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Burgos Cãogrino

3 de Abril de 2011, 21:00 , por Desconhecido - | No one following this article yet.

EUA usam tráfico de drogas como fonte para financiar guerras

7 de Junho de 2012, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

 

 Após várias décadas da "guerra contra as drogas", acompanhada por um custo colossal em vidas humanas e recursos materiais, os narcotraficantes hoje são mais fortes do que nunca e controlam um território maior do que em qualquer época.

Por Salvador Capote


Nos últimos seis anos, ocorreram no México mais de 47 mil assassinatos relacionados ao tráfico de drogas. O número de mortes foi de 2.119, em 2006, para cerca de 17 mil, em 2011.

Em 2008, o Departamento de Justiça estadunidense advertiu que as OTDs (Organizações de Tráfico de Drogas), vinculadas a cartéis mexicanos, estavam ativas em todas as regiões dos Estados Unidos. Na Flórida atuam máfias associadas ao cartel do Golfo, aos Zetas e à Federação de Sinaloa. Miami é um dos principais centros de recepção e distribuição de drogas. Além dos mencionados, outros cartéis, como o de Juárez e o de Tijuhana, operam nos Estados Unidos.

Os cartéis do México ganharam maior força depois que substituíram os colombianos de Cali e Medellín nos anos 1990 e controlam agora 90% da cocaína que entra nos Estados Unidos. O maior estímulo ao narcotráfico é o alto consumo estadunidense. Em 2010, uma pesquisa nacional do Departamento de Saúde revelou que aproximadamente 22 milhões de estadunidenses maiores de 12 anos consomem algum tipo de droga.

Esses, que são apenas alguns dos mais inquietantes dados estatísticos, permitem questionar a eficácia da chamada "guerra contra as drogas". É impossível crer que exista realmente uma vontade política para por fim a este flagelo universal quando observamos o papel desempenho o narcotráfico a serviço da contra-revolução, para a expansão das transnacionais e para as ambições geopolíticas dos Estados Unidos e outras potências.

Tráfico da CIA


Repassemos, em síntese, a história recente. A administração de Richard Nixon, ao iniciar a "guerra contra as drogas" (1971), desenvolve ao mesmo tempo o tráfico de heroína no Sudeste Asiático com o propósito de financiar suas operações militares nessa região.

A heroína produzida no Triângulo de Ouro (de onde se unem as zonas montanhosas do Vietnã, Laos, Tailândia e Myanmar) era transportada em aviões da “Air America”, propriedade da CIA (Agência Central de Inteligência). Em uma conferência de imprensa televisionada em primeiro de junho de 1971, um jornalista perguntou a Nixon: "Senhor presidente, o que você fará com as dezenas de milhares de soldados estadunidenses que regressam viciados em heroína?"

As operações do "Air America" continuaram até a queda de Saigon em 1975. Enquanto a CIA transportava ópio e heroína do Sudeste Asiático, o tráfico e consumo de drogas nos Estados Unidos se convertia em tragédia nacional. O presidente Gerald Ford solicitou ao Congresso, em 1976, a aprovação de leis que substituíssem a liberdade condicional com a prisão, estabelecessem condenações mínimas obrigatórias e negassem as fianças para determinados delitos envolvendo drogas.

O resultado foi um aumento exponencial do número de condenados por delitos relacionados com o tráfico e consumo de drogas e, por conseguinte, conversão de Estados Unidos no país com maior população prisional do mundo. O peso principal desta política punitiva caiu sobre a população negra e outras minorias.

As administrações estadunidenses durante os anos 1980 e 1990 apoiaram a governos sul-americanos envolvidos diretamente no tráfico de cocaína. Durante a administração Carter, a CIA interveio para evitar que dois dos chefes do cartel de Roberto Suárez (rei da cocaína) fossem levados a juízo nos Estados Unidos. Ao ficar livres, puderam regressar à Bolívia e atuar como protagonistas no golpe de estado de 17 de julho de 1980, financiado pelos barões da droga. A sangrenta tirania do general Luis García Meza foi apoiada pela administração de Ronald Reagan.


A participação mais conspícua da administração Reagan no narcotráfico foi o escândalo conhecido como "Irã-Contras" cujo eixo mais propagandeado foi a obtenção de fundos para financiar o conflito nicaragüense mediante a venda ilegal de armas ao Irã, mas está bem documentado, ademais, o apoio de Reagan, com este mesmo propósito, ao tráfico de cocaína dentro e fora dos Estados Unidos.


O jornalista William Blum explica essas conexões em seu livro "Rogue State". Na Costa Rica, que servia como Frente Sul dos "contras" (Honduras era a Frente Norte) operavam várias redes "CIA-contras" envolvidas com o tráfico de drogas.


Estas redes estavam associadas com Jorge Morales, colombiano residente em Miami. Os aviões de Morales eram carregados com armas na Flórida, voavam à América Central e regressavam carregados de cocaína. Outra rede com base na Costa Rica era operada por cubanos anti-castristas contratados pela CIA como instrutores militares. Esta rede utilizava aviões dos "contras" e de uma companhia de venda de camarões que lavava dinheiro da CIA, no translado da droga aos Estados Unidos.


Em Honduras, a CIA contratou a Alan Hyde, o principal traficante nesse país ("o padrinho de todas as atividades criminais" de acordo com informações do governo dos Estados Unidos), para transportar em suas embarcações abastecimento aos "contras". A CIA, de volta, impediria qualquer ação contra Hyde de agências anti-narcóticos.


Os caminhos da cocaína tinham importantes estações, como a base aérea de Ilopango, em El Salvador. Um ex-oficial da CIA, Celerino Castillo, descreveu como os aviões carregados de cocaína voavam em direção ao norte, aterrizavam impunemente em vários lugares dos Estados Unidos, incluindo a base da Força Aérea no Texas, e regressavam com dinheiro abundante para financiar a guerra.


"Tudo sob o guarda-chuva protetor do governo dos Estados Unidos". A operação de Ilopango se realizava sob a direção de Félix Rodríguez (aliás, Max Gómez) em conexão com o então vice- presidente George H. W. Bush e com Oliver North, quem formava parte da equipe do Conselho de Segurança Nacional de Reagan.


Em 1982, o diretor da CIA, William Casey, negociou um "memorando de entendimento" com o fiscal geral, William French Smith, que exonerava a CIA de qualquer responsabilidade relacionada às operações de tráfico de drogas realizadas por seus agentes. Este acordo esteve em vigor até 1995.


Reagan e seu sucessor, George H. W. Bush, patrocinaram o "homem da CIA no Panamá", Manuel Noriega, vinculado ao cartel de Medellín e à lavagem de grandes quantidades de dinheiro procedentes da venda da droga. Quando Noriega deixou de ser útil e se converteu em estorvo, os Estados Unidos invadiram o Panamá (20 de dezembro de 1989) em um bárbaro ato sem precedentes contra o direito internacional e a soberania de um país pequeno.


Michael Ruppert, jornalista e ex-oficial do setor de narcóticos, apresentou em 1997 uma larga declaração, acompanhada de provas documentais aos comitês de inteligência ("Select Intelligence Committees") de ambas Câmaras do Congresso. Em um dos parágrafos afirma: "A CIA traficou drogas não só durante a época dos "Irã-contras", mas o tem feito durante todos os cinqüenta anos de sua história. Hoje lhes apresentarei evidências que demonstrarão que a CIA, e muitas figuras que se fizeram célebres durante o 'Irã-contras', como Richard Secord, Ted Shackley, Tom Clines, Félix Rodríguez e George H. W.Bush, venderam drogas aos estadunidenses desde a época do Vietnã."


Em 1999, sob a administração de Bill Clinton, os Estados Unidos bombardearam impiedosamente o povo iugoslavo durante 78 dias. De novo aqui aparece o narcotráfico no fundo das motivações. Os serviços de inteligência dos Estados Unidos e seus homólogos da Alemanha e Grã-Bretanha utilizaram o tráfico de heroína para financiar a criação e o equipamento do Exército de Libertação de Kosovo.


A heroína proveniente da Turquia e da Ásia Central passava pelo Mar Negro, Bulgária , Macedônia e Albânia (Rota dos Balcãs) com destino a Itália. Com a destruição da Sérvia e o fortalecimento – desejado ou não – da máfia albanesa, a administração Clinton deixava livre o caminho da droga desde o Afeganistão até a Europa Ocidental. De acordo com informes da DEA e do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, cerca de 80 % da heroína que se introduz na Europa passa através de Kosovo.


