Muita gente morreu na Turquia: a tentativa de golpe militar foi fortemente repelida, tanto pelo aparato governista quanto - espanto, surpresa! - pela população.
Foram horas sangrentas.
Para os brasileiros, afastados milhares de quilômetros dos graves problemas daquele país mezzo oriental, mezzo ocidental, arriscar a vida para defender um governo no mínimo polêmico, sob o qual pesam acusações dos mais variados tipos - corrupção, desrespeito aos direitos humanos, subserviência aos americanos, apoio aos terroristas do EI etc etc - pode parecer uma loucura.
Os turcos que saíram às ruas para combater os golpistas, devem, porém, ter as suas razões para ter feito isso.
Não cabe a nós, que combatemos os nossos golpistas pela internet, com discursos semiacadêmicos, com palavras de ordem ou com manifestações higiênicas e bonitinhas, ousar julgar o povo da Turquia.
Deveríamos, isso sim, refletir sobre como deixamos um bando de picaretas tomar conta de um governo eleito com 54 milhões de votos - apenas 22 milhões a menos do que a população turca.
A falência da democracia brasileira é culpa dos golpistas - políticos, parlamentares, meios de comunicação, amplos setores do Ministério Público e do Judiciário e empresários, sob o patrocínio de uma oligarquia que vive na Idade Média -, mas também daqueles que se calaram, por medo ou conveniência, durante todo o longo processo que culminou no afastamento da presidenta Dilma Rousseff, na perseguição implacável ao ex-presidente Lula e a outros líderes do Partido dos Trabalhadores, e ao cerco às esquerdas em geral e ao PT em particular.
Somos, todos nós que nos dizemos democratas, mais ou menos responsáveis pela morte da democracia no país. (Carlos Motta)