O ex-senador Eduardo Suplicy desde há muito não é unanimidade entre os eleitores do PT.
Em diversas ocasiões desviou-se da orientação partidária, tomou decisões unilaterais, deu declarações que contrariavam as do partido, agiu, enfim, como um corpo estranho na legenda.
Mas, pesando tudo isso, é óbvio que Suplicy, em todos seus anos de vida pública, é um raro exemplo de sinceridade, honestidade e coerência intelectual entre seus pares.
Tanto assim que, apesar de alguns rompantes de puro marketing, que ajudaram a desgastar a sua imagem de professor universitário, economista e jornalista, ele sempre foi tratado com extrema urbanidade por seus colegas de todos os partidos, aliados ou adversários do PT.
Além disso, Suplicy deixou duas marcas importantes em sua vida legislativa: a obsessiva peregrinação para divulgar e emplacar o seu projeto de renda mínima, que de certa forma vem sendo desenvolvido pelo Bolsa Família, e a sua defesa intransigente dos desprotegidos e das vítimas de injustiças de toda espécie.
Em resumo: Suplicy pode ter vários defeitos, mas é um humanista - e, neste mundo em que vivemos, os humanistas são uma espécie que tem de ser preservada - e louvada.
O fato de um bando de fascistas, claramente financiados para agir como tais, ter insultado Suplicy, em plena Livraria Cultura do Conjunto Nacional, na capital paulista, é um episódio que, em vez de denegrir o ex-senador e atual secretário de Direitos Humanos da Prefeitura de São Paulo, o honra.
As palavras de ordem que vomitaram - "Suplicy, vergonha nacional" - dão bem uma ideia do que esses debiloides representam: o lumpesinato intelectual, se existe essa classificação, gente que é incapaz até mesmo de concatenar a mais rasa ideia sobre convivência social ou de adotar a mais primitiva concepção da vida em civilização.
Bem, vamos deixá-los de lado, porque ninguém será capaz de transformar tais homúnculos em seres humanos.
O triste dessa história toda é o fato de o incidente ter ocorrido numa livraria, não qualquer uma, mas a mais conhecida do Brasil, talvez a de maior faturamento, uma potência em seu setor, frequentada não só pela classe média que lê livros de auto-ajuda, mas por artistas, estudantes e intelectuais, e cuja publicidade sempre procurou destacar o que seu nome representa - a cultura.
Anos atrás, um maluco matou um freguês no mesmo local a porretadas desferidas com um taco de basebal.
De lá para cá, parece, a direção da empresa pouco fez para garantir a segurança de seus frequentadores e de livrá-los de constrangimentos.
No caso específico da agressão contra Suplicy, simplesmente ignorou a ação dos fascistas.
O vídeo que corre na internet mostra bem isso: a inação completa dos funcionários, como se toda aquela confusão fosse a coisa mais normal do mundo.
Certamente por isso a página da Cultura no Facebook está inundada de comentários repudiando a omissão dos seguranças e da diretoria da empresa no lamentável episódio.
De tudo isso, resta uma lição: a ação desses grupelhos Brasil afora tem de ser contida e não estimulada, velada ou abertamente, como agora.
O risco de que algo mais grave que xingamentos possa ocorrer brevemente é muito grande.
O melhor remédio para debelar o fascismo é tratá-lo como o veneno que é, ou seja, exterminá-lo do corpo social antes que ele o infecte completamente.
Motta
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