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Chechénia: entre campos de concentração e propaganda

5 de Maio de 2017, 12:11 , por Informação Incorrecta - | No one following this article yet.
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Pergunta: na Chechénia (ou Chechênia ou Tchechênia ou Tchetchénia) existem campos de concentração
onde os homossexuais são presos, torturados e até mortos?

A denúncia está baseada em dois artigos do diário russo Novaya Gazeta: o primeiro, publicado no passado dia 3 de Abril, afirma que mais de 100 homens acusados ​​de serem homossexuais teriam sido presos pela polícia chechena que reconstruiu os seus relacionamentos através duma aplicação informática pensada para os encontros gay. O diário também afirma que pelo menos três pessoas teriam sido mortas no curso da operação.

Dois dias depois (5 de Abril), a Novaya Gazeta publica o segundo artigo, em que é relata as experiências de três pessoas naquela que é definida como uma "maciça repressão contra chechenos suspeitos de ter uma orientação homossexual": os supostos homossexuais foram sequestrados ilegalmente pela polícia, ridicularizado, humilhados, torturados, violados com objectos e libertados somente após o pagamento de enormes resgates por parte das respectivas famílias.

O jornal é bastante sério e as informações parecem ser de confiança. Por qual razão? Porque a melhor prova foi dada pela mesma Chechénia.

Alvi Karimov, porta-voz do líder checheno Ramzan Kadyrov, rotulou as notícias da Novaya Gazeta como "uma mentira absoluta". Até aqui uma normal desmentida oficial. Mas Karimov não deve ser propriamente um génio, porque continuou:
Não se podem prender e perseguir aqueles que simplesmente não existem na república. [...] Se houvesse pessoas assim na Chechénia, a polícia não teria nenhum problema com elas, porque seriam as suas próprias famílias a envia-los para aquele lugar donde não há regresso.
Alvi Karimov
Esta declaração deveria entrar de imediato no manual das desmentidas mais idiotas alguma vez
publicadas. Ou naquele das melhores confissões, tanto faz.

Sobretudo: representa a melhor confirmação de que na Chechénia os homossexuais não gozam dos mesmos direitos reconhecidos aos outros cidadãos e que, com grande probabilidade, são perseguidos.

As primeiras reacções dos meios de comunicação russos foram geralmente muito sérias e cautelosas, tal como o estilo escolhido pelos activistas russos da Rossiyskaya LGBT-set (a rede LGBT russa): de forma firme foi pedida uma investigação sobre a situação, condenando também as graves palavras do governo checheno.

Depois a situação tem "piorado". A razão?
Human Rights Watch, organização financiada por George Soros, e o International Crisis Group (ICG, mais uma vez: George Soros) têm realizado as suas próprias investigações. Human Rights Watch deixa entender nos seus comunicados que a culpa é também de Vladimir Putin, o qual apoia o líder cheheno responsável da violência, enquanto a jornalista Ekaterina Sokirianskaia do ICG, num artigo também publicado no New York Times, fala de pogrom, um tipo de persecução massiva aplicada ao longo da história contra os judeus.

Do progom até o campo de concentração o passo é breve. E, de facto, é o que faz o blog russo anti-Putin no dia 5 de Abril, o blog dos Estados Unidos Windows On Eurasia (dia 6 de Abril) e o britânico Daily Mail no dia 10 do mesmo mês. E no prazo de poucos dias, "o campo de concentração" torna-se "os campos de concentração".

 Além da propaganda

O centro de detenção de Argun
Além da propaganda anti-russa em que esta história foi em larga medida transformada, o que temos?

Em primeiro lugar: não existem "campos de concentração" e nem a Novaya Gazeta (fonte primaria), nem as investigações de Human Rights Watch ou do ICG falaram de algo do assim.

Existe, isso sim, na cidade de Argun (a poucos quilómetros da capital Grozny), um ex-quartel militar convertido num centro de detenção temporária onde os homossexuais são efectivamente detidos, interrogados e torturados com fim de descobrir a identidade de outros gays.

Não será um campo de concentração, mas mesmo assim é algo abominável, disso não há dúvida. No centro de detenção de Argun os detidos são submetidos a violência, a fim de obter os nomes de outros homossexuais: são atingidos com paus e cassetetes nas pernas e, possivelmente, violados com objectos. Algumas testemunhas disseram que antes de serem presos a polícia fez chantagem para extorquir dinheiro; além disso, as autoridades usariam "agentes provocadores" (tanto no mundo real quanto nas comunidades online) ao fim de encontrar e apreender outros homossexuais.

Na rede da polícia são presos homossexuais e não: as autoridades usariam os telefones celulares dos homossexuais para reconstruir a rede de amizades e relacionamentos. O resultado é que qualquer indivíduo masculino listado entre os contactos telefónicos é considerado suspeito.

