O que traz Pai Natal? O que traz de bom?
No Afeganistão traz um monte de heroína.
Não "muita", mas um monte mesmo: o País acaba de alcançar um novo recorde na produção de ópio. E agora temos também a cannabis, que não é cultivada par fins médicos de certeza...
Surpresa? Nenhuma.
Desde 2002, cada ano marcou um novo aumento da produção de ópio no País: quanto mais os Talibans recuarem, quanto mais território for "libertado", tanta mais heroína aparece. Não é a primeira vez que o blog trata deste assunto (ver links no final do artigo), mas é sempre para dar a mesma notícia, todos os anos: a produção de droga no Afeganistão aumentou.
E agora, como afirmado, eis que aparece um novo protagonista: a cannabis. Quem consumir cannabis não fica escravo da heroína, mas é verdade que nas ruas as duas drogas começam a ser oferecidas juntas para incentivar o consumo da substância mais viciante.
12 anos de guerra de "libertação", 12 anos de recordes. Fantástico. E, ao mesmo tempo, 7,6 biliões de Dólares gastos pela governo dos EUA para combater a produção e o tráfico de ópio, obviamente sem resultados. Como raio é possível gastar mais de 7 biliões de Dólares (dinheiro público) e não obter resultados na luta ao mercado da droga (dinheiro privado)?
Haveria uma resposta: Nato e droga estão intimamente ligados, onde estiver uma há a outra também. Mas quem está disposto a acreditar nisso? A Nato, a droga? Ora essa...
Na verdade haveria alguns casos também: no ano passado, por exemplo, vislumbres de notícias irromperam nos media para desaparecer com a mesma rapidez. Oficialmente: alguns soldados simples, envolvidos no tráfico, no Canadá, no Reino Unido, na Italia... Depois o silêncio. Temos de acreditar que alguns soldados controlam um mercado que só em 2007 atingiu 4 biliões de Dólares de facturado com o envolvimentos de mais de 3 milhões de trabalhadores locais?
Não, a história apresentada varia. Oficialmente, a Nato foi "ingénua": para derrotar os Talibans fez a "vista grossa" sobre os negócios das pessoas ligadas ao governo pró-ocidental de Karzai. É o conto do costume, aquele dos "aliados incómodos" dos EUA.
Mas ao ligar a televisão é ainda pior: aí são os Talibans que cultivam e financiam-se com ópio, até que surgiu o rótulo de "narcodemocrazia".
Obviamente é preciso distinguir, pois há quem tente dar-se um tom. O Banco Mundial, por exemplo, tem dedicado um recente relatório sobre a situação no Afeganistão, observando que 90% da heroína do mundo vem daquele País hoje. O Banco Mundial lança avisos solenes para que o governo afegão evite o "descarrilamento" que a economia das drogas pode representar numa democracia tão jovem.
Acerca do papel da Nato: silêncio.
O mesmo se passa com o Fundo Monetário Internacional. Mais de dez anos atrás, em 2003, o FMI já tinha advertido o governo afegão sobre os riscos de se tornar um narco-Estado. Advertir fica sempre bem, sobretudo quando a culpa recai toda sobre o País colonizado, enquanto que as responsabilidades dos ocupantes (sempre a Nato) nem são mencionadas.
Por isso, dois níveis de pseudo-informação: um para as massas, que têm de acreditar que os Talibans são traficantes de drogas, um para os "cidadãos informados", que pode saber que o governo Karzai está envolvido no mercado das drogas, mesmo tendo sido "advertido" pelos mais conceituados organismos internacionais.
Paradoxalmente, o maior grau de infantilização atinge os segundos, aqueles "cidadãos informados" que têm também de acreditar que os EUA gastam 7,6 biliões de Dólares para resgatar o pobre Afeganistão do vício.
A impunidade com que os EUA e a Nato podem mexer-se neste negócio bilionário e devastador é impressionante. Não há uma investigação, não há nem sequer uma suspeita, não se fala do assunto e quando se fala somos entretidos com contos que não resistiriam perante a mais ingénua das perguntas.
Só que, como sempre, ninguém pergunta.
Ipse dixit.
Relacionados:
Nato, EUA e Reino Unido: o grande mercado do ópio
Nato: da morte das crianças e do ópio
Souvenir do Afeganistão
Fontes: SIGAR - Quarterly Report to the U.S. Congress (ficheiro Pdf, inglês), Osservatorio Droga, Il Fatto Quotidiano,
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