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A quarta das cinco lições de Psicanálise de Freud

4 de Abril de 2014, 20:34 , por Rafael Pisani Ribeiro - 0sem comentários ainda | No one following this article yet.
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Licenciado sob CC (by-nc-sa)

 

Introdução

 As Cinco lições de Freud foram feitas e apresentadas em 1909 ao fim de sua vida. Nelas ele explica de forma breve os preceitos da psicanálise, podendo ser considerados como ótimos textos introdutórios para a teoria geral. A própria leitura desse texto pode não ser simples, isso porque a leitura de psicanálise não é simples. Mesmo sendo complexa é mais simples que a original listada na fonte de referências. Para facilitação da leitura essa lição foi dividida em três temas da qual trata a mesma. Como explicação, prazer sexual para Freud na infância não se refere ao ato sexual, e sim o prazer vindo através dos instintos sexuais que estão na infância, isto é, prazer no que ela faz.

O instinto e sua origem

O que procurar com os meios técnicos descritos na terceira lição? A psicanálise relaciona com grande regularidade os sintomas mórbidos e impressões da vida erótica do doente com seus sintomas, tendo esse fator grande influência nos dois sexos. Regularmente o doente procura ocultar informações sobre sua vida sexual e, nesse sentido os homens em geral são sigilosos. Isso porque o sol e o ar em nosso mundo civilizado não são realmente favoráveis à atividade sexual e por isso nenhum de nós manifesta seu erotismo livremente.[1]

A psicanálise liga em alguns casos os sintomas a acontecimentos traumáticos comuns e não a fatos sexuais, mas essa diferenciação perde seu valor, sendo a cura não através de episódios contemporâneos. Na verdade aparece retrocedendo até a puberdade e mais remota infância para ai chegar às impressões e acontecimentos determinantes da doença posterior, sendo que só os fatos da infância explicam a sensibilidade aos futuros traumatismos.

Com seu descobrimento é possível afastar o sintoma quase como no sonho, isto é, são desejos duradouros e reprimidos que por não terem sua correta liberação se transformam em sintomas e devem ser reconhecidos em sua generalidade como sexuais. Quando o paciente começa a se despojar  do manto de mentiras e moral e passa a revelar tais dados inicia a tomada de consciência de seu problema. Esse instinto e sexualidade na infância faz a criança se desenvolver em etapas para chegar a chamada sexualidade normal do adulto. 

Como o instinto sexual se apresenta muito complexo ele é dividido em várias fases. Na infância o instinto independe da função procriadora que servirá no futuro e procura dar prazer, sensações agradáveis a qual chamamos de prazer sexual. Essa vem inicialmente de partes do corpo como boca, ânus, uretra, pele e outras superfícies sensoriais, além dos órgãos genitais. Por alcançar o prazer através do próprio corpo essa fase é chamada de auto erotismo.

O pediatra Lindner em 1879 foi o primeiro a descrever e interpretar dessa forma o ato de chupar o dedo, fazendo da boca uma zona erógena. Zonas erógenas são os lugares do corpo que proporcionam o prazer sexual. Outra forma é excitação masturbatória dos órgãos genitais, além do investimento da libido como relação objetal[2] em uma pessoa estranha. Esses instintos são opostos assim como o sadismo e masoquismo, isto é, o prazer de causar sofrimento nos outros ou em si mesmo, além do prazer visual ativo e passivo. 

Um leva a sede de saber, outro as representações artísticas e teatrais. Outras atividades sexuais aparecem na escolha do objeto, isto é, uma pessoa estranha que proporciona prazer e influi em considerações relativas ao instinto de conservação. Neste período infantil a diferença de sexo não tem papel decisivo e toda criança tem uma parcial disposição homossexual[3]. É uma vida sexual desordenada, rica e dissociada onde cada impulso isolado se entrega a conquista do gozo, isto é, do prazer por si só. Vai se organizando até que ao fim da puberdade o caráter sexual definitivo está completamente formado.  

A puberdade e escolha objetal

Na puberdade as repressões fazem com que as necessidades sexuais corram por caminhos considerados normais que impedem de reviver os impulsos reprimidos. No começo os impulsos ficam concentrados na zona genital se colocando a serviço da perpetuação da espécie. Logo depois só tem importância para o preparo e estímulo do verdadeiro ato sexual, sendo o auto erotismo substituído pela satisfação do instinto sexual na pessoa amada. A educação faz com que muitos instintos sejam reprimidos e nisso surge a repugnância e a moral que como guardas mantém as repressões. Os mais reprimidos são o prazer através das fezes e a escolha primitiva de objeto, isto é, a mãe.

