O que é a inteligência? É uma boa pergunta, sobretudo considerando que, até a data, ainda não foi formulada uma definição partilhada por toda a comunidade científica.
Uma tentativa vem de cinquenta e dois reunidos no Mainstream Science on Intelligence, assinada em 1994:
Uma capacidade mental bastante geral que, entre outras coisas, envolve a habilidade de raciocinar, planear, resolver problemas, pensar de forma abstrata, compreender ideias complexas, aprender rápido e aprender com a experiência. Não é uma mera aprendizagem literária, uma habilidade estritamente académica ou um talento para sair-se bem em provas. Ao contrário disso, o conceito refere-se a uma capacidade mais ampla e mais profunda de compreensão do mundo à sua volta - 'pegar no ar', 'pegar' o sentido das coisas ou 'perceber' uma coisa.
E se não formos capazes de concordar acerca do que é uma coisa, imaginem o que se passa na altura de medi-la. Mesmo assim, os homens pensam nisso há mais de um século.
IQ
Em 1905, o psicólogo francês Alfred Binet publicou o primeiro teste de inteligência moderna, o Scala Binet-Simon. O objectivo principal era identificar os alunos que precisavam de ajuda especial em disciplinas escolares. Graças ao seu colaborador Theodore Simon, Binet introduziu mudanças na escala em 1908 e 1911.
Em 1912 na Universidade de Breslau, o psicólogo alemão William Louis Stern cunhou o termo I.Q. (do inglês: Intelligence Quotient e do alemão Intelligenz-quotient). Um novo refinamento da escala de Binet-Simon foi publicado em 1916 por Lewis M. Terman, da Universidade de Stanford, que compartilhou a tese de Stern de que a inteligência de um indivíduo pode ser medida com um quociente e apresentou os testes chamados Stanford-Binet Intelligence Scale, que no entanto apresentam dificuldades na aplicação para indivíduos adultos.
Portanto, o surgimento do conceito de IQ e dos relativos testes deu muito trabalho. Houve um pico, entre o fim dos anos '60 e o começo dos '70, onde pareceu ter sido construído algo significativo, que pudesse ajudar a rotular a inteligência das pessoas com base numa bateria de testes que não diferem muito dos actuais testes de inteligência. Entretanto a ciência não parou as pesquisas e tornou-se cada vez mais evidente que os teste IQ, mesmo nas versões mais actulizadas, não conseguem afirmar com certeza qual o grau de inteligência duma pessoa, pela simples razão de que não medem toda a inteligência mas só alguns aspectos dela.
Durante as últimas décadas ganhou posições o conceito não duma única inteligência humana, quanto da presença de vários tipo de inteligência. Os testes IQ estão a perder seguidores porque o objectivo não é agora a determinação dum valor numerário que represente a nossa inteligência, quanto descobrir a natureza da inteligência. Em palavras simples: o que ela realmente é.
É por isso que foram introduzidos diversos tipos de inteligência:
- inteligência linguística
- i. lógico-matemática
- i. espacial
- i. físico-cinestésica
- i. musical
- i. interpessoal
- i. intrapessoal
- i. naturalista
- i. existencial ou teórica
- i. emocional
E surpresa final: a inteligência não é estática mas pode melhorar ou até morrer. Isso porque não é exclusivamente hereditária, mas está ligada à aprendizagem e à exposição dos estímulos do meio ambiente. É por esta razão que os teste IQ são cada vez menos utilizados: há ainda muita estrada antes de conseguir determinar com precisão absoluta o que entendemos ao falar de "inteligência" e ainda mais estrada será precisa para conseguir medi-la.
E aqui começa a nossa história.
Pegamos no mapa do IQ:
Lembrando quanto dito até aqui acerca da validade do IQ, é óbvio que este mapa não mostra o real nível médio de inteligência nos vários Países do planeta: o que mostra é a pontuação média conseguida nos teste IQ. Que, todavia, estão ultrapassados se o objectivo for medir a inteligência completa duma pessoa. Então: dados que podem ser atirados para o lixo? Acho que não. Pelo contrário, podem ser muito úteis.
