Quem controla este mercado? Inútil esperar num milagre, controladores e controlados são as mesmas pessoas: JP Morgan, HSBC, ScotiaMocatta, Barclays, UBS e Deutsche Bank.
Provavelmente actuam em nome da Federal Reserve, com a intenção de manter sistematicamente baixo o preço do ouro para proteger a moeda americana.
Como funciona? Parece complicado, mas não é.
Praticamente todas as apostas feitas no mercado dos produtos derivativos (os futures) são pagas em moeda corrente e não em ouro (papel em vez que metal). Assim, o pagamento em dinheiro destes contratos "desloca" o lugar onde é determinado o preço do metal do físico para o monetário: o valor do ouro é determinado de forma indirecta, através da moeda. É o terreno perfeito para poder manipular de forma indiscriminada.
A Fed, por exemplo, depois de anunciar o fim do Quantitative Easing (isso é: já não irá imprimir notas para apoiar o preço das obrigações), mandou os bancos reduzir o preço do ouro com novas vendas naked (literalmente: nuas, descobertas, sem um real contra-valor).
Funciona assim: enormes quantidades de contratos a prazo naked (que são só papel, nada mais do que isso), são imprimidas e atiradas todas duma vez no mercado dos derivativos na altura em que este mercado tende a subir.
Ao aumentar o fornecimento de contratos derivativos (que teoricamente são um valor, mas que na verdade são naked, descobertos), os preços dos mesmos derivativos baixa (é a lei da procura e da oferta: quanto mais um artigo estiver disponível, tanto menor será o seu preço). E dado que é o preço dos derivativos que determina o preço do ouro, este baixa também.
Muito simples.
É o mesmo que acontece no Japão, onde o preço do ouro foi reduzido para compensar o efeito do programa Quantitative Easing de Tóquio. Objectivo: evitar que o ouro represente um porto seguro em detrimento da especulação financeira.
O anúncio do Japão, que quer criar dinheiro indefinidamente, deveria ter conduzido a um aumento do preço do ouro e a uma queda do valor da moeda. Muita moeda disponível significa que a moeda tem menos valor (é sempre a mesma lei: procura e oferta): então, para evitar problemas neste sentido, às 3 da manhã eis que o mercado electrónico dos futures (o Globex) foi atingido por uma súbita venda de 25 toneladas de contratos, todos rigorosamente descobertos, que empurraram para baixo o preço do ouro.
Resultado: o preço do ouro estabilizou-se, mas ainda teimava em apresentar uma leve tendência para subir. Então, eis que 20 minutos antes da abertura dos mercados de New York, chegam outras 38 toneladas de futures e o preço do metal, finalmente, desce.
Agora, pensamos nisso: os contractos futures são um capital, virtual mas sempre um capital, com
tanto de contrato assinado e carimbado. São uma riqueza. Quem iria livrar-se em poucas horas de 63 toneladas de contratos, isso é, de riqueza? Não um vendedor qualquer, honesto, como é óbvio: ninguém atira pela janela fora tanta riqueza duma vez só.
Estas manipulações criam uma situação "estranha": um baixo preço do ouro é uma vantagem para quem deseje adquirir o precioso metal, como é óbvio. E quem são os maiores compradores de ouro nesta altura? China, Rússia e Índia.
Pelo que: as prateleiras dos Estados Unidos esvaziam-se de ouro enquanto os compradores asiáticos agradecem. Podemos pensar num acaso, sem dúvida, ou podemos imaginar as consequências no longo prazo e vislumbrar um desenho mais amplo, como a ideia de mover definitivamente o centro do mundo para outro lugar...
Mas por enquanto voltemos aos Estados Unidos.
Estas manobras têm um custo pesadíssimo do ponto de vista americano: verdade, o Dólar mantém o seu valor, tal como a dívida emitida, mas o País fica mais pobre, pois substitui ouro verdadeiro com "ouro de papel". Isso é, com nada.
