Vale a pena porque só assim podemos entender quais terríveis erros costumamos cometer. E não desde hoje: desde sempre. Tudo publicado na revista oficial da católica American Academy of Pediatrics, disponível desde Janeiro de 1948.
Vamos ler com atenção.
As organizações médicas e de saúde pública recomendam que as mães amamentem exclusivamente ao longo de 6 meses. Esta recomendação fica baseada nas provas dos benefícios para a saúde de mães e bebés, bem como dos benefícios para o desenvolvimento dos bebés.
Em frente.
Uma série de trabalhos recentes desafia a extensão desses benefícios e a crítica ética à promoção do aleitamento materno como estigmatizante também está a crescer. Com base nesses trabalhos críticos, estamos preocupados com a promoção do aleitamento materno que enaltece a amamentação como o modo “natural” de alimentar os bebés. Essa mensagem traz uma perspectiva poderosa de que as abordagens “naturais” para a saúde são melhores, uma visão examinada num recente relatório do Nuffield Council on Bioethics.
A promoção da amamentação como “natural” pode ser eticamente problemática e, coisa ainda mais preocupante, pode reforçar a crença de que abordagens “naturais” são presumivelmente mais saudáveis. Isso pode, em última análise, desafiar os objetivos da saúde pública em outros contextos, particularmente na vacinação infantil.
Segue uma análise da atitude das pessoas perante as vacinas. Vamos saltar para frente.
A ideia do “natural” evoca um senso de pureza, bondade e inofensividade. Enquanto isso, substâncias sintéticas, produtos e tecnologias produzidas em massa pela indústria são vistas como “não naturais” e muitas vezes despertam suspeita e desconfiança. Parte desse sistema de valores é a percepção de que o natural é mais seguro, mais saudável e menos arriscado. Esse abraço do “natural” em detrimento do “não natural” aparece numa variedade de questões científicas e médicas contemporâneas além da vacinação, incluindo a rejeição de alimentos geneticamente modificados, uma preferência por alimentos orgânicos em vez dos cultivados de forma convencional e a rejeição de tecnologias de reprodução assistida, bem como as preocupações sobre as toxinas ambientais e a fluoretação da água. Grande parte do interesse em medicamentos complementares e alternativos também depende de “ideias de técnicas naturais mais seguras, gentis e benignas”.
Em alguns casos, no entanto, essa visão de que “natural” é sinónimo de “melhor” pode funcionar contra problemas específicos de saúde pública. O recente relatório do Nuffield Council documenta essas ideias e sugere que, embora algumas pessoas possam entender “natural / não natural” como valor neutro, há outras perspectivas, por exemplo, o medo de que as inovações científicas estejam erradas porque afastam as coisas vivas da sua natureza fundamental e que a natureza oferece a melhor maneira de fazer as coisas.
Essa última visão é clara e comunemente invocada na promoção da amamentação. Por exemplo, a campanha de promoção do aleitamento materno "É apenas natural" do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA é uma tentativa explícita de persuadir as mulheres a amamentarem enquadrando a amamentação como melhor do que a fórmula, porque é natural.
Além disso, a Academia Americana de Pediatria referiu-se ao leite materno como “o melhor e mais natural alimento para bebés”. Um cartaz de promoção do aleitamento materno produzido pelo Departamento de Saúde e Higiene Mental de New York descreve o aleitamento materno como “feito pela mãe”. [...] A mensagem enviadas aos pais presumivelmente é que as substâncias produzidas nas fábricas são insalubres e devem ser evitadas, enquanto a opção natural é mais segura e melhor. A amamentação também tem sido referida como “natural” pela Organização Mundial de Saúde, pelo Departamento de Saúde Pública da Califórnia e pelo Departamento de Saúde de Vermont, para dar apenas alguns exemplos, e vários outros exemplos dessa abordagem foram documentados num relatório divulgado pelo Berkeley Media Studies Group em 2010.
Faz sentido que a promoção do aleitamento materno faça apelo ao “natural”. O crescimento das taxas de amamentação ao longo das últimas quatro décadas está enraizado na história dos esforços organizados das mulheres durante as décadas de 1950 e 1960 para resgatar o valor de alimentar os bebés “naturalmente” perante o amplo apoio médico para a alimentação com fórmulas.
O acoplamento da natureza com a maternidade, no entanto, pode apoiar inadvertidamente argumentos biologicamente deterministas sobre os papéis dos homens e das mulheres na família (por exemplo, que as mulheres devem ser as principais cuidadoras de crianças). Referencia o “natural” na promoção da amamentação, então, pode inadvertidamente endossar um conjunto controverso de valores sobre a vida familiar e os papéis de género, o que seria eticamente inapropriado.
Invocar o “natural” também é impreciso porque falta uma definição clara. Por razões semelhantes, o recente relatório Nuffield afirma que as agências públicas, governos e organizações que contribuem para os debates públicos e políticos sobre ciência, tecnologia e medicina “devem evitar usar os termos natural, antinatural e natureza” a menos que tornem transparentes os “valores ou crenças” que estão por trás deles.
Qualquer que seja a ética que apela ao natural na promoção da amamentação, isso levanta preocupações práticas. A opção “natural” não se alinha de forma consistente com as metas de saúde pública. Se fazer o que é “natural” é “melhor” no caso da amamentação, como podemos esperar que as mães ignorem essa visão de mundo poderosa e profundamente persuasiva ao fazer escolhas sobre a vacinação? Se a promoção da amamentação enquadra a opção “feito na fábrica” como arriscada ou insalubre, o que os pais devem concluir ao escolher entre as vacinas feitas na fábrica e aumentar a imunidade “naturalmente”? Devemos pensar duas vezes antes de referenciar o “natural” na promoção da amamentação, mesmo que isso motive as mulheres a amamentar.
Vimos no início como a amamentação traz vantagens às mulheres e aos bebés. Portanto seria possível pensar: "Bom, se tem benefícios, então vamos a isso". Não, porque estes benefícios têm um custo: começa-se por amamentar, depois deixa-se de acreditar na Ciência, os filhos não são vacinados e a humanidade acaba.
Fica cientificamente demonstrado: amamentar é mau. As poucas vantagens que oferece não podem compensar o perigo que esta ideia do "natural" traz consigo. Comprem o leite industrial e não pensem nas vacinas. Já agora: comam OGM's e bebam água com flúor. E sejam felizes, porque o futuro é risonho.
Ipse dixit.
Fonte: Pediatrics via APP