Quanto às manifestações psíquicas a escolha de objeto da criança primeiro vai a todas as pessoas ao seu redor, depois especialmente a seus genitores. Eles são tomados como fonte de prazer, especialmente a mãe enquanto os pais dirigem ao filho um instinto sexual inibido em suas finalidades. O pai em regra prefere a filha, a mãe o filho e caso seja menino deseja o lugar do pai, caso seja menina deseja o lugar da mãe. Nesse momento aparece o complexo de Édipo que coloca uma relação dual, isto é, mesmo com sentimentos positivos também existem os negativos que vão para a repressão, ainda que exerçam influência no inconsciente. Isso volta mais tarde como repulsa as barreiras do incesto. 

A escolha da criança dos pais como objeto da primeira escolha amorosa é normal e inevitável, mas não deve se fixar nessa fase. Passando a transferir para pessoas estranhas a função de objeto e isso é importantíssimo para seguir a função social do jovem. Enquanto não estão reprimidos os sentimentos negativos do complexo boa parte desses interesses sexuais se transforma em atividade intelectual, além do que os adultos imaginam que seja capaz.

Nessa época a maior ameaça material é a chegada de um novo irmãozinho considerado por ele como um competidor. Sob influência dos impulsos parciais forma numerosas “teorias sexuais infantis”. Chega a pensar que ambos possuem órgãos genitais masculinos, crianças nascem pela extremidade do intestino etc...  mas, a falta de conhecimentos sobre o tema e do acabamento de sua constituição sexual a fazem desistir desse trabalho. Essa fase é extremamente importante para a formação do caráter e do conteúdo da neurose futura. 

A formação de problemas

 Um princípio de patologia geral afirma que todo processo evolutivo traz durante seu percurso chances para inibição, retardamento ou desenvolvimento incompleto. Isso vale para o desenvolvimento da função sexual que pode por essa causa gerar doenças futuras ou anormalidades. Talvez reine a perversão e o impulso não se sujeite a soberania da zona genital. Ou pode se originar uma tendência homossexual que pode se transformar em homossexualidade exclusiva. Isso através da equivalência primitiva dos sexos como objeto sexual. Tudo isso pode ocorrer por entraves durante o desenvolvimento sexual.

 Enquanto a perversão evidencia o instinto que se liberta de mais a neurose o reprime de mais. O que faz com que ele passe a dominar através do inconsciente e a partir disso conduzir a uma fixação parcial justamente no ponto que o desenvolvimento teve um obstáculo, isto é, uma fixação infantil. 

É bem provável dizer que isso não é sexualidade, e sim algo além do que é dado ao sentido da palavra. No entanto, é possível observar que a palavra é usada em um sentido restrito e que assim sacrificam à compreensão das perversões e seus enlaçamentos entre si, neurose, e vida sexual normal, além da vida erótica somática e psíquica das crianças. De toda forma, o psicanalista considera a sexualidade no sentido amplo já explicado.

Médicos, homens e observadores nada querem saber da vida sexual da criança porque através da educação civilizada  esqueceram sua própria atividade sexual infantil e não querem lembrar o que está reprimido, caso o fizessem teriam outra convicção. Isso tudo não exclui o tratamento e a psicanálise. Pode ser pensado o tratamento como simples aperfeiçoamento educativo destinado a vencer os resíduos infantis. É difícil acreditar nessa afirmação, mas o fator sexual  tem tanta importância  e outras excitações fazem nada mais que reforçar sua ação e nessa lição Freud não fala o porque de ser assim. 

 Lembrem-se de referenciar a fonte caso utilizem algo deste blog. Dúvidas, comentários, complementações? Deixe nos comentários.

  Escrito por: Rafael Pisani

  Referências bibliográficas:

Disponível em: http://www.cefetsp.br/edu/eso/filosofia/cincolicoespsicanalise.html . Sigmundo Freud / http://www.cefetsp.br  . Data de acesso: 20 de outubro de 2013


[1] Essa era uma questão mais da época de Freud que atualmente. A repressão se tornou menor na época contemporânea, mas por ser resumo de um documento original de época deve ser mantido como é explicado em nota de rodapé algumas mudanças. Tanto essa nota de rodapé quanto a terceira foram adicionadas no dia 23/10/2013 como atualização. (No servidor antigo)

[2] O termo objetal quer dizer que a libido é investida em algo além do sujeito, algo externo que lhe dá prazer.

[3] O termo homosexual já não é mais usado na atualidade. O termo correto é homosexualidade, pois não mostra como doença assim como o termo homosexual.

 


Tags deste artigo: psicanálise

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