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abril 3, 2011 21:00 , por Desconocido - | No one following this article yet.

Bancárias lançam cartilha nos 16 dias de ativismo pelo fim da violência contra a mulher

noviembre 30, 2017 11:48, por Terra Sem Males

A violência contra a mulher vem tomando proporções alarmantes nos últimos anos. Esse tipo de violência tem várias facetas e muitas vezes desemboca no assassinato.

Esse crime é caracterizado pelo código penal brasileiro como feminicídio e, geralmente, é precedido por determinadas circunstâncias de violência, tais como racismo, violência conjugal, violência moral e psicológica ou violência econômica.

Para combater o feminicídio é preciso uma grande campanha junto à população, pois muitas vezes um comportamento violento inicialmente pode ser confundido com ciúmes, mas deve servir de alerta para a mulher.

Para contribuir nessa luta, a Federação dos Bancários (Fetec-CUT-PR) e seus Sindicatos filiados estão lançando uma cartilha com explicações sobre os diversos conceitos inerentes ao tema e sobre como a vítima deve se proteger. O lançamento será nesta sexta-feira, 01 de dezembro, em tenda montada na Boca Maldita, às 10h00. A distribuição da cartilha será feita por mulheres bancárias até as 17h00 (posteriormente, os Sindicatos farão a distribuição junto à categoria).

O lançamento integra a campanha “16 dias de ativismo pelo fim da violência contra a mulher”, que teve início em 25 de novembro e só termina em 10 de dezembro. A campanha é encampada por inúmeras organizações feministas ou humanitárias.

Por Renata Ortega/SEEB Curitiba



Nota da Contraf Brasil: Reforma Previdenciária acaba com a Agricultura Familiar

noviembre 30, 2017 11:34, por Terra Sem Males

As negociações políticas do Governo ameaçam levar a agricultura familiar para um desmonte

A Agricultura Familiar do Brasil manifesta seu repúdio e preocupação com as manobras da bancada governista apoiada por Michel Temer, em tentar aprovar a Reforma da Previdência Social ainda este ano. As negociações políticas do Governo ameaçam levar a agricultura familiar para um desmonte que provocará mais pobreza, desigualdade e fome no campo.

Não apenas os 9,1 milhões de benefícios podem ser prejudicados com a reforma da previdência, mas, sobretudo, os mais prejudicados são os agricultores e as agricultoras familiares que têm expectativa nos próximos anos e no futuro, de acessar os benefícios da previdência, especialmente a aposentadoria. Se reforma previdenciária passar, grande parte da agricultura familiar não terá mais o seguro previdenciário e isso impactará negativamente na economia de famílias, comunidades e pequenos municípios.

A intenção dos parlamentares apoiados por Michel Temer em votar a reforma da previdência ainda este ano, excluindo do texto artigos relativos ao trabalhador rural, é mais uma manobra maquiavélica do Governo em desmobilizar a classe trabalhadora, para assim conseguir aprovar a reforma da Previdência (PEC 287/16).

A CONTRAF BRASIL, lembra que a unidade para o enfrentamento aos desmontes e propostas que retiram o direito dos trabalhadores é fundamental para barrar os processos que tramitam no Congresso Nacional e retomam o Brasil da fome e miséria.

Vale lembrar aos agricultores e agricultoras familiares e todas as organizações e entidades que defendem os direitos dos trabalhadores, que é urgente manter as mobilizações, realizar atos e debates que dialoguem com os deputados e sociedade sobre os danos que a reforma traz à classe trabalhadora do país, como também alertar aos parlamentares que apoiarem a retirada dos direitos do povo que eles não passarão e não serão mais legítimos em representar a população brasileira, na Câmara, no Senado e nas assembleias legislativas.

A previdência social para a Agricultura Familiar é um direito histórico e conquistado ao longo dos anos, pois foi uma das últimas categorias econômicas a serem admitidas no sistema previdenciário, ou seja, quase 70 anos depois da primeira lei previdenciária brasileira, em 1923. Foi a partir dela, que os agricultores e agricultoras familiares tiveram seus direitos legalizados, ou seja, homens e mulheres que vivem da atividade agrícola foram reconhecidos pela lei.

Para a CONTRAF BRASIL, mais que um sistema de seguro social, a previdência social rural representa um dos mais importantes instrumentos de distribuição de renda, de combate à pobreza, de melhoria de qualidade de vida, de potencialização da dignidade humana, da construção da cidadania e da dinamização da economia dos pequenos municípios.

