Quase meio século atrás o ditador de então, general Ernesto Geisel, proclamou o fim da luta de classes no Brasil.
Bem mais recente foi a declaração de um pupilo seu, o ex-senador Jorge Bornhausen, exprimindo o desejo dele e os dos seus próximos de "acabar com essa raça", referindo-se aos petistas, ou seja, filiados e simpatizantes do Partido dos Trabalhadores.
A luta de classes, como qualquer pessoa com dois neurônios pode observar, está a cada dia mais intensa no país - o general ditador errou feio na sua análise.
Já quanto ao desejo do senador Bornhausen, praticamente tudo o que é feito no Brasil hoje nas altas esferas da política, sob o amparo da mais reacionária oligarquia do planeta, vai no sentido de exterminar, metafórica e literalmente, a representação partidária da esquerda - o PT é apenas o símbolo mais forte dessa ideologia.
A feroz caça aos petistas - e à esquerda em geral - dura mais de dez anos, desde o episódio do chamado "mensalão", que manchou indelevelmente a imagem da mais alta corte judiciária da nação.
O "mensalão" abalou o PT, mas não foi capaz de liquidá-lo, como se pretendia.
Este novo atentado ao Estado de Direito perpetrado pelo Congresso Nacional, que pretende cassar os 54 milhões de votos dados à presidenta Dilma Rousseff, é tão somente mais um capítulo da aventura dos golpistas de sempre - os endinheirados e seus asseclas.
O roteiro do filme é de uma simplicidade atroz: nem Lula, o mais popular presidente que o Brasil já teve, nem o seu partido político, nem as suas lideranças, devem sobreviver.
Se houver a possibilidade de, no embalo desse assalto à democracia, as tropas da reação eliminarem o PT do cenário político brasileiro, melhor.
O problema desse enredo tosco é que, ao abusar dos efeitos especiais, seus autores acabaram suprimindo a realidade.
E ela mostra que é impossível impedir, em qualquer agrupamento humano, o embate de ideias.
A ditadura, da qual o general Geisel foi um fervoroso cruzado, durou apenas duas décadas, e para o seu fim a luta de classes teve um papel importante.
Acabar com "essa raça" pode, neste momento, ser uma aspiração quase concretizada.
É bom lembrar, porém, só para citar um exemplo, que nem os nazistas, com toda a sua crueldade, foram capazes de exterminar os judeus. (Carlos Motta)