Um amigo cibernético lembrou outro dia, no Facebook, de um fato interessante sobre a Polícia Militar, o hábito de seus valorosos integrantes comerem em padarias - na faixa, é claro.
Nos mais de 20 anos em que morei em São Paulo vi essa cena centenas de vezes.
Os policiais chegam, vão se encostando no balcão da agora chamada "padoca" e são superbem atendidos, como se fossem os fregueses mais queridos do mundo, amigos íntimos de todos dali.
O tratamento vip dispensado a eles, que inclui, of course, a refeição grátis, é proporcionada pelo dono da padaria, acredito, como um reconhecimento aos heroicos policiais e, vamos dizer assim, como uma forma nem um pouco sutil de dizer a eles para que façam, em contrapartida, o trabalho de segurança informal do estabelecimento.
Alguém, num comentário ao que esse meu amigo escreveu, lembrou que esse procedimento aparentemente tão trivial dos PMs nada mais é que uma forma de corrupção - em vez de dinheiro, os policiais são comprados por coxinhas, pastéis, sanduíches, empadas e outras delícias das nossas queridas padarias.
Alguém pode achar um absurdo esse tipo de pensamento.
Ora, diria, há uma diferença abissal entre malas de dinheiro, contas na Suíça, transações em offshores, e a oferta de alguns quitutes para os esfomeados policiais.
É uma questão a ser discutida, creio.
Nos meus mais de 40 anos de vida passados em redações de jornais, alguns da chamada "grande imprensa", cansei de ver os jabás, como são chamados os brindes, presentes ou coisas semelhantes a agrados, serem distribuídos aos coleguinhas.
Eu mesmo levei para casa alguns, coisas de pouco valor monetário.
Um dia apareceu na minha mesa um tênis vermelho, com o logotipo da Ferrari.
Dei para o primeiro office boy que apareceu por lá.
Fiz o mesmo com uma camiseta polo Lacoste, autêntica, aquela que tem o rabo do jacaré bem esticado...
De toda forma, havia entre os jornalistas, pelo menos entre os que eu considerava profissionais de verdade, um consenso: só aceitaríamos jabás de valor baixo, coisas que poderíamos comprar com o nosso suado dinheirinho.
Lógico que essa não era uma solução perfeita, mas foi a melhor que encontramos para não sermos acusados de vendidos ou corruptos.
Outro ponto que nos diferenciava das coxinhas dos PMs é que recebíamos esses presentes de vez em quando, enviados por assessoria de imprensa para um monte de coleguinhas.
Já os PMs...
Bem, eles não vivem sem passar na "padoca".
Só por brincadeira, vamos fazer a chamada conta do padeiro.
Um salgadinho deve estar custando uns R$ 4 numa padaria mequetrefe. Nas de grife, creio, é bem mais.
O agrado, porém, não fica numa só coxinha.
Os guardiães da lei precisam de muita proteína para trabalhar com eficiência.
Que comam, então, em cada visita a uma "padoca" bem simples, uns três salgadinhos e tomem um "pingado" (leite com café), ou um suco de laranja.
Total aproximado da conta: mais ou menos R$ 20.
Se forem lá cinco vezes por semana, terão consumidos R$ 100.
Num mês, R$ 400.
Num ano, R$ 4.800.
É pouco, é muito?
Sei lá.
Como diz a sabedoria popular, cada homem tem seu preço.
P.S.: Parece que os policiais civis preferem as churrascarias.
Motta
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