GCHQ, espionagem do Reino Unido |
As acusações mediáticas do juiz Andrew Napolitano contra o GCHQ, que teria espiado o então Presidente eleito não fazem sentido. São absolutamente ridículas e devem ser ignoradas.
- Os serviços secretos existem para praticar também a obra de espionagem. Um serviço secreto sem espionagem poderia limitar-se a ler os diários e pouco mais. E o GCHQ trata mesmo disso: espionagem.
- Dados históricos demonstram como a prática da espiar os aliados e os relativos cidadãos é prática comum.
- Existem muitas leis nacionais que impedem que um serviço secreto possa espiar os seus concidadãos: recorrer aos serviços dum outro País é um truque que permite "evitar" tais leis.
NSA, espionagem dos EUA |
espiados por uma agência do Canada: Margaret Thatcher usou a rede de vigilância mundial para controlar dois membros do seu gabinete, porque não acreditava que eles fossem leais. O ex-agente do Canadian Communications Security Establishment, Mike Frost, confirmou que cinco Países (EUA, Canada, Reino Unido, Austrália e Nova Zelândia) contornam as leis nacionais contra a espionagem dos cidadãos pedindo que os outros membros da aliança façam isso.
No caso inglês, um dos ministros era Francis Pym, um conservador moderado que, ironicamente, era o chefe do GCHQ e do MI6. Mas exemplos não faltam ao longo das décadas.
Nos anos '60, quando o Presidente francês Charles de Gaulle fez causa comum com o movimento de independência do Quebec, a agências canadiana SIGINT pediu aos noruegueses, dinamarqueses e suecos para monitorizar as comunicações entre Paris e o Premier do Quebec, Rene Levesque, e o seu movimento separatista movimento Parti Quebecois.
No início dos anos '70, NSA e GCHQ relataram que tinham colaborado com escutas telefónicas ilegais das comunicações feitas pelo vocalista dos Beatles John Lennon.
Nos anos '80, os canadianos foram utilizados pela norte-americana NSA para realizar a vigilância ilegal de cidadãos norte-americanos que acreditava-se trabalhassem para os soviéticos. A agência canadiana espionou o telefone do carro do Embaixador dos Estados Unidos em Ottawa, com os oficiais da NSA plenamente conscientes disso.
CSCI, espionagem do Canada |
No final dos anos '90, dispositivos de espionagem da NSA foram descobertos no router do correio electrónico do Parlamento Europeu em Bruxelas. Entre os e-mails interceptados havia também aqueles dos deputados britânicos.
Em 2007, o Departamento da Defesa, que supervisiona a NSA, confirmou que a mesma NSA tinah descarregado as conversas da Princesa Diana (até 1997, data da sua morte), mas insistiu em dizer que isso era apenas parte duma operação de segurança com outros objetivos. Na verdade, a lei inglesa proibiu que o GCHQ monitorizasse Diana, pelo que o trabalho foi delegado aos agentes da norte-americana NSA.
Em 2015, o então Primeiro-ministro da Nova Zelândia, John Key, foi vigiado pelo Australian Signals Directorate (ASD) em Canberra (Austrália). As transcrições não foram transmitidas apenas ao governo australiano, mas também à NSA (EUA) e ao Government Communications Security Bureau (GCSB) da Nova Zelândia. A espionagem australiana visava estabelecer qual a real posição nas negociações com a Pharmac (a agência governamental para a compra de medicamentos) e no acordo comercial Trans Pacific Partnership (TPP). Em Dezembro de 2016, Key renunciou abruptamente ao cargo por "razões pessoais". E sempre no âmbito do TTP, a ASD vigiou o escritório de advocacia de Chicago Mayer Brown, em nome da NSA, que em 2013 representou o governo da Indonésia nas negociações comerciais com os Estados Unidos.
ASIO, espionagem da Austrália |
A directiva afirma:
O acordo (UKUSA 1946) passou a incluir o entendimento comum de que ambos os governos não supervisionem cidadãos e pessoas da contraparte. No entanto, se for de interesse de toda a nação, reserva-se o direito de realizar acções unilaterais COMINT (inteligência de comunicações) contra cidadãos e pessoas da contraparte. [...] Em algumas circunstâncias, pode ser aconselhável e autorizado supervisionar unilateralmente pessoas e sistemas de comunicação de segundas partes, se no melhor interesse dos Estados Unidos e se necessário para a segurança nacional dos Estados Unidos. [...] Há circunstâncias em que vigiar pessoas e sistemas de comunicação de segundas partes, com o pleno conhecimento e cooperação duma ou mais segundas parte, é permitido se no melhor interesse de ambas as nações. Esta vigilância deve corresponder às orientações estabelecidas na presente directiva.
O acordo funcionou já em 2009, no summit G20 de Londres. Os membros das delegações de Canadá, EUA e Austrália tiveram telefones, e-mail e celulares interceptados pelo CSEC (Communications Security Establishment Canada, a agência governamental de criptografia), que realizou as operações em solo inglês. Um documento classificado Top Secret Strap 1 indica que as interceptações foram conduzidas pelo canadiano CSEC em nome do inglês GCHQ:
para garantir que a inteligência relevante de HMG (Sua Majestade) desse ao governo os resultados desejados com a sua presidência do G20, alcançando os convidados no momento certo e na forma que permita a plena utilização.
GCSB, espionagem da Nova Zelândia |
Mas o acordo original é bem mais antigo: conhecido antes como BRUSA, assinado pelas agências de espionagem de EUA e Reino Unido em 1943, com o tempo foi ampliado até passar a ter o nome de UKUSA, que comprende também Canada, Austrália e Nova Zelândia.
Voltando ao assunto Trump: pouco importa se o GCHQ desmente publicamente a ideia de estar envolvida numa espionagem política. Aliás, paradoxalmente isso faz pensar que tenha sido apanhado em flagrante e que tente afastar as suspeitas, pois existem um histórico que bem demonstra a prática de mútua espionagem e um acordo entre EUA e Reino Unido no sentido da cooperação no mesmo sentido. É o mesmo acordo que irá explorar o Presidente Trump.
Ipse dixit.
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Fontes: Edward Snowden - Top Secret Strap 1 Comint, BBC News: Thathcer spied on ministers, History Commons, The Guardian (1 ,2 e 3), CBC News, The New York Times, Strategic Culture