"Planos" Colômbia

Várias administrações estadunidenses, e em particular a de George W. Bush, foram cúmplices do genocídio na Colômbia. A "guerra contra as drogas" sustentada pelos Estados Unidos com recursos financeiros multimilionários, assistência técnica e volumosa ajuda militar, não conseguiu deter o fluxo de cocaína e, pelo contrário, tem sido determinante no surgimento e desenvolvimento dos grupos paramilitares a serviço dos proprietários de terras com plantações de drogas, e também como pretexto para manter o domínio sobre os trabalhadores e a população camponesa.


O Plano Colômbia resultou num completo fracasso, mas serviu como tela de fundo para a ingerência dos Estados Unidos no país e mostrou claramente seu verdadeiro objetivo, a contra-revolução.


Muitas vezes se esquece que o narcotráfico é provavelmente o negócio mais lucrativo dos capitalistas. Com a guerra na Colômbia lucram as empresas químicas que produzem os herbicidas, a indústria aeroespacial que abastece helicópteros e aviões, os fabricantes de armas e, em geral, todo o complexo militar-industrial. Os bilhões de dólares que gera o tráfico ilegal de drogas, também incrementam o poder financeiro das corporações transnacionais e da oligarquia local.


A recente declaração do Secretariado de Estado Maior Central das FARC-EP, em vista do quadragésimo oitavo aniversário do início da luta armada rebelde, denuncia este vínculo drogas-capital: "os dinheiros do narcotráfico se convertem em terras, inundam a banca, as finanças, os investimentos produtivos e especulativos, a hotelaria, a construção e a contratação pública, resultando funcionais e necessários no jogo de captação e circulação de grandes capitais que caracteriza a capitalismo neoliberal de hoje. Igualmente ocorre na América Central e no México."


O Tratado de Livre Comércio Estados Unidos-México (Nafta) obrigou numerosos camponeses, ante a competitividade de produtos agrícolas estadunidenses, a cultivar em suas terras papoula e maconha. Outros, frente à alternativa de trabalho escravo nas indústrias "maquiladoras", preferem ingressar nas redes mafiosas da droga.


O grande aumento do tráfico de mercadorias através da fronteira e dos controles bancários para combater o terrorismo, provocou a lavagem de dinheiro dos bancos até as corporações comerciais. A complexidade e o volume das operações financeiras, e o fluxo instantâneo e constante de capitais "on line", tornam extremamente difícil seguir o rastro das transações ilícitas.


Uma das conseqüências do Nafta é a impunidade quase total que acompanha o fluxo de narcodólares em ambos os lados da fronteira. Igualmente como no México, o Tratado de Livre Comércio recentemente em vigor na Colômbia estimulará a violência, o narcotráfico e a repressão sobre os trabalhadores e camponeses. A "Iniciativa Mérida", por sua vez, é somente a versão 'México-Centroamericana' do Plano Colômbia.


Devemos meditar sobre o fato de que em todos os cenários de onde os Estados Unidos têm intervido militarmente, principalmente naqueles onde tem ocupado a sangue e fogo o território, o narcotráfico, sem diminuir, como seria de esperar, está multiplicado e fortalecido. No Afeganistão, o cultivo de papoula se reduziu drasticamente durante o governo dos talibãs para alcançar logo, sob a ocupação estadunidense, um crescimento acelerado.


O Afeganistão é atualmente o primeiro produtor de ópio do mundo, mas, ademais, já não exporta somente em forma de pasta para seu processamento em outros países, mas fabrica a heroína e a morfina em seu próprio território.


Se nos atemos aos fatos históricos, poderíamos afirmar que a política dos Estados Unidos não tem sido a de "guerra contra as drogas", senão a de "drogas para a guerra".




Tradução: Eduardo Sales de Lima
Fonte:Vermelhobrasildefato
Imagem: Google

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 A CIA controla o tráfico de droga no Afeganistão... 

 Do Blog Octopus


A recente revelação, de que o irmão (implicado no tráfico de droga) do actual presidente do Afganistão, Hamid Karzai, era pago desde há 8 anos pela CIA, vem confirmar o que muitos vinham denunciando: a CIA é quem controla o trafico de ópio afegão.


Para além dos interesses geoestratégicos, do controle do petróleo e do gás, a invasão do Afganistão, teve também como objectivo o controle da produção de ópio.

A CIA e a Droga...


Um artigo do "The New York Times" de 27 de outubro de 2009, revela que Ahmed Wali Karzai, irmão do presidente do Afganistão, é pago desde há 8 anos pela CIA para desempenhar vários serviços, entre os quais, a formação de um grupo paramilitar incombido de realizar ataques contra oponentes talibans na região de Kandahar. Este é suspeito desde há muito de tráfico de droga.

http://www.nytimes.com/2009/10/28/world/asia/28intel.html?_r=1&ref=world


Afeganistão, o maior produtor mundial de ópio. 

Antes da guerra entre a URSS e o Afganistão (1979-1989), a produção de ópio era quase nula no Afganistão, assim como aliás no Paquistão. Mas no início de 1979, as operações clandestinas da CIA estimularam a sua produção, sobretudo junta da fronteira entre o Paquistão e o Afganistão, tornando-se a primeira fonte mundial de heroína, fornecendo 60% do consumo americano.

Com a chegada ao poder dos talibans, a produção de ópio tinha caido 90% em 2001, em grande parte por causa dos seus vários planos de irradicação do tráfico de droga. Esta proibição, desencadeou "o inicio de uma penúria de heroina na Europa nos finais de 2001" como admitiu então a ONU.


Com a invasão do Afeganistão pela NATO, a produção não mais parou de subir, até atingir níveis nunca antes alcançados e fazendo do Afganistão o fornecedor de 94% do ópio mundial. Isto só foi possível porque a CIA passou a controlar a sua produção e exportação.


Veja o post completo em: http://octopedia.blogspot.pt/2009/11/cia-controla-o-trafico-de-droga-no.html











Cristina Kirchner defende restrição ao dólar em meio à crise

6 de Junho de 2012, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

 

A presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, questionou nesta quarta (6) os que buscam pela via judicial a permissão para adquirir moeda estrangeira e anunciou que passará sua renda fixa de dólares para peso.


A mandatária disse que "se a dolarização tivesse vencido, os argentinos estariam todos mortos. O que me chama a atenção é que tenha comunicadores que pedem para dolarizar a economia".

"Se esquecem de tudo o que passou em 2001?", disse a presidenta, em rede nacional, em referência a uma das piores crises econômicas do país, em momento em que havia paridade do peso e do dólar.


"Se esquecem que apenas neste mês de agosto vão cobrar o último vencimento dos títulos 2012 com os quais se engancharam porque não podiam pagá-los?", afirmou Cristina.


Além disso, ela antecipou que passará suas economias em dólares para pesos e convidou seus funcionários para seguirem esse exemplo. O governo adotou medidas para restringir a compra de dólares com o fim de acumular moeda estrangeira no marco da crise econômica internacional.


 




Fonte: Ansa, Vermelho
Imagem:



Irã reivindica seu direito a um programa nuclear civil

6 de Junho de 2012, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

 

Autoridades iranianas pediram nesta quinta-feira (7) que os países do Grupo 5+1 reconheçam seu direito de desenvolver um programa nuclear civil e pacífico, para assegurar o êxito da próxima reunião sobre o tema prevista para acontecer em Moscou, nos dias 18 e 19 de junho, indicou a imprensa iraniana.

Ali Akbar Velayati


  "Esperamos que os países do Grupo 5+1 (Estados Unidos, Rússia, China, França, Reino Unido e Alemanha) participem com realismo da reunião de Moscou e tomem suas decisões respeitando os direitos justos do Irã de desenvolver um programa nuclear civil", disse Ali Akbar Velayati, conselheiro para assuntos internacionais do aiatolá Ali Khamenei.

"O Irã também se compromete a manter atividades nucleares pacíficas dentro das normas internacionais", acrescentou. O Irã e o Grupo 5+1 se reunirão em Moscou para dar prosseguimento às negociações sobre o programa nuclear que começaram em abril em Istambul e foram mantidas depois em Bagdá nos dias 23 e 24 de maio.


