Será que todos sabemos donde e como surgiu?
Procuro e eis que o encontro: o velho artigo de Thierry Meyssan. Já tem alguns anos, mas a Merkel ainda lá está, no topo da Europa. Se calhar perdeu um pouco de brilho nos últimos meses, mas é sempre ela, no lugar de chefe. Então vamos ver.
Angela Merkel não se chama Merkel: este é o apelido do primeiro marido, o estudante de Física Ulrich Merkel. O verdadeiro nome é Angela Dorothea Kasner. Por qual razão mudar o apelido? Porque Kasner é de origem judaica. E nem Kasner é o verdadeiro apelido: a família trocou o original Kaźmierczak em 1930 para esconder as origens polacas também.
A Camarada Angela
Angela nasce em Hamburgo, em 1954, filha do pastor luterano Horst Kasner; portanto é oriunda da Alemanha Ocidental; mas poucas semanas depois Horst decide mudar-se com a família toda para a Alemanha Oriental, nas mãos das forças comunistas. Horst funda um centro para pessoas com deficiência, abdica da crítica pública ao regime e goza duma condição privilegiada: tem dois carros (quando já era muito ter uma única viatura) e pode frequentemente deslocar-se para a Alemanha Ocidental.
Aqui, Angela entra muito jovem na Freie Deutsche Jugend (FDJ), o movimento socialista da juventude. Interessante a apresentação de Wikipedia versão inglesa na página biográfica de Angela:
Entrar na FDJ era algo nominalmente voluntário, mas aqueles que não se juntavam não tinham possibilidade de ganhar admissão ao ensino superior.
Sucessivamente, Angela tentou negar o facto:
Segundo a minha memória, eu era secretária de cultura. Mas o que eu sei? Acredito que quando eu tiver 80, eu não vou saber mais de nada
O que é mais importante é que Angela se inscreve muito jovem no partido comunista da Alemanha Oriental e tem sucesso, determinada a dedicar-se à política e fazer uma carreira no regime, com uma posição na FDJ que não é entregue se não a pessoas cuja lealdade tinha sido bem avaliada pelos investigadores da STASI (os serviços de segurança da Alemanha Oriental).
Angela e Ulrich Merkel |
Angela torna-se um dos principais especialistas de "comunicação política" sob a ditadura comunista: fala
fluentemente o idioma russo, viaja tanto como cientista (tem uma importante licenciatura em Física) quanto como agente político, em todos os Países do bloco soviético. Não há dúvida acerca da sua ideologia.
Em 1989, o Muro de Berlim cai: Markus Wolf, que sabia tudo antes, tinha-se retirado espontaneamente da chefia da STASI para entrar no mundo do cinema (tinha um irmão realizador). Mais tarde, afirmará ter recebido uma oferta da CIA para trabalhar com eles, com mudança de identidade e nova moradia na Califórnia. É certo que a CIA, naqueles meses febris de "liberdade", tentava encontrar os agentes capazes do Leste, agora desempregados.
E Angela?
A Democrata Angela
Entretanto, Angela é vítima duma conversão-relâmpago: um mês após a queda do Muro, abandona a fé comunista e entra no Demokratischer Aufbruch (Despertar Democrático), formação inspirada nos valores democratas-cristãos da Alemanha Ocidental. Aqui Angela desenvolve as mesmas funções dantes, departamento de agitação e propaganda, mas agora com um nome mais bonito: "Relacionamento com a Imprensa". Mesmo trabalho, novos donos.
Ou antigos donos? É que o fundador de Despertar Democrático é Wolfgang Schnur, velho colaborador da STASI. É a mesma Angela que revela o passado de Schnur, obrigando este a demitir-se. Angela, tristemente, ocupa o lugar dele como presidente do movimento.
Nas primeiras eleições democráticas na antiga Alemanha Oriental, o partido de Angela consegue um miserável 0,9% dos votos. Mas Angela torna-se porta-voz ("agitação e propaganda", como antes) do governo Lothar de Maizière, democrata e último Primeiro-Ministro da República Oriental, que prepara a fusão com o Ocidente. E Angela participa em primeira pessoa (com 0,9% dos votos...) nas negociações que põem termo ao estatuto de Berlim como "cidade ocupada" e abre o caminho para a reunificação.
Enquanto isso, ao novo companheiro da sua vida Joachim Sauer (também de origem hebraica), é oferta uma nova experiência no mundo livre: é contratado pela empresa norte-americana Byosim Technology; após um ano em San Diego (Califórnia), entra na Accelrys. Ambas as empresas são contractors do Pentágono. Esta circunstância, entre outras coisas, facilita Merkel no seu curso de língua inglesa, por causa das frequentes deslocações entre Berlim e os EUA.
