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O ódio ao PT, bem menor do que nos fazem crer

14 de Junho de 2015, 16:01 , por CRÔNICAS DO MOTTA - | No one following this article yet.
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O sociólogo Marcos Coimbra, presidente do instituto de pesquisas Vox Populi, publica na revista Carta Capital um interessante artigo sobre esta onda anti-PT que se formou no país nos últimos anos. 

O texto, baseado em pesquisa do Vox Populi, mostra que o diabo não é tão feio quanto se pinta, ou, em outras palavras, que o tão propalado "ódio ao PT", que, à primeira vista parece ter contaminado toda a sociedade brasileira, é apenas a expressão de uma minoria - para ser exato, de 12% da população.

Outro dado interessante da pesquisa é a constatação de que a minha percepção, com base tão somente nos 50 anos em que venho acompanhando a política brasileira, estava certa: aproximadamente 30% das pessoas são, em graus variados, antipetistas; cerca de 30% gostam do partido; e o restante não é nem uma coisa nem outra.

Ou seja: por mais que, nestes últimos anos, o PT tenha sido vítima de uma campanha difamatório para criminalizá-lo, a sociedade brasileira pouco se importou com isso. 

Tudo está igual a antes.

A diferença de hoje com antigamente é que o ódio ao PT saiu das conversas familiares, das discussões de amigos e do papo de botequim, para alcançar o grande palanque proporcionado pela internet.

Daí, a minoria dos 12% que realmente odeiam o PT, começou a fazer estardalhaço, a dar a impressão de que seria uma ampla maioria. 

O artigo, para quem curte política, ou simplesmente está agoniado com o que os meios de comunicação nos apresentam, é leitura obrigatória.

A seguir, a sua íntegra:


O tamanho do ódio

Marcos Coimbra 

Pesquisa recente do Vox Populi aponta: o eleitorado que diz detestar o PT representa 12% do total. Não é pouco, mas menos do que muitos imaginam

Nestes tempos em que a intolerância, o preconceito e o ódio se tornaram parte de nosso cotidiano político, é fácil se assustar. É mesmo tão grande quanto parece a onda autoritária em formação?

Quem se expõe aos meios de comunicação corre o risco de nada entender, pois só toma contato com o que pensa um lado. Será majoritária a parcela da opinião pública que se regozija ao ouvir os líderes conservadores e assistir aos comentaristas da televisão despejar seu ódio?

Recente pesquisa do Instituto Vox Populi permite responder a algumas dessas perguntas. E seus resultados ensejam otimismo: o ódio na política atinge um segmento menor do que se poderia imaginar. O Diabo talvez não seja tão feio como se pinta.

Em vez de perguntar a respeito de simpatias ou antipatias partidárias, na pesquisa foi pedido aos entrevistados que dissessem se “detestavam o PT”, “não gostavam do PT, mas sem detestá-lo”, “eram indiferentes ao partido”, “gostavam do PT, sem se sentir petistas” ou “sentiam-se petistas”.

Os resultados indicam: permanecem fundamentalmente inalteradas as proporções de “petistas” (em graus diversos), “antipetistas” (mais ou menos hostis ao partido) e “indiferentes” (os que não são uma coisa ou outra), cada qual com cerca de um terço do eleitorado. Vinte e cinco anos depois de o PT firmar-se nacionalmente e apesar de tudo o que aconteceu de lá para cá, pouca coisa mudou nesse aspecto.

Nessa análise, interessam-nos aqueles que “detestam o PT”. São 12% do total dos entrevistados. Esse contingente tem, claro, tamanho significativo. A existência de cerca de 10% do eleitorado que diz “detestar” um partido político não é pouco, mas é um número bem menor do que seria esperado se levarmos em conta a intensidade e a duração da campanha contra a legenda.

A contraparte dos 12% a detestar o PT são os quase 90% que não o detestam. Passada quase uma década de “denúncias” (o “mensalão” como pontapé inicial) e após três anos de bombardeio antipetista ininterrupto (do “julgamento do mensalão” a este momento), a vasta maioria da população não parece haver sido contagiada pelo ódio ao partido.

A pesquisa não perguntou há quanto tempo quem detesta o PT se sente assim. Mas é razoável supor que muitos são antipetistas de carteirinha. A proporção de entrevistados com aversão ao partido é maior entre indivíduos mais velhos, outro sinal de que é modesto o impacto na sociedade da militância antipetista da mídia.

Como seria de esperar, o ódio ao PT não se distribui de maneira homogênea. Em termos regionais, atinge o ápice no Sul (onde alcança 17%) e o mínimo no Nordeste (onde é de 8%). É maior nas capitais (no patamar de 17%) que no interior (4% em áreas rurais). É ligeiramente mais comum entre homens (14%) que mulheres (10%). Detestam a legenda 20% dos entrevistados com renda familiar maior que cinco salários mínimos, quase três vezes mais que entre quem ganha até dois salários. É a diferença mais dilatada apontada pela pesquisa, o que sugere que esse ódio tem um real componente de classe.

Na pesquisa, o recorte mais antipetista é formado pelo eleitorado de renda elevada das capitais do Sudeste. E o que menos odeia o PT é o dos eleitores de renda baixa de municípios menores do Nordeste. No primeiro, 21% dos entrevistados, em média, detestam o PT. No segundo, a proporção cai para 6%.

Não vamos de 0 a 100% em nenhuma parte. A sociologia, portanto, não explica tudo: não há lugares onde todos detestam o PT ou lugares onde todos são petistas, por mais determinantes que possam ser as condições socioeconômicas. Há um significativo componente propriamente político na explicação desses fenômenos.

O principal: mesmo no ambiente mais propício, o ódio ao PT é minoritário e contamina apenas um quinto da população. Daí se extraem duas consequências. Erra a oposição ao fincar sua bandeira na minoria visceralmente antipetista. Querer representá-la pode até ser legítimo, mas é burro, se o projeto for vencer eleições majoritárias.

Erra o petismo ao se amedrontar e supor ter de enfrentar a imaginária maioria do antipetismo radical. Só um desinformado ignora os problemas atuais da legenda. Mas superestimá-los é um equívoco igualmente grave. 


Fonte: http://cronicasdomotta.blogspot.com/2015/06/o-odio-ao-pt-bem-menor-do-que-nos-fazem.html

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