"As pressões da frente da arrogância (ocidentais) nos impedem de negociar com base em um plano em que todos nós possamos ganhar", disse o ex-presidente Akbar Hachemi Rafsandjani, que dirige o Conselho do Discernimento, uma entidade encarregada de aconselhar o aiatolá.


"O ocidente deve saber que o caminho do êxito nas negociações passa pelo reconhecimento dos direitos justos do Irã e do abandono de uma política miserável de pressão, ameaças e sanções", acrescentou.


 







Fonte: AFP, Vermelho
Imagem: Google



Domenico Losurdo - Líbia 50.000 mortos

5 de Junho de 2012, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

*Como diz o ditado palestino: "Quem despoja os demais, vive sempre em terror".
E os norte americanos só fazem isso porque no mundo há alienados o suficiente para acreditar que na Líbia havia um regime totalitário e que eles (OTAN) levariam aos líbios, a "Democracia e a Liberdade".










*(MariaLeite)


Fonte: CHEbola



NO IRÃ, NEM TUDO É O QUE PARECE

5 de Junho de 2012, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

Economia do país segue e ritmo forte mesmo após sanções; país é envolto por estereótipos que pouco refletem a realidade.
Agência Efe
 
Opera Mundi  Pedro Chadarevian | São Paulo
O Irã pensa grande. Apesar dos boicotes e pressões internacionais, o país segue o curso de uma ousada estratégia de desenvolvimento. A meta é estar entre as 15 maiores economias do planeta antes de 2020. A valorização do preço do petróleo explica apenas em parte este sucesso. A economia iraniana vem se diversificando e passou praticamente incólume pela crise global.
Por trás desta expansão impressionante está um modelo que combina elementos socialistas, herdados da Revolução de 1979, com as reformas de mercado promovidas pelo atual presidente logo em seu primeiro mandato. Um processo amplo de privatizações reduziu a presença do Estado na economia, abrindo espaço para investidores externos, mantendo, contudo, uma participação importante para o capital nacional, estatal e privado. O setor automobilístico do país, por exemplo, tem tecnologia predominantemente nacional, é o quinto mais pujante do planeta.
Como nenhum processo de desenvolvimento se dá sem o apoio fundamental na evolução da qualidade de vida da população, vale a pena uma rápida incursão sobre este tema. Não há dúvidas que a alta qualificação da mão-de-obra contribui diretamente para a situação econômica recente. O país, desde a ruptura com o regime dos xás, investiu pesadamente em educação. A ponto de liderar em 2011 o ranking dos países com maior crescimento na produção científica no mundo. O estado de bem-estar social é também um dos mais evoluídos da região, capaz de reduzir o nível de pobreza a míseros, com o perdão do trocadilho, 12% (no Brasil, o índice atualmente se situa em torno dos 20%).
A repercussão política destas condições materiais excepcionais é evidente. No Irã, que mantém, apesar das pressões externas, a estabilidade democrática, não parece haver hoje qualquer sinal de contaminação do ambiente revolucionário do norte da África.
O modelo atual de desenvolvimento se embasa em uma retórica antiimperialista, buscando ultimamente aliados inclusive na América Latina, como Hugo Chávez (Venezuela) e Rafael Correa (Equador). Mas se a política externa ajuda a legitimar o regime, a enorme influência que mantêm os aiatolás – com status de verdadeiro poder moderador no interior do Estado – produz uma massa crescente de descontentes, em especial entre segmentos da intelectualidade.
Para entender melhor a realidade complexa desta sociedade em frenética transformação, oOutra Economia escutou o filósofo cearense Daniel Marcolino, que acaba de defender uma tese de mestrado na Universidade de São Paulo sobre a estética do cinema iraniano. Para realizar a sua pesquisa, passou dois meses imerso no país persa, e conta agora com exclusividade para os leitores do Opera Mundi esta experiência, esclarecendo aspectos da vivência dos iranianos que vão muito além da imagem estereotipada difundida pela grande imprensa.

* * * * *
NO BRASIL, A INFORMAÇÃO QUE NOS CHEGA SOBRE O IRÃ PASSA, EM GERAL, PELO OBSCURO FILTRO DA MÍDIA OCIDENTAL, QUE QUER NOS FAZER ACREDITAR NOS RISCOS DE UM REGIME TIRANO, TOTALITÁRIO, ATRASADO E COM INTENÇÕES ESTRITAMENTE BÉLICAS E EXPANSIONISTAS. LENDO O SEU TRABALHO DE MESTRADO [“A DILUIÇÃO DO AUTOR NA TRILOGIA DE KOKER DE ABBAS KIAROSTAMI”], NOS DAMOS CONTA QUE A INTENSA VIDA CULTURAL NA CAPITAL DO PAÍS, TEERÃ, APRESENTA UMA REALIDADE QUE VAI MUITO ALÉM DESSE ESTEREÓTIPO, E MUITAS VEZES CONTRARIANDO TOTALMENTE ESSA VISÃO PRECONCEITUOSA.

Não só no Brasil, mas em todo o Ocidente (exceção feita a alguns países na América do Sul e Central) e mesmo no Oriente, em parte dele, a informação é fabricada, não só pela mídia, mas por todo um conjunto de canais que elaboram formas de reconstrução do ser-Outro Oriente. Disso já nos falava muito bem Edward Said.

O que é novo nessa construção a partir de 1979 é que o Irã é elevado à categoria de inimigo número 1 do mundo. O Irã passa a representar o atraso determinante para o mundo. Essa posição liderada pelo Irã ameaçaria a paz mundial, porque tem a ideia beligerante dos persas. Ora, os EUA e seus aliados provocaram as maiores guerras do final do século XX, invadiram o Iraque, apoiando-o antes quando era de seu interesse em uma guerra contra o Irã, o que fortaleceu o poder religioso local.

Antes disso, já havia reforçado esse mesmo poder quando do golpe promovido por eles junto aos ingleses em 1953, ocasião em que o primeiro ministro Mohamed Mossadegh estatizou a empresa de petróleo que estava nas mãos de britânicos, passando às aos iranianos. Isso se deu em 1951 e já em 1953 acontecia o golpe.

Foi uma interferência criminosa em assuntos nacionais por parte dos EUA e Reino Unido, países que hoje lideram sérias sanções econômicas que afixiam as forças produtivas do país. Como então agora se surpreender e atribuir ao próprio Irã a “invenção” de um governo teocrático? Não estamos dizendo que esse golpe tenha diretamente gerado o governo que aí está, mas certamente o inconformismo da população com a situação de sua extrema pobreza na era Pahlevi encontrou na religião suporte para reivindicar mudanças.

FALA-SE ABERTAMENTE EM POLÍTICA NAS RUAS DE TEERÃ HOJE? OS TEMAS DA ATUALIDADE REGIONAL, COMO AS REVOLUÇÕES DA PRIMAVERA ÁRABE, OS EXERCÍCIOS MILITARES DE ISRAEL NO GOLFO PÉRSICO, OS ATENTADOS CONTRA OS CIENTISTAS IRANIANOS, SÃO COMENTADOS NOS MEIOS INTELECTUAIS?

Fala-se sobre política, e muito. É um dos tópicos recorrentes nas conversas e os iranianos não têm receio de criticar o governo. Todos esses tópicos da atualidade regional são, sim, debatidos. Mas cabe lembrar que o acesso à informação é limitado.

Há muitos sites censurados e as mídias impressa e televisiva são controladas pelo Estado. Por outro lado, é muito fácil driblar a censura. Os programas anti-filtros são populares e basta olhar os telhados de Teerã para ver uma grande quantidade de antenas parabólicas, que captam sinais de emissoras do mundo todo. Nos meios intelectuais, em geral, o acesso à informação é maior, além de ser um grupo que viaja para países estrangeiros e mantém redes de contato.

Existe no Irã uma vontade das pessoas de mostrarem-se diferentes do modo como o governo se posiciona. Muitos deles dizem que, no Irã, há uma vida pública, cuja expectativa do governo é, em certa medida, satisfeita, e outra privada, muito diferente.

Ainda dizem: o governo é uma coisa, o povo, outra. Isso na intenção de demarcar diferenças entre as declarações do presidente e o que o povo pensa e como eles vivem, em referência à vida privada que levam no Irã.


