CRÔNICA: Convoque seu Coach, por Pedro Carrano
февраля 15, 2018 20:47Sempre desconfiei do tal do “coaching”. Mesmo admitindo que conheço pouco ou quase nada seus conceitos e teorias, mas confesso que costumo ficar assustado quando você sacode uma poeira de códigos, nomenclaturas e termos e, ao final, parece não ter muito de realidade ali dentro.
Antes da polêmica da novela “O Outro Lado do Paraíso”, na qual uma jovem que sofreu abuso sexual na infância busca uma “Coach”, eu vivi um episódio que já havia sacramentado a minha desconfiança. Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa, diria Riobaldo, personagem de Guimarães Rosa.
O episódio aconteceu durante uma pesquisa na comissão de fábrica de uma montadora de Curitiba. Tenho amizade com um dirigente, que me forneceu dados pra minha pesquisa de conclusão do curso de economia política, sobre jornada de trabalho.
Naquela manhã, eu entrei na salinha destinada à comissão. Um lugar agradável, de referência dos trabalhadores, com um toque típico de uma empresa que proclama sua boa relação com o operariado.
Zeca – assim vou chamar o coordenador da comissão de fábrica – entrou comigo na sala e me apresentou Lucia – não me lembro do nome real dela –, sentada à mesa de leitura, folheando a Gazeta. Ela era a responsável pelos cursos de coaching e também pelas visitadas orientadas no interior da fábrica.
Não recordo ao certo como, mas o assunto logo caiu na situação dos funcionários mais jovens e já fomos ali medindo nossas visões opostas. Se pra mim e pra Zeca a empresa recrutava os mais jovens pra evitar pessoas com experiência sindical, pra Lucia era uma forma de a empresa formar o cidadão; se pra nós os benefícios recebidos são resultado da mobilização, pra ela o indivíduo conquistava tudo na base do próprio objetivo individual. Assim fomos esgrimindo nossas distâncias. Se Zeca concordou comigo que havia um excedente de trabalho apropriado pela empresa (um operário de montadora cobre o seu salário na produção em menos de um dia de fábrica), pra ela quem de fato se arrisca é o empreendedor capitalista, pois pode perder tudo aquilo que juntou e apostou na vida. Um valente.
Lucia então atacou:
– Posso te sugerir algo?
– Sim, pode – estranhei.
– Esse teu ombro.
– Oi?
– O esquerdo. Tenha mais postura e alinhamento, assim desse jeito não passa confiança e atitude.
Zeca só contemplava aquela cena. Eu, da minha parte, venderia a alma pra fugir da conversa. Um sorriso maroto apareceu no rosto de um integrante mais jovem da comissão, do outro lado da sala, refugiado a salvo na tela do computador.
E Lucia foi implacável comigo:
– E esse seu olhar de peixe morto, carrancudo, também não está legal. Corrija isso, deixe de timidez, olhe nos olhos do Zeca! Quero ver. Aponte um foco com esse teu olhar perdido! Demonstre certezas!
– Lucia, bem… Zeca se constrangeu.
– É isso, menino, eu já enquadrei os peões aqui, estou te ajudando a também ter metas. Né mesmo, Zeca?
O operário sorriu, um sorriso murcho, e logo resvalamos no debate sobre a participação nos lucros e resultados. Na montadora, naquele ano glorioso, cada trabalhador do efetivo havia alcançado sonoros R$ 30 mil. Florete em punho, Lucia atacou novamente:
– O que os cubanos nunca conseguiram matando pessoas, aqui a gente, nesse ambiente feliz, divide os lucros entre colaboradores e a empresa, ela concluiu, com ar de quem quer decretar um xeque-mate precipitado.
Foi a deixa. A situação estava insustentável e Zeca derrubou o rei, entregou os pontos e então me puxou pra apresentar outro setor que eu não conhecia da empresa.
– Mais uma coisa.
– Fala, Lucia….
– Aperte a mão com firmeza. Respiração. Pulso firme!
Deixamos a sala, com quem deixa um templo confuso, em meio ao incenso de má qualidade, e isso que nem foi necessária técnica nenhuma de hipnose.
Zeca andava a passos rápidos, com um silêncio carregado de ansiedade, mas logo eu percebi que, em poucos segundos, ele se explicaria:
– Eles falam bastante, o tempo todo.
– Pois é.
– Apontam alguns objetivos e tudo.
– Pois é.
