Este 2018 será um ano importante em termos eleitorais: há uma série de datas significativas para o
destino da ordem geopolítica internacional.
Eis as principais.
- Primeiros meses do ano: Líbia
"Espero encontrar-me em breve com (o General Khalifa) Haftar e poder assegurar-lhe que a missão da ONU está a preparar o terreno para eleições livres e justas em 2018". Com estas palavras em ocasião da conferência de imprensa em Roma, o enviado especial da ONU para a Líbia, Ghassan Salamè, confirmou o programa (ou melhor, o desejo) de convocar eleições na Líbia nos primeiros meses de 2018. Após o Ocidente ter devastado o País, eis que chega o mais sagrado ritual da Democracia: as eleições. Obviamente tudo não passa dum desejo, porque o País ainda está mergulhado no caos.
- 4 de Fevereiro: Costa Rica
Costa Rica é famosa por ser um País sem forças armadas, mas também por ser uma das democracias mais antigas e sólidas da América Latina. O processo eleitoral deste ano é o 17º consecutivo desde que a Constituição de 1949 se encontra em vigor. Um record na região. De acordo com analistas, esta transição governamental também ocorrerá sem problemas. A economia e a luta contra o tráfico de drogas são os principais tópicos das agendas governamentais. O último relatório do Centro de Pesquisa e Estudos Políticos da Universidade da Costa Rica afirma que um em cada três eleitores ainda está indeciso. Juan Diego Castro, do Partido Nacional de Integração, aumentou de 15% para 18% as intenções de voto, enquanto Antonio Álvarez Desanti, do Partido da Libertação Nacional, caiu de 15% para 14% e Rodolfo Piza, do Partido da Unidade Social Cristã, de 11% para 13%.
Na Rússia, no próximo 18 de Março, será escolhido o novo chefe do Kremlin. O actual Presidente Vladimir Putin espera confirmar o quarto (e, de acordo com as leis vigentes, o último) mandato presidencial. Nas pesquisas, Putin é favorecido, mas não é o único candidato. Nas próximas semanas iremos conhecer quais os principais oponentes.
Embora nos regimes militares a palavra "eleições" tenha nuances muito diferentes do mesmo termo utilizado nos sistemas democráticos, os cubanos esperam poder mudar de Presidente no próximo dia 19 de Abril, com as eleições gerais e a nomeação de um novo chefe de Estado escolhido pelo Parlamento. A Assembleia Nacional cubana nomeará o Presidente no mesmo dia em que a invasão norte-americana da Bahia de Cochinos foi realizada em 1961. "Deixarei a presidência no mesmo dia em que derrotamos o imperialismo norte-americano" afirmou o Presidente Raúl Castro. Não há confirmações, mas provavelmente o sucessor do irmão de Fidel será o Vice-Presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, um engenheiro de informática de 57 anos que ganhou muita visibilidade na paisagem política cubana nos últimos anos.
O Paraguai também escolherá o novo Presidente numa única rodada em 22 de Abril. Serão eleições muito delicadas: o actual Presidente, Horacio Cartes do Partido Colorido, não se apresentará como candidato e é esperado o triunfo dos progressistas.
As eleições presidenciais na Colômbia estão agendadas para 27 de Maio. No governo, há uma coligação de moderados, liderada pelo Presidente Juan Manuel Santos, que segundo a últimas pesquisas não alcança 35% do consenso popular. Pouco. A aliança política de centro-esquerda está em ascensão com a candidatura do ex-prefeito de Medellín, Sergio Fajardo. O ex-Vice-Presidente Germán Vargas, candidato da coligação central e o senador de direita Iván Duque também estão na corrida. Nas últimas posições, sempre segundo as sondagens, fica o candidato Rodrigo Londoño, ex-chefe das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, que hoje tornou-se um partido político após o acordo de paz entre o governo e a guerrilha.