PELO SEU DISCURSO, AHMADINEJAD POSICIONA-SE, IDEOLOGICAMENTE, PRÓXIMO ÀS CORRENTES DA ESQUERDA BOLIVARIANA DA AMÉRICA LATINA. EM RECENTE PASSAGEM PELO EQUADOR, FEZ DURAS CRÍTICAS AO IMPERIALISMO NORTE-AMERICANO E AO NEOLIBERALISMO. EXISTE A PERCEPÇÃO DE UM GOVERNO AHMADINEJAD PROGRESSISTA  EM RELAÇÃO ÀS SUAS POLÍTICAS SOCIAIS E ECONÔMICAS?


Essa aproximação não é ideológica, mas estratégica. O discurso é ideológico, pois seriam nações anti-imperialistas, anti-Estados Unidos, principalmente. Mas o contexto e a história são muito distintos. O governo de Ahmadinejad é progressista em relação às políticas sociais. Aliás, desde a Revolução há uma melhora significativa nos indicadores sociais. A expectativa de vida ao nascer, por exemplo, era inferior a 60 anos em toda a década de 1970 e hoje é de 74 anos.

A situação econômica é prejudicada pelo bloqueio econômico, que é uma questão muito séria, mas mesmo assim a situação não é ruim se comparado aos nossos índices aqui no Brasil. Na esfera cultural, o problema no Irã são as restrições às liberdades individuais, as estratégias que a população tem de ter para conseguir, por exemplo, usar a Internet livremente. Mas, fora isso, há uma efervescência cultural impressionante e as praças estão sempre cheias de pessoas, famílias, jovens, crianças. Isso é espetacular como as ruas são tomadas pelas pessoas.


OUTRO ESTEREÓTIPO EM VOGA NA MÍDIA OCIDENTAL É EM RELAÇÃO À POSIÇÃO DA MULHER NA SOCIEDADE IRANIANA ATUAL. LENDO O SEU TRABALHO, PERCEBEMOS QUE A REALIDADE IRANIANA MAIS UMA VEZ CONTRARIA ESTA CONCEPÇÃO DE DOMINÂNCIA MASCULINA ABSOLUTA NO PAÍS. PODE-SE CONSIDERAR QUE AS MINORIAS SEXUAIS NO IRÃ CONSEGUIRAM TAMBÉM CONQUISTAS APÓS A REVOLUÇÃO?

Se você considerar as mulheres como minoria sexual, sim. Mas cabe lembrar que antes da Revolução elas já eram tratadas de maneira diferente no Irã, em comparação, por exemplo, com muitos países árabes. No ano passado, uma mulher foi presa na Arábia Saudita por dirigir. No Irã, elas não só dirigem, como podem abrir seu próprio negócio, trabalhar, pedir divórcio.


Cerca de 65% dos estudantes universitários são mulheres. Até mesmo na controversa questão do uso do véu em público o Irã se diferencia. A obrigação é cobrir a cabeça, mas não se obriga o uso do chador (manto preto que cobre todo o corpo) ou da burca.

Há casos em que a polícia se incomoda com mulheres que deixam muito cabelo à mostra, mas comparado com países árabes, o Irã é, sem dúvida, mais liberal. Agora, se em minorias sexuais você incluir os homossexuais, a situação é diferente, pois há mais medo de se expor.

Mesmo assim, são conhecidos os lugares de “pegação”, inclusive com informação constando em guia internacional, e as festas particulares.

 Fábrica de produção de aço em Isfahan: sanções não diminuíram produtividade em diversos setores da economia persa


 Irán produziu 600 mil veiculos de passeio em apenas 4 meses de 2012


 O desenvolvimento da industria eletroeletronica do Irã é o maior da região


Grupo de flamenco iraniano "Andaluzia" se apresenta em Teerã e derruba alguns mitos sobre a condição da mulher no país


 Mulher iraniana e sua forma própria de se vestir



Fonte: SOA-BRASIL



Pepe Mujica - "Queremos Uruguai cheio de engenheiros, filósofos e artistas"

5 de Junho de 2012, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda


Relembrando Pepe Mujica

2009 
Pepe Mujica, foi um dos principais dirigentes do movimento guerrilheiro tupamaro, que lhe custou anos de prisão e terríveis torturas durante a ditadura militar (1973-1985), é um dos políticos mais queridos do Uruguai,um homem de estilo simples e frontal. Foi um dos fundadores do Movimento de Libertação Nacional (MLN), os tupamaros, que surgiu como uma organização de esquerda ainda no período civil, em contraponto ao bipartidarismo blanco-colorado que dominava o país. Depois de 1973, com a implantação de uma ditadura militar, passou à luta armada. O nome tupamaro vem de Tupac Amaru, um líder inca que lutou contra a dominação espanhola.
 
Agricultor, carismático, “Pepe” Mujica é famoso por sua fala simples, direta, “campechana” , como dizem lá. Andava sempre com uma velha lambreta pelas ruas de Montevidéu, é considerado o político mais popular no Uruguai, especialmente entre os jovens e os uruguaios que migraram do país. Foi eleito deputado nas eleições de 1994 e senador em 1999. Nas eleições de 2004 foi o legislador com maior quantidade de votos, cargo a que renunciou ao ser designado ministro de Pecuária, Agricultura e Pesca em março de 2005, onde ficou até de março do 2008.

Junto com outros dirigentes do Movimento de Libertação Nacional – Tupamaros, passou mais de doze anos preso em quartéis uruguaios, durante a ditadura militar. Durante dois destes doze anos ficou praticamente enterrado vivo, no fundo de um poço. Ele e seus companheiros que foram submetidos a essa tragédia ficaram conhecidos como os “reféns”. Mujica sobreviveu a essa provação e hoje é um dos líderes políticos mais importantes do Uruguai. Mais do que isso, é uma voz a ser ouvida, um exemplo de vida digna e corajosa. 
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"Queremos Uruguai cheio de engenheiros, filósofos e artistas"

O presidente eleito do Uruguai, José "Pepe" Mujica, reuniu-se com um grupo de intelectuais em dezembro de 2009 e fez alguns pedidos a eles: que contagiem todo o povo uruguaio com o olhar curioso sobre o mundo, que está no DNA do trabalho intelectual, e com o inconformismo. Mujica propõe também uma revolução na educação. "Escolas de tempo completo, faculdades no interior, ensino superior massificado. E, provavelmente, inglês desde o pré-escolar no ensino público. Porque o inglês não é idioma falado pelos ianques; é o idioma com o qual os chineses conversam com o mundo. Não podemos ficar de fora".

Pepe Mujica

Discurso proferido em dezembro de 2009 pelo presidente eleito da República do Uruguai, José Alberto Mujica Cordano (El Pepe), dirigente histórico e fundador do Movimento de Libertação Tupamaros:

"A vida tem sido extraordinariamente generosa comigo. Ela me deu inúmeras satisfações, mais além do que jamais me atrevera a sonhar.

Quase todas são imerecidas. Mas nenhuma é mais que a de hoje: encontrar-me aqui agora, no coração da democracia uruguaia, rodeado de centenas de cabeças pensantes.

Cabeças pensantes! À direita e à esquerda. Cabeças pensantes a torto e a direito, cabeças pensantes para atirar para cima.

Vocês se lembram do Tio Patinhas, o tio milionário do Pato Donald que nadava em uma piscina cheia de moedas? Ele tinha uma sensualidade física pelo dinheiro.

Gosto de me ver como alguém que gosta de tomar banho em piscinas cheias de inteligência alheia, de cultura alheia, de sabedoria alheia.

Quanto mais alheia, melhor. Quanto menos coincide com meus pequenos saberes, melhor.

O semanário Búsqueda tem uma frase charmosa que usa como insígnia:

“O que digo, não o digo como homem sabedor, mas sim buscando junto com vocês”.

Por uma vez estamos de acordo. Sim, estaremos de acordo.

O que digo, não o digo como chacareiro sabichão, nem como trovador ilustrado. Digo-o buscando com vocês.

O digo, buscando, porque só os ignorantes acreditam que a verdade é definitiva e maciça, quando ela é apenas provisória e gelatinosa. 

É preciso buscá-la porque ela anda correndo brincando de esconde-esconde. E pobre daquele que empreenda essa caça sozinho. 
É preciso fazê-la com vocês, com aqueles que fizeram do trabalho intelectual a razão de sua vida. Com os que estão aqui e com os muito mais que não estão.

