Este foi um trabalho de faculdade, no qual tivemos que criar um final alternativo para o poema de João Cabral de Melo Neto, chamado Morte e Vida Severina. Apesar de considerar a literatura algo imutável, achei interessante esse desafio e usei da influência de um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos, o espetacular João Guimarães Rosa. A influência dele é clara, está presente em citações e um de seus personagens. Espero que gostem. Grato.
Na capital
Esperava encontrar vida normal
Mas o que viu foi sofrimento
E o mesmo mal
Nos manguezais
Homens misturados no barro
Precários cacos
Dormindo em barracos
Isso lhe bastou
E o desespero veio a calhar
E no mesmo rio que lhe havia despontado antes
Ele quis se afogar
Porém alguém chegou primeiro
Havia ali um garoto
A margem da água grossa e carnal
Pronto para o salto final
Cumprindo sua sina
De vida Severina
- Ei, meninim? O que está fazendo? (S)
- Meu nome é Diadorim e esse é meu fim. (D)
- Não faça isso, deixe isso pra mim. (S)
- Mas meu destino se fez assim. Minha vida, minha sina. (D)
- O que dizer do meu? Por onde andei, a morte abracei. (S)
- O trágico não vem a conta-gotas, retirante. (D)
- Você está na flor da idade, como uma rosa. (S)
- De rosa minha vida não tem nada. Estou criando coragem e vou pular. (D)
- Coragem vem do estômago, Diadorim, tudo mais é desespero. (S)
- Coragem pra mim é o que a vida quer da gente,
Quando esquenta e afrouxa,
Sossega e desinquieta. (D)
- Você não sabe o que está fazendo, Diadorim. (S)
- Retirante, o nosso espírito é cavalo que escolhe estrada, quando ruma para tristeza e morte, vai não vendo o que é bonito e bom. (D)
Diadorim pulou no rio
Severino pulou para lhe salvar
A morte estava por toda parte
Mas a daquele jovem ele podia evitar
Que o destino escolhe estrada, não se pode duvidar
Severino tinha a sina e não sabia nadar
Mas da própria morte ele havia desistido
Queria salvar o garoto
E contemplar a beleza da vida pela primeira vez em sua travessia
Travessia aquela que passava sob seus olhos
Juntamente com todas as lembranças de sua vida Severina
Era a morte, dessa vez para abraçar sua própria carne
Mas outra coisa o abraçou
Era Diadorim
Seu corpo foi sendo levado para a borda
Severino ganhou uma nova chance
Diadorim não foi visto mais
Fino, estranho, inacabado
É sempre o destino da gente
Severino se pergunta
Se ainda vale a pena se matar
Após presenciar o nascimento de sua própria vida
Ele se convence
A morte não compensa
Ainda que seja uma vida como a dele
Severina
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Escrito por: Matheus Franckevicius
Observação: No servidor anterior foi postado no dia 21/11/2013 as 22:03.
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