Com uma vida dedicada ao ensino, pesquisa e educação na área da música, responsável por livros que se tornaram cânones na musicologia brasileira, a musicóloga Ermelinda Paz (foto) direciona, desta vez, seu olhar para si, convidando o leitor a explorar o seu imenso universo particular. Em “Uma quase biografia em tom e semitom” (Editora Irmãos Vitale), a pesquisadora nos presenteia com uma narrativa que vai além dos detalhes encontrados em sua página na internet e no Lattes, como a infância em Realengo, o amor pela Mocidade, o inusitado convite para ser jurada da Liesa, a entrevista despojada com Tom Jobim e até as recentes alegrias como Vovó Linda, seu alterego responsável pelo resgate e regravações de dezenas de canções infantis do Brasil e do mundo – no terceiro volume do álbum “Cantando e brincando com Vovó Linda”, Ermelinda cantou em 17 idiomas diferentes.
Neste seu novo livro “quase autobiográfico”, a autora não apenas descreve sua vida profissional e suas conquistas, mas também conduz o leitor por corredores pouco iluminados, revelando aspectos íntimos e pessoais que muitas vezes permanecem ocultos, até mesmo para aqueles mais próximos.
Com o seu exemplo de vida e profissional, o livro oferece uma eloquente aula sobre o significado e a importância do magistério e mostra as competências e responsabilidades que envolvem ser professora. A obra se desdobra em partes meticulosamente organizadas, destacando-se a ênfase na vida social, na trajetória profissional detalhada em capítulos específicos e nas 21 Codas, que representam o colorido de ocorrências sociais e profissionais, sutilmente tecendo a tapeçaria de uma vida repleta de experiências marcantes.
Seu longo e detalhado estudo é dividido em duas partes: na primeira, a autora relata e avalia com emoção, sua infância, juventude e formação profissional; na segunda, mergulha nos universos da musicologia e da pedagogia musical dos séculos XX e XXI, em particular a brasileira, detendo-se particularmente nos procedimentos pedagógicos que emprega no campo da percepção musical.
Na área da Musicologia, a pesquisa de Ermelinda, extensa e rica, volta-se para a temática brasileira, com um olhar atento para Villa-Lobos e sua relação música popular/erudita, por ele incansavelmente explorada enquanto compositor e educador. Em diversos capítulos de “Uma quase biografia em tom e semitom”, a autora comenta os inúmeros livros que escreveu, entre eles “Villa-Lobos, Sôdade do Cordão”, “Villa-Lobos e a música popular brasileira” e “500 Canções Brasileiras” que evidenciam, todos, a importância que ela confere às referidas questões.
Ainda enquanto musicóloga, Ermelinda detém-se particularmente sobre Edino Krieger, personalidade ímpar da música brasileira da atualidade, de quem aborda detalhadamente suas inúmeras facetas de crítico, educador musical, compositor, produtor cultural, produtor de extensa discografia e textual, e inclui exemplos de obras recentes para acordeom, clarineta, piano, violão, violoncelo, canto e piano, câmera, orquestra, além daqueles de um “musical didático”, termo usado pelo próprio compositor, para um musical com roteiro de Conceição Campos, em que narra a história da Ilha de Paquetá.
De sua também extensa carreira de administradora universitária – atividade que exerceu com frequência – destaca-se um evento inusitado na vida de um (a) professor (a) de música: a realização do “Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia”, na Escola Superior de Guerra, motivada por sua busca de embasamento para o exercício de função administrativa.
Para o historiador e autor Ricardo Cravo Albin, “a professora Ermelinda A. Paz é das mais completas pesquisadoras da música do Brasil, gravitando com igual desenvoltura pelas músicas popular, folclórica e erudita”. Livre Docente em Percepção Musical pela Unirio, Ermelinda é atualmente líder de pesquisa do grupo Música e Educação Brasileira (UFRJ-CNPq). Continua a desenvolver até hoje intensas atividades em sua especialidade, tendo sido laureada nos mais qualificados concursos de monografia, conquistando títulos como Prêmio Sílvio Romero, Prêmio Carioca de Pesquisa Monográfica, Prêmio Grandes Educadores Brasileiros e Prêmio Lúcio Rangel.
“Escrever a respeito de si mesmo é sempre um risco de nos tornarmos enfadonhos e desinteressantes... mas esse risco, Ermelinda não corre e, ao contrário, consegue nos deliciar, pela maneira pitoresca com que relata episódios de sua infância e juventude”, revela Marisa Trench de Oliveira Fonterrada, professora e pesquisadora da Unesp. “É surpreendente como ela encara com naturalidade e bom humor todos os eventos pelos quais passou, dos alegres e engraçados, a outros, de diferente natureza, por mais difíceis que tenham sido, por mais sombrios e preocupantes. Isso, porque Ermelinda tem uma luz interna que não se apaga e transforma caminhos escuros em doce penumbra”, concluiu com ternura.
O livro será lançado dia 25 de outubro, sexta-feira, às 19 horas, na Livraria da Travessa, em Ipanema (Rua Visconde de Pirajá, 572, Rio de Janeiro).