De todas as disciplinas
 
Se olharem para trás, seguramente encontrarão algumas caras conhecidas porque se trata de gente que trabalha em espaços de trabalho afins. Mas vão encontrar muito mais rostos desconhecidos porque a regra desta convocação foi a heterogeneidade.

Aqui estão os que se dedicam a trabalhar com átomos e moléculas e os que se dedicam a estudar as regras da produção e da troca na sociedade. Há gente das ciências básicas e de sua quase antípoda, as ciências sociais: gente da biologia e do teatro, da música, da educação, do direito e do carnaval. Há gente da economia, da macroeconomia, da microeconomia, da economia comparada e até alguns da economia doméstica. Todas cabeças pensantes, mas que pensam distintas coisas e podem contribuir desde suas distintas disciplinas para melhorar este país.

E melhorar este país significa muitas coisas, mas entre as prioridades que queremos para esta jornada, melhorar o país significa impulsionar os processos complexos que multipliquem por mil o poderio intelectual que aqui está reunido. Melhorar o país significa que, dentro de vinte anos, o Estádio Centenário não seja suficiente para abrigar um ato como este, pois o Uruguai estará cheio, até as orelhas, de engenheiros, filósofos e artistas.

Não é queiramos um país que bata os recordes mundiais pelo puro prazer de fazê-lo. É porque está demonstrado que, uma vez que a inteligência adquira um certo grau de concentração em uma sociedade, ela se torna contagiosa.

Inteligência distribuída
 
Se, um dia, lotarmos estádios de gente formada será porque, na sociedade, haverá centenas de milhares de uruguaios que cultivaram sua capacidade de pensar. A inteligência que traz riqueza para um país é a inteligência distribuída. É a que não está só guardada nos laboratórios ou na universidade, mas sim anda pela rua. A inteligência que se usa para plantar, para tornear, para manejar uma máquina, para programar um computador, para cozinhar, para atender bem um turista é a mesma inteligência. Alguns subiram mais degraus do que outros, mas se trata da mesma escada.

E os degraus de baixo são os mesmos para a física nuclear e para o manejo de um campo. Para tudo é preciso o mesmo olhar curioso, faminto de conhecimento e muito inconformista. Acabamos sabendo porque antes ficamos incomodados por não saber. Aprendemos porque temos comichão e isso se adquire por contágio cultural desde quando abrimos os olhos ao mundo.

Sonho com um país onde os pais mostrem a pastagem a seus filhos pequenos e digam: “Sabem o que é isso? É uma planta processadora da energia do sol e dos minerais da terra”. Ou que lhes mostrem o céu estrelado e façam com que pensem nos corpos celestes, na velocidade da luz e na transmissão das ondas. E não se preocupem que esses pequenos uruguaios vão seguir jogando futebol. Só que, lá pelas tantas, enquanto vêem a bola picar, podem pensar ao mesmo tempo na elasticidade dos materiais que a fazem rebotar.

Capacidade de interrogar-se
 
Havia um ditado: “Não dê peixe a uma criança, ensina-a a pescar”.

Hoje deveríamos dizer: “Não dê um dado a uma criança, ensina-a a pensar”.

Do jeito que vamos, os depósitos de conhecimento não vão estar mais situados dentro de nossas cabeças, mas sim fora, disponíveis para buscá-los na internet. Aí vai estar toda a informação, todos os dados, tudo o que se sabe. Em outras palavras, aí vão estar todas respostas. Mas não vão estar todas as perguntas. O diferencial vai estar na capacidade de se interrogar, na capacidade de formular perguntas fecundas, que provoquem novos esforços de investigação e aprendizagem.

E isso está bem no fundo, marcado quase no nosso de nossa cabeça, tão fundo que quase não temos consciência.

Simplesmente aprendemos a olhar o mundo com um sinal de interrogação e essa se torna nossa maneira natural de olhar para o mundo. Adquirimos essa capacidade muito cedo e ela nos acompanha por toda a vida. E, sobretudo, queridos amigos, ela contagia.

Em todos os tempos foram vocês, os que se dedicam à atividade intelectual, os encarregados de espalhar a semente. Ou para dizê-lo em palavras que nos são muito caras: vocês têm sido os encarregados de acender a necessária inquietação.

Por favor, vão e contagiem. Não perdoem a ninguém.

Necessitamos de um tipo de cultura que se propague no ar, entre os lugares, que se cole nas cozinhas e até nos banheiros. Quando conseguirmos isso, teremos ganho a partida quase para sempre. Porque se quebra a ignorância essencial que enfraquece muita gente, uma geração após a outra.

O conhecimento é prazer
 
Precisamos, antes de mais nada, massificar a inteligência, para nos tornarmos produtores mais potentes. Isso é quase uma questão de sobrevivência. Mas nesta vida não se trata só de produzir: também é preciso desfrutar. Vocês sabem melhor do que ninguém que, no conhecimento e na cultura, não há só esforço, mas também prazer.

Dizem que as pessoas que correm pelas ruas chegam num ponto em que entram numa espécie de êxtase onde já não existe o cansaço e só fica o prazer. Creio que ocorre o mesmo com o conhecimento e a cultura. Chega um ponto onde estudar, investigar e aprender já não é um esforço, mas um puro deleite.

Que bom seria que esses manjares estivessem a disposição de muita gente! Que bom seria se, na cesta de qualidade de vida que o Uruguai pode oferecer a sua gente, houvesse uma boa quantidade de consumos intelectuais. Não porque seja elegante, mas sim porque é prazeroso. Porque se desfruta com a mesma intensidade com a qual se pode desfrutar de um prato de talharim.

Não há uma lista obrigatória das coisas que nos tornam felizes! Alguns podem pensar que o mundo ideal é um lugar repleto de shopping centers. Nesse mundo, as pessoas são felizes porque todos podem sair cheios de sacolas com roupas novas e caixas de eletrodomésticos. Não tenho nada contra essa visão, só digo que ela não é a única possível.

Digo que também podemos pensar em um país onde a gente escolhe arrumar as coisas ao invés de jogá-las fora, onde se prefere um carro pequeno a um grande, onde decidimos nos agasalhar melhor ao invés de aumentar a calefação.

Esbanjar não é o que fazem as sociedades mais maduras. Vejam a Holanda e as cidades repletas de bicicletas. Aí as pessoas se deram conta de que o consumismo não é a escolha da verdadeira aristocracia da humanidade. É a escolha dos farsantes e dos frívolos.

Os holandeses andam de bicicleta, eles as usam para ir trabalhar, mas também para ir a concertos ou aos parques. Chegaram a um nível em que sua felicidade cotidiana se alimenta de consumos materiais como intelectuais.

De modo que, amigos, vão e contagiem todos com o prazer pelo conhecimento. Paralelamente, minha modesta contribuição será fazer com que os uruguaios andem de pedalada em pedalada.

Inconformismo
 
Eu lhes pedi antes que contagiem os outros com o olhar curioso sobre o mundo, que está no DNA do trabalho intelectual. E agora aumento o pedido e lhes rogo que contagiem também com o inconformismo. Estou convencido que este país necessita uma nova epidemia de inconformismo, como a que os intelectuais geraram décadas atrás.

No Uruguai, nós que estamos no espaço político da esquerda somos filhos ou sobrinhos daquele semanário Marcha, do grande Carlos Quijano. Aquela geração de intelectuais impôs-se a si mesma a tarefa de ser a consciência crítica da nação. Andavam com alfinetes na mão, estourando balões e desinflando mitos.

Sobretudo o mito do Uruguai multicampeão. Campeão da cultura, da educação, do desenvolvimento social e da democracia. Acabamos não sendo campeões de nada. Menos ainda nestes anos, nas décadas de 50 e 60, onde o único recorde que obtivemos foi ser o país da América Latina que menos cresceu em 20 anos. Só o Haiti nos superou neste ranking.

Esses intelectuais ajudaram a demolir aquele Uruguai da siesta conformista.

Com todos seus defeitos, preferimos esta etapa, onde estamos mais humildes e situados na real estatura que temos no mundo. Mas precisamos recuperar aquele inconformismo e colocá-lo embaixo da pele do Uruguai inteiro.

