Contam as Sagradas Escrituras que um dia, enquanto Paulo de Tarso ia de Jerusalém para Damasco no séc. I d.C., viu uma grande Luz e ouviu uma voz que dizia mais ou menos: "Ó Paulo, porque estás a meter-te comigo, eh?". Porque de facto Paulo tinha como passatempo a perseguição dos Cristãos.
Paulo percebeu: "Desculpe, Engenheiro, não queria incomodar, já estou arrependido". E a partir de então escolheu a profissão de mártir pela Igreja. Menos divertido mas mais em linha com os tempos.
Fala-se portanto da Conversão de São Paulo.
Também Portugal tem a sua própria conversão, cujo protagonista é São Álvaro.
Hoje Álvaro é uma pessoa feliz. Ministro da Economia do governo de Pedro Passas e Coelhos, participa activamente nos cortes que tanta alegria espalham entre a população local, não recua perante as privatizações e difunde aqueles que são os seus pontos de vista::
Imposições de Bruxelas. Interessante.
Nas páginas seguintes, o jovem Álvaro explicava porque o défice é sim importante mas até um certo ponto. Tratava da dívida pública, do saldo orçamental primário, do PIB, das consequências dum défice orçamental.
Quando um défice se torna insustentável? Explicava o bom Álvaro:
O "truque", por assim dizer, é que o rácio entre a dívida pública e o PIB permaneça estável.
E se este rácio mudar de forma preocupante? Aqui vê-se a inexperiência do jovem Álvaro que na altura afirmava (pág. 160):
Ámen.
Ipse dixit.
Fontes: Expresso, APDC, Sábado, Jornal de Negócios, Wikipedia, O Medo do Insucesso Nacional, I Edição, Lisboa, 2009, Edições A Esfera dos Livros.
Paulo percebeu: "Desculpe, Engenheiro, não queria incomodar, já estou arrependido". E a partir de então escolheu a profissão de mártir pela Igreja. Menos divertido mas mais em linha com os tempos.
Fala-se portanto da Conversão de São Paulo.
Também Portugal tem a sua própria conversão, cujo protagonista é São Álvaro.
Hoje Álvaro é uma pessoa feliz. Ministro da Economia do governo de Pedro Passas e Coelhos, participa activamente nos cortes que tanta alegria espalham entre a população local, não recua perante as privatizações e difunde aqueles que são os seus pontos de vista::
Os cortes vão ser feitos, independentemente da magnitude. Os números ainda não estão fechados. Este Governo vai fazer um corte de despesa histórica, de uma maneira que não foi feita desde 1950.[...]
O Governo está absolutamente empenhado em combater o principal problema da economia nacional, que é o défice externo.
Nas páginas seguintes, o jovem Álvaro explicava porque o défice é sim importante mas até um certo ponto. Tratava da dívida pública, do saldo orçamental primário, do PIB, das consequências dum défice orçamental.
Quando um défice se torna insustentável? Explicava o bom Álvaro:
Quando um défice ameaça seriamente uma economia? Serão os 3% do PIB o limite máximo para a sustentabilidade de um défice orçamental? Será que se o défice do Estado ultrapassar os 3% da dívida (e a dívida pública for maior do que 60% do PIB), as finanças públicas de um país ficam em risco de colapsar?
E se este rácio mudar de forma preocupante? Aqui vê-se a inexperiência do jovem Álvaro que na altura afirmava (pág. 160):
Uma das maneiras de diminuir o défice orçamental é simplesmente fazer com que a economia cresça mais. Quando o crescimento económico é mais elevado, o número de transacções financeiras efectuadas aumenta e os rendimentos sobem mais rapidamente. Por isso, o Estado consegue arrecadar mais impostos, quer com o IVA, quer com o IRC ou o IRS. Ou seja, as receitas do Estado crescem com a própria economia: quanto mais a economia crescer, maior é a colecta de impostos.
E assim concluía o debate acerca do défice (pág. 164):
Para além do mais, não há nenhuma teoria económica que nos diga que o crescimento económico é maior quando os défice são menores. De facto, [...] nos últimos 30 anos a economia portuguesa registou vários períodos de crescimento económico elevado em altura de défice orçamentais igualmente altos.Uma época sem dúvida triste esta do jovem Álvaro, que deambulava nas trevas sem que fosse possível vislumbrar a ténue luz do raciocínio no fundo do túnel. Sentado no seu humilde escritório, utilizava a própria raiva reprimida contra os alvos errados, sem perceber que mesmo entre eles residia a faísca da sabedoria.