– É. Nós na comissão ouvimos alguma coisa, mas a maior parte vai pro descarte mesmo!
Por Pedro Carrano
Mate, café e letras – crônicas latinoamericanas
Terra Sem Males
O que está por trás do porto na Ilha do Mel
февраля 9, 2018 20:13Segundo ponto turístico mais visitado do Paraná, a Ilha do Mel está em meio a uma grande discussão. Trata-se da possível construção de um porto privado no município de Pontal do Paraná. O porto ficaria a três quilômetros da Ilha, separado apenas pelas águas da baía de Paranaguá.
Para que esse porto possa ser viável, e os caminhões cheguem até lá sem afogar a PR-412, é necessário uma estrada de 18 km que ligue o balneário de Praia de Leste a Pontal do Sul. O governo do Estado encampou a empreitada e viabilizou um empréstimo de R$ 369 milhões para a construção.
Mesmo se tratando de um projeto que vai colocar abaixo 500 metros quadrados de Mata Atlântica, a obra já conta com a autorização do IAP – Instituto Ambiental do Paraná. Também existe a autorização do Conselho de Desenvolvimento Territorial do Litoral – CDTL – que aprovou a obra em uma sessão bastante contestada realizada no dia 20 de novembro do ano passado.
Discussão – Neste momento estão estabelecidos dois lados: o poder público, na figura do Estado do Paraná, da Prefeitura de Pontal do Paraná e da Associação Comercial do município, que já preparam a licitação para tocar a obra da estrada. E do outro lado os ambientalistas e pesquisadores da UFPR, que alertam que a estrada e por consequência o porto vão causar enormes prejuízos ambientais e inviabilizar o turismo na Ilha do Mel. Confira argumentos dos dois lados:
Economia
Favoráveis – Ainda que o porto seja particular, os gestores alegam que o negócio vai ajudar a aquecer a economia local, gerando empregos diretos e indiretos. Por receber navios maiores, o porto colaboraria com a produção nacional.
Contrários – Existem alternativas para o desenvolvimento econômico da região como o investimento mais maciço no turismo. Já existe um porto em Paranaguá que causa sérios problemas para população. O IDH – Indice de Desenvolvimento Humano – de Pontal hoje, sem porto, é maior que o de Paranaguá.
Meio ambiente
Favoráveis – Os ganhos econômicos justificariam as perdas ambientais. Sobre o turismo na Ilha do Mel, alegam que já existe tráfego de navios ao lado da Ilha e ampliação dessa movimentação não traria problemas.
Contrários – Derrubar 500 metros de Mata Atlântica é algo inaceitável diante da pequena reserva que restou. Tanto a obra da estrada como a obra do porto vão comprometer a vida dos animais que vivem na região, além de impactar negativamente na paisagem.
Política
Favoráveis – O dono do terreno onde pode ser construído o porto, João Carlos Ribeiro, é aliado histórico do governador Beto Richa, o que de certa forma justifica a agilidade no processo. Empresas poderosas como a Odebrecht têm interesse na obra. A Associação Comercial de Pontal do Paraná lidera a campanha “estrada já”, que trata o projeto como a salvação econômica do município.
Contrários – Comunidades que serão diretamente atingidas como índios e pescadores reclamam não ter sido ouvidos. Ongs que atuam em defesa do meio ambiente e professores da UFPR lideram o movimento “Salve a Ilha do Mel”, que recolhe assinaturas para tentar impedir o avanço do projeto.
Conheça a campanha http://salveailhadomel.com.br/
Por Marcio Mittelbach
Terra Sem Males
Foto: Joka Madruga
Quilombolas comemoram vitória histórica em julgamento no STF sobre posse de terras
февраля 9, 2018 8:26O resultado final do julgamento da Ação Direita de Inconstitucionalidade (ADI) n° 3239 no Supremo Tribunal Federal (STF), que trata do direito à terra e território das comunidades quilombolas, teve desfecho favorável às e aos quilombolas brasileiros nesta quinta-feira (8).
Por maioria de votos, o Supremo Tribunal Federal (STF) declarou a validade do Decreto 4.887/2003, garantindo, com isso, a titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades quilombolas.
