É Nobel da Paz... |
As outras? Ora, não é problema nosso, podem bem desenrascar-se.
Lembram-se do Mali? Os Tuareg, os rebeldes de Al-Qaeda, as conexões com a Líbia? Tudo desaparecido. E já do Mali, bem ou mal, algo foi dito. Em outros casos o silêncio é total.
Pegamos no Myanmar. Não tem um nome simpático, faz lembrar uma pizzeria perto da praia, Birmânia era bem melhor. Mas não é uma boa razão para ignora-lo completamente.
No primeiros dias deste mês, no Myanmar houve o 25º Congresso da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) na capital do País, Naypyidaw (mas como escolhem os nomes aí?), onde era possível tirar uma fotografia ao lado do simpático Obama em camisa de seda.
Ao mesmo tempo, sempre em Naypyidaw, teve lugar o 6º Encontro entre ASEAN e ONU, pois as Nações Unidas estão prontas para trabalhar com a Associação das Nações do Sudeste Asiático para fortalecer a capacidade nacional de proteger os direitos humanos, a justiça e promover a responsabilidade na região, como afirmou o Secretário-Geral Ban Ki-moon.
Num discurso anterior, o Secretário-Geral das Nações Unidas havia elogiado as medidas tomadas pelo governo do Myanmar na promoção democrática no País. Já isso deveria ter provocado alguma preocupação e, de facto, nestes dias Ban Ki-moon teve que fazer marcha atrás, pedindo maior protecção para as minorias étnicas no País.
Eis o último Ban Ki-moon pensamento:
Eu encorajou os líderes do Myanmar a respeitar os direitos humanos, a tomar uma posição forte para garantir o acesso humanitário aos Rohingya que vivem num situação de vulnerabilidade.
Ele não é Nobel da Paz. |
Várias as organizações humanitárias internacionais e a mesma ONU fizeram soar o alarme, afirmando que a história da perseguição em Myanmar poderá ser considerada como um crime contra a humanidade; declarações seguidas alguns tempos atrás pela evacuação de centenas de trabalhadores humanitários internacionais da região de Rakhine, que é o lar de quase todos os Rohingya do País, dezenas de milhares dos quais vivem em campos de refugiados sobra-lotados.
O êxodo dos operadores agravou uma situação de saúde já desastrosa para centenas de milhares de pessoas dependentes da assistência médica internacional: 140 mil estão fechados nos campos, mais de 700 mil ficam em aldeias isoladas, sem contactos com o resto do mundo.
Quem pode, tenta fugir e o destino mais procurado é a Tailândia. Só que a Tailândia nem pensa de acolher estes desgraçados e manda para trás os barcos de refugiados que consegue interceptar. Os que mesmo assim alcançam o País são presos. Segundo as estimativas, só em Outubro 10 mil Rohingya fugiram do Myanmar.
Entretanto, para os Rohingya que ficam a situação não é nada alegre: sempre em Outubro, as forças de segurança do Myanmar prenderam mais de uma centena de Rohingya na cidade de Maungdaw; dos presos, pelo menos 60 pessoas foram sumariamente executadas, enquanto o destino do outro provoca séria preocupação.
O governo do Presidente Thein Sein está a forçar os Rohingya a aceitar o Bengali como nacionalidade, a fim de torná-los imigrantes ilegais do Bangladesh e puder legalmente expulsa-los. As autoridades continuam a incitar a violência contra a minoria e a participação em todas as actividades de genocídio contra os Rohingya é implícito.
Os Rohingya do Myanmar, cerca de um milhão e 300 mil, têm pouco ou nenhum acesso ao emprego, escolas ou cuidados de saúde: não apenas representam uma das comunidades mais perseguidas no mundo, mas estão em risco de extinção.
Azar. Queimassem as cultivações de ópio do norte do País ou atacassem as refinarias da Myanma Oil and Gas Enterprise (partner de Total e Chevron) talvez merecessem um pouco de atenção. Assim, pelo contrário: não é problema nosso, podem bem desenrascar-se.
Ipse dixit.
Fonte: Il Faro sul Mondo