A CONTRAF BRASIL convoca à agricultura familiar do Brasil, como também toda sociedade para manter as manifestações contra a reforma da previdência social, principalmente neste final de ano onde a grande mídia desvirtua a atenção da população a favor dos interesses dos grandes, ou seja, daqueles que apoiaram o golpe e que querem retirar os direitos da classe trabalhadora do país.

Não precisamos da reforma previdenciária, o povo necessita é dos seus direitos ampliados e fortalecidos, como também de leis e mecanismos que elevem a qualidade de vida da classe trabalhadora, que são a maioria dos brasileiros que sustentam a nação.

Foto: Joka Madruga/Terra Sem Males



Opinião: Envelhecer não dói, pode ir sem medo

noviembre 29, 2017 20:06, por Terra Sem Males

A conheci numa tarde ensolarada e quente. Os braceletes prateados davam sonoridade a seu caminhar e uma voz mansa emanava de seu corpo franzino. Todos os seus gestos eram dotados de um mistério cujo poder eu só podia imaginar. Apaixonei-me por tudo que ela era: seus cabelos grisalhos, sua pele negra e enrugada, o som de sua voz e as palavras que dizia em uma língua vinda de longe e cuja sonoridade era pura magia. Fui à sua casa buscando consolo, refúgio, colo…

Algo que somente uma mãe com sua sabedoria poderiam dar. A mãe de santo, ou Oya, como dizem os iniciados nos mistérios do candomblé, é detentora dos saberes e mistérios do culto aos orixás.  Suas mãos tem o poder da cura, amenizam as dores do corpo e da alma. Seus gestos ensinam que, segundo cosmovisão africana, corpo e alma não se dividem, o corpo é um templo onde reside o orixá, é sagrado. Como também é sagrado o tempo e as marcas que ele vai deixando na gente.

Para as culturas tradicionais indígenas e africanas os velhos são grandes líderes. São eles os responsáveis por transmitir aos jovens os saberes e conhecimentos necessários para a vida. Em contrapartida nossa cultura ocidental não reconhece o ser humano como parte integrante da natureza. É como se nossos corpos fossem algo externo ao tempo ditado pela mãe terra.

Passamos a vida trabalhando e comprando num ritmo mecânico que nos faz esquecer quem somos e nega tudo aquilo que é mágico, que transcende a razão e que não cabe numa fórmula científica.  Nesse mundo, onde a tristeza parece às vezes uma epidemia sem cura, a velhice é vista muitas vezes como algo que deve ser negado. O envelhecimento parece ser vergonhoso, sobretudo para as mulheres. Os primeiros cabelos brancos nos desesperam e começamos uma luta contra o tempo para manter as aparências da juventude, como se nossos corpos fossem de plástico e não de matéria orgânica. 

Principalmente para as mulheres, é negado o direito de envelhecer em paz, de amar as marcas e transformações que o tempo deixa em seus corpos.  Porém, a figura mágica daquela mulher tão linda em sua velhice assumida me fizeram perceber que não há nada mais sagrado que nossos corpos e que o caminhar em direção ao envelhecimento, a despeito do que dizem por aí, é o ritmo próprio da natureza e negá-lo seria como negar a própria vida. Afinal, tudo que é vivo se transforma e envelhece, e não há nada mais mágico do que entregar-se ao grande mistério que é o tempo.

Por Anajá Santos



Reinventar os sindicatos é preciso

noviembre 29, 2017 10:00, por Terra Sem Males

Mesa do Curso Anual do NPC, realizada dia 22/11, refletiu a realidade da classe trabalhadora do século XXI

Com a participação do economista Marcio Pochmann e do professor universitário Reginaldo Moraes, a segunda Mesa do 23º Curso anual do NPC discutiu as características da classe trabalhadora do século XXI e como fazer para atrair os trabalhadores para a luta dos sindicatos e movimentos sociais.

Os autores defenderam que o perfil da classe trabalhadora está diretamente ligado às novas relações da sociedade.  Uma realidade onde a indústria deixa de ser a maior aglutinadora de trabalhadores. Esse lugar é agora do terceiro setor, com pequenos empresários, profissionais liberais e uma gama infinita de funções. Para se ter uma ideia, a participação da indústria hoje na sociedade é menor do que em 1910.