Durante a sessão, que durou toda a tarde, os ministros Edson Fachin, Ricardo Lewandoswki, Luiz Fux, Marco Aurélio Mello, Celso de Mello e Cármen Lúcia votaram pela integral improcedência da ação, incluindo a aplicação da tese do “marco temporal”, que prevê que o direito constitucional quilombola à terra se resumiria apenas às áreas que estivessem efetivamente ocupadas em 5 de outubro de 1988 – o que dificultaria o acesso efetivo das comunidades a seus territórios. Em seu voto, Lewandoswki chegou a classificar o marco temporal como “prova diabólica”, por ser difícil ou impossível de ser produzida.
Segundo ministro a votar no julgamento da ADI 3239, Luís Roberto Barroso também julgou pela improcedência da ação. No que se refere à tese de marco temporal, contudo, ele propõe que sejam consideradas as comunidades ocupadas quando a Constituição Federal foi promulgada, em outubro de 1988, somadas às que foram desapossadas à força (desde que sua vinculação cultural tenha sido preservada) e caso haja pretensão da comunidade em retomar a terra. Estas duas condicionantes são analisadas a partir de laudos antropológicos produzidos pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
Já o ministro Gilmar Mendes acompanhou o voto de Dias Toffoli, que em sessão anterior havia se posicionado pela constitucionalidade parcial (que leva em consideração a tese do marco temporal) da matéria.
Para os representantes das comunidades quilombolas de todo o país presentes ao julgamento, o resultado é uma vitória contundente, advinda de um processo intenso de luta e mobilização.
Segundo Layza Queiroz, advogada popular da Terra de Direitos, o julgamento é um marco na história dos direitos quilombolas. “A confirmação da constitucionalidade do decreto e o rechaço da tese do marco temporal é uma vitória imensa das comunidades quilombolas, principalmente diante de um contexto de ofensiva conservadora e retirada de direitos. Ao estado brasileiro compete agora mais do que nunca o integral cumprimento da constituição e do decreto, garantindo recursos necessários para a titulação dos territórios quilombolas”.
A ação foi ajuizada pelo Partido da Frente Liberal (PFL), atual Democratas (DEM), contra o Decreto 4.887/2003, que regulamenta o procedimento para identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos.
Por Maria Mello, da Terra de Direitos
Editado com informações do STF
Temer sucateia Correios e prédio da estatal no Paraná tem água cortada
февраля 8, 2018 18:35Desde terça-feira (06), 43 trabalhadores do Centro de Distribuição Domiciliar (local onde a carga postal é separada por ordem de ruas e de numeração) dos Correios de Paranaguá estão sem água. A fatura está atrasada desde o dia 05 de janeiro. O valor é de R$ 261,78. Essa é uma situação que já virou rotina na unidade, de acordo com os funcionários.
O Sindicato dos Trabalhadores dos Correios (Sintcom-PR) já enviou a cópia da fatura atrasada para a direção dos Correios pedindo que providenciem o religamento imediato. Desde ontem, a temperatura tem atingido 30 graus em Paranaguá. Os banheiros estão interditados.
“Isso é uma vergonha! Além de falta de funcionários, frota sucateada gerando atraso nas entregas e revolta na população, os funcionários ainda são submetidos à falta de água em pleno verão no litoral”, disse Ezequiel Dutra, diretor de imprensa do sindicato. No ano passado, a mesma agência fez uma paralisação pedindo a troca do gerente, acusando-o de assédio moral e perseguição. O gestor foi substituído, mas o descaso da empresa com os funcionários se agrava a cada dia.
Enxugar para privatizar
O secretário geral do SINTCOM-PR, Marcos Rogério Inocêncio (China), denunciou os ataques que os trabalhadores dos Correios vêm sofrendo, visando a privatização da empresa. “Enfrentamos diariamente o assédio moral, a Distribuição Domiciliar Alternada que gera atraso nas entregas e sobrecarga aos trabalhadores, descontos indevidos, intenção de cobrança de mensalidade no plano de saúde e retirada dos dependentes, sucateamento das unidades e da frota, falta de concurso público e, em destaque, a decisão da empresa de extinguir cargos e terceirizar todas as atividades, em decisão tomada em março do ano passado e que só agora veio a público”, citou China.
O último concurso dos Correios foi realizado em 2011. Na época, a empresa tinha 115 mil empregados. Em 2013, eram 127 mil. Hoje, são 103 mil. O número de empregados vem sendo reduzido mês a mês, seja pelos cada vez mais frequentes pedidos de demissão, seja pelos sucessivos planos de demissão voluntária que visam exclusivamente à redução do número de trabalhadores sem qualquer preocupação com os impactos na qualidade dos serviços prestados.
