Já que a imprensa brasileira trocou a sua função de informar a sociedade pela obsessão de defenestrar os trabalhistas do Palácio do Planalto e, se possível, exterminá-los da vida política, a notícia tem de ser buscada em fontes alternativas. Felizmente a internet está aí, cada vez mais forte e diversificada.
E é num dos vários bons sites informativos estrangeiros, no caso o russo Sputnik News, que se encontra uma entrevista com a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Kátia Abreu, na qual ela fala das enormes oportunidades que o mercado russo oferece ao Brasil, principalmente neste momento em que aquele país sofre um embargo comercial comandado pelos Estados Unidos e seguido por várias nações ocidentais.
Notícias como essa dificilmente são publicadas pela "imprensa" brasileira, já que não servem para detonar os "petralhas".
O título da entrevista é bem sugestivo: "Eles não querem vender, mas nós queremos".
A seguir, a sua íntegra:
Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Kátia Abreu, fala das relações comerciais Brasil-Rússia em sua área de atuação. Referindo-se ao embargo comercial praticado por países do Ocidente contra a Rússia, ela afirma que para o Brasil foi uma oportunidade de amadurecer negociações.
Sputnik: Em julho, a senhora fez uma visita à Rússia, com excelentes resultados, mas que ainda não foram cobertos pela imprensa. Gostaria que a senhora falasse um pouco sobre os resultados dessa visita.
Kátia Abreu: Nós tínhamos um anseio bastante antigo de poder efetivar as nossas vendas de leite em pó para a Rússia. Já tínhamos um pequeníssimo comércio de algumas coisas de queijo, manteiga, etc., mas não era um comércio fluente como nós esperávamos. E o Brasil é um grande produtor de leite. Dos 5 milhões de produtores rurais, 1 milhão produz leite. Estamos crescendo a nossa produção e precisamos exportar, então estamos caminhando para um relacionamento de muita maturidade com a Rússia. Tivemos muita dificuldade no início, muitos dissabores de um lado e de outro, mas hoje acho que estamos amadurecendo bastante. O próprio embargo dos Estados Unidos, Austrália e Europa [as sanções] foi uma coisa ruim para a Rússia, mas acaba que vai amadurecendo as suas relações com outros países.
Então, para nós, foi uma oportunidade de poder suprir a Rússia desses produtos que foram embargados – especialmente carnes, leite e frutas –, e nós estamos correndo para que essas relações se firmem, para que elas não sejam só passageiras. Esse embargo vai até agosto de 2016, e nós pretendemos continuar com esse comércio. Nós não queremos que isso se interrompa: queremos uma relação madura de comércio com a Rússia.
S: A senhora mencionou o leite em pó. Quais são as outras aberturas comerciais? Sabemos que a Rússia vai passar a exportar trigo e pescado.
KA: As grandes oportunidades são em carnes, lácteos e frutas. [Sobre o trigo e pescado], isto já está praticamente acertado. O que está faltando? Normalmente, quando um país quer vender ou quer comprar, o país que vai receber o produto manda as suas condicionantes. O país que vai exportar diz: “Posso cumprir assim, assim, assado.” Ou então: “Não, vamos negociar isso.” Enfim, isto já está negociado. Então agora só falta a Rússia efetivar as nossas condições e mandar a lista das empresas para nós, que é um pré-listing. Não vai ser preciso ir lá para fiscalizar uma por uma; nós vamos fazer isso depois. O pré-listing é um adiantamento da lista – nós também vamos enviar uma lista de empresas de lácteos para que a Rússia também autorize. E aí o comércio vai fluir tranquilamente.
S: Então, nesta fase, a própria exportação do trigo russo depende da Rússia?
KA: Depende da Rússia. Nós já mandamos as nossas condicionantes. Agora eles é que têm que pegar as condicionantes e ver quais empresas estão aptas a exportar e mandar para nós.
S: Em relação à exportação da carne brasileira, que chegou a ser embargada algumas vezes por conta das exigências sanitárias russas: isto já está no passado?
KA: Eu espero que sim. Nós estamos amadurecendo esse relacionamento e queremos melhorar cada vez mais a harmonização dos nossos processos. Quando um país não tem confiança no outro, ou não é um mercado firme, as exigências são muito diferentes umas das outras, e isso acaba criando uma burocracia. Quando o mercado vai amadurecendo, a gente começa a harmonizar esses procedimentos e, também, começa a fazer a equivalência desses procedimentos. Então, a exigência do Brasil para a carne é uma, a da Rússia é outra: não é equivalente. Então nós precisamos fazer equivalência nas nossas certificações. Os EUA, para deixarem entrar carne nossa lá, exigiram uma certificação, e nós também exigimos uma. Só que nós procuramos harmonizar o máximo possível. Então, fazendo equivalência nas certificações e harmonizando processos, isso vai melhorando e fluindo cada vez mais o mercado.
S: Recentemente saiu uma nova lista de frigoríficos que não tiveram permissão para exportar para a Rússia.
KA: Isso é normal. Acontece e vai acontecer sempre. Encontraram um tipo de hormônio em uma propriedade, e, para onde aquela propriedade vendeu, eles foram atrás. O fato de abrir o mercado não significa que haja uma consolidação definitiva. Nós temos que continuar pelejando e melhorando a nossa situação sanitária e fitossanitária para que essas coisas não aconteçam.
S: Além desses produtos que a senhora mencionou, existe algum outro pré-listing em negociação?
KA: O mais expressivo é de carnes, lácteos e frutas. Da Rússia para cá, trigo e pescado. Tudo na fase do pré-listing.
S: A senhora vai à Rússia mais uma vez em outubro.
KA: O ministro da Agricultura me convidou para ir à reunião dos ministros de Agricultura dos BRICS. Então nós vamos prestigiar o ministro: ele quer fazer uma feira e nós vamos participar. [O evento acontecerá entre os dias 8 e 11 de outubro.]
S: O que a senhora pode dizer a respeito da proposta feita durante o encontro da presidenta Dilma com o presidente Putin sobre a troca comercial em moedas locais?
KA: Estamos acompanhando e temos a notícia de que a Casa Civil está preparando um projeto de lei que facilita essa operação por parte do Brasil. E eu creio que os outros países também devem estar estudando as suas legislações. Em princípio, não conheço profundamente o assunto, vou procurar me inteirar; mas, em tese, não sou contrária. Acho que isso pode trazer algumas soluções. [Do ponto de vista do agronegócio] não é um empecilho nem um grande problema, mas vamos nos aprofundar um pouco mais nos estudos da questão e nos inteirar com a Casa Civil para ver como está o andamento dessa permissão.
S: Ainda sobre o trigo e os lácteos: houve relatos sobre certas dificuldades com relação à Argentina – que, aqui, era a grande exportadora para o Brasil –, no sentido de que os argentinos estariam impedindo o trigo russo de entrar no país. Até que ponto isto corresponde aos fatos? E a mesma coisa a respeito da situação lá na Rússia, que dava alguns privilégios aos seus vizinhos?
KA: Nós importamos metade do trigo que consumimos. É muita coisa. A Argentina não dá conta sozinha de tudo isso. E nós estamos importando, por exemplo, de um país que eu não gostaria nem de mencionar, e que não tem trocas expressivas com o Brasil. Por que vamos deixar de importar da Rússia, que é um importante parceiro comercial, para importar de outro país? Claro que isso tudo depende da iniciativa privada. O Governo não pode impor aos produtores que comprem da Rússia, mas nós vamos criar todas as condições e facilidades para que comprem desse parceiro comercial.
Motta
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