No entanto, a maioria dos sindicatos insiste em conduzir suas estratégias no modelo antigo, como se todos vivessem a mesma realidade das fábricas. Uma falha que, para o professor Reginaldo Moraes, pode ser fatal. “Ou eles – os sindicatos – se transformam para organizar a classe trabalhadora, ou estão fadados ao fracasso”.

Seguindo essa linha, Marcio Pochmann complementou. “Quem mais entende do universo dos trabalhadores hoje não são os sindicatos, não são as universidades. É o crime organizado e as igrejas neopentecostais”. O economista destacou que é esse conhecimento que faz com que esses setores se fortaleçam a cada dia.

Mas e quais seriam essas necessidades?  Basicamente a proximidade. As igrejas conseguem estar em cada quarteirão, falando de forma simples e direta com as pessoas e oferecendo serviços pontuais. É assim também quando o crime organizado garante alguns serviços à população, principalmente das periferias.

Professor Reginaldo Moraes

Pobre de direita? – A fala dos palestrantes permitiu ainda desconstruir a ideia de que a população tem adotado uma ideologia de direita. Para o professor Reginaldo, o problema é outro. “As pessoas não optaram por outra política, optaram por não fazer política”. Para ele essa é uma vitória da direita, pois a esquerda esteve no poder e não investiu na politização.

As pessoas levam a vida sem fazer qualquer reflexão política. Elas têm em mente apenas a própria vida. Isso faz com que não haja parâmetros para a crítica, como exemplificou Pochmann. “No Brasil temos 14 milhões de terceirizados. Para 70% deles essa foi a primeira experiência profissional. Para essas cabeças terceirização não significa precarização, mas sim ascensão”.

O que fazer? – Mas Pochmann e Moraes insistiram em não desanimar a plateia. “Algumas desgraças existem, outras eles – a elite dominante – querem que a gente exagere”, disse Reginaldo. Já Pochmann entende que é tudo uma questão de organização. “É preciso ter um olhar estratégico. Às vezes é necessário fazer menos lutas, mas caprichar naquilo que priorizamos”.

Clique AQUI e leia o livro “Capitalismo, Classe Trabalhadora e Luta Política no Início do Século XXI”, escrito por Marcio Pochmann e Reginaldo Moraes.

Por Marcio Mittelbach
Terra Sem Males

Fotos: Núcleo Piratininga de Comunicação



Paraná realiza 2ª Semana de Saúde do Trabalhador do Sistema Penitenciário

noviembre 28, 2017 8:18, por Terra Sem Males

Evento acontece simultaneamente em nove cidades do estado nos dias 28, 29 e 30

 As nove cidades do Paraná onde existem unidades penais receberão, nos dias 28, 29 e 30/11, a 2ª Semana de Saúde do Trabalhador do Sistema Penitenciário. O objetivo é alertar para a necessidade de cuidados que os agentes precisam ter com a saúde.

Segundo a Organização Internacional do Trabalho, a atividade penitenciária é a segunda mais perigosa do mundo. Uma periculosidade que eleva os níveis de estresse e a propensão ao adoecimento em decorrência da profissão.

O evento vai acontecer em Cascavel, Cruzeiro do Oeste, Francisco Beltrão, Foz do Iguaçu, Guarapuava, Londrina, Maringá, Ponta Grossa e na Região Metropolitana de Curitiba. Serão montadas tendas para atendimento aos servidores em nove unidades penais, que concentrarão os serviços em cada uma das cidades.

Os temas abordados e os serviços ofertados durante a atividade serão sobre saúde mental, tabagismo, tuberculose, hipertensão, saúde da mulher, saúde do homem, saúde bucal, entre outros.

O evento é realizado numa parceria entre o Sindicato dos Agentes Penitenciários do Paraná (SINDARSPEN), o Departamento Penitenciário (DEPEN-PR) e a Secretaria de Estado de Saúde (SESA), com apoio das Secretarias Municipais de Saúde. A ação faz parte das celebrações pelo Dia do Agente Penitenciário, comemorado em 13/11.