A mando de Temer, a atual direção dos Correios atua de forma escusa para atender a interesses privados daqueles que enxergam na privatização da empresa somente o lucro nas maiores cidades e grandes centros urbanos. Em muitos municípios, somente os Correios disponibilizam a circulação de recursos efetuando pagamentos de benefícios sociais, como o INSS.
Dentre os 5.570 municípios brasileiros, apenas 17 têm população superior a 1 milhão de pessoas. Obviamente, a iniciativa privada tem interesse somente nesses centros mais populosos, de fácil acesso pelos meios de transporte, com lucro garantido. No Paraná, mais da metade (204) dos 399 municípios têm até 20 mil moradores.
O prejuízo causado aos Correios e anunciado pela imprensa se deve à má gestão e à retirada indevida de R$ 6 bilhões para pagar aos banqueiros juros da dívida pública e contratações de empresas de consultoria sem licitação na ordem de mais de R$ 1 bilhão ao ano.
São notórios os efeitos do sucateamento dos veículos, cujos custos de manutenção aumentam mês a mês, devido à elevada idade da frota. O mesmo descaso é notório na estrutura física (em alguns locais, o forro do teto está prestes a desabar) aumentando o risco de acidentes.
A existência do Correios estatal garante preços justos dos serviços de correspondências em um mercado com forte tendência de formação de oligopólios quando operado pelo setor privado.
Embora seja alardeada a existência de monopólio, os Correios atuam em pé de igualdade nos serviços de encomenda, onde impera a livre concorrência, com preços justos e que impedem grandes grupos de praticarem tarifas exploratórias.
Os Correios, no Paraná, empregam 5,8 mil trabalhadores permitindo o sustento de 26 mil pessoas entre empregados e familiares. Dos funcionários, 85% trabalham na área operacional (entre eles, os carteiros), sendo que 97% do quadro possui ensino médio completo e/ou curso superior.
Por Cinthia Alves
VÍDEO: O retrato na fotografia, por Henry Milléo
февраля 7, 2018 19:43No segundo episódio que o repórter fotográfico Henry Milléo apresenta no seu canal do Youtube é sobre retratos. Ele faz uma narrativa de como surgiu este nicho na fotografia e acompanhou o amigo (e também fotógrafo) Ricardo Perini numa ação de fotografia de retratos.
Confira abaixo:
Por Joka Madruga
História dos Atletibas e a crônica musical que não fluiu
февраля 7, 2018 14:31Sendo eu uma modesta entusiasta de iniciativas bacanas, como a coluna LP – Crônicas musicais, produzida pelo amigo jornalista Regis Luís Cardoso, publicada no Terra Sem Males, sempre dediquei bastante atenção às postagens de sua coluna no site, como editora/revisora que sou.
Inocentemente, para provocá-lo a retomar os escritos em 2018, deliberadamente comentei numa postagem do Regis sobre a banda Motörhead (da qual sou uma notória fã).
Pois o combativo colega – da qual um dia fui também fã das crônicas musicais – decide falar de Atletiba na semana que meu time – o Coritiba – perdeu para o sub-23 do time dos demais entusiastas do Terra Sem Males – o Atlético Paranaense.
Numa crônica que termina com a expressão “um escritor de merda”, o amigo Regis fez analogias ao estádio do verdão, localizado no alto de tantas glórias, que os torcedores adversários chamam de “pinga mijo”, não porque aconteçam pingos de xixi, mas porque no nada saudável embate de torcidas arremessa-se durante as partidas, entre outros líquidos, talvez o mijo (nunca vi). E caminhou por percursos constrangedores, com inspiração em problemas intestinais, que culmina em jogar cueca suja no símbolo do time.
Longe de mim querer censurar linguagem chula ou ofensas irônicas entre nossos entusiastas no site, eu inclusive quero é mais crônicas musicais, mas se senti desafiada a trazer verdades, pois como editora do site, tive que inserir com meu login tal crônica abusiva contra o time de futebol que torço desde criancinha – ainda que depois que despendurei a chuteira como atleta de futsal, nunca mais tenha assistido um atletiba na vida.
Vamos aos fatos:
Desde 1924, ano do 1º dos 337 Atletibas, o Coritiba foi vitorioso em 132 jogos. Contando com os 99 empates e com o resultado desfavorável nesta semana, ainda faltam 25 vitórias para o Atlético Paranaense chegar lá.
