PROFESSORES MUNICIPAIS DE CURITIBA QUESTIONAM CONVOCAÇÃO DA PREFEITURA DE TREINAMENTO PARA IDEB
14 de Setembro de 2015, 14:11Na semana passada, o Terra Sem Males recebeu uma denúncia de uma professora municipal de Curitiba questionando a convocação da Secretaria Municipal de Educação e da Prefeitura Municipal para treinamento de professores de português e de matemática com o objetivo de melhorar o resultado do IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). A chamada Prova Brasil será aplicada para os estudantes em novembro e até lá, os professores do 5º ano do ensino fundamental de Curitiba devem se revesar em “permanências concentradas”.
De acordo com relato, “as professoras são obrigadas a ir, e ameaçadas com penalidades caso não participassem. As alfabetizadoras dos núcleos de educação levam planejamentos prontos, com textos e problemas das Provas Brasil anteriores, inclusive xerocados na quantidade certa de alunos para cada turma, que as professoras devem ‘APLICAR’ em sala de aula com os estudantes”.
De acordo com publicação do SISMMAC, sindicato da categoria, diversas denúncias chegam à entidade sobre o formato e o calendário do treinamento. O sindicato salienta que o conteúdo não está sendo questionado, mas que os professores têm restrições sobre a forma que o Ideb é aplicado como forma de avaliação dos alunos.
Acesse aqui a denúncia publicada no SISMMAC.
Confira abaixo a reprodução do documento enviado ao Terra Sem Males sobre a convocatória:

Reprodução de documento enviado ao Terra Sem Males com a convocatória para a permanência.
Por Paula Zarth Padilha
Terra Sem Males
A GAIOLA DOS LOUCOS: ELE ENTRA NO BUS E SÓ QUER OUVIR UM FUZZ
14 de Setembro de 2015, 12:43(parte 1)
Marcos Iarga Master é o messias do barulho. De milênios em milênios ele perambula pelo mundo. Sua função é testemunhar a história musical interplanetária.
O messias do barulho já foi grilo cantador, já foi sapo compositor e hoje mora em Curitiba.
Neste momento está no Terminal do Portão e vai pegar o biarticulado sentido Terminal do Cabral.
…
Ele entra no bus e só quer ouvir um fuzz.
…
“Mudhoney!” – Marcos dá play em seu som e abre um pequeno sorriso. Entra no ônibus pela última porta, vê um lugar vago e senta-se. O ônibus não está lotado, apenas os lugares do fundão estão ocupados. Há mais bancos desocupados nas proximidades das portas 1 e 2.
Após alguns minutos, parada no tubo Dom Pedro I (no bairro Água Verde – Av. República Argentina). Ao abrir das portas, entra um senhor que aparenta ter uns 70 anos.
De pela branca, cabelos brancos, camisa xadrez de manga curta, calça social branca e sapatos brancos, o senhor vai pela porta 2 em direção a parte dos fundos.
Marcos aumenta o som…
…
Mudhoney é uma banda precursora do movimento grunge de Seattle do fim dos anos 80, estão na ativa atualmente. São barulhentos… e é graças ao barulho que Marcos Iarga Master vaga por todos os cantos do mundo conhecendo novos artistas.
Ele voa como o tempo.
Poderia estar em Seattle, mas hoje ele mora em Curitiba. Não se sabe o motivo de viver na capital paranaense, de perambular sem rumo por aqui. Talvez busque alguma nova banda barulhenta, já que seu radar raramente falha.
…
Então Marcos pausa a música. Na sua frente está parado aquele velho que caminhava em direção ao fundão. O messias agora tira os fones e espera pra ouvir o que o senhor tem pra falar.
Porém o velho apenas faz um sinal, mexe seus óculos de grau com armação preta e novamente gesticula (indicando o banco do ônibus).
Master percebe que o velho quer sentar onde ele está. Por isso levanta e cede o lugar. O messias olha pra frente do bus e vê vários bancos vazios. Prefere não falar nada.
O velho está abraçado num monte de papéis, isso chama atenção de Marcos. Ao invés de sair de perto e buscar um banco vazio, olha rapidamente os papéis que aquele senhor segura. “Andrei Sakharov?” – consegue ler rapidamente o que está nos braços do senhor e fica intrigado.