O Nobel em miséria
James D. Watson |
Em 2007, Watson declarou num artigo publicado no Sunday Times Magazine que está "inerentemente pessimista quanto às perspectivas da África" porque "todas as nossas políticas sociais estão baseadas no facto de que a inteligência deles é a mesma que a nossa, enquanto que todos os testes dizem que não é assim". E mais:
Não há nenhuma razão sólida para antecipar que as capacidades intelectuais de pessoas geograficamente separadas em sua evolução provem ter evoluído de forma idêntica.
Na nossa sociedade "politicamente correcta" afirmações como estas são uma clara forma de suicídio porque contrariam a Lei Suprema segundo a qual todos somos iguais. Watson foi assim afastado de todos os cargos, as publicações dele recusadas, e em 2014 teve que vender a medalha do Nobel porque em dificuldades económicas. Curioso porque treze anos antes, em 1994, o assunto também tinha sido abordado num livro chamado The Bell's Curve e este continha as mesmas declarações que mais tarde teriam sido feitas por Watson, nomeadamente:
Analisando os resultados dos IQ e agrupando os indivíduos de acordo com a sua etnia, obtiveram-se os seguintes resultados em relação aos principais grupos étnicos presentes nos EUA: os judeus e os orientais asquenazistas têm pontuação média mais alta do que os brancos europeus, enquanto os hispânicos e os afro-americanos obtêm médias menores.
Mas se os resultados inferiores dos afro-americanos eram conhecidos há mais de dez anos, por que o escândalo atingiu Watson apenas por ter dito numa entrevista o que estava já a ser debatido no campo académico? A resposta, evidentemente, reside na "culpa" de Watson: espalhar uma conclusão politicamente incorreta além do círculo dos iniciados.
Uma pena, porque Watson estava certo. Quem, como quem escreve, acredita na força da diversidade, foge da ideia duma humanidade assustadoramente igual a si mesma em todos os cantos do planeta, pela simples razão que esta seria uma humanidade morta, sem nada mais para dizer ou aprender. Seria o fim da História. Então torna-se natural partilhar a mesma visão de Watson porque esta representa uma salvação.
Testes IQ: não para todos
Não esqueçam quanto escrito acerca dos testes IQ: ultrapassados, porque incapazes de descrever a
inteligência toda. "Ultrapassados" mas não "errados": os dados recolhidos em centenas de milhares de provas continuam aí a demonstrar que o seres humanos não desenvolveram as suas inteligências de forma idêntica em todo o Mundo.
inteligência toda. "Ultrapassados" mas não "errados": os dados recolhidos em centenas de milhares de provas continuam aí a demonstrar que o seres humanos não desenvolveram as suas inteligências de forma idêntica em todo o Mundo.
Para poder utilizar os dados recolhidos com os testes IQ não podemos esquecer que estes apresentam duas particularidades:
- não conseguem descrever toda a inteligência mas apenas algumas vertentes desta
- foram pensados e construídos numa determinada área geográfica, a Ocidental.
Relativamente ao primeiro ponto, o assunto já foi esclarecido: o que interessa agora é o segundo ponto. Se for verdade que os testes IQ apresentam apenas algumas vertentes da inteligência, é normal pensar que tais vertentes foram escolhidas tendo como base os aspectos mais valorizados na sociedade onde foram elaborados.
Para esclarecer: num planeta onde todos nascem já a tocar música, é normal que ninguém imagine uns testes IQ baseados só na melhor forma de cortar o queijo. Pelo contrário, os testes de inteligência estariam ligados ao mundo musical, porque este é o aspecto mais "natural" e valorizado naquele lugar.
Para esclarecer: num planeta onde todos nascem já a tocar música, é normal que ninguém imagine uns testes IQ baseados só na melhor forma de cortar o queijo. Pelo contrário, os testes de inteligência estariam ligados ao mundo musical, porque este é o aspecto mais "natural" e valorizado naquele lugar.
Foi o que se passou com os nossos testes IQ: são o fruto da nossa sociedade, a sociedade ocidental. E mais: são o fruto da nossa sociedade ocidental num particular contexto histórico, isso é, foram criados numa sociedade que já tinha conhecido a Revolução Industrial, a introdução das máquinas, um mundo em plena proto-globalização. Como podemos seriamente pensar que estes testes não sofram de tais condicionamentos?