Abraços, Regis, e faz logo a crônica musical homenageando o Lemmy.
(Essa é uma postagem irônica, para zoar os amigos jornalistas atleticanos Regis, JC e Joka, que gostam de me perturbar por causa de time de futebol).
Crédito da imagem: www.facebook.com/coritibaoficial/
Att. Paula.
Ladislau deixa sua marca no Couto Pereira
февраля 7, 2018 10:43Conheço um professor de literatura que é uma figura. Lembrei-me dele nesse fim de semana, depois que o Atlético derrotou o Coritiba. Ele é coxa-branca fanático e, como eu sou atleticano, resolvi escrever uma mensagem de what´s ‘tirando uma onda’ do amigo.
Óbvio, ele aceitou a brincadeira numa boa. Além disso, me chamou pra tomar uma cerveja num boteco qualquer. Topei.
No boteco:
– Cara, a hora que você me escreveu, eu tinha acabado de sair de uma aula muito estranha.
– Sério? Como assim?
Então meu amigo tirou uma folha de caderno do bolso, nela tinha uma redação, e começou a explicar o que tinha acontecido.
***
Eu ministrava uma oficina literária pra apenas um aluno. Foi a primeira vez que tive apenas um solitário ouvinte. Logo depois das primeiras atividades, ele, que se apresentou como Ladislau, solicitou a minha presença.
Deixei o meu café na mesa, levantei da cadeira e fui até meu único aluno. “Pois não?” – eu disse. “Cara… você pediu pra eu começar uma história sobre qualquer assunto, mas tá difícil de colocar no papel!” – disse Ladislau. “Não consigo pensar em nada!” – completou.
Ofereci um café pra ele, que aceitou. Deixei um copo com Ladislau, puxei uma cadeira e sentei. Aí sugeri que pensássemos em algo que ele gostasse. Perguntei o que ele tinha feito de interessante um dia antes da nossa oficina: “Fiz o que eu faço sempre, fui assistir um jogo” – disse Ladislau. “Que jogo?” – questionei. “Atletiba. Óbvio. Rolou lá no pinga mijo. Furacão na cabeça! Com o sub 23, ainda por cima”.
Ladislau então passou a tirar sarro do Coritiba…
Enquanto eu tomava um gole de café, sugeri que ele escrevesse sobre algum acontecimento que envolvesse o Atletiba, algo inusitado, banal, rotineiro, que pode acontecer com qualquer um.
“Entendi” – disse ele. “Sabe que hoje cedo aconteceu algo bem doido comigo. Foi uma coisa meio estranha. Meio desagradável. Mas que eu ri muito!” – completou Ladislau.
Fiquei feliz. Expliquei que lembranças assim são coisas legais pra se escrever.
***
– Tá, meu querido, mas aonde você quer chegar com essa história?
– Calma, cara. A grande verdade é que Ladislau só precisava encontrar sua alma na escrita. Lembra aquela música do Aggrolites… Countryman Fiddle? Então…
I need more soul with my music.
I got to have to have reggae reggae music.
I don’t need no countryman fiddle.
I need a real cool sound.
Meu amigo então cantou o refrão da música da banda de ska norte americana.
– Tô ligado. Faltava alma no negócio – respondi.
– Então… é isso… ele precisava encontrar seu reggae. Seu texto. Sua literatura.
– Legal…
– É, mais ou menos.
Percebi, depois dessas palavras, que o professor tinha mais coisas pra dizer. Ele pegou a folha da redação do ‘nosso amigo desconhecido’ e passou a explicar tudo com mais detalhes.
***
Ladislau começou sua redação assim:
“Hoje eu acordei contente. Aliás, eu e toda nação atleticana. Até porque, foi mais um dia de festa no Couto Pereira. A molecada do sub 23 do meu furacão destruiu o Coritiba lá no pinga-mijo”.
Depois, Ladislau disse que no dia após a partida, ou seja, hoje, ‘coincidentemente’, foi ver um apartamento pra morar. A localização? Exatamente na região do Alto da Glória.
“Não estava muito interessado, pela localização, porém fui lá ver, pra desencargo de consciência. Sabe como é… um apartamento perto do Couto Pereira, não sei se gostaria de morar…”, escreveu Ladislau.
Aí o cara começou a explicar que quando entrou no prédio, indo procurar o apartamento, sentiu uma cólica! Uma dor de barriga!
“Sabe quando parece que tudo tá mexendo? Uns roncos estranhos… pô… comecei a suar frio” – essa era a linguagem que ele usava.