Saúde dos agentes penitenciários – Uma pesquisa realizada pelo SINDARSPEN com mais de mil agentes em todo o estado revelou que 46% da categoria possui o diagnóstico de alguma doença. Os problemas com maior incidência são pressão alta, depressão, ansiedade, estresse e insônia. Quanto ao uso de medicamentos, 48% dos agentes admitem tomar medicamentos com regularidade, dos quais 82% fazem uso de remédio para transtornos de origem psicossocial.

A pesquisa resultou na publicação Operários do Cárcere, lançada no ano passado e está disponível no link: http://www.sindarspen.org.br/arquivos/download/revista_cientifica_2016-11.pdf

Por Waleiska Fernandes

Foto: Joka Madruga/Sindarspen-PR



Produção de conteúdo do Terra Sem Males é tema de oficina no 23º Curso Anual do NPC

noviembre 27, 2017 17:58, por Terra Sem Males

No último sábado, 25 de novembro, durante o 23º Curso Anual do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC), realizado no Rio de Janeiro, a jornalista Paula Zarth Padilha, repórter e editora do site Terra Sem Males, ministrou uma oficina sobre a produção de conteúdo pelo projeto, idealizado pelo repórter fotográfico Joka Madruga e tema de dissertação de mestrado da jornalista Vanuza Santos.

Paula apresentou os temas e abordagens realizadas tanto no site quanto nas edições impressas, focadas nos trabalhadores, povos e movimentos sociais, destacando a importância conjunta de texto e foto que os editores dedicam à produção de reportagens para o Terra Sem Males.

Confira as fotos de Annelize Tozetto, da Revista Vírus:



CRÔNICA | Havia manhãs naquele bairro

noviembre 27, 2017 14:27, por Terra Sem Males

Crônica de Pedro Carrano para a coluna Mate, café e letras

Eu e minha filha gostamos de empreender pequenas incursões pelo bairro Novo Mundo, na região sul de
Curitiba. São viagens de baixa quilometragem, que não rendem nenhuma epopeia e mal cabem dentro de uma crônica.

Esse on the road improvisado, de fôlego curto, pode até ser feito de carro, mas o melhor é de bicicleta ou a pé. Às vezes o passeio pode ganhar um tom científico, com o caderno de desenhos levado junto na bolsa, para registrar alguma planta que rompe o asfalto e abre caminho pelos muros – uma experiência que aprendemos numa reportagem sobre um grupo de biólogos de São Paulo.

Essas caminhadas despretensiosas, flanando num sábado vago de manhã, nos mostram um pouco do perfil e da psicologia das pessoas que vivem nesse perímetro urbano, marcado por casas térreas, áreas de ocupação que se tornaram vilas, horizonte quase plano e sem prédios, pequenas ruas sem saída.

Saímos para registrar na cabeça, em busca dessas imagens cotidianas, sem câmeras na mão e com milhões
de ideias fervilhando. Das famosas cidades invisíveis de Calvino, talvez o desafio seja agora encontrar as pessoas invisíveis que constroem o cotidiano daqui.

Cada casa, se alguém prestar bem atenção, revela a sempre criatividade do povo. Pode ser uma planta, um
enfeite, um cartaz improvisado avisando que naquela casa também há espaço para um terreiro de umbanda. Outros cartazes anunciam um jogo de tarô ou uma simpatia para amarrar o amor. Ou ainda podemos encontrar uma quase floresta agroecológica cobrindo casas de madeira, mantendo aquele último laço do velho trabalhador urbano
com o passado rural.

A rua preferida é quando nossa nau desemboca no final da rua Affife Mansur, passada a faculdade Santa Cruz, quando a via se estreita e até desaparece do mapa. Descobrimos um vizinho de extremo bom senso. Seu Artur, metalúrgico, pintor e defensor inconsciente da economia solidária. O jardim da casa dele é repleto de couve, babosas, cebolinhas e outras ervas medicinais que Artur resolveu não guardar para si e declarou num cartaz, que é quase um libelo em defesa da coisa pública:

“Seja educado, não leve os pés, tire folha por folha. Você vai voltar”.

Esse nortenho de Londrina, coração e porta de casa abertos, declina de qualquer rótulo de aposentadoria: “Na fábrica não compensa mais, faço meus servicinhos de pintura aqui na região. Agora, com essas reformas (trabalhista e previdência) sabe lá como vai ficar”.

