700, talvez 800 mortos. Ou até mais.
Quem poderia ter imaginado?
Todos.
Franco Frattini, Ministro dos Negócios Estrangeiros do Governo Berlusconi entre 2002 e 2004 e entre 2008 e 2011. Entrevista ao Financial Times de 17.02.2011:
O caos na Líbia e o regresso do radicalismo islâmico implicará ondas sem precedentes de refugiados em desespero, que irão gerar mais terrorismo e mais radicalismo, com os criminosos que os exploram.
Nós podemos amenizar este desastre com três pilares: verdadeira assistência económica para esses países, política de fraternidade e de inclusão social.
Na prática, o que isso significa? Sobretudo um plano de ajuda para criar ocupação nesses países. Escusado será dizer que peço o aumento do orçamento da União Europeia para os recursos necessários para o plano de emprego.
A nossa parceria com os países da África do Norte deve incluir: projectos de desenvolvimento marítimo, rodoviário, planos de energias renováveis, ajudas no desenvolvimento das pequenas e médias empresas, bem como a criação de um grande projecto de ensino superior Euro-Mediterrâneo.
Mas também devemos ir muito mais longe: falo dum verdadeiro Plano Marshall, patrocinado pela União Europeia, o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial e as grandes potências económicas. Este Plano Marshall, além do emprego, deve trazer estabilidade nesses países e deve ser da ordem de bilhões de Euro, nem menos. Aqui a cooperação dos EUA é vital, porque temos de abolir as barreiras aduaneiras que se interpõem no caminho para o desenvolvimento do sul do Mediterrâneo.
Isso levaria a um real princípio da igualdade na parceria entre a UE e a África do Norte. Mesmo as políticas de segurança devem ser desenvolvidas em conjunto, para que as nações da África do Norte se tornem produtores de estabilidade.
Volto a enfatizar a extrema importância da ajuda ao ensino superior para os jovens africanos. Não só isso ajuda a impedir a radicalização política e religiosa causada pela pobreza, mas deve ser realizada através dum enorme programa Erasmus euro-mediterrânico que ofereça esperança aos jovens desfavorecidos da África do Norte.
Certamente, esta minha proposta não esquece de pedir aos países acima mencionados para melhorar a sua governação, para respeitar a legalidade internacional dos direitos, dos direitos das mulheres, dos indivíduos e das minorias.
Na altura, Frattini reiterou várias vezes a ideia dum plano especial para o desenvolvimento dos Países da África do Norte. A resposta chegou um mês mais tarde. Matthiew Newman, porta-voz da Comissão Europeia, no dia 30.03.2011:
O que temos visto até agora é que as pessoas que chegam na Itália a partir da Tunísia são migrantes principalmente por motivos económicos, pelo que as autoridades italianas estão a lidar com isso e são responsáveis.
Não há uma política da imigração, nem é desejo implementa-la.
Tal como os Estados Unidos não tencionam travar a imigração ilegal do México, a Europa não adoptará nenhum plano para o desenvolvimento dos Países da África do Norte ou outras medidas que possam impedir a maciça vaga migratória.
Não há nenhuma surpresa, nenhum "acidente": a União Europeia fecha voluntariamente os olhos perante o novo comércio de escravos. É directamente responsável pela morte daqueles e dos próximos desgraçados que irão morrer nas águas do Mediterrâneo.
Ipse dixit.
Fontes: Il Giornale, ADN Kronos, Ministero degli Affari Esteri e della Cooperazione Internazionale, Diario Italiano, ASI