Ladislau descreveu que foi difícil até pra conseguir abrir a porta do apartamento 303. Além disso, o prédio, com quatro andares, não tinha elevador.
“Imagine você, subir uns andares concentrado pra não cagar nas calças? Bem devagar e controlando a respiração? Ainda bem que consegui evitar o pior. Abri o apartamento e corri para o banheiro. Por sorte achei rápido, já na primeira porta. Aquela cagada foi demais!” – descreveu Ladislau.
O pior foi o cara explicar que ficou sem papel higiênico. Óbvio! Estava num apartamento colocado pra locação, não é? É lógico que a porra do imóvel, que não tinha nem mobília, não teria papel higiênico.
Imagine essa cena:
“Olhei pras minhas meias. Achei melhor não usá-las, pois iria ficar de sapato e sem meia. Eu não gosto de usar sapato sem meia. Então, não teve jeito, apelei pra cueca”.
Porra… o cara apelou pra cueca! Puta que o pariu!
“Quando puxei a descarga, também não tinha água. Mas aí foi só ‘ligar’ o registro que funcionou na boa. Outra coisa: não achei uma lixeira no AP e não dava pra deixar a cueca lá, né? Imagine só… outra pessoa ir visitar o apartamento e encontrar uma cueca toda cagada jogada em algum canto?” – Ladislau.
Depois ele me explicou que teve que sair do prédio com a cueca toda dobradinha, pra não sujar sua roupa. Bizarro, né? Mas a coisa não para por aí… tem mais…
Outra problema é que Ladislau não encontrou lixeira na rua. Aí foi pela calçada, em direção ao seu carro.
Bicho, olha o que o miserável escreve aqui:
“Eu tive uma luz! Sem mais nem menos… nem sei o motivo… olhei pra continuação da rua e vi o Couto Pereira! Cara… não sei o que me deu… já comecei a rir antes de entrar no carro. Fui em direção ao chiqueirão, sorrindo, olhei tudo aquilo, lembrei-me de mais um Atletiba, mais uma vitória, e, sem pensar direito, simplesmente desci o vidro da porta do carro, reduzi a velocidade, peguei minha cueca suja e fiz um lindo lançamento”.
Você acredita que esse filha da puta jogou uma cueca suja de merda em frente ao Couto Pereira? E ele disse que “foi lindo!”? É isso mesmo?
Esse Ladislau ainda descreveu que observou a cueca “voar lentamente, se abrir, flutuar e espalhar ‘minha marca’ na calçada do Couto”.
Puta merda. Essa aula foi uma desgraça pra mim.
“Foi muito engraçado. Nunca tinha acontecido isso comigo. De calafrios e cólicas até risos infinitos após lançar minha cueca cagada no Couto Pereira”.
***
Meu amigo respirou um pouco, sem saber o que dizer, olhou pra folha de redação de Ladislau e confessou:
– Apesar desse infortúnio contra a nação coxa-branca, só de ver o Ladislau concentrado, escrevendo freneticamente, com prazer, querendo ‘destruir’ o papel, foi bem bacana.
– Olha aí… eu particularmente, mesmo sem conhecer o escritor, aprovo sua literatura. Ladislau, aparentemente, tem futuro.
– Ah… não fode…
– Porra, o cara jogou uma cueca suja em frente ao Couto Pereira! Isso é histórico!
– Ah… vá se foder…
Meu amigo pegou o papel da redação do Ladislau, tirou sua caneta com o símbolo do Coritiba do bolso e escreveu com raiva…
“Ladislau, um escritor de merda”.
Por Regis Luís Cardoso
LP – Crônicas musicais
Foto: Capa do segundo álbum do The Aggrolites lançado em 2006
Terra Sem Males
Medida Provisória de Temer dá mais prazo para empresas de pedágio que não cumprem melhorias nas rodovias
февраля 7, 2018 10:10Está em debate no Plenário da Câmara Federal a Medida Provisória de Temer que beneficia as empresas concessionárias de pedágio de rodovias que estende para mais 14 anos o prazo para que os investimentos em infraestrutura estabelecidos em contrato sejam cumpridos.
Na prática, as concessionárias que não promoveram as melhorias terão seus contratos renovados. A MP 800 é de setembro de 2017 mas nesta semana os deputados federais podem legitimá-la em nome do “equilíbrio econômico-financeiro” das empresas concessionárias e em detrimento da população. Outro viés da MP é beneficiar investidores estrangeiros que estão de olho na venda do patrimônio público do Brasil promovido pelo governo Temer.