Antes eu dizia a vocês que a inteligência que serve a um país é a inteligência distribuída. Agora, digo que o inconformismo que serve a um país é o inconformismo distribuído. Aquele que invade a vida de todos os dias e nos empurra a perguntar-nos se o que estamos fazendo não pode ser feito melhor. O inconformismo está na própria natureza do trabalho de vocês. Precisamos que ele se torne uma segunda natureza de todos nós.

Uma cultura do inconformismo é aquela que não nos deixa parar até que consigamos mais quilos por hectare de trigo ou mais litros por vaca leiteira. Tudo, absolutamente tudo, pode ser feito de um modo um pouco melhor do que foi feito ontem. Desde arrumar a cama de um hotel até produzir um circuito integrado.

Necessitamos de uma epidemia de inconformismo. E isso também é cultural, também se irradia desde o centro intelectual da sociedade para sua periferia. É o inconformismo que fez com que pequenas sociedades ganhassem respeito sobre o que fazem. Aí estão os suíços, meia dúzia de gatos pintados como nós, que se dão o luxo de andar por aí vendendo qualidade suíça ou precisão suíça. Eu diria que o que vendem de verdade é inteligência e inconformismo suíços, que estão esparramados por toda a sociedade.

A educação é o caminho
 
Amigos, a ponte entre este hoje e este amanhã que queremos tem um nome e se chama educação. É uma ponte longa e difícil de cruzar. Porque uma coisa é a retórica da educação e outra coisa é nos decidirmos a fazer os sacrifícios necessários para lançar um grande esforço educativo e sustentá-lo no tempo. Os investimentos em educação são de rendimento lento, não iluminam nenhum governo, mobilizam resistências e obrigam o adiamento de outras demandas.

Mas é preciso seguir esse caminho. Devemos isso a nossos filhos e netos. E é preciso fazê-lo agora, quando ainda está fresco o milagre tecnológico da internet e se abrem oportunidades nunca antes vistas de acesso ao conhecimento.

Eu me criei com o rádio, vi nascer a televisão, depois a televisão a cores, depois as transmissões por satélite. Mais tarde, passaram a aparecer quarenta canais em minha TV, incluindo aí os que transmitiam direto dos Estados Unidos, Espanha e Itália. Depois vieram os celulares e os computadores que, no início, serviam apenas para processar números. Em cada um destes momentos, fiquei com a boca aberta. Mas agora com a internet se esgotou a minha capacidade de surpresa. Sinto-me como aqueles humanos que viram uma roda pela primeira vez. Ou que viram o fogo pela primeira vez.

Sentimos que nos tocou a sorte de viver um marco na história. Estão sendo abertas as portas de todas as bibliotecas e de todos os museus. Todas as revistas científicas e todos os livros do mundo vão estar a nossa disposição. E, provavelmente, todos os filmes e todas as músicas do mundo. É perturbador.

Por isso precisamos que todos os uruguaios e, sobretudo, todos os pequenos uruguaios saibam nadar nessa corrente. Precisamos subir essa corrente e navegar nela como um peixe na água. Conseguiremos isso se a matriz intelectual da qual falávamos antes estiver sólida. Se soubermos raciocinar em ordem e fazermos as perguntas que valem a pena.

É como uma corrida em duas vias: lá em cima no mundo o oceano de informação; aqui embaixo, nós, preparando-nos para a navegação transatlântica.

Escolas de tempo completo, faculdades no interior, ensino superior massificado. E, provavelmente, inglês desde o pré-escolar no ensino público. Porque o inglês não é idioma falado pelos ianques; é o idioma com o qual os chineses conversam com o mundo. Não podemos ficar de fora. Não podemos deixar nossas crianças de fora.

Essas são as ferramentas que nos habilitam a interagir com a explosão universal do conhecimento. Este mundo não simplifica a nossa vida: complica-a. Nos obriga a ir mais longe, a ir mais fundo na educação. Não há tarefa maior diante de nós.

O idealismo ao serviço do Estado
 
Queridos amigos, estamos em tempos eleitorais. Em benditos e malditos tempos eleitorais. Malditos, porque nos põe a brigar e a disputar corridas entre nós. Benditos, porque nos permitem a convivência civilizada. E mais uma vez benditos porque, com todas as suas imperfeições, nos fazem donos do nosso próprio destino. Aqui todos aprendemos que é preferível a pior democracia à melhor ditadura.

Nos tempos eleitorais, todos nos organizamos em grupos, frações e partidos, nos cercamos de técnicos e profissionais e desfilamos frente ao soberano. Há adrenalina e entusiasmo. Mas depois, alguém ganha e alguém perde. E isso não deveria ser um drama.

Com estes ou com aqueles, a democracia uruguaia seguirá seu caminho e irá encontrando as fórmulas rumo ao bem-estar. Seja qual for o lugar que nos toque, ali estaremos colocando a tarefa sobre os ombros. E estou seguro de que vocês também. A sociedade, o Estado e o Governo precisam de seus muitos talentos. E precisam mais ainda de sua atitude idealista. Nós que estamos aqui, entramos na política para servir, não para nos servir do Estado. A boa fé é a nossa única intransigência. Quase todo o resto é negociável. Muito obrigado por acompanharem-me."

Pepe Mujica











Fonte:Google, Portal Luiz Nassif
Imagem: Google



Pepe Mujica é o presidente mais pobre do mundo

4 de Junho de 2012, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda





Como prometido antes da eleição, o presidente do Uruguai José Pepe Mujica ainda mora em sua pequena fazenda em Rincon del Cerro, nos arredores de Montevidéu. A moradia não poderia deixar de ser modesta, já que o dirigente acaba de ser apontado como o presidente mais pobre do mundo.



Pepe recebe 12.500 dólares mensais por seu trabalho à frente do país, mas doa 90% de seu salário, ou seja, vive com 1.250 dólares ou 2.538 reais ou ainda 25.824 pesos uruguaios. O restante do dinheiro é distribuído entre pequenas empresas e ONGs que trabalham com habitação.



"Este dinheiro me basta, e tem que bastar porque há outros uruguaios que vivem com menos", diz o presidente.

Aos 77 anos, Mujica vive de forma simples, usando as mesmas roupas e desfrutando a companhia dos mesmos amigos de antes de chegar ao poder.

Além de sua casa, seu único patrimônio é um velho Volkswagen cor celeste avaliado em pouco mais de mil dólares. Como transporte oficial, usa apenas um Chevrolet Corsa. Sua esposa, a senadora Lucía Topolansky também doa a maior parte de seus rendimentos.

Sem contas bancárias ou dívidas, Mujica disse ao jornal El Mundo, da Espanha, que espera concluir seu mandato para descansar sossegado em Rincon del Cerro.



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Mujica oferece residência oficial para abrigar moradores de rua

O presidente do Uruguai, José Mujica, ofereceu nesta quinta-feira (31 de maio) sua residência oficial para abrigar moradores de rua durante o próximo inverno caso faltem vagas em abrigos oficiais do governo.

Ele pediu que fosse feito um relatório listando os edifícios públicos disponíveis para serem utilizados pelos desabrigados e, após os resultados, avaliará se há a necessidade da concessão da sede da Presidência. De acordo com a revista semanal Búsqueda, Mujica disponibilizou ainda o palácio de Suarez y Reyes, prédio inabitado onde ocorrem apenas reuniões de governo.

No último dia 24 de maio, uma moradora de rua e seu filho foram instalados na residência presidencial por sugestão de Mujica ao Ministério de Desenvolvimento Social. Logo após o convite, contudo, encontraram outro local para se alojar.


O presidente não mora em sua residência oficial, pois escolheu viver em seu sítio, localizado em uma área de classe média nas redondezas de Montevidéu. Nem mesmo seu antecessor, o ex-presidente Tabaré Vázquez (2005-2010), ocupou o palácio durante seu mandato. Ambos representam os dois primeiros governos marcadamente progressistas da história do Uruguai.


No inverno do ano passado, pelo menos cinco moradores de rua morreram por hipotermia. O fato causou uma crise no governo e acarretou na destituição da ministra de Desenvolvimento Social, Ana Vignoli.


Moradias populares

Em julho de 2011, Mujica assinou a venda da residência presidencial de veraneio, localizada em Punta del Este, principal balneário turístico do país, para o banco estatal República. A operação rendeu ao governo 2,7 milhões dólares e abrirá espaço para escritórios e um espaço cultural.