…
Marcos Iarga Master passou diversas vezes pela Rússia. Conheceu o físico Andrei Sakharov quando esse estava preso na Sibéria.
Sakharov recebeu Nobel da Paz em 75 na incansável luta pelos direitos humanos na extinta União Soviética. Mesmo sendo um dos mentores da primeira bomba de hidrogênio da história, Andrei ficou mais conhecido como cientista humanista.
…
O messias olha fixamente pro velho sentado. O ônibus sai do tubo Dom Pedro I e segue seu rumo. “Que não é o Sakharov eu sei que não é” – pensou Marcos.
– O que tá olhando porra? – disse o velho pra Marcos.
– Como é que é? – respondeu o messias atordoado, pois não esperava uma pergunta tão direta.
– Você tá olhando o que? Fica aí parado me olhando. Tá me achando bonito?
– Não! Que é isso senhor…
– Tá me achando feio?
– Não… não… olha só… não foi isso que eu quis dizer…
– É… você até agora não disse porra nenhuma. Só fica aí olhando. Que porra cara, não pode olhar pra outra pessoa?
– Desculpe senhor, mas é que na verdade tem algo me intrigando!
– É mesmo? O que? Meu pau?
– Que é isso! Você só pode estar de brincadeira comigo né.
– Eu? Você fica me olhando e eu que estou de brincadeira?
– Andrei Sakharov?
– Sim… sou eu mesmo. Por quê?
– Hã?
– O que foi… alguma coisa errada com meu nome agora?
…
Marcos não sabe se chora ou desmascara o velho. “Isso parece uma grande brincadeira”.
…
– “Uma sociedade livre é uma sociedade conflituosa!”, não é Andrei?
– O que?
– Isso que eu acabei de falar não foi você quem disse?
– Não disse porra nenhuma, aliás, vou te dizer uma coisa, você tá tirando onda da minha cara? Filha da puta…
– Não… mas o que é isso. Filha da puta não ein…
– Vai chorar agora bebezão.
– Olha só… eu achava que Andrei Sakharov tinha dito aquela frase.
– Olha aqui… eu não disse isso pra ninguém… e se tivesse dito, não seria pra você…
– Certo, e a Yelena, como está?
– Quem?
– Yelena Bonner, sua esposa!
– Olha aqui cara… desconheço essa pessoa.
– Você não é Andrei Sakharov. Este nome é de um físico russo. Eu o conheci quando ele estava preso na Sibéria.
– Pelo menos tenho alguma coisa parecida com esse russo aí…
– É mesmo, o que?
– Já fomos presos… – e sorriu.
– Olha… não sei… está estranho isso… não bate! A sua idade! Quem te arrumou esse apelido?
-Apelido?
– É.
– Seu moleque… esse é meu nome porra…
– Pare com isso… vai me dizer que você é um dos inventores da bomba de hidrogênio?
– Bem que eu queria ter inventado uma bomba…
…
A cada parada entram pessoas, saem outras e a conversa dos dois continua. “Esse velho louco e desbocado não consegue falar algo sem soltar um palavrão! Como esse cara tem o nome do Andrei!” – se indaga o messias do barulho.
…
Sakharov era odiado pelo regime da União Soviética e perseguido pela KGB. As autoridades chegaram a dizer: “nós não vamos deixá-lo morrer, mas vamos deixá-lo inválido”. Porém o cientista sobreviveu à pressão. Mais tarde voltou a Moscou e tornou-se político.
Um dos primeiros big brothers da história pode ser assistido quando Andrei estava preso. Havia câmeras por todos os lados no pequeno apartamento em que vivia na Sibéria.
Tentou escrever, por três vezes, um livro. Quando Mikhail Gorbachev assumiu o país, a KGB (extinta no início da Perestróica – fim da década de 80) entregou um dossiê sobre Andrei. Dizem que todos esses documentos foram queimados. O estranho é que Andrei não havia entregado seus escritos pra ninguém. Então a questão é como o governo conseguiu os manuscritos que estavam no dossiê?
Quando Sakharov voltou à Moscou, ele acreditava que Gorbachev tinha intenção de fazer reformas políticas no país e libertar presos políticos. Passados alguns anos, Andrei e Gorbachev romperam. O físico perdeu força política, pois os conservadores fizeram de tudo para calá-lo, e morreu no fim da década de oitenta.