Mas voltemos para a Alemanha. Um ano após ter sido fundado, Despertar Democrático mergulha na CDU, o poderoso Partido Democrata Ocidental de Elmuth Kohl. Angela entra direitinha para o governo de Kohl como Ministra da Família (ela, já divorciada e agora concubina), da Juventude (não tem filhos) e da Condição Feminina. Passaram 14 meses e a antiga directora de "agitação e propaganda" está totalmente reciclada como ministro do "mundo livre". Pessoal, estes são os milagres do Capitalismo.
Lothar de Maizière entretanto assumiu a presidência nacional da CDU; mas, azar, alguém lembra do passado dele como colaborador da STASI. Portanto é obrigado a demitir-se e quem é o substituo? Exacto: a simpática e democrática Angela.
O Primeiro Ministro Kohl gosta da menina Angela e decide nomeá-la Ministro do Ambiente, da Conservação da Natureza e da Segurança Nuclear. Merkel chega ao ministério, expurga todos os funcionários leais ao seu antecessor e espera. Mais cedo ou mais tarde haverá uma nova ocasião.
Que pontualmente chega em 1998, quando Elmuth Kohl comete um erro: não viabiliza a intervenção da NATO no Kosovo, fortemente apoiada pela esquerda (Joscha Fischer dos Verdes e Gerhard Schroeder dos Socialistas). Erro grave: como se pode contrariar a vontade de Washington?
Angela e Kohl |
Kohl recusa fazer nomes e eis que Angela, das páginas do Frankfurter Allgemeine, no dia 22 de Dezembro de 1999 escreve para distanciar-se de Kohl. Este decide retirar-se da política e o partido tem agora um problema: quem o pode substituir na liderança?
A resposta é óbvia: a querida Angela. Que, finalmente, decide casar com o companheiro Sauer.
A Neoconservadora Angela
Angela com o marido Joachim Sauer |
com o apoio do grupo editorial Springer e do grupo Bertelsmann. E vale a pena gastar duas palavrinhas acerca destas empresas, porque o apoio delas desenvolveu um papel muito importante na subida da simpática Angela.
Springer
A Axel Springer SE é uma das principais editoras de livros digitais da Europa, mas pode contar com produtos em papel de primeira grandeza, como Bild, Welt, Fakt, Rolling Stones (versão alemã) e Business Insider. Do estatuto da Axel Springer fazem parte cinco pontos que foram escritos pelo fundador da empresa, Axel Springer, em 1967:
- defender a liberdade e a lei na Alemanha, um País que pertence à família ocidental das nações, e no caminho da unificação da Europa
- promover a reconciliação entre judeus e alemães e apoiar os direitos vitais do Estado de israel.
- apoiar a aliança transatlântica e a solidariedade com os Estados Unidos da América nos valores comuns das nações livres
- rejeitar todas as formas de totalitarismo político
- defender os princípios duma economia de livre mercado
Bertelsmann
O Grupo Bertelsmann, pelo contrário, tem um passado ligado ao Nazismo: explorava escravos hebraicos durante a guerra. Hoje é o gigante que controla empresas como RTL ou BMG.
É o Grupo que organiza a Bertelsmann Foundation Financial Times Conference, o fórum anual sobre a economia global que funciona desde 2009. Participantes? Christine Lagarde (chefe do FMI), Paul Volcker (ex-chefe da Federal Reserve), Jeroen Dijsselbloem (partido laborista holandês, Presidente do Eurogrupo), Carly Fiorina (Presidente da Hewlett-Packard), Timothy Geithner (ex-chefe da Fed), Pascal Lamy (ex-director da World Trade Organization), Pierre Moscovici (Partido Socialista Francês, Comissão Europeia), Wolfgang Schäuble (Ministro das Finanças da Merkel desde 2009), George Soros (não precisa de apresentações), Robert Zoellick (vice-Secretário de Estado dos EUA, ex-CEO da Goldman Sachs, ex-chefe da Fed).
A Berterlsmann é acusada pelas suas propostas na área da educação e do trabalho, decididamente neoliberais. Por exemplo: a reforma das universidades públicas no sentido de eliminar o livre acesso à educação e de limitar a autonomia académica.
Normais, portanto, as escolhas políticas de Angela: como o apoio aos EUA em ocasião da Guerra Iraque (ano de 2003); também a participação do contingente alemão na força multinacional no Afeganistão (sob o comando americano) foi uma decisão dela.
E foi sempre Angela que disse, em ocasião da agressão israelita contra o Líbano:
Se a razão para a existência da Alemanha é garantir o direito do Estado de israel, cuja existência agora está ameaçada, não podemos dizer que nada vamos fazer.
Ipse dixit.
Fontes: Der Spiegel, Philosemitism, The Washington Post, Wikipedia (várias páginas biográficas), Voltaire.net: Thierry Meyssan - Angela Merkel, a Neocon as President of the European Union