A venda dessa residência estava nos planos de Mujica desde que assumiu a Presidência em março de 2010. Com os fundos amealhados, será incrementado o orçamento do Plano Juntos de Moradias. Também é planejado o financiamento de uma escola agrária na região, onde jovens de baixa renda poderão ter acesso a cursos técnicos.





Fonte: Opera Mundi, El Guia Latino, Vermelho
Imagem: Google, Vermelho







O encontro de Lampião com Eike Batista

3 de Junho de 2012, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

Por El Efecto



Com grande satisfação, apresentamos um primeiro resultado do que virá por aí no nosso novo disco. Trata-se de um registro de gravação da música "O encontro de Lampião com Eike Batista", mesclado também com algumas cenas de ensaios. A música ainda não está totalmente finalizada, mas pensamos que já funciona como uma boa prévia e por isso gostaríamos de compartilhá-la com os interessados. Disponibilizamos, junto com o vídeo, a letra no formato de legenda. Para habilitá-la, basta acionar o botão "cc" no canto inferior direito.



Site: www.elefecto.com.br



Agradecimentos: Fernando do Blog Farol do Buscador



A visita do rei caçador e a aliança do Pacífico

3 de Junho de 2012, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda





Combalida política e economicamente, por uma crise que se aprofunda a cada dia, também do ponto de vista social - e pela erosão de sua credibilidade internacional - a Espanha e sua diplomacia parecem não ter aprendido nada com as dolorosas lições dos últimos anos.

Por Mauro Santayana, em seu blog

De passagem por Brasília, aonde vem oferecer, segundo a imprensa ibérica, onze anos depois de sua última visita ao nosso país, uma “aliança política e econômica sem precedentes”, o Rei Juan Carlos tem como destino final na América do Sul, o observatório chileno de Cerro Paranal, a fim de agregar-se, como “observador”, no dia 6 de junho, à cúpula presidencial da Aliança do Pacífico.

Essa, para quem não conhece, é uma organização patrocinada pelo México e pela Espanha, que nasce com o claro objetivo de se contrapor à ampliação da presença brasileira na América do Sul, e que reúne, além do México, o Chile, o Peru e a Colômbia.

Com a Aliança do Pacífico, a Espanha, que não pode participar de reuniões do Mercosul, da Unasul e da Celac, nem mesmo como observadora, contaria – depois do rotundo fracasso de suas cúpulas “ibero-americanas”- com novo instrumento para imiscuir-se nos assuntos do nosso continente.

O outro aliado com que contam os espanhóis nesse processo de tentar promover a divisão sul-americana, é o Paraguai, país tradicionalmente pendular em suas relações externas, que joga para beneficiar-se da ajuda ora do Brasil, ora da Argentina, ora da Espanha, dependendo do momento e das circunstâncias.

Não foi por outro motivo que o Paraguai aceitou promover a fracassada cúpula “ibero-americana” de Assunção, em novembro do ano passado, que terminou com a ausência dos países mais importantes da região, mas contou com a presença justamente do México e do Chile, co-patrocinadores da “Aliança do Pacífico”.

É também importante registrar, nesse contexto, a posição do parlamento paraguaio que impede, há anos, a expansão do Mercosul, ao não ratificar a entrada da República da Venezuela no Tratado, já aprovada pelos outros membros do bloco.

A diplomacia brasileira, com a chegada do Rei Juan Carlos a Brasília nesta segunda-feira – data em que ocorrerá, em Madri, reunião “técnica” para discutir a questão da expulsão de brasileiros dos aeroportos espanhóis nos últimos anos - tem excelente oportunidade para deixar claro que não concorda com a interferência externa no espaço sul-americano.

Com relação ao Paraguai, qualquer concessão do grupo, no futuro, poderia ser negociada – em todas as instâncias, incluída a parlamentar - de forma a obter rápida aprovação à entrada da República da Venezuela no Tratado do Mercosul. Enquanto isso, nada impede que o Uruguai, a Argentina e o Brasil possam negociar acordos bilaterais de livre comércio com Caracas.

É difícil, tendo em vista a formação histórica de nossos países, que a tentativa de divisionismo entre o Brasil e os países ocidentais do continente tenha êxito. O México sempre foi uma realidade à parte, menos durante o governo nacionalista de Cárdenas, quando seus atos o incluíam na mesma ordem de pensamento de Getúlio Vargas. Como se recorda, Cárdenas nacionalizou o petróleo em 1938, sem que os Estados Unidos, já em preparação para a guerra, tomasse qualquer medida de retaliação. Nos últimos trinta anos, no entanto, os governos do México têm sido fiéis vassalos dos Estados Unidos e é, sem dúvida, a serviço de Washington, que sua diplomacia atua ao lado do Chile e de Madri.

Há razões ainda mais antigas que tornam difícil essa aliança da Costa do Pacífico. O povo peruano não se esquece, até hoje, da ocupação de Lima pelas forças chilenas, em janeiro de 1881, na Guerra do Pacífico, que lhe custou a amputação de parte de seu território (a Província de Tacna) por 50 anos, só recuperada depois de imensos sacrifícios e desgastantes negociações diplomáticas.

A Bolívia sofreu ainda mais com os chilenos: todo o litoral do Pacífico que lhe pertencia (a rica e extensa província de Antofagasta) foi anexado, e La Paz perdeu seu acesso ao oceano. Esse conflito – provocado pelos interesses ingleses e norte-americanos – não foi completamente superado, e é uma lição de como os estranhos, com suas intrigas, causam as tragédias ao fomentar as guerras entre vizinhos.


Essa mesma interferência estrangeira – no caso, das empresas petrolíferas americanas e inglesas – provocou a carnificina da Guerra do Chaco, entre a Bolívia e o Paraguai, nos anos 30 do século passado.

O México rompeu relações com a Espanha e dela esteve distanciado até o fim do franquismo. Hoje, apesar da submissão de sua política externa aos Estados Unidos, grande parte da opinião pública mexicana rejeita aproximação maior com Madri.

Não há qualquer razão para que a Espanha de Juan Carlos, que vem sacrificando seu grande povo, em favor dos exploradores de sempre (hoje reunidos na globalização do neoliberalismo), venha a se meter no encontro de Cerro Paranal.

Isso só se explica pela desesperada busca de apoio internacional, no momento em que sua economia e suas instituições (sobretudo a monarquia) entram em acelerado declínio de credibilidade interna.

Com suas grandes empresas e bancos endividados (só a Telefónica, que atua no Brasil com a marca Vivo, deve mais de US$ 100 bilhões), reduz-se o prestígio internacional do governo e da monarquia espanhola. O Rei – é o que se diz na imprensa espanhola – vem nos propor “relações políticas e econômicas sem precedentes”. Em lugar de relações novas e excepcionais, os brasileiros querem, no mínimo, ser tratados com respeito em território espanhol, quando viajarem à Europa.

A cortesia diplomática recomenda que recebamos bem o Rei – em nome do respeito ao povo espanhol – mas os nossos interesses no mundo recomendam que não nos comprometamos com um governo que está arrochando seu povo com medidas econômicas draconianas, enquanto os ricos continuam saqueando os trabalhadores e retirando seus capitais do país.

A queda da popularidade de Piñera no Chile, a aproximação crescente do Brasil com a Colômbia, e a iminência de um governo de esquerda no México, retiram da monarquia espanhola espaço para suas manobras diplomáticas em nossa região.

Será melhor que o Brasil, como agiu quando da reunião anterior, no Paraguai, se ausente do próximo encontro de Chefes de Estado dos paises “ibero-americanos”, previsto para realizar-se na cidade de Cadiz, na Espanha, em novembro deste ano. Para discutir o futuro dos nossos países contamos com a Unasul e o Conselho de Defesa Sul-americano, e, no contexto do espaço ampliado da América Latina, com a Celac. Nós, e nossos vizinhos, não temos nada a fazer do outro lado do Atlântico, assim como a elite neocolonial de nossas antigas metrópoles não têm nada a fazer, institucionalmente, do lado de cá do oceano.









Fonte: Mauro Santayana.com

Imagem: Google



”Obama, não me mate.”

3 de Junho de 2012, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda





Retirado do Blog Gilson Sampaio



Nas terças-feiras, quando Obama está em Washington, seu programa é escolher, com seus assessores, quem irá mandar matar.