Lógico-matemática
Quem já fui submetido aos testes IQ (na escola, no serviço militar, no trabalho) não pode não ter reparado na vertente lógico-matemática que domina as provas em detrimento de outros aspectos. Não há musica, não há ambiente, não há emoção, não há imaginação, não há visão interior, não há filosofia naqueles testes: há essencialmente lógica e matemática porque estes são os aspectos que ainda hoje a nossa sociedade mais valoriza.
Mas a "nossa sociedade" não é "a sociedade de todos". Ainda hoje, e apesar da vaga globalizadora, há comunidades que preferem outros princípios; isso é verdade hoje e foi ainda mais verdade no passado. Então é perfeitamente normal que sociedades separadas por milhares de quilómetros tenham desenvolvido inteligências diferentes: não inferiores ou superiores, simplesmente diferentes, por questões ambientais, históricas ou outras ainda. É normal que testes desenvolvidos numa só destas comunidades não consigam ser o espelho da inteligência em todas as comunidades.
Então Watson tinha toda a razão: neste aspecto "não há nenhuma razão sólida para antecipar que as capacidades intelectuais de pessoas geograficamente separadas em sua evolução provem ter evoluído de forma idêntica". As inteligências desenvolveram-se em formas diferentes, compara-las com uma metodologia ocidental (o que fazem os testes IQ) não pode fornecer um resultado absoluto mas apenas relativo.
Quando Watson afirma ser "inerentemente pessimista quanto às perspectivas da África" não faz outra coisa a não ser fotografar uma realidade que está debaixo dos nossos olhos. Não é apenas uma questão de dívida, não é apenas a história dos colonizadores que assaltaram um Continente: há também as dificuldades que umas inteligências diferentes (repetimos: não superiores ou inferiores) experimentam em adaptar-se a uma sociedade que valoriza aspectos "estrangeiros", não típicos daquela área.
Como vimos, a inteligência não é algo estático, muda com o tempo: sabe adaptar-se perante as novas exigências. Mas este não é um processo rápido, sobretudo se envolve inteiros Países ou continentes. A África demorará várias gerações para mudar as suas inteligências e conseguir assim homologar-se com a sociedade global, num triste processo de destruição das inteligências nativas que será o ponto mais alto do neo-colonialismo globalizador.
Uma etnia, uma inteligência: reler a História
O mapa acima reportado demonstra como os melhores resultados nos testes IQ sejam obtidos aí onde a presença ocidental é mais significativa. Pegue-se no exemplo do continente americano: Brasil e Argentina são dois Países contíguos, no entanto a Argentina apresenta um valor IQ superior ao do Brasil. Todos sabemos que na Argentina a presença de descendentes africanos é menor do que no Brasil: e o continente africano tem os valores que estão entre os mais baixos do planeta. Realmente é só um acaso?
Um salto até o México: aqui o valor IQ é baixo também, apesar de quase não haver presença de afro-americanos. Mas há os descendentes dos antigos povos que por aí moravam, como os Maya ou os Astecas, umas sociedades cujos princípios ficavam bem longe daqueles ocidentais: outro simples acaso?
As diferenças entre os tipos de inteligências bem pode explicar a história dos últimos séculos também. Sociedades com uma inteligência mais virada para a lógica de matriz matemática tiveram óbvias vantagens no desenvolvimento de tecnologias aplicadas.
Quando os europeus desembarcaram no continente americano, encontraram povos que não conheciam as armas de fogo: nada de arcabuz, nada de bacamarte, nada de bombarda, nada de armadura em metal. Não eram por isso sociedades mais pacíficas ou menos cruéis, pois o mito do "bom selvagem" não passa disso, um mito: Incas, Maias ou Astecas praticavam a guerra, tinham escravos, torturavam, matavam em sacrifícios rituais em nome dos Deuses. E nem eram mais tolerantes: entre os Astecas, por exemplo, a punição no caso da homossexualidade era a tortura, com o culpado ao qual eram rasgados os intestinos e o ânus, amarrado a um tronco, coberto de cinzas e por fim queimado (o que é um pouco politicamente incorrecto, admitimos).
Mas eram povos com uma visão da vida diferente, nos quais o papel e a finalidade do ser humano não eram os mesmos que era possível encontrar na sociedade ocidental; eram comunidades que tinham alcançado um equilíbrio diferente com o ambiente, onde a propriedade privada não estava no topo da tabela dos valores; na maior parte dos casos eram também povos que viviam em terras generosas, que ofereciam muito mais daquilo que era necessário para viver; nem podemos esquecer outros factores, como por exemplo a religião ou a competitividade entre indivíduos e classes sociais.