…
A conversa segue:
– Então eu não estou falando com a pessoa que questionou todo um sistema?
– Aff…
– “A raiz quadrada da verdade é o amor”, foi você quem disse isso?
– Foi… claro que foi… disse isso pra tua mãe.
– Você não honra teu nome… senhor Andrei Sakharov.
– Mas é claro que não!
Os dois se olharam…
O velho sentado no banco do ônibus abraçado aos seus papéis e Marcos em pé, pálido como a eternidade.
– Se você é o velho Andrei, vou te fazer uma pergunta.
– Você é meio inconveniente… – disse o senhor de setenta anos.
– Se você fosse político. Vamos dizer assim, um senador. E alguém dissesse pra você o seguinte: “você está no nível mais alto do poder!”. Qual seria sua resposta?
– Ah… corta essa… porra… “vai se foder”… essa seria minha resposta…
– Você não é Sakharov!
– Tá bom cara… eu não sou… cara chato da porra…
– A resposta é essa: “não estou no nível mais alto, estou ao lado, mas do lado de fora”.
– Aff… e daí cara… o que eu tenho com isso?
– Você disse que era o Sakharov e eu sei que você não é…
– É claro que eu sou porra… vai tomar no seu cu…
…
(continua na próxima segunda-feira)
Por Regis Luís Cardoso
LP – Crônicas musicais
Terra Sem Males
PAGAMENTO DA DÍVIDA PÚBLICA TRANSFERE DINHEIRO PÚBLICO PARA BANCOS PRIVADOS, AFIRMA AUDITORA
11 de Setembro de 2015, 16:37Maria Lúcia Fattorelli, coordenadora da Auditoria Cidadã da Dívida, está em Curitiba dias 10 e 11 de setembro
“Todo mundo pensa que a dívida pública é o instrumento utilizado para pegar empréstimos para investimento. Mas quando investigamos que dívida é essa, não encontramos a contrapartida social”, explica Maria Lúcia Fattorelli, auditora fiscal que coordena desde o ano 2000 a organização Auditoria Cidadã da Dívida, que estuda dados oficiais (e públicos) do Orçamento Geral da União e se mobiliza por uma alteração estrutural no país. No sistema financeiro do país.
O Orçamento Geral da União atingiu R$ 2,1 trilhões, em 2014. Desse valor arrecadado, 45,1% (R$ 978 bilhões) foram utilizados para o pagamento da dívida pública. Isso significa, na prática, favorecimento do sistema financeiro, através da remuneração dos bancos privados, verba que deveria ser destinada em contrapartidas sociais.
De acordo com a especialista, a Lei de Responsabilidade Fiscal limita gastos do orçamento com o social mas deixa livre o custo da política monetária. “A União continuamente transfere recursos do setor público para o setor financeiro privado. E quem paga a conta é a sociedade”, esclarece Fattorelli.
“A política econômica do Banco Central paga aos bancos quando o valor do dólar é elevado e também paga aos bancos, com títulos públicos, as sobras de caixa em moeda. Esses títulos da dívida pública pagam os juros mais altos do mercado, que está em torno de 15%”, explica Fattorelli. Essa remuneração de sobra de caixa, com a retirada de moedas de circulação dos bancos, está em R$ 1,1 trilhão, de acordo com dados da Auditoria Cidadã da Dívida.
O lucro dos bancos que atuam no Brasil foi de mais de R$ 80 bilhões, em 2014, apresentando “escandaloso crescimento”.
Por que o governo se submete ao pagamento da dívida?
De acordo com Fattorelli, entre os fatores estão o poderio do sistema financeiro em âmbito mundial, com o poder financeiro influenciando o poder político, e no caso do Brasil, “porque os bancos têm sido os maiores financiadores de campanhas eleitorais”.
Quais os impactos sociais dessa transferência de recursos ao sistema financeiro?
- O Brasil é o 7º país mais rico do mundo, mas o 79º no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH);
- Desigualdade de renda;
- Injusta tributação;
Propostas da Auditoria Cidadã da Dívida para redução das desigualdades
- Regulamentação do Imposto sobre grandes fortunas;
- Cobrança maior do Imposto Territorial Rural para promoção da Reforma Agrária;
- Fortalecimento da fiscalização da dívida pública e da sonegação;
- Envolver a comunidade.