Depois do New York Times, em 29 de maio, ter publicado reportagem sobre os poderes de vida ou morte do Presidente Obama, 1.879 americanos enviaram à Casa Branca um curioso apelo.

“O New York Times”, diziam, “ contou que o Presidente Obama criou, oficialmente, uma “lista da morte” em que ele se baseia para ordenar o assassinato de cidadãos americanos. “

E concluíam : “…nós abaixo assinados pedimos que seja feita também uma lista de “Não matar” na qual cidadãos americanos seriam inscritos para evitar serem colocados na “ lista da morte” e, assim, não poderem ser executados sem indiciamento, juiz, júri, julgamento ou devido processo legal.”

Já era sabido que Obama assumia esses poderes fatais sobre cidadãos americanos ou não.

A reportagem do New York Times, porém, revelou com detalhes como a coisa se processava, o que chocou a opinião pública liberal da América.

Diz o Times que nas reuniões de terça-feira, o Presidente Obama, a CIA e assessores revisam a “lista da morte”. E o pessoal do presidente indica os indivíduos perigosos que foram localizados e, portanto, estão ao alcance do braço longo e forte de Tio Sam.

Obama, então, decide quais serão as vítimas e ordena que seus agentes as executem, sejam ou não americanos, em qualquer parte do mundo.

Tudo bem no estilo das antigas republiquetas latino-americanas. Digo “antigas” por que, atualmente, em nenhuma delas ainda se fazem coisas assim.

Execuções de suspeitos, nas quais o Presidente funciona como juiz e executor, sem dar chance de defesa ao acusado, parecem estranhos ao Direito de uma nação modelo de democracia.

E são mesmo.

Como sustenta o jurista Andrew Napolitano, “o presidente não pode legalmente ordenar a morte de ninguém, exceto de acordo com a Constituição e a Lei Federal.”

E ele explica que, para a Constituição, o presidente só pode mandar matar através de militares, quando os EUA forem atacados ou “quando um ataque for tão iminente e certo que atrasar (a execução) custaria vidas de americanos.

Evidentemente, numa declaração de guerra, o direito de matar inimigos está implícito.

Andrew Napolitano, que é altamente conceituado nos EUA, informa ainda que, sob a lei federal, o Presidente só pode ordenar execuções por civis quando o réu for condenado por uma corte federal, um júri legalmente formado e não existirem mais possibilidades de apelação da sentença.

Para proceder a execuções através de militares, o Presidente, segundo a lei federal, terá de requerer ao Congresso, que tem um prazo de 180 dias para decidir.

As “listas da morte” de Obama são totalmente ilegais pois desrespeitam tanto a Constituição quanto a Lei Federal, conclui Napolitano.

Depois do atentado de 11 de setembro, a sociedade americana foi tomada por um medo histérico de novos ataques.

Nesse clima, os governos adotaram sistemas nacionais de segurança totalitários, pois passam ao largo da Constituição, das Convenções de Genebra, das leis de guerra e das leis federais.

As liberdades individuais, base da Constituição dos EUA, são sacrificadas em nome da necessidade de proteger o país e os cidadãos de atentados terroristas.

A segurança nacional justificaria as mais diversas infrações à lei pelo Estado e seus agentes. Crimes como a tortura e o seqüestro de suspeitos se disseminaram largamente, com a cobertura das mais altas autoridades civis e militares.

Quando senador, Barack Obama distinguiu-se pela sua luta pelos direitos humanos e o respeito à Constituição. Ele combateu as torturas, a guerra do Iraque e exigiu o fechamento da base de Guantanamo.

Esperava-se que na presidência cumprisse suas promessas de mudanças, de retorno aos princípios democráticos, avalizadas que foram por sua atuação parlamentar.

Na verdade, isso não aconteceu.

Ao invés de mudar o sistema, o sistema é que mudou Obama.

Manteve a política do governo Bush de colocar a segurança acima da lei.

É verdade que aboliu as torturas de suspeitos e as “extraordinary renditions”, na qual suspeitos de terrorismo eram raptados pela CIA no estrangeiro e transportados clandestinamente para países onde poderiam ser interrogados com torturas sem maiores complicações.

Mubarak e Kadafi foram dos mais prestimosos colaboradores, pondo suas instalações secretas e profissionais “especializados” à disposição da CIA.

Obama também declarou que em 1 ano fecharia Guantanamo.

Mas cedeu à pressão do Congresso e do Pentágono e deu o dito por não dito.

Talvez sob as mesmas pressões, ele aumentou o ataque dos drones – aviões sem piloto – contra talibãs escondidos no Paquistão, de 1 a cada 4 meses, em 2004 (tempos de Bush) para 1 a cada 4 dias.

Apesar do chefe de contra terrorismo de Obama, John Brennan ter rotulado como “insignificantes “ as mortes de civis inocentes por drones, a Comissão de Direitos Humanos do Paquistão estimou que, até 2011, esse número chegou a 957, entre os quais dezenas de crianças.

Empolgado com esse novo “brinquedo letal”, Obama não só aumentou os ataques de drones no Paquistão, como também os estendeu ao Yemen, onde seus efeitos colaterais em termos de baixas inocentes, embora constatados, ainda não foram calculados.

Internamente, Obama não vetou a reedição do “Patriot Act” , do governo Bush, que anula diversas liberdades individuais.

E foi mais alem, assinou a lei do Congresso que permite ao presidente mandar militares prenderem suspeitos de apoio ao terrorismo e os manterem encarcerados, sem direito a julgamento, por tempo indefinido.

Algo que só Hitler, Stalin e mais alguns ditadores faziam.

Sem contar que se atribui o direito de mandar quem considerar um perigo à segurança dos EUA, em qualquer parte do mundo.

Em outras palavras: excedeu George Bush.

Em sua defesa, Obama apresenta quatro justificações:

1- A análise cuidadosa dos suspeitos a serem mortos substitui o processo legal de que fala a Constituição. Qualquer jurista diria que isso é uma brincadeira. Hitler e Stalin poderiam alegar o mesmo;

2- Sua escolha das vítimas é criteriosa, só definida quando o perigo que elas representam é grave e certo. É um argumento subjetivo, impossível de provar;

3- Os ataques de drones são cirúrgicos. Só atingem os culpados alvejados, raramente civis. As estatísticas divergem, mas todas falam em pelo menos centenas de camponeses inocentes mortos;

4- Além de eficientes, os drones custam relativamente pouco e matam sem arriscar vidas de americanos e sem grandes danos à política externa dos EUA. Os 3 primeiros pontos deste ítem são verdadeiros, mas não o último: 97% da população paquistanesa repudia os drones e 69% consideram os EUA a maior segurança à paz na região, o que prejudica muito a imagem do país na região.


Apesar desses poderes letais, esperava-se que Obama, tido como moralmente oposto a eles, procurasse restringir seu uso ao máximo.

Não é o que acontece.

Segundo o New York Times, ele tem assumido decididamente sua posição de juiz e carrasco, sendo que aprova cada ataque dos drones.

Estimativas mostram que, enquanto Bush promoveu poucas execuções sem julgamentos, Obama foi responsável pelo assassinato de mais de 1.000 pessoas, muitos dos quais não puderam sequer ser identificados como “suspeitos.”

Principalmente, porque a CIA, sua fonte de informações, considera inimigos todos os estranhos que estiverem numa zona de combates, a menos que provem sua inocência. O que seria impossível estando mortos.

A “Lista da Morte” é um segredo cuidadosamente guardado, mas o Times revela que ela contém os nomes de diversos americanos, inclusive de uma jovem de 17 anos.

Compreensivos, os autores do artigo sugerem que Obama se sente muito mal ao ordenar os assassinatos.

Gostaria de lembrar que um governo deve ser medido por suas ações, não por suas convicções.

O apelo dos 1.879 americanos ao Presidente para que não os matassem, pode ser interpretado de muitas maneiras.

Prefiro acreditar que eles pretendiam chamar Obama à razão.

Quem sabe convencê-lo a mudar de novo, agora no sentido que lhe valera a eleição.

Não sei se dará para se contrapor ao poder anti- democrático do Congresso e do Pentágono.









Fonte: Olhar o Mundo , Gilson Sampaio

Imagem: Google