Os detidos não são assassinados: o governo prefere delegar às famílias a tarefa de encontrar uma solução para a situação dos gays, sendo explicitamente convidadas a cometer "crimes de honra" para resolver o problema.

Tudo isso seria parte dum plano para "defender" a sociedade chechena contra o perigo da homossexualidade em nome de uma suposta "pureza" da mesma sociedade chechena.

As razões

Gay perseguido no Iraque
Como é possível isso?
Em Moscovo ninguém sabia de nada?

A quase totalidade da população (95%) é islâmica, mais precisamente sunita. E na religião islâmica a homossexualidade não apenas não é permitida como é perseguida.

O que acontece na Chechénia não é uma excepção; eis as principais penas aplicadas em alguns dos Países muçulmanos que mais lutam contra a homossexualidade:
  • Arábia Saudita: exílio, chicoteadas ou morte por apedrejamento
  • Emirados Árabes Unidos: prisão, multas e/ou pena de morte
  • Irão: pena morte para homens e chicoteadas para mulheres
  • Maldivas: exílio ou chicoteadas para homens, prisão domiciliar para mulheres
  • Mauritânia: morte por apedrejamento para homens
  • Nigéria: pena de morte para homens e chicoteadas e/ou detenção para mulheres em 12 estados. No resto do País, até 14 anos de prisão.
  • Qatar: até 7 anos de detenção (para os gays muçulmanos: chicoteadas ou execução)
  • Sudão: chicoteadas e prisão; em caso reincidência prisão perpétua ou execução
  • Serra Leoa: prisão perpétua
  • Somália: morte por apedrejamento nas regiões ao Sul e até 3 anos de prisão no resto do País
  • Tanzânia: detenção de 30 anos ou até prisão perpétua para homens; multa ou detenção por 5 anos para mulheres
  • Yemen: até 7 anos de prisão, 100 chicoteadas e/ou morte por apedrejamento
    Uganda: prisão perpétua, tortura e execução
Então, qual a razão desta vaga de indignação (justificada, que fique claro) só no caso da Chechénia?
Porque atingir a Chechénia significa atingir indirectamente Vladimri Putin. O qual tem as suas sérias responsabilidades.

E aqui chegamos à segunda pergunta: em Moscovo ninguém sabia de nada?
Claro que em Moscovo sabiam, claro que Putin sabia. Mas foi decidido não intervir por uma questão de estratégia, tal como os Estados Unidos não intervêm no caso da Arábia Saudita ou do Qatar.

O Exército Vermelho teve que intervir duas vezes na Chechénia: a primeira vez entre 1994 e 1996 (Primeira Guerra da Chechénia: mais de 250 mil mortos), a segunda vez entre 1999 e 2009 (Segunda Guerra da Chechénia: mais de 50 mil mortos). A partir de 2007, o País começou a ser controlado por Ramzan Kadyrov, o qual geriu também a fase da reconstrução e normalizou o relacionamento com Moscovo.

Vladimir Putin e Ramzan Kadyrov
Kadyrof é um tirano com o culto da personalidade, que ameaça de morte os opositores políticos e aprova o delito de honra perpetrado contra as mulheres. Resumindo: uma besta.

Mas é tolerado por Putin porque consegue controlar a Chechénia, onde o fogo da rebelião ainda não está totalmente apagado e donde partem numerosos voluntários que se juntam ao Estado Islâmico, contra o qual a Rússia está militarmente empenhada.. É uma história que bem conhecemos aqui no Ocidente: um ditador tolerado porque útil à nossa causa.

Seja como for, estamos perante um crime hediondo: qualquer que seja a nossa opinião pessoal acerca da homossexualidade, falamos de seres humanos com direitos (como o respeito da dignidade) que deveriam ser universalmente reconhecidos. A questão não pode ser enfrentada e ainda menos resolvidas com detenções, chicoteadas ou penas de morte. Neste aspecto, tanto o Ocidente quanto o bloco ex-comunista (Rússia, China em primeiro lugar) deveriam antepor aos interesses estratégico, políticos ou económicos, a defesa da dignidade humana. Seria também "simpático" que estas delicadas questões não fossem utilizadas apenas como instrumentos de propaganda.

Mas em ambos os casos entramos no campo da mera ficção...


Ipse dixit.

Fontes: Novaya Gazeta, Ansa, International Crisis Group, IXTC - Artigo traduzido com Google Translate, Windows On Eurasia, Daily Mail, Euronews - Russia: Manifestazione di solidarietá con lgbt ceceni, Independent, The New York Times 

Fonte: http://feedproxy.google.com/~r/InformaoIncorrecta/~3/Jjk264W8h3M/chechenia-entre-campos-de-concentracao.html