Não importa se parece ficção, porém ainda nessa mesma rua maluca há um terreno inteiro reservado para um cavalo
cinzento (há uns 10 km do marco zero da capital) e, na casa em frente a de Artur, uma senhora ucraniana e sua filha nos são eternamente gratas por termos salvo a tartaruga de estimação que certa vez atravessava a rua, em plena rota fuga, depois de ter varado a cerca da casa, de uns dois palmos de altura. Por um segundo, cogitamos levar o bichinho com a gente, até descobrir que ele já pertencia à família há uns dez anos.

Manhã de sábado sem nenhuma nuvem não é coisa habitual em Curitiba. Com isso, saudamos o final de semana que começava, ainda querendo apostar que – talvez – não tenhamos chegado à barbárie anunciada por Drummond em meio à segunda guerra mundial, quando o poeta cantou, saudoso: “Havia jardins, havia manhãs naquele tempo!”.



Cultura é lugar de resistência nas favelas e periferias

noviembre 26, 2017 10:49, por Terra Sem Males

Vidas negras utilizam cultura e vivência na disputa de narrativa da luta de classes

“Cultura e comunicação tem lugar de resistência, de disputa, de pertencimento e de sentidos”, resumiu a jornalista Tatiana Lima ao iniciar a mesa “A comunicação e a cultura na luta de classes e na luta de cada um”, realizada na manhã de sábado, 25 de novembro, pela programação do 23º Curso Anual do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC).

Tatiana Lima

Doutoranda em comunicação na Universidade Federal Fluminense (UFF), ela expôs que sua vida como moradora de favela até os 21 anos atravessa seu olhar de pesquisadora. “A favela é descolonial, os muros são plataformas de comunicação. O modo de ser, de sobrevivência, já é contra-hegemônico”. Em sua pesquisa, ela pensa o Complexo do Alemão como espaço de comunicação e os moradores como comunicadores. “A galera da favela nunca foi alienada”, define.

A também jornalista e pesquisadora Renata Souza acabou de defender sua tese de doutorado em mídias e mediações sociais e se define como “cria da Maré”. “Tem gente que passa pela favela. Que não se identifica nesse espaço de resistência”. Ela destacou a formação da mesa para o debate sobre cultura promovido pelo NPC. “Essa mesa é preta. Dá lugar de fala a quem tem que falar. E estar nesse lugar hoje não tem nada de mérito. As oportunidades não são iguais. A gente tem que disputar discursos”.

Renata Souza

Renata falou sobre a importância do 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, que surge para combater a farsa da abolição e do 13 de maio. Ela criticou debates suscitados com o viés de “consciência humana” e afirmou que dizer “somos todos mestiços” não ajuda na construção contra o racismo. “Feminismo e racismo é a base da luta de classes”, defende.

A jornalista denunciou a ação policial e do exército nas favelas do Rio de Janeiro. “Não existe democracia na favela, o estado de sítio é constante. São corpos negros que podem ser matáveis, que podem ser eliminados”. Ela também chamou os sindicatos para se posicionarem. “Os sindicatos têm responsabilidade nesse embate discursivo. A luta de classes tem que estar colocada nos jornais”.

A terceira mulher negra a falar na mesa foi Adenilde Petrina, comunicadora popular em Juiz de Fora (MG). Ela contou que a comunicação se faz também com teatros dos oprimidos, com rádio comunitária, com jornais, com rodas de conversa, encontros. “É importante não silenciar e falar das opressões”. Ela falou sobre o coletivo Vozes da Rua, que agrega jovens, idosos, crianças. “A gente pensa a realidade que vive, tem teoria para explicara partir de nossa vivência. Para saber sobre nós eles (os teóricos e intelectuais) precisam ler um monte de livro e para a gente, basta viver”, ensinou. “A gente precisa transformar e o conhecimento é a ferramenta de transformação”, nos inspira Adenilde.

Adenilde Petrinas

Adenilde criticou o fechamento em 2007 das rádios comunitárias do Brasil pela Polícia Federal, que era um importante espaço para que todos pudessem se expressar e para “se escolher o que se quer saber”. “A comunicação popular nos representa, mas ela não pode ser de massa. Se você é de massa, você perde da capacidade de pensar. Os meios de comunicação popular ajudam a democratizar a mídia”.

Ela trouxe para o NPC os meninos do coletivo Slam, que fizeram apresentações culturais sobre feminismo, racismo, luta LGBT, da mãe que cria o filho na favela. “A poesia ressignifica a rua, seu povo, sua luta. É uma forma poderosa de comunicação que trabalha o sentimento”.

