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Coreia e EUA: uma questão de quilómetros

24 de Maio de 2018, 15:30 , por Informação Incorrecta - | No one following this article yet.
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A ideia era boa: uma cimeira entre Estados Unidos e Coreia do Norte. Décadas de tensão finalmente no sótão. Já escolhida a data, o próximo 12 de Junho, e o lugar: Singapura.

Mas hoje o Presidente dos EUA apagou tudo:
Eu esperava muito por este encontro. Infelizmente, com base na tremenda raiva e aberta hostilidade manifestada na sua mais recente declaração, sinto que é inadequado, neste momento, realizar este encontro há muito tempo planeado.
O que aconteceu? Resposta simples: toda culpa da Coreia do Norte que não sabe travar a língua. Há alguns dias, Mike Pence, vice-presidente dos EUA, advertiu que "houve conversas sobre o modelo líbio na semana passada e, como o Presidente deixou claro, isso só terminará como o modelo da Líbia se Kim Jong Un não chegar a um acordo". O não foi uma declarações simpática.

No dia seguinte, pronta a resposta coreana: "Como pessoa que lida com assuntos estrangeiros dos EUA, não posso esconder a minha surpresa pela ignorância e a estupidez dos comentários do vice-presidente americano" disse Choe Son-hui, número dois do Ministério das Relações Exteriores da Coreia do Norte e pessoa de confiança de Kim Jong Un.

Portanto, esta é a explicação que é possível encontrar nos media ocidentais: a cimeira foi anulada por Trump, incomodado pela "aberta hostilidade" dos coreanos. Quando os EUA apresentam a ideia de reduzir o nosso País a um cúmulo de escombros, realçar como isso seja estúpido e ignorante é "aberta hostilidade". Mas vamos ler a carta enviada por Trump ao homologo em Pyongyang:
Querido senhor secretário-geral,

Agradecemos o seu tempo, a paciência e o esforço nas recentes negociações relacionadas à cúpula, marcadas para 12 de Junho. Fomos informados de que a reunião foi solicitada pela Coreia do Norte, mas isso é irrelevante para nós. Infelizmente, com base na aberta hostilidade mostrada nas últimas declarações, acho inapropriado neste momento realizar a reunião.
Por isso, deixe esta carta explicar que a cúpula em Singapura, para o bem de ambas as partes, em detrimento do mundo, não terá lugar. Você fala das suas capacidades nucleares, mas as nossas são tão impressionantes e poderosas que eu rezo Deus para que nunca sejam usadas. Um diálogo fantástico estava a desenvolver-se entre nós. Um dia vamos nos encontrar. Ao mesmo tempo, quero agradecer-lhe para a libertação dos reféns que estão agora em casa com as suas famílias. Foi um gesto simpático, muito apreciado."

Se você mudar de ideia em relação a este importante encontro, não hesite em ligar ou enviar-me um e-mail me.
Tirando a passagem acerca das "poderosas" forças nucleares na posse americana (um trecho tipicamente trumpiano), o resto da carta apresenta tons invulgares, no sentido que este não é o Presidente americano ao qual estamos habituados. Washington quer fazer passar a ideia de que foi obrigada a abdicar da cimeira e que isso custou.

Mas a verdade é outra: este era o objectivo da Administração americana, á qual não interessa de todo uma Coreia unificada e em paz. A península é fundamental do ponto estratégico militar: muito, demasiado perto da China. E isso explica o tom invulgarmente amigável que Trump utiliza na carta.

Em meados deste mês, os EUA ainda estavam prontos para realizar os exercícios militares Blue Lighting em conjunto com a Coreia do Sul, perto da fronteira com a Coreia do Norte. Pyongyang já tinha avisado: a realização das manobras militares teria posto em causa a cimeira. E não foi Washington a travar as operações: pelo contrário, os aviões B-52 americanos já tinham deixado o aeroporto de Guam. Foi a Coreia do Sul que decidiu não participar nesses exercícios: em 16 de Maio, o Ministro da Defesa da Coreia, Song Young-moo, reuniu-se com o general Vincent Brooks, comandante das forças dos EUA no País, pedindo-lhe para não deixar aproximar-se os B-52 prontos para participar no exercício.

Portanto, Washington já estava à procura da ocasião para acusar de "aberta hostilidade" a Coreia do Norte, pois é claro que tais exercitações teriam provocado os protestos de Pyongyang. Doutro lado, uma Coreia em paz já não precisaria das forças militares americanas no seu território. E isso significaria uma perda assinalável do ponto de vista americano:



Entre Seul e Dondang (a cidade chinesa mais próxima), a distância é de apenas 362 quilómetros; e para chegar à capital Pequim, são necessários menos de 1.000 quilómetros. Vice-versa, a distância entre Pequim e a base aérea americana mais próxima (que fica na ilha de Guam) é de 4 mil quilómetros. Uma bela diferença, não é?

Com o apoio dos meios de comunicação ocidentais, a Administração de Washington parece ter procurado a paz, objectivo falhado apenas por causa dos "terríveis" modos da Coreia do Norte. Mas eis algumas perguntas: o que ganhariam os Estados Unidos com uma península coreana pacificada? Como justificar uma presença militar americana num País que já não arrisca ser invadido? Faz sentido deixar a Coreia à mercê da seguinte e inevitável invasão comercial chinesa (que antecipa aquela económica e por fim política)? Encontrem as respostas e terão a razão da carta de Trump assim como aquela das "incautas" declarações de Mike Pence.


Ipse dixit.

Fonte: http://feedproxy.google.com/~r/InformaoIncorrecta/~3/3RLloDvnnkk/coreia-e-eua-uma-questao-de-quilometros.html