Antes de começar, dois avisos:
- o texto original não é de minha autoria mas dum blogueiro que estimo bastante, o autor de Tra Cielo e Terra. Eu aqui limito-me a fazer a obra de tradução e resumo.
- a teoria não é científica no sentido literal do termo apesar de estar fundamentada em obras bem conhecidas (listadas no final da segunda e última parte). Isso significa que as conclusões são opináveis (aliás, posso já dizer que não concordo inteiramente com as conclusões do autor, sem retirar nada ao interesse do trabalho).
E não é um fenómeno novo: ao percorrer a História ocidental o que pode ser frisado é a constante presença da Dissonância. Pensamos nas palavras de amor de Jesus e nos exércitos dos Papas; no conceito de Perdão dos Evangelhos e nas fogueiras que queimavam bruxas e heréticos. Como afirmado: história muito velha. Mas bem conhecida por quem detém o verdadeiro Poder: porque a Dissonância é também uma eficaz arma para o controle das massas. Mas quando tudo isso começou?
Para tentar saber o "quando" temos que iniciar uma viagem muito longa.
Sentem-se comodamente e fechem os olhos. Aliás, não: abram os olhos.
EU DISSE PARA ABRI-LOS!
Isso, obrigado. É que depois não podem ler...
A herança
Muito do que somos e o do que pensamos, do que acreditamos e dos nossos valores, é o irremediável resultado do ambiente em que nascemos, da cultura que herdamos e das lições que aprendemos desde os primeiros meses de vida. Muitas das verdades que consideramos "incontestáveis" são concepções que os nossos antepassados passaram de geração em geração, ao longo de milhares de anos.
Assim também na nossa sociedade ocidental são utilizados conceitos-chave para descrever as próprias ideias de civilização, como o igualitarismo, a cooperação, a fraternidade, a generosidade, a coragem, a sinceridade, a honra, a compaixão e a justiça. Podem ser meras hipocrisias, no entanto essas qualidades são consideradas nobres a priori, com base nas quais são fundamentados o Direito contemporâneo e todas as nossas instituições.
Todavia é evidente que existe uma total dicotomia entre os valores fundamentais da sociedade ocidental e a maneira como esta opera e operou ao longo dos séculos. A nossa economia baseia-se na prevaricação, enquanto a "esperteza" oficialmente condenada continua a funcionar nos bastidores, onde é considerada um bem essencial para a sobrevivência diária; e no que diz respeito às instituições e aos sistemas de governo que levaram os povos para guerras e prevaricações, isso tem sido a norma ao longo dos séculos.
Seria muito fácil explicar essa dicotomia como uma mera expressão da natureza hipócrita dos seres humanos, tal como diferentes impulsos que moram na alma de cada homem: o bem e o mal, a vontade de prevaricação e a empatia, a agressividade e a compaixão, são todas coisas que vivem ao mesmo tempo em cada um de nós. Isso é inquestionável. Mas não haverá mais? Será que também a sociedade cresce segundo valores herdados, transmitidos de geração em geração? Será que aqui existe a tal "duplicidade"?
Dado que a sociedade é feita por homens, a resposta só pode ser positiva: na nossa actual sociedade em particular, existem duas morais claramente distintas que coexistem e se espalham, abertamente uma, de forma subtil e não oficial a outra. Mas quando nasceu isso? Como se formou ou foi construído?
É preciso voltar atrás, no início da nossa civilização, há alguns milhares anos, quando duas culturas diametralmente opostas se encontraram na antiga Europa: entraram em conflito e, por fim, fundiram-se dando origem à história como a conhecemos, semeando as bases para a criação da nossa mentalidade moderna.
Os indo-europeus
Ainda há muitos aspectos obscuros em relação à história dos indo-europeus, mas os factos estabelecidos oferecem uma visão suficientemente clara para ter uma ideia básica de quem eram e como actuaram as populações agrupadas sob esta denominação.
Sabemos que falavam um idioma do qual derivam muitas das línguas utilizadas hoje no planeta: as línguas de origem indo-europeia são as neo-latinas (como português, italiano, francês, espanhol, etc.), as germânicas (alemão, holandês, inglês ...), o grego, o iraniano e algumas línguas indianas.
Era um povo que usava palavras como paeter, meter, os nossos "pai" e "mãe", os gregos pater e mitera, os ingleses father e mother, e contava, há sete mil anos, duma maneira bastante familiar: oinos, dwo, trjes, kwettwor, penqwe, sewks, septm, hocto, newn, dectm. Nem é preciso traduzir.
Era, portanto, um povo capaz de transmitir o seu próprio idioma e espalhá-lo para os quatro lados do planeta ao longo dos seguintes milénios, capaz de deixar uma marca decisiva na cultura e na mentalidade das pessoas que estavam gradualmente a sujeitar. Porque os indo-europeus sabiam como impor-se: eram guerreiros, conquistadores. E eram lutadores habilidosos, usavam cavalos, armas e honravam os deuses do céu.