Confira informações divulgadas pela Agência Câmara sobre o debate no plenário:
Os deputados concluíram a fase de discussão da MP 800/17 na noite desta terça-feira. O deputado Esperidião Amin (PP-SC) criticou a proposta, que chamou de desequilibrada em favor das empresas. “O governo é conivente com a inadimplência das concessionárias, esquece o seu papel de árbitro na defesa do usuário, e enrola o cumprimento do seu compromisso pela não cobrança do pedágio em área urbana”, criticou.
Já o relator da matéria, o líder do PR, deputado José Rocha (BA), disse que a medida vai favorecer o usuário ao reequilibrar os contratos. “O governo altera os contratos justamente para que a infraestrutura viária concedida seja reprogramada na sua execução, permitindo o equilíbrio econômico-financeiro entre as empresas e o trabalho que elas se prestam a realizar”, disse.
O deputado Edmilson Rodrigues (Psol-PA) lembrou que o edital de concessão previa investimentos que deveriam ser cumpridos pelas empresas, que foram remuneradas por isso. “A empresa não faz o que precisa fazer. Apesar do discurso dos privatistas, os investimentos privados não chegam. E agora vem uma medida provisória e diz que, mesmo não cumprindo os contratos, as empresas serão premiadas, ampliando o prazo para os investimentos”, criticou.
A líder do PCdoB, deputada Alice Portugal (BA), também criticou a MP 800. Segundo ela, a medida vai beneficiar as empresas concessionárias em detrimento da população. “É o Refis das concessionárias, que terão benefícios, e toda a cobrança sobrará para aquele que trafega nas rodovias brasileiras”, disse.
Vice-líder do governo, o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS) defendeu a medida. “Estrangeiros e investidores estão chegando aqui no Brasil porque temos um programa extraordinário de concessões feito de forma rápida, aproveitando técnicos do governo passado que estavam ociosos”, disse.
Acesse aqui a íntegra da MP 800/2017
(Lembrando que Temer publicou sua primeira medida provisória, a nº 726, no dia 12 de maio de 2016 e em menos de dois anos do seu governo já são quase 100 MPs (a mais recente publicada no Diário Oficial é a número 819, de 25 de janeiro), documentos com uma assinatura presidencial e efeitos de lei imediata em que o debate no Congresso para implementação definitiva ou não é posterior)
Por Paula Zarth Padilha, com informações da Agência Câmara
Foto (arquivo): Marcos Santos/Jornal da USP (01/04/2015) – fotos públicas
Terra Sem Males
A fúria do messias, por Pedro Carrano
февраля 7, 2018 10:10Eu já estava quase chegando em casa, depois de uma viagem longa que começou lá no Tietê, em São Paulo, aportaria na rodoviária de Curitiba e se estenderia pelo ônibus biarticulado Santa Cândida – Capão Raso, em um final de segunda-feira ao sol. O clima, pra mim, era também de retorno das férias, indo na contramão da maioria das pessoas.
No fluxo de passageiros, alto naquele fim de tarde, ambulantes, jovens cantores e também pedintes surgiam e desapareciam a cada estação. Não só ali, mas era visível desde São Paulo a intensidade de formas que as pessoas encontram pra viver e se virar. Foi quando um dos vendedores tratou de usar talvez uma das melhores metodologias, que é a de distribuir o produto primeiro e depois se apresentar.
Sotaque carioca, vindo de uma comunidade de tratamento, o amigo, por um real, vendia um livreto de histórias bíblicas, com cores fortes e desenho com traço infantil.
Rapidamente, porém, um senhor do meu lado tomou a cartilha da minha mão e praguejou contra aquele abuso, aquela propaganda petista mal disfarçada, segundo ele.
O fascículo de Adão e Eva que caiu no meu colo trazia o casal fundante da humanidade totalmente nu, uma folhinha verde cobrindo as ditas vergonhas, e os dois corpos praticamente juntos. Aquela “ideologia de gênero”, se justificava pro velho também no fato de que o traçado de Adão e Eva não definia direito quem era quem. Revoltado, ele se disse major reformado do exército e passou a insuflar o ônibus contra o vendedor ambulante. A maioria dos passageiros assistiu pasma àquela cena, o próprio vendedor demorou pra entender qual era o problema. A maioria na verdade mastigava uma indiferença gritante, presos na tela do celular, deixando aquela cena apenas pro núcleo de pessoas que estava no fundo do busão.
