, Del Nero não deixará saudades.
Rio de Janeiro receberá Feira da Reforma Agrária
December 2, 2016 16:10Por MST/RJ
Entre os dias 05, 06 e 07 de dezembro será realizada a VIII Feira Estadual da Reforma Agrária Cícero Guedes, no Largo da Carioca, no Centro do Rio de Janeiro. Este é um evento de exposição e comercialização de produtos da Agricultura Familiar Camponesa dos Assentamentos da Reforma Agrária, realizado pelo Movimento Sem Terra – MST.
Serão comercializados em torno de 150 toneladas de alimentos, com variedades de produtos vindos de vários assentamentos da Reforma Agrária. Cerca de 130 agricultores do Rio de Janeiro e 20 representações dos demais estados do Sudeste do Brasil estarão presentes na feira divulgando suas produções in natura e industrializadas das cooperativas de Reforma Agrária de diversos estados do Brasil.
A feira trará diversidade de produtos como variedades de arroz, suco de uva integral, frutas, polpas de frutas, feijão vermelho e de corda, legumes, verduras, produtos derivados de cana-de-açúcar (açúcar mascavo, melado, rapadura), ervas medicinal, fitoterápicos e fitocosméticos. A agroecologia é um dos princípios, por isso, parte da produção que vem dos assentamentos são agroecológicos ou estão em transição.
Na programação encontramos Shows, Intervenções Culturais, Seminários e Oficinas com temas como: Agrotóxicos e Impactos na Saúde Humana e Soberania Alimentar, Oficina produção de Fitoterápicos e Fitocosméticos entre outros.
História da Feira
A Feira foi batizada com o nome ” Cícero Guedes” em 2013, em homenagem ao agricultor e militante do MST assassinado por pistoleiros no dia 25 de janeiro de 2013, nas proximidades da Usina Cambahyba, no Município de Campos dos Goytacazes (RJ).
Além de uma grande liderança na luta pela Reforma Agrária, Cícero Guedes era considerado uma referência em conhecimento agroecológico, por conta das técnicas agrícolas sustentáveis que utilizava no Assentamento Zumbi dos Palmares, tendo sido também um importante colaborador de vários projetos de pesquisa e de extensão da Universidade Estadual do Norte Fluminense.
Feira Estadual da Reforma Agrária Cícero Guedes vira Lei
A partir do ano passado a feira se tornou evento oficial do município RJ. A lei 5.999/2015 de iniciativa do deputado Renato Cinco, “Reconhece como de interesse Cultural e Social para o Rio de Janeiro a Feira Estadual da Reforma Agrária Cícero Guedes.