- Tomamos o ataque de 11 de Setembro de 2001, - diz Leo enquanto a meseta espanhola corre pelas janelas do carro. - Tu sabes que a versão oficial apresenta falhas, a Comissão de inquérito foi obrigada a ignorar a demolição dum inteiro prédio, o nº 7, porque não havia (e ainda não há) maneira de enquadra-la na reconstrução oficial. Sabes disso, não sabes?
- Sim, sei...
- Seja como for, e independentemente de quem foram os verdadeiros responsáveis (partindo do princípio que não foram os terroristas, que nem sabiam pilotar), temos que admitir: foi uma operação bem planeada e bem executada. Horrível e desumana, mas bem executada. Sobretudo, foi uma operação que atingiu em cheio os objectivos: após o 9/11 o mundo não foi mais o mesmo. Isso porque havia um plano, havia um projecto abrangente que ia muito além do atentado em si: havia um grupo de indivíduos que tinham uma ideia (má ou boa, isso agora não interessa), que puseram as pessoas certas no lugar certo, com um timing que foi respeitado.
- Onde aprendeste a palavra "timing"?
- Sigo Brain Storm, o concurso da RTP 1.
- Ah, ok.
- Bom, dizia: e tudo isso com um Presidente que de certeza não podia ser definido como "uma pessoa particularmente inteligente". Porque, dito entre nós, Bush estava ao mesmo nível dum chiuhauha.
- Sem dúvida, Leo.
- Ora bem: hoje é diferente. A mentira ainda constitui a base das acções, o Presidente ainda é um imbecil, mas algo mudou. O caso Skripal é sintomático: a reacção histérica do governo britânico, a incapacidade de apresentar a mais pequena prova, a resposta visivelmente exagerada, as ameaças vazias, os insultos. Pareciam caniches.
- Agora são caniches?
- São. Muito parecidos mesmo.
- Ok...
- Tudo isso realça uma certa pressa, a falta dum profundo e pormenorizado planeamento. Não há um autêntico "profissionalismo da mentira" nesta história, há uma atitude amadora, que procura encontrar um pretexto sem preocupar-se em demasia para convencer as massas. Pelo contrário, a ideia parece ser um básico "grita mais forte e acreditarão".
- Como é?
- "Grita mais forte e acreditarão".
- Quem?
- As massas, vocês.
- Ah, justo.
- Os órgãos de informação ficaram arrastados neste vórtice do sem sentido, tomando como ouro as acusações dos líderes, assumindo que quanto dito era a pura verdade e ponto final. Achas normal?
- Acho. É o que costumam fazer.
- Mas a honra, o amor pela profissão, pela verdade, por eles como seres humanos...
- Leo, o que conta é segurar o ordenado no final do mês, o resto é acessório.
- Mas isso é mau. Um cão nunca abdicaria da sua caninidade em troca de dinheiro.
- Ninguém está a oferecer-vos dinheiro.
- Este é um pormenor. Mas em frente. O mesmo aconteceu no mais recente alegado ataque químico na Síria, aquele que desencadeou a resposta militar de Estados Unidos e aliados. As únicas "provas" apresentadas ao público foram dois penosos vídeos que poderiam ter sido realizados em qualquer localidade do Médio Oriente ou noutra parte do mundo ainda, com vítimas que nem apresentavam os clássicos sintomas de envenenamento por gás. Expliquei-te quais são estes sintomas?
- Sim, obrigado, já explicaste.
- Muito bem. Eram figurantes, nada mais, que outros figurantes tratavam com bombas contra o asma enquanto alguém gritava ou limpava o chão com uma esfregona.
- Olha que há uma outra teoria.
- Aquela das Urgências nas quais entraram os capacetes brancos gritanto de que aquelas pessoas aí eram as vítimas? Li no New Dogs Times.
- Não existe um diário assim.
- Claro que existe, deverias ir mais vezes na internet profunda meu amigo. Mas tenta entender isso: é a mesma coisa, aquelas pessoas não eram as vítimas dum ataque de gás, os médicos não encontraram nada disso.
- Pelo que, dizes tu, falso ou não falso...
- Ohhhhh, aqui queria chegar: autêntico ou falsificado é relativo pois aí não havia vítimas de gás de qualquer forma. E um ataque militar baseado em algo assim não passa dum absurdo: mas foi aquela a "prova rainha", o melhor que foi conseguido. Depois foi toda uma procissão de "temos as provas", dia após dia, sem que as ditas fossem mostradas. E ainda não foram: já todos percebem que não existem. "Grita mais forte e acreditarão".
- Leo, queres um café?
- Não. Dizia: depois as mais recentes declarações são ainda mais preocupantes; de repente a Rússia passa de aliado das Forças do Mal (Assad) para cúmplice. Inútil pedir provas, não virão. Mas isso "justifica" novas sanções, entendes?
- Entendo. Mas Leo, eu tenho que fazer xixi. Nada de cafè?
- Há árvores naquela estação de serviço?
- Não as vejo...
- Então não interessa, em frente. E a cereja no topo do bolo: o Presidente da França afirma ter conseguido convencer o homólogo Trump a empenhar-se mais no conflito sírio, sendo que poucas horas depois o mesmo Trump confirma a vontade de desempenhar-se da questão síria. Não há um plano.
- Leo, eu não faço xixi contra as árvores.
- Mas eu sim. Não ser egoísta. Um espectáculo de improvisação que frisa a hora mais sombria na qual o Ocidente está a afundar: uma civilização por vezes gloriosa que parece ter as ideias cada vez mais confusas, que troca a realidade pelo cinema, que soma erro atrás de erro porque para cobrir as mentiras são precisas mentiras cada vez maior. O resultado é que o mundo está inexoravelmente a fugir-lhe das mãos; porque o verdadeiro mundo não funciona como eles pensam e a realidade, mais cedo ou mais tarde, começa a aproximar-se.
- Leo, a minha bexiga está a explodir...
- Resisti, sê homem. Pois nenhum império construído sobre uma montanha de mentiras pode permanecer forte para sempre: todos os impérios colapsam, é apenas uma questão de tempo. E há sinais quando o tempo se aproxima. É possível começar a sentir os sinais daquelas que serão as "novas realidades"? Das mentiras que já alcançam o ponto de ebulição? É possível ver os excessos de confiança e, com estes, a negligencia em alguns "detalhes"? Mas o que fazes? Vais parar? Não tínhamos dito que era a próxima estação?
- Tu tinhas dito, não eu.
- Mas está frio aqui!
- Aguenta-te, sê Homem!
- ...aguenta-te sê homem...estúpido dono que tenho...
Ipse dixit.
(Para não aborrecer sobremaneira o Leitor e dado que nesse preciso momento Leonardo e eu já estaremos em viagem, estas profundas reflexões caninas vão ser divididas em duas partes. Ámen).
Max
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