Meu barbeiro, o Edmilson, é um sábio.
Está por dentro de tudo, desde o que o seu vizinho comeu no almoço até quanto o governo federal gastou em desonerações fiscais para ajudar o país a passar, praticamente inólume, pela crise econômica que castiga o mundo desde 2008.
Para exibir tanta sabedoria, o Edmilson conta com duas coisas: uma memória fantástica e uma rede de informações extraordinária.
A memória, diz, puxou de seu pai, que, segundo ele, era um autodidata, lia de tudo, do Almanaque Capivarol à Enciclopédia Barsa. "Era que nem uma esponja", conta.
As informações, todos sabem, vêm da sua extensa clientela, que inclui pessoas das mais variadas profissões, de diversos estratos sociais e níveis de educação.
Não é para menos: Edmilson cobra baratinho, sua barbearia fica bem no centro da cidade e, graças à sua simpatia e extraordinária capacidade de puxar conversa sobre qualquer tema, consegue agradar a todos.
Bem, a quase todos.
Há exceções.
O Gentil, por exemplo, só corta o cabelo no Edmilson por causa do preço e da rapidez com que o trabalho é feito.
- Esse Edmilson é um papagaio, isso sim. Repete o que os outros lhe dizem, não tem opinião própria sobre nada, acaba falando um monte de asneiras - disse-me outro dia o Gentil.
O Gentil não está inteiramente errado, nem absolutamente certo.
Embora discorra sobre os assuntos mais variados com a segurança de um PhD, já notei que, pelo menos em algumas áreas, o Edmilson dá uns bons chutes.
Mas quando se trata de política e futebol, ele realmente se supera e se mostra mais que um expert - seu desempenho é o de um filósofo.
Lembro de algumas ponderações que fez outro dia.
Sobre futebol:
- Para o Palmeiras voltar a ganhar, é preciso que o Marcelo Oliveira escale a defesa com brasileiros e o ataque com argentinos. E um meio de campo misto.
Sobre política:
- A Dilma, se quiser sair dessa crise brava em que está, tem de dar uma de Robin Hood, ou seja, tirar dos ricos para dar aos pobres.
As duas observações mereceram comentários diversos da freguesia que aguardava a vez de se submeter à hábil tesoura do Edmilson.
Um dos mais contundentes foi o do Pessoa, dentista aposentado, fino observador do gênero humano:
- Agir como Robin Hood é um erro, pois não se pode ignorar a classe média.
Foi nesse momento que o Edmilson revelou toda sua sabedoria, acumulada em anos e anos de exercício dialético:
- A classe média, doutor Pessoa, não quer um bandido do tipo Robin Hood para ajudá-la, mas sim um Al Capone, pois ele lhe fornece todas as drogas que precisa para ser feliz nesta vida e ainda lhe ensina como sonegar o Imposto de Renda.
Quando chegou a minha vez, a tesoura do Edmilson se revelou tão afiada quanto a sua inteligência.
E para prevenir-me de qualquer armadilha verbal em que pudesse me enroscar, perguntei a ele se achava que ia chover no fim de semana.
Motta
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