O vendedor, confuso, tentou amenizar a situação agarrado nas leis do mercado:
– Mas, moço, é só um real! Ele explicou que não tinha nada a ver, que precisava vender e trabalhar pro sustento e pra deixar o vício.
– E vai sair do vício desse jeito? Nada convencia o sujeito raivoso, que conseguiu ao menos arrebanhar algumas pessoas revoltadas pro seu lado. Seus argumentos automáticos, quase um condicionamento canino à Pavlov, chegaram a nos metralhar, fazendo pontes com a Coreia do Norte, prisão do Lula, Cuba, Venezuela, tudo isso se sintetizava naquela imagem brasileira e ingênua de Adão e Eva nus, que agora ganhava ar de conspiração – e nada nos ajudava a criar um antimíssil contra aquela bateria de chavões e tópicos de senso comum disparados contra nós.
O tom era tão alheio à nossa brasilidade, e mais próximo do puritanismo gringo, que ao menos algumas pessoas davam risada daquela situação. Relaxa, é carnaval! Alguém poderia intervir, mas faltou coragem a vários de nós. Outros filmavam, talvez na esperança de que o vídeo viralizasse.
Tentei interceder, explicar pelo lado trabalhista o que ninguém está interessado em escutar, falar da necessidade daquele bom moço frequentador de comunidade terapêutica, mas não teve jeito, tivemos que deixar o ônibus antes que o caldo engrossasse. Os seguidores do novo messias do coletivo já estavam nos ameaçando ou no mínimo olhando feio.
O ônibus enchia de gente, faltava condição e até espaço físico pra qualquer debate sereno e o vendedor desceu. Desci junto, em solidariedade, e porque não havia muita condição de permanecer depois das discussões com os cruzados daquela causa mal explicada. Ameaçaram até chamar a guarda municipal.
Descendo, eu e o vendedor, cada um iria pro seu canto, e não parecia ter muito espaço e contexto pra apresentações. Ele apenas agradeceu meu empenho na defesa, e mostrava que a vida tinha que continuar rápida no giro do próximo ônibus.
Mas não deixou de pedir, aproveitando a empatia gerada:
– E agora vê se me descola um real, chefe. Tu não me defendeu só nos holofotes, né? Eu preciso viver!
Por Pedro Carrano
Terra Sem Males, Mate, Café e Letras – crônicas latinoamericanas
Onde foi parar o apoio incondicional ao Paraná Clube?!
февраля 6, 2018 11:17Não estou satisfeito. Preocupado? Sim, muito! Mas não acho que é o momento de sair agredindo jogadores, treinador e especialmente a direção. Nem tanto céu e nem tanto inferno. Estamos pagando o preço de ter que reconstruir um time por ano. Sempre foi assim. Inclusive no início dos anos 2000, quando estávamos na primeira divisão. E ainda assim no Nacional montamos os bons times de 2003, 2005 e 2006.
Contratar errado ou investir em uma promessa que vira decepção são riscos que temos que correr. Muitos vão dizer que deveríamos segurar o elenco do ano passado. Mas sabemos como funciona a cabeça dos jogadores, pensam sempre no retorno imediato, como aliás pensa a maioria dos profissionais.
O que não podemos esquecer é que mudam os jogadores, mas a direção continua. O presidente não pode abandonar sua filosofia de trabalho porque o Renatinho, por exemplo, não admite receber menos que tantos mil reais. Se queremos construir um time sólido precisamos parar com o imediatismo e pensar a médio e longo prazo.
Mas então, o que fazer? Guardar as críticas pra si? Claro que não! É possível criticar, mas sem ofensas pessoais. Sem o pessimismo rancoroso. Em 2017 formamos uma atmosfera perfeita. Se aquele time era melhor? Muitos já cravam que sim. Eu prefiro dar tempo ao Wagner Lopes e a quem está chegando.
Temos mais de dois meses até a estreia na Série A, o que deve ocorrer no dia 14, 15 ou 16 de abril, contra o São Paulo, no Morumbi. Até lá temos a obrigação de manter a Vila cheia e confiar no trabalho que está sendo realizado desde 2015.
Por Marcio Mittelbach
Guerreiro Valente, Terra Sem Males
Foto: Joka Madruga/TERRA SEM MALES