
A direcção da New York Youth Symphony (NYYS) cancelou a antestreia de uma peça de um jovem compositor no prestigiado Carnegie Hall, em Manhattan, quando se apercebeu de que esta dava a ouvir um excerto de um célebre hino nazi.
O concerto da orquestra nova-iorquina, que apoia compositores e instrumentistas com menos de 22 anos, estava previsto para domingo e destinava-se a chamar a atenção para a obra de Jonas Tarm, de 21 anos, um músico americano de origem estónia.
“Uma referência musical como esta teria exigido uma discussão mais prolongada”, diz a direcção da orquestra de juventude, deixando claro que não pretende insinuar que Tarm defende a ideologia nazi. O compositor avisou na semana passada a direcção da NYYS de que a sua peça continha um excerto de 45 segundos da Horst-Wessel-Lied, um dos principais hinos nazis, banido na Alemanha e na Áustria após a II Guerra Mundial.
Intitulada Marsh u Nebuttya, traduzível por Marcha para o Esquecimento, a composição inclui também o antigo hino da Ucrânia soviética, e parece querer evocar o actual conflito russo-ucraniano, mas Tarm diz que a sua sinfonia, que dura nove minutos, é “consagrada às vítimas da crueldade e do ódio, da guerra, do totalitarismo e do nacionalismo, tanto no passado como hoje”. Uma explicação divulgada em comunicado já após o cancelamento, uma vez que o compositor começou por afirmar que a peça era “uma homenagem às vítimas da fome e do fogo” inspirada por um célebre poema de T. S. Eliot, Hollow Men, escrito após a I Guerra Mundial e publicado em 1925.
“Acreditamos profundamente na criação livre de quaisquer entraves, mas com a liberdade vem a responsabilidade, e mais ainda quando há jovens envolvidos”, argumenta direcção da NYYS. Jonas Tram diz-se “decepcionado e confuso” pela rejeição de uma obra que “devia evocar, e não provocar”.
Em declarações à France Presse, Ken Jacobson, director-adjunto da associação americana Anti-Defamation League, que combate o racismo e o anti-semitismo, não quis pronunciar-se sobre a peça sem a ouvir, e admitiu que a NYYS terá tido “boas intenções”, mas defendeu que, “em matéria de arte, temos de reflectir e ser prudentes antes de censurar”.
Pelo contrário, 45 segundos de música com valor histórico são um atentado, algo que precisa duma "discussão mais prolongada", sobretudo se dirigida para jovens (alguém pode explicar-me esta? Se mandar o meu avô a ouvir é tudo regular?).
Explica a direcção da New York Youth Symphony:
O compositor tinha que revelar as fontes da sua peça e o contexto em que foram utilizadas, mediante a apresentação à comissão em Setembro de 2014; a peça e as notas poderiam ter servido como um importante momento de ensino para os nossos alunos. No entanto, sem essa informação, e dada a falta de transparência e falta de consentimento dos pais, não poderíamos continuar a apresentar o seu trabalho no programa.
Não há limites para o ridículo.
Aliás, já que estamos no ridículo, deixem que pergunte a opinião dum dos maiores especialistas mundiais acerca do tema "Arte e Censura". Casualmente trata-se de Leo, o cão que é a verdadeira mente pensante deste blog.
- Olá Leo.
- Olá para ti e para todos os leitores deste blog miserável.
- Então Leo: censurar uma música contida numa sinfonia faz sentido?
- Absolutamente sim. A música tem efeitos sobre a psique humana, alguns do quais imprevisíveis.
- Por exemplo?
- Por exemplo, foi conduzida uma experiência secreta nos anos '50 em Portugal. A um grupo de freiras do Convento de Nossa Senhora Santíssima e Beata da Dor de Cotovelo foi feita ouvir A Internacional ao longo de 3 horas. Passado este tempo, as freiras tinham trocado o hábito preto com camisas vermelhas e queriam queimar o Bispo de Lisboa.
- Incrível...
- Pois é.
- E achas que Horst-Wessel-Lied poderia ter o mesmo efeito?
- Sem dúvida. E repara: com mentes muito fracas, podem ser suficientes poucos segundos de audição. Queres a demonstração?
- Sim, obrigado.
- Então ouve com atenção:
- Então Max, o que achas?
- Es ist nur ein altes Lied .... Ehi, Leo, ich spreche Deutsch!
- Pois, eu bem tinha avisado. Até a próxima e vê de arranjar-me umas bolachas que estão para acabar.
- Heil Hitler!
Ipse dixit.
Fonte: Público, The New York Times, NPR