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O camelo e o camelô

9 de Março de 2015, 20:38 , por Rafael Pisani Ribeiro - 0sem comentários ainda | No one following this article yet.
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Licenciado sob CC (by-nc-sa)

     Sempre que passo no centro vejo um sujeito com uma barraca e nela há pedaços de bolo e garrafas de café. Em todas as vezes que passei, o vi entregando um copo de café e um pedaço de bolo, apenas uma vez. Não vi entrega de dinheiro e suponho que tenha visto só a parte final da troca comercial. De qualquer forma, convivemos diariamente com os ditos camelôs. Tornou-se tão normal no cotidiano, que nem mesmo pensamos sobre essa profissão, se é que assim pode ser chamada.  Assim como no “amolo-faca-tesoura-e-alicate”, a história parece ser muito mais complexa.

     Enquanto ando na rua e observo a movimentação, também observo o modo em como às pessoas andam. Todas apressadas, aparentemente inseguras e ignorando o mundo à sua volta, exceto aquilo que pode afetá-las negativamente.  É como se criassem uma bolha ao redor de si com a função de filtrar diversos estímulos, exceto os perigosos.  A frase “Ado, ado cada um no seu quadrado” parece descrever isso muito bem.

    A bolha fica tão forte, mas tão forte que essas pessoas, ou até mesmo eu, ignoram a presença dos camelôs. Em todo grau, sua percepção nega percebê-los e é quase como se não existissem, como se estivessem em um universo diferente. Isso é pior ainda para os moradores de rua. Esses só existem quando pedem dinheiro ou estão no chão a frente deles, e é preciso desviar. Talvez Gabriel o pensador esteja certo quando diz na música “O resto do mundo”: “A minha sina é suportar viver abaixo do chão...” Ele ainda consegue resumir na mesma música o ato de pedir esmola:

“Eu tô com fome,
Tenho que me alimentar”.
Eu posso num ter nome, mas o estômago tá lá,
Por isso eu tenho que ser cara-de-pau,
Ou eu peço dinheiro ou fico aqui passando mal...”.

De toda forma, esses parecem não existirem socialmente. Os noticiários têm culpa pela criação dessa bolha, mas as pessoas são responsáveis por permitir que esta seja criada. Além disso, como ficam os camelôs?

    Não sei a origem da palavra camelô, mas ela me lembra de camelo. Sim, aquele animal chamado camelo que é usado como meio de transporte no deserto. Esse animal possui diversas vantagens. Ele pode carregar pessoas e mercadorias por longos dias, apesar de ser um animal seu custo pode não ser tão alto. Além disso, é usado para longas movimentações, necessitando de comida e pouca água. Por esses fatores, é possível andar com muitos camelos no deserto. E os camelôs com isso?

    O princípio é quase o mesmo. Estão por toda parte e podem estar em qualquer lugar, possui uma característica nômade. Necessitam de poucos recursos para iniciar, pois seu produto é extremamente barato, e, portanto de baixo custo. Podem estar reunidos em um só local, ou cada um no seu canto. Na primeira, parecem passar mais “confiança”, no segundo parece mais estranho. Vendem desde produtos alimentícios à produtos eletrônicos. Mas tanta vantagem tem um problema.

    Enquanto o sujeito do amolo-faca-tesoura-e-alicate parece ganhar pouco, porém sem risco de perda, esses podem ganhar muito, mas com risco de perda total.  Nunca vi, mas sabe-se que quando não há licença para vender nas ruas, é permitido ao estado confiscar os produtos. Essa é uma questão complexa. Já cheguei a ver um pipoqueiro ser abordado por tal razão, e foi ruim vivenciar, pois o sujeito parecia extremamente pressionado. Em um ato desses perde-se todo o “investimento”. Talvez o pouco que tinha. O estado nem deve ter o que fazer com a mercadoria, talvez até a utilize. Tudo em prol das grandes empresas e seus direitos, autorais ou não! Mas a questão não é tomar as mercadorias. É tomar as esperanças de uma vida, quem sabe até uma vida!

    Como dito no amolo-faca-tesoura-e-alicate, a aposentadoria não é suficiente para viver com qualidade, assim como o salário mínimo. E muito menos há espaço para todos no mercado de trabalho formal.  Talvez seja essa uma razão para se tornar camelô.  Como o produto é muito barato, seu custo é, portanto muito baixo. Se um CD é cinco reais, seu custo deve ter sido de R$ 1,50. É violência sobre violência!  Disso não se deve esperar tanta qualidade, mas não significa necessariamente baixa qualidade. Deve ser muito ansiolítico trabalhar em um meio onde de uma hora para outra você pode perder todo seu investimento e produtos. Quem dirá saber o tempo de trabalho e quanto ganham ao mês!

    Ademais, parece ser diferente comprar em um camelô isolado ou um junto a vários outros, ainda que seja o mesmo camelô. Por outro lado, parecem ser extremante necessários para o consumo. Apesar da lei, ninguém, ou uma minoria tem condições de comprar só produtos originais. As grandes empresas tentam afirmar que é justo elas controlarem o mercado!

   Muitos dos “donos” de camelôs não tiveram acesso ao mercado de trabalho formam, e acharam essa saída. O consumo seria extremamente reduzido sem eles.  O que seria dos comerciantes, consumidores e do próprio camelô sem suas corcovas?

Lembrem-se de referenciar a fonte caso utilizem algo deste blog.Dúvidas, comentários, complementações? Deixe nos comentários.

Escrito por: Rafael Pisani

Referências:

Disponível em: http://blogoosfero.cc/verdadeoumentira/verdade-ou-mentira/amolo-faca-tesoura-e-alicate Rafael Pisani Ribeiro/ http://blogoosfero.cc/verdadeoumentiraData de acesso: 09 de Março de 2015

Disponível em: http://www.vagalume.com.br/gabriel-pensador/o-resto-do-mundo.html Gabriel o Pensador/ http://www.vagalume.com.br Data de acesso: 09 de Março de 2015

 


Tags deste artigo: trabalho informal

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