Muita gente acredita que os problemas do Brasil são os "petralhas", seja lá o que isso signifique.
Para esse pessoal, bastaria tirar a presidenta Dilma da Presidência da República - e, se possível, prender o ex-presidente Lula, banir o PT e seus principais integrantes da vida política - para que o país se tornasse, assim num estalar de dedos, um paraíso terreno.
Como Brasil está, segundo pesquisa revelada outro dia, num desonroso terceiro lugar entre as nações com a população mais ignorante de seus problemas, nada mais lógico que essa percepção de que um deus ex machina desça dos céus e seja capaz de resolver, como no teatro grego clássico, o complicado enredo em que estamos metidos.
A realidade, porém, é um pouco mais complexa que sugerem as soluções mágicas.
É como a sabedoria popular diz sobre as superstições no mundo do futebol: se macumba ganhasse jogo, o campeonato baiano terminava empatado.
A oposição que tenta, desesperadamente, concluir com êxito o golpe de Estado que iniciou tão logo foi anunciada a vitória de Dilma Rousseff na eleição presidencial do ano passado, não apresentou, à exceção do documento do PMDB intitulado "Ponte para o Futuro" - na verdade uma volta ao terrível passado neoliberal dos tempos execráveis de FHC - nenhum projeto alternativo ao dos "petralhas".
Falar em acabar com a corrupção, tendo à frente dessa cruzada moralista pessoas com a estatura moral de um Aécio Neves, José Serra, Geraldo Alckmin, Agripino Maia, Jair Bolsonaro, ou Eduardo Cunha, é uma péssima piada.
Dizer que os impostos, tão odiados pelos empresários e pela classe média midiotizada, vão cair, é uma mentira das grossas.
E se isso acontecesse, seria um salve-se quem puder geral, com o colapso de todos os serviços públicos, hoje já tão criticados.
Prometer que os investimentos vão ressurgir num breve espaço de tempo e acelerar a retomada econômica, é outra falácia.
Mesmo achar que o ambiente político estará mais aliviado depois da defenestração dos trabalhistas do Palácio do Planalto é muita, mas muita, ingenuidade.
O fato é que o rompimento da ordem democrática, a esta altura do campeonato, será uma tragédia de proporções inimagináveis para o Brasil.
Os tolos podem acreditar em fadas, duendes, anjos da guarda, santos, demônios, deuses que tudo podem - é problema deles.
Estranho é que, com tantas igrejas que existem no país, ele esteja, segundo os próprios crentes, na draga em que se encontra.
Infelizmente não existem soluções mágicas para nada neste mundo.
Contos de fadas são histórias de ficção para embalar os sonhos das crianças.
Adultos deveriam se ocupar de outra espécie de literatura, isso se realmente se acham adultos, procurar o conhecimento em fontes que contribuíram e contribuem para o progresso da civilização, e se libertar da ignorância promovida por crenças em mitos.
Seria interessante, por exemplo, que dessem uma espiada na famosa terceira Lei de Newton: a toda ação corresponde uma reação oposta e de igual intensidade.
Os que querem matar a democracia brasileira, e mesmo os que acham que com o seu fim tudo vai melhorar, poderiam pensar um pouco mais sobre as consequências desse crime.
Motta
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