Espreitamos as primeiras páginas dos diários mais difundidos no Velho Continente: tiroteios, problemas políticos, económicos, crime... e em Portugal?
O inglês The Guardian: Ébola no Congo, a Igreja no Chile, Julian Assange em perigo, Gaza.
The Times: os enviados de guerra, o casamento real, nova ordem mundial.
Em Espanha, com El Mundo: delitos sexuais, a Igreja do Chile, problemas durante um concerto.
El País: crimes sexuais, a comunidade de Madrid, os sacos de plástico ficam pagos.
França, com Le Monde: a actuação da polícia numa rusga, o casamento real na Inglaterra, as contas da eletricidade, a oposição em Moçambique.
Le Figaro: o Festival de Cannes, a situação na Venezuela, o tiroteio no Texas, as manifestações em Gaza.
Italia, o Corriere della Sera: os problemas da classe empresarial, o novo governo, o casamento real.
La Repubblica: o tiroteio no Texas, o caso duma imigrante, o relacionamento com a Europa, os problemas da Alta Velocidade, ténis e futebol.
Áustria, o Kronen Zeitung: pedofilia, o relacionamento com a Alemanha, o governo e as regiões.
Alemanha, o Suddeutsche Zeitung: a Alemanha e o acesso ao gás Nowitschok.
Portugal, o Expresso: Sporting
Diário de Notícias: Sporting
Público: Sporting
Correio da Manhã: Sporting.
O único assunto tratado pelos quatro maiores diários nacionais é a crise do Sporting Clube de Portugal, que monopoliza todas as notícias das primeiras páginas. Isso significa que em Portugal não há problemas mais graves do que o futebol. E admitimos: quando o futebol é o maior problema dum País, significa que este País está feliz.
Enquanto o resto do mundo tenta perceber, aprofunda, trata de assuntos que despertam interesse e preocupação, em Portugal isso já foi amplamente ultrapassado: resolvidos os problemas económicos, políticos, sociais e ambientais, o País pode finalmente concentrar-se no que interessa. Foi alcançado um definitivo estado de paz interior, uma espécie de nirvana no qual todas as nossas atenções estão focadas naquele que é o sumo da vida, a sua verdadeira essência: o futebol.
Olhamos para o resto da Europa (e, porque não?, do Mundo também) com um misto de pena e compaixão: como são ridículos aqueles homenzinhos que se agitam, correm, perseguem uma ilusão de verdade e, no final das contas, desperdiçam as suas vidas. Deixem as preocupações, tratem do que realmente conta, sigam o exemplo deste jardim à beira mar plantado: amem o futebol acima de qualquer outra coisa e sejam felizes para sempre, tal como nós.
Ipse felix.