Pouco tempo depois de começar a trabalhar, acumulando as funções de revisor à noite e repórter/redator durante o dia, no Jornal da Cidade, em Jundiaí, fiz uma das maiores besteiras da minha longa - mais de 40 anos - vida profissional: troquei um "m" por um "r" da manchete, tornando-a ininteligível.
Graças à condescendência dos chefes, pude continuar a minha carreira de jornalista esforçado, porém medíocre, mas meu erro era indesculpável.
O "CONSUMMATUM EST" (isso mesmo, em caixa alta, ou seja, maiúsculas) que ocupava as 6 colunas da capa do jornal virou um "CONSUMMATUR EST" sem nenhum sentido naquele sábado de aleluia - a manchete fazia uma referência à data religiosa e remetia às festividades planejadas para aquele dia na provinciana Jundiaí de então.
A esse primeiro erro, que atribuo ao voluntarismo e presunção dos meus 16 anos de idade, sucederam-se inúmeros outros que, felizmente, não tiveram consequências mais graves, mas que, mesmo assim, me doeram muito.
Dizem que o homem aprende e evolui por meio de seus erros - e eu concordo com essa afirmação.
Com o tempo, e motivado com a vergonha que sentia cada vez que percebia uma concordância errada numa frase ou algum atentado à ortografia em algo que havia escrito ou editado, fui estabelecendo mecanismos mais rígidos para evitar os erros.
O melhor deles é justamente o mais simples: a humildade de reconhecer a ignorância e desfazer a dúvida imediatamente depois que ela surge, seja consultando quem entende do assunto ou, simplesmente, abrindo um dicionário.
Parece pouco, mas conheci algumas pessoas que não se importavam com seus erros.
Uma delas, na época importante editor do Estadão, informada sobre mais de uma dezena de correções que poderiam ser feitas na segunda edição do livro que acabara de lançar, deu de ombros e surpreendeu o especialistas que o alertara com a frase "isso não tem a menor importância".
Cabe esclarecer que esse mesmo jornalista, quando trabalhava na Folha de S. Paulo havia, num texto seu, enforcado Jesus Cristo.
Isso tudo, porém, é passado.
O jornalismo de hoje se livrou dos erros, das "barrigas", como se diz no jargão da categoria.
O erro foi simplesmente incorporado ao material que se edita.
Ele passou a ser proposital, já que o jornalismo brasileiro se transformou em propaganda ideológica.
Em muitos casos, o erro se sobrepõe aos fatos - a ficção toma o lugar da realidade.
As notícias nos mostram um mundo diferente do que se vive, um mundo imaginário.
Nele, um redator pode, como fez alguém que trabalha na versão digital de O Globo, escrever que o imigrante sírio, que corria da polícia apavorado, com uma criança nos braços, na fronteira Hungria-Sérvia, tropeçou no pé da cinegrafista húngara - quando o planeta inteiro a viu dando uma rasteira no pobre coitado.
Nesse mundo, o "consummatum est" ("está tudo acabado") que Jesus teria dito na cruz - não na forca -, na tradução latina de suas últimas palavras, poderia, sem nenhum problema, ser publicado como um "consummatur est".
Afinal, o jornalismo, no Brasil, acabou mesmo.
Motta
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