Para Maria Lúcia Fattorelli, com o uso adequado da dívida pública para investimentos sociais, os brasileiros não precisariam se preocupar com planos de saúde ou escolas privadas.
A auditoria da dívida pública está prevista na Constituição de 1988, mas não é cumprida. A organização propõe auditoria integral, não só financeira, com participação popular. A partir da documentação sobre as irregularidades, é possível reduzir o montante, emitir moeda para compra de parcelas legítimas da dívida (aquelas que seriam utilizadas para investimento em infraestrutura. “A decisão de remunerar o setor financeiro utilizando recursos públicos é deliberada”, denuncia Fattorelli.
O Terra Sem Males acompanhou Maria Lúcia Fattorelli durante o lançamento do Núcleo Paranaense de Auditoria Cidadã da Dívida, criado em Curitiba na noite de 10 de setembro, no Espaço Cultural dos Bancários. Também acompanhou a entrevista exclusiva que a especialista concedeu à equipe de jornalistas do Sindicato dos Bancários de Curitiba e Região nesta sexta, 11 de setembro, no Sindicato dos Engenheiros do Paraná.
Fattorelli estará a partir das 18 horas proferindo uma palestra sobre o tema no prédio histórico da Universidade Federal do Paraná, na Praça Santos Andrade.
Saiba mais: Pagamento da dívida pública engrossa lucro dos bancos
Por Paula Zarth Padilha
Terra Sem Males
O HOMEM EM FRENTE À VITRINE
11 de Setembro de 2015, 14:39Quando ele observou José pela primeira vez, imaginou uma história mais longa do que o andarilho de fato carregava nos seus cabelos brancos, barba volumosa e suja. Claro, ele não chegou a ser mais um fotógrafo atraído pela imagem de pés descalços batendo no chão com certo ritmo e um pouco de impaciência. Ele era fotógrafo profissional e apenas o retrato de um mendigo já não parecia mais vender tanto.
Só que José chamava a atenção, detido em frente à vitrine de uma loja de brinquedos produzidos na China. No mínimo, ele teria garantida a imagem do dia no jornal para o qual trabalhava naquela semana. José olhava para os brinquedos reluzentes e no olhar do fotógrafo surgia o cálculo de quilômetros debaixo de estradas que José, brasileiro, deve ter atravessado, a pó e chuva, também vivenciando sóis de final de tarde inacessíveis para pessoas comuns.
A verdade é que o homem que manipulava as lentes idealizou uma sensação de liberdade ao imaginar a vida de José. E isso resultou no texto de introdução à foto inscrita em concursos dos quais participou com aquele perfil de traços únicos.
Por razões que sempre estão fora do alcance, a foto ganhou um concurso e logo as redes sociais. Teve milhares de compartilhamentos e o nome dele, que não era necessariamente um desconhecido na área, ganhou notoriedade. Jesus, com toda a força que sua mãe resolveu lhe batizar, agora era um fotógrafo cujo trabalho finalmente ganhou repercussão.
O rosto barbudo retratado de lado, contemplando com certo divertimento aqueles brinquedos inacessíveis, foram uma lição de sensibilidade edificante, alertando as pessoas sobre os riscos do consumo e para o que de fato é essencial nesta vida.
Os olhos de José captados pela imagem invertida de Jesus não pediam pena ou indicavam qualquer drama. José contemplava aqueles joguinhos de cor púrpura, aquelas baboseiras reluzentes de plástico. Mas os prêmios não paravam de chegar, o que forçou o repórter a transformar o trabalho como um ponto de partida para um ensaio maior sobre os andarilhos da cidade. “Migrantes”, ele nominou a exposição. Passou alguns dias em trânsito na rodovia no entorno da capital registrando e conversando com algumas dessas pessoas que, abandonando tudo, viviam em movimento e no desapego supremo, na lição de Cristo vivida na pele. Camelos que se recusaram a passar no fundo da agulha. O próprio nome de Jesus ajudava no contato e na empatia com os caminhantes.
Ele tornou-se amigo de moradores de ruas e estradas. Alguns então tiveram exposição na mídia e localização inclusive por parte dos familiares. Isso à exceção de José, que nunca mais foi encontrado por ele e nem por ninguém. Tantas narrativas juntas surgiram na primeira exposição e o que inquietava Jesus era a falta de contato justamente com o andarilho da primeira foto, que desencadeou todo o êxito e os trabalhos seguintes. Não sabia sequer se o nome do homem em frente à vitrine chamava-se mesmo José, como havia escrito na legenda do trabalho.
