A Polícia Militar em ação: o povo é o inimigo (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil) |
A cada dia que passa a sensação é que a PM paulista se sente mais à vontade para impor a sua própria lei à sociedade.
Movida por um estranho código de conduta, que orienta suas ações repressivas contra trabalhadores, estudantes, donas de casa, professores, pobres em geral, moradores das periferias, negros e jovens, e defende, com todo o poder de seu vasto arsenal bélico, a propriedade dos brancos ricos, a PM faz hoje tão somente o papel de guarda pretoriana da oligarquia.
A PM se afastou completamente de sua função primária de policiamento ostensivo e preventivo para se tornar uma máquina repressiva étnica, política e social, agindo como se o país ainda estivesse vivendo nas sombras da ditadura militar - período em que a instituição foi criada.
Na verdade, a PM ainda atua sob a ideologia dos anos de chumbo, criminalizando movimentos e manifestações populares, como se eles fossem um mal e não um dos mais preciosos bens da democracia.
A imagem da corporação, atestam várias pesquisas de opinião pública, está no fundo do poço, não só pelo acirramento de suas ações violentas contra cidadãos que só estão expressando direitos fundamentais de qualquer nação democrática, mas também pelos repetidos episódios em que se confunde com o mais puro banditismo, e que incluem chacinas, ligações com criminosos, violação de fundamentos constitucionais e dos direitos humanos, e do Código de Direito Penal.
O Estado de São Paulo, sob o governo tucano há duas décadas, exibe taxas de criminalidade incompatíveis com a posição que mais rico e poderoso ente da federação.
Não faltam recursos humanos ou materiais para a polícia paulista.
Falta a ela, isso sim, a noção de que deve estar a serviço da população em geral, não a uma minúscula porção dela - mesmo que essa seja a detentora de 90% da riqueza.
Falta a ela a noção de que deve respeitar, ao menos minimamente, os direitos fundamentais dos cidadãos, esses consagrados universalmente e inscritos na Constituição de 88.
Falta a ela a noção de que deve obedecer às leis brasileiras e não impor à sociedade as suas próprias leis.
Falta a ela, enfim, a noção de que sair às ruas não é entrar num campo de batalha no qual o inimigo está camuflado e, para combatê-lo, deve-se bombardear indiscriminadamente tudo o que estiver à vista.
Proteger a sociedade não é, definitivamente, lutar contra ela.