O local de formação de base, na cultura da favela e das periferias é o da escuta. “As manifestações de rua não representam a gente, pois não ouvem a periferia. Se você não ouve, você não tem o que falar e você não tem estratégia para nos puxar para a rua”, nos ensina Adenilde Petrina.

Douglas Belchior, da Uneafro São Paulo, centrou sua fala na importância da participação política dos pretos e pretas. “A medida da desgraça do nosso opressor é também a da nossa força”. Ele situa a luta contra a opressão desde a invasão e colonização do Brasil a partir de 1500. “Trazemos marcas ancestrais de traumas, dores, mas também de resistência e vitórias”. Ele afirma que o povo brasileiro não estuda sua própria história e que é como a escravização não tivesse acontecido.

Douglas Belchior

Para ele, a importância da política de cotas foi percebida primeiro por quem critica e luta contra. “Eles sabiam que três pretos numa sala onde só tinha um faria toda diferença. As elites gastam todo o seu fôlego para nos desmobilizar”.

Encerrando a mesa, Rafael Calazans, do coletivo Papo Reto falou sobre a importância da música, do funk, na construção de identidade das crianças nas favelas, que têm acesso precário à educação formal, mas se expressam escrevendo música, cantando o que enxergam da janela de suas casas. “O funk é a expressão do que a gente é. O mundo a partir da janela que a gente abria, com brincadeiras para dar outro sentido, outro significado ao lugar”.

Rafael Calazans

Calazans definiu a formação da mesa, que representa “o que a gente mais luta para conquistar: a cultura da identidade preta”.

Por Paula Zarth Padilha
Fotos: Annelize Tozetto/Revista Vírus
Terra Sem Males



Comunicação é ferramenta de consolidação de golpes na América Latina

noviembre 25, 2017 13:11, por Terra Sem Males

Resgate histórico coloca a mídia como viabilizadora de golpes em países latino-americanos

Na mesa “Comunicação em tempos de golpe”, realizada durante o 23º Curso Anual do NPC na tarde de sexta-feira, 24 de novembro, o jornalista Beto Almeida, da Telesur, listou golpes de Estado ocorridos em diversos países da América Latina, situando os meios de comunicação como fomentadores das quedas ou tentativa de derrubada de presidentes que governaram favorecendo políticas públicas e sociais para a população.

Foram mencionados os casos ocorridos no Paraguai, de Fernando Lugo; Honduras, de Zelaya; e da Líbia de Khadafi; e a tentativa de derrubada de Hugo Chavez na Venezuela, na forma como a mídia atuou para criminalizar as ações desses presidentes. Beto Almeida falou sobre as experiências das equipes da Telesur, que fizeram a contra-hegemonia nesses momentos.

O professor e pesquisador Ed Wilson Araújo apresentou informações sobre o papel da imprensa no golpe de 1964, que foi articulado desde 1962 visando a aceitação da opinião pública ao golpe, sob a lógica da “doutrina da segurança nacional”. Essa doutrinação era preparada com inserções em TV, jornal, rádio, cinema, palestras, simpósios, conferências recrutando intelectuais, artistas, religiosos, banqueiros numa ação ideológica e social de manipulação de notícias.

Essa guerra psicológica provocou histeria na classe média da época e tudo foi financiado com a coleta de recursos de banqueiros e entidades patronais desde 1959, com a criação de uma associação de anunciantes, que eram distribuídos aos veículos de comunicação hegemônicos. A ação resultou no apoio da opinião pública ao golpe militar de 1964.

A jornalista Sylvia Moretzsohn, pesquisadora da UFF, expôs como atualmente portais como Estadão, Folha, O Globo, se utilizam de manipulações criminosas de manchetes para passar mensagens distorcidas de sentido para seus leitores. “Esses veículos criam uma situação, adubam com veneno da suspeita e colhem o resultado. A engrenagem é essa”, pontuou.