A inquietação de Jesus aumentou mais ainda com uma mensagem nas redes sociais, meses depois, pedindo ao fotógrafo, em determinado dia e hora, um encontro com o “homem da vitrine”, no mesmo endereço e loja onde havia feito a imagem de tanto sucesso. A mensagem de início parecia um vírus, mas fundo não deixava dúvida do que o fotógrafo deveria fazer.
Jesus assim arrumou uma brecha na pauta de tarefas do dia e postou-se na marquise em frente à loja. Cansou de esperar e começou a ver naquilo tudo uma grande idiotice. Estava atrasado para a próxima pauta, recebendo os respingos e molhando as canelas naquela tarde de chuva. Mas um funcionário da loja, hesitante, foi se aproximando do fotógrafo.
– Desculpa.
– Sim.
– O senhor se chama Jesus?
– Sou eu.
– Mesmo?
– Sim, é meu nome.
– Dá licença?
– Claro.
– Um senhor de barba deixou este bilhete aqui na loja. É para o senhor.
– Valeu.
– Dá licença.
Na verdade, era um papel amassado, com letras garrafais e uma pequena mancha de terra. Na mensagem, não havia nada de mais, e daí ficou evidente que o fotógrafo não encontraria o fotografado. A mensagem do tal José pedia apenas a Jesus que cumprisse o que a foto realmente estava dizendo no instante quando foi feita. O mensageiro entendia a repercussão da imagem, mas se o fotógrafo pudesse deixar um brinquedo qualquer pago para ele naquela loja, o andarilho estaria agradecido.
Isso porque naquela tarde do registro fotográfico, uma neta do velho havia nascido e ele queria presenteá-la.
A mensagem ainda terminava com a assinatura de José. Só que escrita com aspas.
Conto de Pedro Carrano
Crônicas de Sexta
Terra Sem Males
CRÔNICAS CURITIBANAS: UM DIA DETESTÁVEL
10 de Setembro de 2015, 17:52Muitos fatores podem contribuir para um dia detestável. O clima é um deles. Talvez o principal. Como o dia de hoje, pós feriado, em que o céu ganhou contornos gris, as nuvens lavaram a atmosfera e os colos ganharam echarpes. As palavras poéticas, no entanto, não amenizam o quanto esse tempinho fechado é desagradável. Basta por o pé para o lado de fora, antes da esquina, e se você não estiver de galochas, as meias já ficam todas molhadas. As calças e o vestuário de cima também. Um horror. Uma lástima que cresce em desprezo quando temos que nos equilibrar para andar segurando o guarda-chuva (ou GPS de poça) numa mão e o celular na outra. Que tristeza.
Mas esse dia detestável pode ser contornado com algumas medidas. Não vamos tratar aqui de carros, de táxi, de desmarcar compromissos, porque são benefícios da burguesia. Eu miro no povo. Naquele que se apequena no ponto de ônibus, que trabalha a pé, de bicicleta e afins. Para nós, nada melhor do que arrancar a roupa e tomar um bom banho. Assim, se desfaz o dia intolerante.
E é certo que um dia de chuva, para muitos, não é tão detestável. Vide a galera “deboas”, que pode até enxergar um benefício no aguaceiro. Chuva enche represa de água que está baixa. É um argumento bom, embora prefira que seja utilizado apenas no pé da serra.
Mas eu até concordo com a turma do ‘veja bem’. De certo que quem gosta apenas de verão, só admira um quarto do ano. Os demais ciclos são detestáveis. E convenhamos, sol demais também é detestável. O clima fica seco, a gente soa demais, dá pigarro, a represa seca, a conta de luz sobe por causa do ar condicionado. Logo, uma chuvinha, para variar, cai bem.
