Vamos esquecer por alguns instantes a degradante desigualdade social que envergonha o Brasil perante as outras nações e é um dos fatores determinantes para impedir o país de chegar ao Primeiro Mundo.
Vamos ficar apenas nas atitudes corriqueiras do povo, ações aparentemente sem consequências, que mostram o quanto somos subdesenvolvidos, por mais que muitos tenham frequentado escolas caras, viajado ao exterior - até Miami e a Disney entram nessa conta -, mantido contato com culturas diferentes, façam questão de se manter informados e coisa e tal.
É só dar uma voltinha pela cidade - qualquer cidade -, de carro, de ônibus, de metrô, ou a pé, para ver o quanto o brasileiro médio é deseducado, egoísta, incapaz de expressar as mais elementares noções de civilidade ou de cidadania.
Poucos motoristas, por exemplo, respeitam as faixas de pedestres, os semáforos vermelhos, as vagas para idosos e deficientes.
Poucos se importam em trafegar na velocidade permitida ou em respeitar as mais comezinhas regras do trânsito.
O chão das praças e dos parques estão invariavelmente cheios de porcarias que as pessoas nele jogam.
Os banheiros públicos são como pocilgas.
O jovem que dá seu lugar, no transporte coletivo, a algum idoso, é uma exceção - raríssima.
No âmbito das relações pessoas, quantos amigos, colegas de trabalho ou parentes não se orgulham de fraudar o Imposto de Renda?
E quantos comerciantes fazem de conta que a nota fiscal não existe?
A internet, com as redes sociais, tem se mostrado eficiente instrumento para medir o grau de incivilidade do brasileiro médio.
Os comentários postados abusam dos palavrões mais grosseiros, passam pelo racismo explícito e desembarcam no ódio mais profundo contra minorias, ideologias, cor da pele, condição social, origem geográfica - é como se reunisse num só lugar toda a maldade humana.
A imprensa e os meios de comunicação, poderosas arma para educação em massa, seguem a lógica do capitalismo mais primitivo, de lucrar a qualquer custo.
Pior, se tornaram panfletos partidários da oligarquia que não aceita o trabalhismo - na verdade, a social-democracia - à frente do Poder Executivo.
O Judiciário é ineficiente, a serviço dos plutocratas, distante da realidade social, preocupado apenas em manter o status quo.
O Legislativo ... bem, resumindo, é um balcão de negócios - negócios muito lucrativos.
O cenário é desolador.
Talvez, se as medidas de inclusão social continuarem, se forem investidos bilhões para melhorar a educação pública, se os meios de comunicação ganharem um marco regulador - se tantas coisas necessárias forem feitas -, em algumas décadas o Brasil poderia deixar de ser apenas uma potência econômica para se tornar uma nação também desenvolvida socialmente, uma democracia madura, que respeitasse as leis - ao menos isso.
Como, porém, nada se pode prever neste momento em que forças poderosas puxam o país de volta ao passado, só nos resta a esperança.
Motta
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