Comentam os economistas Paul Craig Roberts e Dave Kranzler:
Tal situação deveria despertar o interesse dos economistas, dos meios financeiros, das autoridades financeiras e das comissões do Congresso. Onde estão as class actions das empresas de mineração de ouro contra a Federal Reserve, e contra os bancos que guardam os lingotes, e contra todos aqueles que estão a prejudicar os interesses das empresas de mineração com contratos de venda naked?
A manipulação dos mercados, especialmente com base em informação privilegiada, é ilegal e altamente antitética. A venda a descoberto - naked - está a causar danos aos interesses das minas. Uma vez que o preço do ouro será trazido para baixo dos 200 Dólares/onça, muitas minas tornar-se-iam economicamente não inviáveis. Vão ter que fechar. Os mineiros vão ficar desempregados. Os accionistas vão perder dinheiro. Como é possível continuar a manter um preço a este nível, obviamente manipulado, e continuar a manipulá-lo?
O sistema político e financeiro dos Estados Unidos foi engolido por um sistema de corrupção e crime. A política da Federal Reserve, manipular os preços dos Títulos e do ouro para dar liquidez à especulação do mercado financeiro, tem prejudicado a economia e dezenas de milhões de cidadãos norte-americanos, apenas para proteger os quatro mega-bancos com os seus erros e os seus crimes. Este uso privado de política pública é sem precedentes na história.
Continuam Roberts e Kranzler:
A construção deste castelo de cartas é uma prova da cumplicidade dos economistas, da incompetência dos meios financeiros e da corrupção das autoridades públicas e das instituições privadas. Os chefes de um punhado de mega-bancos responsáveis por este problema são as mesmas pessoas que se sentam no Tesouro dos Estados Unidos, na Fed de New York e nas agências que controlam as finanças dos Estados Unidos. Eles usam o seu poder de controle sobre a política pública para proteger-se e proteger os seus negócios.
No silêncio geral, ninguém avisa que preço do ouro, da prata, das acções, das obrigações emitidas nos Estados Unidos já não têm qualquer relação com a realidade económica do País. A incompatibilidade entre os mercados e a realidade parece não perturbar os políticos e nem os economistas.
Mas num mundo interligado como o nossos, este não pode ser considerado como um problema
apenas dos Estados Unidos: porque é graça à cumplicidade dos outros Países também, das outras Bolsas que o jogo pode continuar. Então será o caso de não chorar demais sobre o destino dos contribuintes americanos e começar a perguntar quais as consequências para nós, para todos nós.
Porque o castelo de papel é alimentado com o dinheiro de todos: ou achamos mesmo que a conta seja toda para quem vive nos Estados Unidos?
Entretanto, a China tornou-se o maior detentor de reservas de ouro do planeta, uma posição que pertencia aos EUA desde o fim da Segunda Guerra Mundial.
Podemos pensar que tenha sido uma inevitável consequência da louca política financeira de Washington. Esta, pelo menos, é a versão simples, aquela que todos entendem e que um dia será vendida ao público.
Depois podemos puxar um pouco pelos neurónios e perguntar: mas de verdade ninguém conseguiu 1) prever e 2) alterar esta tendência ao longo do tempo? Cedo ou tarde, a Finança irá tropeçar num obstáculo demasiado grande e o castelo de papel ruirá, com um estrondo nada mal. Não é algo escrito nas estrelas, é uma simples questão de estatística: acontece.
Na altura, teremos uma fuga do papel e uma corrida para a verdadeira riqueza, aquela feita de metal lúcido e amarelo. Uma corrida na qual a China será ao mesmo tempo:
- detentora da maior reserva mundial de ouro
- sede de um número infinito de empresas, algumas locais, outras filiais ocidentais
- o País com uma excepcional capacidade exportadora
- um País com uma mão de obra particularmente abundante e barata
E nós ainda estamos aqui a olhar para o nosso umbigo e imaginar a NWO de Washington...
Ipse dixit.
Fontes: Information Clearing House, Investment Research Dynamics, Gold Money