E dias ensolarados também podem ser detestáveis pelos arranjos da vida. Conto três causos curtos. Ontem, quarta, também foi um dia detestável. Nem pelo clima, mas pelo clima. Explico-me. Na Câmara dos Deputados, os nobres, rejeitaram emenda dos senadores que acabava com o financiamento privado de campanha e optaram por manter e ampliar um modelo que reconhecidamente estimula a corrupção. Ou seja, durou somente um feriado o bloqueador de malandragens da sociedade. Que detestável. Tão repugnante quanto a imagem do menino sírio morto numa praia da Turquia. Faz uma semana, se não me engano. Aquela imagem, mais do que um dia nublado serviu para tornar tudo desagradável. Não só o dia, mas toda a semana. Por fim, quem, voltando de férias, após ter seu filho nascido poderia ter um dia desagradável? Justamente o pai que foi recebido com a carta de demissão no principal jornal impresso do Paraná. É muito detestável.
Em tempo: Não é o dia, mais 2015 que está sendo detestável.
Por Manolo Ramires
Crônicas Curitibanas
Terra Sem Males
CENTRO ESPECIALIZADO EM DST ATENDE TODA A POPULAÇÃO
10 de Setembro de 2015, 17:25O Centro de Orientação e Aconselhamento (COA), localizado no distrito sanitário matriz, é um serviço de prevenção, orientação e atendimento para HIV/Aids e outras doenças sexualmente transmissíveis. O local realiza diagnóstico por meio de teste considerado rápido, acompanhado de aconselhamento, gratuito e confidencial. Em menos de uma hora depois do teste o usuário tem acesso ao resultado e recebe orientação a partir dele.
A reportagem do Sismuc realizou agendamento e conferiu: o usuário conta com bom tempo para atendimento e orientação. A sala de espera reúne todo tipo de pessoas, de travestis a estudantes, trabalhadores, idosos, homens e mulheres, bem como a população carente.
Alguns olhares estão desolados naquele local. Outros, aliviados com o resultado do teste. Um tatuador de 34 anos, ao lado da namorada, revela que procurou pela segunda vez o COA. Ele comenta que conheceu a realidade do atendimento público, diferente do que aparece na mídia. “O atendimento é bom, tive as informações que queria e não é demorado. Recomendei para amigos”, afirma o tatuador.
Saiba mais: Referência e atendimento aumentam a demanda do Centro de Orientação e Aconselhamento
Por Pedro Carrano
Sismuc
AUDIÊNCIA PÚBLICA SOBRE DEFESA DA PETROBRÁS NA CÂMARA DE CURITIBA
10 de Setembro de 2015, 15:54Na tarde desta quinta-feira, 10 de setembro, a Câmara Municipal de Curitiba promove Audiência Pública em Defesa da Petrobrás. O encontro conta com a participação de representantes do movimento sindical e dos movimentos sociais. O objetivo é debater a importância da estatal petrolífera para o desenvolvimento do país e criar uma frente parlamentar em defesa da empresa.
Foto: Leandro Taques.

Foto: Leandro Taques.
Para o presidente do Sindipetro PR e SC, Mário Alberto Dal Zot, a Petrobrás passa por uma sucessão de ataques com a finalidade de denegrir sua imagem perante a opinião pública e, assim, diminuir seu potencial de crescimento e desenvolvimento. “Isso está comprovado no novo Plano de Negócios e Gestão, que prevê venda de ativos de patrimônio e redução de investimentos. A situação é agravada pelos oportunistas, como o senador José Serra (PSDB/SP), que aproveita o momento para apresentar um Projeto de Lei (PLS 131/2015) que retira da Petrobrás o direito de ser operadora exclusiva na área do pré-sal”, destacou Dal Zot.
O novo Plano de Negócios e Gestão da Petrobrás, aprovado pelo Conselho Deliberativo da empresa no final de junho, prevê cortes de US$ 89 bilhões nos investimentos e despesas da empresa e venda US$ 57 bilhões em ativos de patrimônio da estatal. “A Petrobrás é muito maior do que os escândalos de corrupção envolvendo empreiteiras que prestaram serviços. Queremos investigação, punição e devolução à Petrobrás dos valores desviados. Todavia, também queremos que a empresa siga como propulsora da economia brasileira, pois responde por 13% do PIB”, destacou.
Com o enfraquecimento da Petrobrás, duas das áreas mais importantes para o desenvolvimento do Brasil seriam gravemente prejudicadas: a saúde e a educação. A Lei dos Royalties, aprovada em 2013, garante que 75% dos royalties do petróleo sejam destinados para a educação e 25% para a saúde. Além disso, o texto também garante que 50% dos recursos do fundo social do Pré-Sal também sejam destinados para estas duas áreas.