Estes são alguns pontos essenciais para começar a entender a mentalidade e a ideologia que os indo-europeus trouxeram com eles: consideravam a coragem, a força física e, no esquema de valores, um homem tinha o direito de tomar posse do que era possível obter com a violência. O direito à conquista era uma regra, a guerra um acto glorioso que definia um homem e um povo. É de extrema importância observar como a ideologia subjacente dos povos indo-europeus e as suas ações coincidiram perfeitamente: não elogiavam a paz nem rogavam a proteção e o respeito dos fracos. A força física, a habilidade dos guerreiros e a prevaricação eram valores não apenas "de fachada".
Seria um erro defini-los como "selvagens", pois esta é uma ideia moderna: estamos a falar de 7.000 anos atrás, altura em que já a sobrevivência diária era para muitas comunidades um desafio. Os indo-europeus não eram "selvagens": eram, simplesmente, fruto dos tempos deles.
Este povo, então, com o seu espírito de conquista, mudou-se das estepes da Ásia Central (duma localização original ainda objecto de debate, mas provavelmente da Rússia do Sul) e, em várias vagas, também chegou à Europa, a partir de 5.000 a.C. e até o II milénio antes da era histórica. Nem sabemos por quais razões tiveram que emigrar, se foi uma livre escolha ou uma necessidade.
Fonte: Aventura e História |
Os antigos povos europeus
Seja como for, quando chegaram na Europa encontraram as populações que aí viviam há milhares de anos: povos que tinham desenvolvido uma sua própria cultura, com características muito específicas. Também desses povos arcaicos sabemos pouco, mas as pistas arqueológicas sugerem certos aspectos: eram pessoas sedentárias, que viviam principalmente da agricultura, possuíam excelentes habilidades nos trabalhos em terracota e produziam ferramentas bem-feitas, em particular vasos e recipientes.
Viviam em aldeias e cidades de pequeno e médio porte, em centros habitados sem significativas obras defensivas. Praticavam uma agricultura de subsistência, na qual a intervenção humana na exploração da terra de forma sistémica era limitada. E os produtos agrícolas eram complementados com a caça e a criação; portanto, não havia produção excedente (o surplus) adequado para ser armazenado ou trocado por outros bens (um factor determinante que mais tarde marcará a divisão da sociedade em classes).
A Europa antes da chegada dos indo-europeus |
Os povos desta antiga Europa eram essencialmente pacíficos. Enterravam os mortos e os túmulos não mostravam diferenças substanciais quanto aos objectos que acompanhavam os falecidos: a partir disso, deduziu-se que não havia grandes diferenças de status social entre os habitantes. A religião estava centrada no culto das divindades aquáticas e terrestres, o que é obviamente consistente com o facto de que a própria terra era a principal fonte de sustento. Os cultos, que estavam referidos à fertilidade da terra, à morte e ao renascimento da Natureza, tinham uma importância primordial, bem como a figura da Grande Mãe, a deusa que bem resumia a visão da criação daqueles povos.
Com base nesses dados, alguns autores chegaram formular a hipótese duma antiga Europa pré-indo-européia como uma espécie de idade de ouro matriarcal, onde uma sociedade pacífica e sem conflitos se desenvolveu em torno do culto da Mãe Terra, um lugar onde a violência e a prevaricação, embora inevitavelmente presentes, eram estigmatizadas e banidas; uma cultura varrida pela chegada dos maus invasores, patriarcais e sedentos de sangue. Muito provavelmente tudo isso é apenas uma excessiva idealização; todavia não há dúvida de que as evidências descrevem uma cultura predominantemente pacífica e igualitária, que honrava nos cultos a Terra e os frutos dela.
Portanto, quando os povos indo-europeus chegaram à Europa e entraram em contacto com essas populações, o resultado do choque já estava escrito: uma cultura guerreira consegue facilmente subjugar povos que levam uma vida predominantemente pacífica, quase sem armas. Nos últimos tempos é admitido que a "invasão" pode ter acontecido de forma menos violenta: mas, apesar disso, parece evidente que os indo-europeus conseguiram impor-se como novos governantes, e da fusão destes com os povos nativos originários mais tarde nasceram as comunidades que definiram o destino do Velho Continente (e, por consequência, de boa parte do planeta): celtas, gregos, alemães, eslavos, itálicos, ibéricos...
Acaba aqui a primeira parte do texto: a segunda e última aparecerá em breve. Até lá os Leitores terão que ficar na dúvida, em pulgas perante a questão: como acaba esta emocionante história? Para tentar aliviar o sofrimento, eis algumas sugestões:
- o povo indo-europeu ataca o povo pacífico, mas a deusa Grande Mãe chega do céu e derrota os invasores com a sua nave espacial matriarcal.
- o povo indo-europeu tenta atacar o povo pacífico, mas os invasores tinham comido demasiado sal e morreram logo após entrar na Europa.
- o povo indo-europeu ataca e conquista o povo pacífico, mas este vinga-se abrindo um banco e enchendo de dívidas os invasores.
Ipse dixit.
Fonte: Tra Cielo e Terra