Os mexicanos terão que escolher o novo Presidente da República no dia 1 de Julho. O País vai enfrentar as eleições mais incertas e importantes da última década. O mais favorecido na corrida é o candidato de esquerda Andrés Manuel López Obrador: candidato pela terceira vez e actual governador do estado da Cidade do México, renunciou ao histórico Partido Revolucionário Democrático (PRD) para fundar o seu próprio partido: o Movimento Nacional de Regeneração (Morena). No México, como no Brasil e na Colômbia, o debate político é dominado pela ira dos eleitores contra a política tradicional: exigem mudanças e é por isso que é muito difícil prever quais os resultados.
Tudo está pronto para as eleições de 15 de Julho: aproximadamente 314 partidos (!!!) estão a aguardar a autorização da Comissão Eleitoral Paquistanesa, enquanto outros 38 partidos já tiveram luz verde. Entre estes últimos estão a Liga Muçulmana do Paquistão-Nawaz e as formações políticas da oposição: Partido Popular, Tehreek-e-Insaf, Movimento Muttahida Qaumi e Partido Nacional Awami. Neste processo eleitoral, o ex-Primeiro-Ministro Nawaz Sharif não poderá participar, pois foi forçado a demitir-se em Julho de 2017 depois de se envolver num escândalo de corrupção.
Também aqui, como no resto da Escandinávia, a extrema direita está a conquistar eleitores. O Partido Democrata Sueco (SD) é cada vez mais anti-imigrantes, enquanto o consenso para o movimento neonazista Nordiska Motståndsrörelsen (NRM) está a crescer nas sondagens. O cenário eleitoral, portanto, será marcado por manifestações e reformas na assistência social para combater a vaga migratória. Hoje os social-democratas estão no governo e, de acordo com as últimas pesquisas, o Primeiro-Ministro Stefan Lofven poderá ser reeleito. O candidato do SD, Jimmie Åkesson, está em terceiro lugar. No segundo há o candidato do Partido da Coligação Moderada, Anna Kinberg Batra. A possibilidade de uma aliança entre moderados e SD está na mesa; seria uma verdadeira novidade na Suécia.
Após os escândalos de corrupção da empresa Odebrecht, no Brasil há uma renovação de todo o executivo. No próximo 7 de O serão eleitos o Presidente, o Vice-Presidente, o Congresso e os Governadores. A segunda rodada está agendada para o dia 28 de Outubro. O ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda lidera as pesquisas com 35% dos votos, de acordo com as últimas pesquisas da Datafolha; mas só no dia 24 de Janeiro será possível saber se Lula é efetivamente candidato, pois já foi condenado a nove anos e meio de prisão por corrupção na Operação Lava Jato. Em segundo lugar, o candidato de direita, Jair Bolsonaro, com 17%. Difícil fazer previsões: os deputados e os membros do Partido dos Trabalhadores afirmam que Lula será o candidato, mas há dúvida quanto a efectiva capacidade: todas as principais figuras do Partido dos Trabalhadores estão na prisão. Nesse cenário, o Partido Social Democrata Brasileiro e o respectivo candidato, Geraldo Alckmin, têm a estrutura para vencer. Mas tudo está ainda me aberto.
Também aqui difícil as previsões: na verdade, nem as eleições estão certas. O Presidente Nicolás Maduro não quer deixar o poder e mesmo que a consulta eleitoral esteja para o próximo Dezembro, não há certeza e que vão ocorrer. Poderia acontecer como nas eleições regionais, adiadas pelo governo. Há uma tese que afirma que Maduro é o favorito das eleições, mesmo que hoje 68% da população não aprove o seu trabalho. Até hoje, a oposição venezuelana ainda não tem um único candidato.
Ainda não há datas fixas, mas em 2018 também haverá eleições nos Camarões, na República Democrática do Congo, no Madagascar, no Zimbabwe, na Armênia, no Azerbaijão, na Geórgia, na Malásia, na Camboja e no Butão (esta última será a mais seguida pelo blog, como é óbvio).
Aquela que parece ser a tendência comum: um profundo descontentamento do eleitorado em relação à política e aos partidos tradicionais.
Ipse dixit.