Por isso, temos de arranjar coragem e fazer aquilo que se impõe nesta crise que se arrasta há demasiado tempo: é chegada a altura de dizer "Não!" e dar nos pés a Bruxelas [o negrito está no original, nda].Sem limites na caneta, atrevia-se a dar aconselhamentos acerca de futuro:
E, já agora, se por acaso algum dia nos esquecermos daquilo que é realmente importante para o futuro do país e para o bem-estar dos nossos filhos e netos, vale a pena relembrar:
NÃO É O DÉFICE, ESTÚPIDO!NÃO É O DÉFICE, ESTÚPIDO!NÃO É O DÉFICE, ESTÚPIDO!
Não, definitivamente, o nosso principal problema não é o défice.
Ironia do destino: como podia imaginar o jovem Álvaro que mais tarde teria ocupado o lugar de fiel seguidor da Luz, o Messias cuja existência tem como único objectivo a luta ao défice? Teria hoje São Álvaro a coragem para a derradeira blasfémia, definir "Estúpido" o Mestre dos Mestres, o Primeiro e Melhor Ministro Passas o Coelho?
Claro que não, obviamente que não. E não por falta de coragem ou respeito de circunstancias: Álvaro foi tocado pela Luz, hoje ele consegue distinguir entre Bem e Mal.
Hoje Álvaro sabe.
Como sabemos, Deus escreve direito com as tortas (experimente o Leitor fazer o mesmo), por isso até aqui descrevemos o jovem Álvaro Santos Pereira, antes da Conversão. Estes eram os erros dele, estas eram as heresias que atormentavam os sonhos dele.
Uma vida triste e mesquinha até que um dia, na estrada que liga Belém e a Calçada da Estrela, Álvaro viu uma Luz no céu e ouviu uma voz: "Ó Álvaro, gostarias ser Ministro, eh?".
Claro que não, obviamente que não. E não por falta de coragem ou respeito de circunstancias: Álvaro foi tocado pela Luz, hoje ele consegue distinguir entre Bem e Mal.
Hoje Álvaro sabe.
A Conversão
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A Luz (direita) e Álvaro (esquerda) |
Uma vida triste e mesquinha até que um dia, na estrada que liga Belém e a Calçada da Estrela, Álvaro viu uma Luz no céu e ouviu uma voz: "Ó Álvaro, gostarias ser Ministro, eh?".
Ao que, o pasmado Álvaro respondeu: "Obedeço!".
Esta é a conhecida Conversão de São Álvaro.
Hoje Álvaro é um homem novo. Fala calmamente e consegue individuar os terríveis erros que levaram Portugal até a triste situação actual:
O responsável salientou que a economia portuguesa esteve "quase uma década de desequilíbrios externos e acumulação de défices" (revista Sábado, 16.08.2012)Até o ponto de vista acerca de Bruxelas mudou, agora obedecer às directivas das Mentes Pensantes é sinonimo de credibilidade:
Portugal está a cumprir integralmente o memorando de entendimento e até a ir além desse memorando em várias áreas. Voltámos a ganhar a nossa credibilidade internacional em poucos meses (Jornal de Negócios, 05.06.2012)
Um ser humano que encontrou a serenidade, um homem com paz de espírito. Distantes são agora os tempos obscuros de "O Medo do Insucesso Nacional". Hoje o sucesso está ao alcance duma alma que encontrou a Verdade e que caminha no sentido por esta indicada. Não acaso, como lembra Wikipedia:
Uma das suas poucas medidas sugeridas em seis meses de governo, para além de vários anúncios do anúncio de medidas para breve, foi a internacionalização do comércio dos pastéis de nata.Sempre seja louvado o Pastel de Nata.
Ámen.
Ipse dixit.
Fontes: Expresso, APDC, Sábado, Jornal de Negócios, Wikipedia, O Medo do Insucesso Nacional, I Edição, Lisboa, 2009, Edições A Esfera dos Livros.
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