Com informações do Sindipetro PR/SC
Terra Sem Males
CINEASTA PALESTINO INDICADO AO OSCAR ESTEVE EM CURITIBA
10 de Setembro de 2015, 14:39O cineasta palestino Emad Burnat, diretor do documentário 5 Câmeras Quebradas, indicado ao Oscar de melhor produção estrangeira em 2013, está em Curitiba para divulgação e sessões de exibição gratuita de seu filme, que conta a história de sua vida e da vida de sua família.
Na manhã desta quinta-feira, 10 de setembro, ele concedeu entrevista coletiva na sede do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná (Sindijor PR), e falou, em português, sobre a produção do documentário, sobre o furo ao bloqueio midiático na luta dos palestinos após a indicação ao Oscar, sobre como a violência é retratada pelos meios de comunicação e sobre como é a vida de sua família. Emad, sua esposa e filhos moram na Cisjordânia.
“Na Cisjordânia, onde eu moro com a minha família, é mais difícil. O exército israelense está dentro da cidade, entra e sai das casas a hora que quer. Em Gaza há um bloqueio, os soldados não entram. Quando eu quero sair da Cisjordânia, não tem como. O aeroporto de Tel Aviv fica a 15 minutos de carro da minha casa, mas eu tenho que sair pela Jordânia, andar 100 quilômetros num trajeto que demora 24 horas”, contou ao ser abordado pelo Terra Sem Males sobre como é sua vida e a vida de sua família na região.
Furando o bloqueio midiático
Para Emad, seu documentário sobre a vida dos palestinos chamou a atenção do mundo porque quem faz filmes sobre a Palestina geralmente vem de fora, não conhece a realidade dos moradores de lá. “Eu quero mostrar como meu filho está crescendo. As pessoas não sabem nada sobre isso, não têm essa experiência, esse sentimento”, conta.
Para ele, o Oscar foi importante pela visibilidade. “Mas minha vida não mudou nada. Para mim ficou mais difícil”, diz.
5 Câmeras Quebradas
Para produzir o documentário, Emad filmou durante quase sete anos e tem aproximadamente mil horas de imagens. “A mídia foca na violência em Gaza e esquece da luta do povo. O filme tem muita diferença. Eu vivi a experiência sobre a ocupação a minha vida inteira, queria mostrar para o mundo esse lado que o mundo não conhece. Eu sabia o que eu queria”, descreve o cineasta.
Ele contou que continua filmando pensando na continuidade do filme mas que ainda vai levar alguns anos para produzir. “Eu não parei, estou pensando para continuar a história, e todas essas perguntas eu vou responder no filme”.
Para ele, os festivais de cinema abriram muitas portas mas de um mundo que ele não gostou. “Não gostei do mundo do cinema falso, de mentiras. Eu não quero mentir para as pessoas. Eu gosto do meu mundo de fazer cinema”.
Exibição gratuita
Nesta sexta-feira, 11 de setembro, o documentário “5 Câmeras Quebradas” será exibido às 14 horas na Cinemateca (Rua Presidente Carlos Cavalcanti, 1174) e às 19h30 terá exibição pública no Cine Guarani (Av. República Argentina, n°. 3.430, Bairro Portão – subsolo do Espaço Portão Cultural), seguida de debate com Emad Burnat.
Por Paula Zarth Padilha
Terra Sem Males
SINDIJOR PROMOVE COLETIVA COM CINEASTA PALESTINO INDICADO AO OSCAR 2013
9 de Setembro de 2015, 13:50Emad Burnat, diretor do documentário palestino Cinco Câmeras Quebradas estará em Curitiba nesta semana para um bate-papo e exibição de seu filme na Cinemateca de Curitiba. A iniciativa é da Federação Arabe Palestina do Brasil, Sociedade Beneficente Muçulmana e do Comitê Árabe Brasileiro de Solidariedade Paraná.
Em apoio, o Sindicato dos Jornalistas do Paraná convida jornalistas e blogueiros para uma coletiva de imprensa nesta quinta-feira, 10 de setembro, às 11h30 da manhã, na Sede do Sindicato (Rua José Loureiro, 211).
