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A carne provoca o câncer?

28 de Outubro de 2015, 18:38 , por Informação Incorrecta - | No one following this article yet.
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Carne, este inimigo.

A carne vermelha é cancerígena. A carne processada depois é a pior: bacon, chouriço e fiambre são mortais.

As pesquisas feitas pelos investigadores da OMS, através da Agência Internacional de Investigação do Cancro (IARC), demonstraram provas suficientes para incluir a carne vermelha processada entre as mais de 100 substâncias indutoras de neoplasias.

No grupo, estão o álcool, a poluição causada pelos gases dos motores a gasóleo, a exposição ao sol ou a equipamentos de raio-X em quantidades elevadas, por exemplo.

A conclusão foi conhecida na passada Segunda-Feira e será agora transformada em alerta global. Surge oito anos depois do Fundo Internacional para a Investigação Mundial do Cancro (WCRFI) ter identificado o mesmo perigo.

E não é uma notícia dalguns blogues conspiracionista: é a mesma OMS (Organização Mundial da Saúde) que lança o alarme. Incluir diariamente no prato carne vermelha processada é tão perigoso para a saúde como fumar. Nada menos. Em outras palavras, é igualmente cancerígeno. Isso é o que pode ser lido nos media.

A carne e os media

Sou pessoa que há algum tempo decidiu virar-se para vegetais e fruta. Portanto, seria simples para mim disparar contra as carnes. Mas há algo que não bate certo. Um bife na mesma categoria de gás de escape ou raios-x? Não é preciso um génio para entender que isso não tem cabimento.

Em primeiro lugar é bom não esquecer um pormenor: os órgãos de informação estão sempre à procura do "furo" para impressionar o Leitor. Na verdade, o documento original do IARC não diz que a carne vermelha seja sempre cancerígena, pois é uma questão de doses. Uma coisa é comer carne duas ou três vezes por semana, outra coisa é engolir a cada dia um chouriço. Acho que uma pessoa cuja dieta se baseie na gordura animal (bacon, enchidos) terá boas hipóteses de morrer de enfarte antes do que de câncer. Mas isso é óbvio: é preciso ter medida, como em todas as coisas.

Depois há o factor clima: nos climas frios o consumo de gorduras animais (como a do porco) é não apenas bem tolerado mas sim indispensável para que o nosso organismo possa combater a rigidez das temperaturas. Se os enchidos fossem tão perigosos, na Alemanha a incidência de tumores ao cólon deveria ser superior à média, correcto? E que dizer dos Ingleses, habituados ao bacon para o pequeno almoço?

E voltamos às carnes processadas, porque fica uma dúvida: o que faz mal nas carnes vermelhas processadas? As carnes ou os ingredientes e os métodos utilizados na preparação? Aqui o OMS não explica e deveria. Sabemos da existência de conservantes e agentes químicos: os "fumados", por exemplo, fumados não são, é carne à qual é acrescentado um produto para conferir o sabor fumado. É isso que prejudica, juntamente com os outros ingredientes não naturais, ou é mesmo a carne?

O documento do IARC sublinha o papel da carne cozida directamente em contacto com a chama, que comporta a formação de produtos cancerígenos: mas esta não é novidade nenhuma, dado que as partes "queimadinhas" (as mais escuras) podem ser saborosas mas contêm elementos perigosos.

Quanto à comparação com o fumo dos cigarros: esta é uma notícia exagerada pelos media. É a mesma IARC que realça como no Mundo morram 1 milhão de pessoas por causa do tabaco, 600 mil por causa do álcool e 200 mil por causa da poluição. Os mortos por causa do consumo da carne vermelha são, na pior das hipóteses, 50 mil.

Mesmo assim, o comunicado original da IARC tem lacunas graves e deve ser lido juntamente com as FAQs (contidas num outro documento) porque sozinho parece ter sido feito mesmo para criar alarmismo. É suposto uma organização destas fornecer indicações claras, não lançar genéricos medos, mesmo que sejam baseados "em mais de 500 mil observações": o que comeram estas 500 mil pessoas? Com qual frequência? Com quais ingredientes? Preparados como?

Mas a culpa da IARC e da OMS vai muito além disso. Porque se a ideia for uma dieta equilibrada e saudável, então seria interessante olhar de perto para os alimentos recomendados.

A roda dos alimentos

Cereais? Com certeza. Mas quantos deles são geneticamente modificados? Quando a OMS decidirá conduzir uma pesquisa deste alcance acerca dos OGM?

Frutas, vegetais e leguminosas? Sem dúvida, alimentos saudáveis: mas o que há na fruta e nos vegetais além do saudável? Pesticidas, conservantes, métodos de transportes (arcas congeladoras) que empobrecem a qualidade dos produtos, e mais uma vez OGM: a OMS não tem nada a dizer acerca disso?

Peixe? Outro alimento saudável. Mas os mares estão cada vez mais pobres e os níveis de substâncias poluentes é devidamente controlado? Que tal o excesso de mercúrio? Queremos falar do frango, das carnes brancas e dos antibióticos?