A mesa foi encerrada com o depoimento de Acioli Cancellier de Olivo, que retratou o papel da imprensa no suicídio do seu irmão, o Reitor da UFSC Luis Carlos Cancellier. Acioli relatou que no dia 14 de setembro a Polícia Federal invadiu a casa de Cancellier, que foi levado para prestar interrogatório. Para cumprir 7 mandados contra professores da universidade, foram mobilizados 105 policiais. A delegada que comandou a operação foi personagem do filme da lava-jato, retratada como heroína, e concedeu coletiva de imprensa antes de formalizar o interrogatório, dizendo que ele era acusado de desvio de R$ 80 milhões. Antes do depoimento, o rosto e nome do reitor foi estampado nos jornais.

Contudo, o inquérito era a respeito de uma investigação por obstrução da justiça e, segundo seus familiares, por procedimentos burocráticos inerentes a sua função. Ele foi acusado de formação de quadrilha e passou por revista íntima vexatória em uma penitenciária “Passou duas horas nu com pés e mãos acorrentados”, denunciou. A justiça mandou prender, destituiu do cargo, o proibiu de entrar na UFSC e de manter contato com colegas. Ele foi libertado por outra juíza e 18 dias depois de atirou de dentro de um shopping em Florianópolis.

As relações da imprensa com o golpe são visíveis no Brasil em 2017, com uma campanha de guerra fazendo prevalecer o pensamento da elite. O golpe foi contra a classe trabalhadora, contra os mínimos avanços sociais. E está se espalhando por retrocessos nas diversas instituições públicas.

Por Paula Zarth Padilha
Foto: Annelize Tozetto/Revista Vírus
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“Lutar, ser pobre, preto ou LGBT no Brasil é crime”

noviembre 25, 2017 9:51, por Terra Sem Males

Curso anual do NPC abordou a criminalização dos Movimentos Sociais

“Lutar, ser pobre, preto ou LGBT no Brasil é crime”. Com essa afirmação, a jornalista do Conlutas, Claudia Costa, abriu a última mesa de debates do terceiro dia, 24/11, do 23º Curso anual do NPC, que abordou um tema crucial para a luta dos trabalhadores: a criminalização das lutas sociais.

Outra palestrante que colocou a plateia para refletir foi Gizele Martins. Jornalista, pesquisadora, ativista dos movimentos populares, Gizele contou sobre sua luta diária como moradora de favela e ativista da comunicação popular. Moradora da favela da Maré, no Rio de Janeiro, onde lidera um jornal comunitário, ela falou do preconceito que sofre por morar lá. “Quando fazia entrevista de emprego eu tinha que dizer que morava em outro lugar, mas agora eu assumo meu endereço como ato político”.

A carioca alertou sobre a violência policial nos morros e favelas do Rio. “Desde 1997 foram 16 mil pessoas assassinadas basicamente pela polícia nas favelas. Um verdadeiro genocídio que parte da imprensa insiste em retratar como uma guerra”. Situação tensa e que segue preocupante. “Durante esse ano não houve uma semana sequer sem tiroteio na favela onde eu moro”.

Sobre essa relação estado-mídia, Gizele complementou que não existe nem comparação com a cobertura dada às mortes nas favelas em relação às mortes no ‘asfalto’, como são chamados os que não moram nas favelas. “A mídia comercial é apoiadora do Estado que mata. Não temos qualquer serviço do Estado e esse assunto jamais é retratado”.

O terceiro palestrante do dia foi o professor da Universidade Federal Fluminense, Kléber Mendonça. Orientador de projetos de extensão na Universidade que atuam junto com a população das favelas, Kléber ajudou a refletir sobre a violência policial contra esses moradores. “Não é que o Estado não consegue cuidar e dar segurança aos moradores das favelas, é esse o funcionamento que o Estado escolhe para lidar com os moradores”.

Velha mídia – O debate também girou em torno da cobertura nefasta que a mídia dá à luta dos trabalhadores. Para exemplificar, Claudia Costa mostrou capas dos jornais tradicionais relatando greves gerais dos anos 1990 e de 2017. Todas minimizando e desqualificando os movimentos.

Reflexão – Durante as considerações finais, Gizele propôs uma reflexão para entender porque os moradores das favelas do Rio de Janeiro não aderem aos movimentos de rua. “A população da favela está enterrando os corpos dos seus familiares. Estão vendendo água para batalhar pelo seu sustento, não têm tempo para mais nada”.

Já o professor Kléber fez uma fala final otimista, de acordo com ele, onde há poder e opressão deve haver resistência.

Por Márcio Mittelbach
Foto: Annelize Tozzeto/Revista Vírus
Terra Sem Males