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A reboque

30 de Maio de 2015, 10:52 , por Informação Incorrecta - | No one following this article yet.
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Uma semana de pausa involuntária.

Ligo o computador, vou espreitar as notícias. Não aquelas oficiais, daquelas nem sei o que fazer. As outras, que não aparecem nos diários, as que circulam na área da informação alternativa. As que por vezes acertam, por vezes não, mas que de qualquer forma têm que existir para que haja uma voz fora do coro.

Resultado? Uma lástima. Uma semana depois e é como se nem fosse passada. Ainda estamos aqui, a falar dos BRICS, do Dólar, do ISIS.

Pode dizer o sagaz Leitor: "Tá bom, mas o que tu queres? Esta é a realidade, é disso que temos que falar, adequa-te".

E não, caro sagaz Leitor. Aqui mesmo fica o erro. Esta não é a "realidade". Esta é a realidade imposta, o que é bem diferente. Nós, todos nós que fazemos ou frequentamos o mundo da informação "alternativa", seguimos humildemente o roteiro escolhido por outros. Ou, dito de forma mais colorida: somos rebocados. E a coisa divertida é que nem podemos escolher para onde.

Bin quê?!?

Vou fazer um exemplo.
Porque vou fazer um exemplo? Porque me apetece, ora essa.

Há uns 10 dias, mais ou menos, saiu um péssimo artigo de Seymour Hersh. Não há necessidade de apresentações: Hersh é simplesmente considerado como um dos melhores jornalistas mundiais, talvez o melhor em vida. Um jornalista "sério", um daqueles que se levanta e vai ver. Vietnam, Coreia, Iraque: Hersh estava lá, não é que lia os relatos das agências de imprensa. E um jornalista polémico também, um daqueles que critica abertamente o poder.

O seu último artigo deu rapidamente volta ao mundo. O sumo: Bin Laden não foi morto como descrito pela propaganda da Administração americana. Aliás: esta versão é uma mentira, completamente inventada para glorificar as capacidades da máquina político-militar norte-americana.
Até aqui tudo bem. Afinal alguém que põe em dúvida as absurdidades da tal operação. Aliás, que a desmonta, pois Hersh não trabalha com os "ouvi dizer que...", mas apresenta nomes e datas.

Resultado: há 10 dias que qualquer blog digno deste nome trata de como Hersh ridiculariza a Administração. Dito assim até parece bom, é a verdade que triunfa. Então, porque um "péssimo" artigo?

Porque o artigo, apesar de parecer "do contra", fica apoiado na teoria de que Bin Laden se encontrava vivo aquando da operação de 2011. Consequência? Hersh apoia incondicionalmente (voluntariamente ou não, isso não sabemos) a historiografia da Casa Banca, justificando em pleno 10 anos de ocupação do Afeganistão. Sim, ok, a versão de captura e morte foi exagerada, nada correu como descrito, mas afinal os EUA tinham razão, o Senhor do Mal estava lá, vivo e vegeto, e quem sabe quais novas maldades estava a planear com o seu cerebrinho doentio.

Um erro do mítico jornalista?
Segundo Paolo Barnard, jornalista italiano, sim: o mítico Hersh errou.
Segundo a minha opinião não, não houve erro. Mas este é assunto para o próximo artigo, onde iremos tratar da morte de Bin Laden & C. com o testemunho de Barnard (que, lembro, é outro daqueles jornalistas - poucos, infelizmente - que se levantam e vão ver).

O cerne da questão agora é outro: 10 dias passados a confirmar a versão dos Estados Unidos enquanto, aparentemente, eram desvendadas as suas mentiras. Porque mentiras eram, disso não há dúvidas (e nunca houve), mas menores. A grande mentira ("Vamos no Afeganistão para combater o Terror"), aquela foi confirmada, em pleno.

Para entender: 10 dias ao longo dos quais o mundo da informação alternativa exultou porque o simpático jornalista sem mancha e sem medo envergonhava a Casa Branca. Mas 10 dias ao longo dos quais a penosa desculpa que serviu para invadir um País soberano (o Afeganistão) e que justificou os massacres tanto aí quanto no vizinho Paquistão foi terrivelmente reforçada, drones incluídos.

Hipnose

Quantos blogues ou sites realçaram esta vertente? Não dei-me o trabalho de verificar. Com certeza alguns fizeram exactamente isso. E a maioria? Não. Simplesmente, foi rebocada para uma direcção na qual nem queria ir.
Mas para a qual foi.

Isso acontece diariamente. E nem este blog está imune. A cada dia é apresentado um novo bicho-papão e nós aí, prontos para morder o isco e para seguir a estrada preparada.

Para que serve isso? Para afastar a realidade, para esquecer as coisas que contam e para que todos, de forma voluntária ou não, sigam a outra "realidade", aquela pré-confecionada e inócua. Sobretudo inócua, que não leva para lado nenhum.

Abro a minha playlist, por assim dizer, aquela que consulto diariamente, e o que vejo?
EUA, Rússia e China: a tensão militar aumenta, a Espanha de Podemos, a FIFA, os EUA e a Nova Ordem Mundial (quoque tu, Pepe Escobar?), porque o ISIS ganha, o banco HSBC teme uma nova recessão (cada mês um banco diferente lança o alarme, reparem nisso), a Grécia, o funeral do Dólar (um dia sim e um dia não), as aventuras quase sérias da Eurolândia, o Reino Unido e a pornografia...

É realidade esta?
Não, meu amigos, não de todo. Este é o pano, o fundo do palco. Na frente dele agitam-se as marionetas. As marionetas olham para nós. E riem. E fazem bem a rir, porque aos menos conhecem quais os seus papeis e quem mexe os fios. Nós nem estas satisfações temos.

Mas então, qual a realidade?
Bravo sagaz Leitor, excelente pergunta.
Agora tente responder.
Não é nada difícil.


Ipse dixit.

Fonte: http://feedproxy.google.com/~r/InformaoIncorrecta/~3/Mal00VB_Y3k/a-reboque.html