SOBRE O DOCUMENTÁRIO E EMAD BURNAT
O filme “Cinco câmeras quebradas” foi indicado ao Oscar de melhor documentário estrangeiro em fevereiro de 2013, tendo recebido a premiação em Califórnia, Los Angeles, e tem como diretor Emad Burnat.
O filme “Cinco câmeras quebradas” é o resultado de sete anos de trabalho de Emad, que comprou a primeira câmera quando o seu filho Gibril nasceu e passou a registrar tudo o que acontecia em sua vila natal, Bil’in, na Cisjordânia sob ocupação militar de Israel. Emad fez um documento fundamental para a compreensão, pelo público externo, do cotidiano palestino sob ocupação. O título do filme faz referência às cinco câmeras que o exército israelense inutilizou ao atingi-las com tiros. Numa dessas ocasiões o equipamento salvou a vida do diretor – a câmera deteve a bala atirada na direção da cabeça de Emad.
“Cinco câmeras quebradas” é o primeiro filme palestino a concorrer a um Oscar; além de muito elogiado pela crítica, vem tendo uma trajetória de sucesso em todo o mundo. Em 2012, foi indicado para o Asian Pacific Screen Award e ganhou o prêmio de melhor documentário no Jerusalém Film Festival; o de melhor diretor de documentário no Sundance e também foi indicado para o Grande Prêmio do Júri desse festival, nos Estados Unidos, e o Busan Cinephile, do Busan International Film Festival, da Coreia. Em 2011 recebeu o Prêmio Especial do Júri e o Prêmio Especial do Público no International Documentary Film Festival Amsterdam (IDFA), na Holanda. A. O. Scott, crítico do The New York Times, considerou-o uma “comovente e rigorosa obra de arte”. Ele tem razão, no documentário, com sensibilidade, Emad funde sua vida e a de sua família com a história da ocupação de Bil’in. É uma história comum à maioria dos palestinos.
O documentário leva o público a participar do cotidiano de Bil’in e a vivenciar um pouco do que significa estar submetido a uma ocupação militar. Trata-se de documento histórico, denúncia viva dos abusos cometidos pelo exército sionista.
Para os brasileiros, o “Cinco Câmeras Quebradas” é particularmente interessante, pois o país é presença frequente no documentário. Soraya, mãe dos quatro filhos de Imad, cresceu no Brasil. A porta da casa deles foi pintada com a bandeira do Brasil, que aparece também em uma das cinco câmeras. As crianças usam vestimentas da seleção brasileira com frequência, incluindo nos dias de jogos do país na Copa do Mundo.
Sindijor PR
NÚCLEO PARANAENSE DE AUDITORIA DA DÍVIDA SERÁ CRIADO NESTA QUINTA, 10 DE SETEMBRO
9 de Setembro de 2015, 13:40A Auditoria Cidadã da Dívida Pública será tema de debate com os movimentos sociais nesta quinta e sexta-feira, dias 10 e 11 de setembro, em Curitiba.
A programação inclui o lançamento do Núcleo Paranaense da Auditoria Cidadã da Dívida Pública, coletiva de imprensa e palestra na UFPR, com a participação de Maria Lúcia Fattorelli, coordenadora nacional da Auditoria Cidadã da Dívida. Fattorelli retornou recentemente da Grécia, onde esteve neste ano para participar da auditoria da dívida pública no país europeu.
A organização Auditoria Cidadã da Dívida divulga dados oficiais sobre o uso do dinheiro público para pagamento da dívida. Em 2015, até 01 de setembro, a dívida consumiu R$ 671 bilhões, equivalente a 47% dos gastos do governo federal.
Programação
Quinta-feira, 10 de setembro
19 horas – Lançamento do Núcleo Paranaense da Auditoria Cidadã da Dívida, com a presença de Maria Lúcia Fattorelli (Espaço Cultural dos Bancários – Rua Piquiri, 380)
Sexta-feira, 11 de setembro
11 horas – Coletiva de imprensa com Maria Lúcia Fattorelli
(Sindicato dos Engenheiros do Paraná – Senge – R. Mal Deodoro, 630 – 22 andar – Ed. Itália)
18 horas – Painel “Dívida Pública – o maior desvio de recursos públicos do país”, com Maria Lúcia Fattorelli
(Salão Nobre do Prédio Histórico da UFPR – Praça Santos Andrade)
Por Paula Zarth Padilha
Terra sem Males