Todos estes são factores que constituem o ambiente no qual as pessoas se desenvolvem e que influenciam o desenvolvimento de inteligências diferenciadas. A sociedade ocidental, mais focada na vertente tecnico-científica, fruto duma inteligência mais "matemática" e se quisermos mais "pragmática", não teve grandes dificuldades em submeter povos que valorizavam princípios diferentes e o mesmo aconteceu na África como no Pacífico.
O verdadeiro Neo-colonialismo
Se a nossa actual sociedade não fosse tão hipócrita, provavelmente a questão dos diversos tipos de
inteligência com base nas etnias seria não apenas estudada com maior rigor, não apenas utilizada como chave para uma ré-leitura histórica mas também valorizada e até preservada. Porque só o encontro dos diversos pode gerar aquela energia que permite ao Homem de progredir: onde não há diversidade só pode haver nivelamento, o que gera mediocridade.
Na nossa sociedade só é permitida a diferença no sentido sexual (gender, homossexualidade, etc.) porque esta é funcional aos objectivos duma determinada elite. Falar das diversidades entre as raças obriga a vender as medalhas do Nobel.
Mas pior do que isso: o verdadeiro neo-colonialismo não está nas ocultas operações da Grande Finança internacional mas na tentativa de sufocar as inteligências nativas em nome daquela lógico-matemática ocidental. E é o neo-colonialismo de maior sucesso, ao ponto que nenhuma "informação alternativa" na internet fala do assunto.
É muito triste observar estas inteligências nativas absorver, lutar e morrer por conceitos que não são expressão da sociedade deles mas foram importados e, em última análises, impostos. Por exemplo: é absolutamente ridículo ver como um cidadão do Brasil hoje possa queixar-se das obras dos colonizadores ocidentais nos séculos passados enquanto brande e defende com os dentes os princípios do Comunismo, uma criação 100% ocidental, o do Liberalismo, outra criação tipicamente ocidental. E o mesmo acontece no resto do continente americano como no africano também. Este é o verdadeiro triunfo do colonialismo: não ter imposto o smartphone mas ter-se infiltrado na inteligência nativa, apagando as memórias anteriores, modificando-a até o ponto desta defender valores que não lhe são próprios.
O resultado é que na América do Sul glorifica-se a obra dum Chávez, campeão duma política ocidental (o Socialismo), enquanto demasiadas vezes a tendência é de pôr em segundo plano um Evo Morales que, ao menos, tenta mediar o passado indígena com a matriz socialista. A verdade é que não há na América do Sul, na África ou na Oceânia um líder ou um partido político que proponha um conceito político fruto inteiramente duma inteligência nativa.
O resultado? O tal nivelamento, mas desta vez em proporções globais: as sociedades em desenvolvimento hoje aspiram, todas e sem excepções, a ter um bem-estar ocidental, não algo que esteja ligado ao passado delas, às suas tradições, às suas inteligências. As novas potências, como China ou Índia (que até partiram de inteligências diferentes da ocidental), não fogem à regra. Mais uma vez: o verdadeiro triunfo do colonialismo.
O futuro? Depende. Os testes IQ demonstram como ainda existam inteligências diferentes. É preciso identifica-las, defende-las, valoriza-las, explora-las. É preciso criar sociedades que tenham como base aquelas características típicas dos seus povos. Como afirma Watson, tentámos introduzir na África os nossos mecanismos partindo da ideia de que a inteligência deles era igual à nossa. Não resultou, como é óbvio, e isso tem que ensinar algo.
Eu não sei quais possam ser as inteligências mais desenvolvidas entre os povos da África ou da América do Sul; o que sei é que elas existem e que a mera introdução de mecanismos ocidentais por si não pode funcionar, resultando no longo prazo apenas na criação de sociedades despersonalizadas (pálidas cópias das ocidentais), onde domina o mal-estar e onde o único objectivo é a ocidentalização total. Não são apenas a África, a América do Sul ou a Oceânia a precisar disso: é toda a humanidade que necessita destas diversidades, inclusive o Ocidente, para não tornar-se uma civilização com inteligências unidirecionais, monotemáticas e, portanto, mortas.
Ipse dixit.