Há muitos riscos na alimentação e os perigos não são limitados à carne vermelha ou aos enchidos. Há sectores nos quais a OMS prefere não pôr o nariz simplesmente porque seria inevitável o choque com determinadas multinacionais. A esperança é que este "alarme", apesar de ter sido feito com os cotovelos, sirva para que as pessoas melhorem e diversifiquem a dieta delas.

O alarme da OMS é "inútil"? Não, simplesmente foi feito de forma estúpida e não se entende qual o fim: foi criado um documento perfeito para que diários e televisões pudessem escrever disparates à solta. Deixem da lado teorias conspiratórias: aqui estamos em presença de pesquisadores que não têm o dom da comunicação. O fim do documento não é mal: encorajar as pessoas para que estas assumam uma dieta equilibrada e ao mesmo tempo variegada. Utilizar o cérebro, dito em poucas palavras.

FAQs

Vamos lembrar um par de pormenores, tanto para que fique clara a questão (as seguintes respostas são obtidas com a leitura dos documentos do IARC):

Quando ele fala de "carne vermelha", o que se entende?
Bovinos, suínos, ovinos e cavalos (vacas, porcos, cabras, ovelhas, etc.).

E com a expressão "carne processada"?
Todos os tipos de carne submetidos a tratamento, come carne salgada, fumada, curada e adição de conservantes. Entre os produtos deste tipo há o salsichas, presuntos, salsichas, carne enlatada, carne seca, etc.

As carnes vermelhas processadas provocam o câncer?
O IARC concluiu que "há provas convincentes" de que a carne processada aumenta o risco de contrair o câncer. Isso significa que, com base em vários estudos científicos publicados no passado, foram identificadas certas ligações entre o consumo destes produtos e o aparecimento de determinados tipos de cancro. Mas é importante lembrar-se de que este risco está associado às doses consumidas!

Há uma dose-limite para os alimentos à base de carne que é possível comer para prevenir o câncer?
É impossível dar uma resposta definitiva, porque muitas vezes há mais causas que contribuem para a formação de um câncer num indivíduo, não só alimentos, mas também factores ambientais e relacionados à genética e ao estilo de vida em geral. Segundo o IARC, o consumo diário de 50 gramas de carne processada (mais ou menos um par de pequenas salsichas) pode aumentar o risco de câncer de cólon em 18 %.

Então, comer muita carne processada tem quase uma possibilidade em cinco de ter câncer do cólon?
Não. O aumento de 18 % mencionado pelo IARC refere-se ao risco de contrair o câncer de cólon durante toda a vida. Nos Países ocidentais, o risco individual é de cerca de 5 % no decurso de toda a vida, este "mais 18%" significa que o risco aumenta até 6 %.

E comer carne vermelha é um risco?
O IARC parece ter identificado certas relações entre o consumo de carne vermelha e o câncer, embora ainda existam muitas pistas. Por esta razão, a IARC concluiu que a carne vermelha é "provavelmente cancerígena", mas muito parece depender de como esta for cozida e da quantidade consumida. A título indicativo, se comer 100 gramas de carne vermelha todos os dias significa ter um risco comparável à que resulta da carne processada.

A maneira em que a carne é cozida é influente?
Sim: preparar a carne numa frigideira com altas temperaturas ou em contacto directo com a chama (churrasco) produz alguns agentes cancerígenos químicos. O IARC não encontrou ainda dados suficientes para concluir se existe uma maneira mais saudável de preparar a carne.

As crianças e os idosos são mais em risco?
Não há dados consistentes para determinar se o consumo de carne vermelha e processada afecta o risco de determinados grupos de pessoas.

Há carnes vermelhas mais seguras do que outras?
Por enquanto não há dados suficientes (mas deveria haver antes de lançar certos alarmes...

Comer carne vermelha ou processada é tão perigoso quanto fumar?
Nem pensar.

Melhor parar de comer carne vermelha e processada?
Não: simplesmente é precisa moderação, como em todos os aspectos da vida!

Frango e peixe são seguros?
Carne deste tipo não foram avaliadas pela IARC, pelo que não há respostas.

Tornar-se vegetariano ajuda?
Ajuda os animais, isso sim. E já isso é óptimo. Mas não evita engolir pesticidas, alimentos geneticamente modificados, etc. E em nenhum caso tornar-se vegan.

E isso é tudo. Até quando o IARC não publicar o seu estudo acerca do café, documento em preparação (a propósito: o café previne o Alzheimer. Depois, claro está que beber 10 cafés por dia...).


Ipse dixit.


Fontes: IARC Monographs evaluate consumption of red meat and processed meat (documento Pdf, Inglês), IARC Q&A on the carcinogenicity of the consumption of red meat and processed meat (documento Pdf, Inglês), Il Post, Huffington Post

Fonte: http://feedproxy.google.com/~r/InformaoIncorrecta/~3/tJzXd0boZt8/a-carne-provoca-o-cancer.html