naturais que o planeta é capaz de renovar num ano, segundo a organização não-governamental Global Footprint Network (GFN).
A partir daí, começámos a "viver acima das nossas possibilidades". Uma espécie de "sobrecarga da Terra", que este ano inicia quatro dias antes do que sucedeu no ano passado, segundo os cálculos da organização ambientalista. Que também alerta para o aumento constante e "insustentável" do ritmo do consumo de recursos naturais pela humanidade.
Em 1970, o "dia da sobrecarga" foi marcado a 23 de Dezembro e, desde então, a data não parou de ser assinalada mais cedo: 3 de Novembro em 1980, 13 de Outubro em 1990, 4 de Outubro em 2000, 3 de Setembro em 2005 e 28 de Agosto em 2010.
Afirma o GFN:
"Foram precisos menos de oito meses para a humanidade consumir todos os recursos naturais renováveis que a Terra pode produzir num ano", uma clara indicação de que "o processo de esgotamento dos recursos naturais está a acelerar".
A nossa sociedade é construída para queimar recursos, de forma continua, sem possibilidade de abrandar. Quando a "queima" abranda, fala-se em crise económica, lamenta-se a falta de crescimento, choram-se os bons velhos tempos em que o PIB aumentava de dois dígitos por ano. E nestas alturas, o WWF fica calado que nem um rato em vez que declarar-se satisfeito (perdendo assim os financiamentos) com a diminuição da "pegada ecológica".
Diz Cannet:
Estamos à beira de um precipício.Estamos sempre à beira dum precipício: se a produção crescer, os recursos naturais esgotam-se mais rapidamente; se estarmos a estagnar, é o Armageddon económico. Não existe um ponto de equilíbrio, nem pode existir: estamos condenados (?) a viver nesta eterna bipolaridade.
Ehi! E o aquecimento global?
Segundo a Global Footprint Network, precisaríamos de 1,6 planetas para saciar o consumo de
recursos atual.
Depois a mesma organização ambientalista calcula que se as emissões globais de CO2 não diminuírem, em 2030 a data será 28 de Junho.
Pelo contrário, "se reduzirmos as emissões de CO2 em 30%" do seu nível atual, o "dia da sobrecarga da Terra" deverá recuar até 16 de Setembro, porque as emissões de CO2 são um bom indicador dos níveis de produção.
Não sei se repararam, mas esta última afirmação, que é o cerne do WWF-pensamento, é um disparate. Um automóvel Euro 6 emite menos CO2 do que um idêntico modelo Euro 5: mas a redução não necessariamente é obtida à custa dos consumos ou do volume de produção (eis onde fica parte da verdadeira pegada ecológica). Muitas vezes é o melhoramento do tratamento dos gases de escape que permite anunciar a diminuição da emissão de CO2: mas a "pegada" do carro em si (o mantra "trabalhas-compras-morres") fica na mesma.
Da mesma forma, a adopção de filtros mais eficientes nas industrias pode permitir o controle do volume de CO2 atirado para atmosfera, mas não resolve o problema que está na base: a necessidade absoluta de produzir, cada vez mais, para alcançar o Santo Graal do crescimento.
Tudo isso sem falar do vergonhoso mercado das emissões.
Ok, vamos esquecer o mercado... mas não falta algo? Porque CO2 significa...
Reduzir as emissões de carbono contribuirá não só para abrandar o aquecimento globalClaro, tinha que ser: eis o dogma do aquecimento global. O terror de grandes e pequeninos.
Preocupados? Não, fiquem descansados porque o Le Monde anuncia: em Dezembro, realizar-se-á uma conferência mundial sobre as alterações climáticas. Basta que os 195 Países que vão participar cheguem a acordo para a redução de 30% das emissões de CO2 para que, em 2030, a humanidade consiga viver das reservas da Terra só a partir de Setembro.
Tão simples assim? Com certeza: esqueçam os oceanos invadidos por plásticos, espécies em extinção, ar cancerígeno nas cidades, veneno na comida, rios e lagos biologicamente mortos, plantas e animais geneticamente manipulados, desflorestação, monoculturas, fracking, avalanches de cimento... sim, são todas chatices, mas uma vez reduzidas as emissões de CO2 e derrotado o aquecimento global, tudo voltará a sorrir.
Explica o vice-presidente da Global Footprint, Sebastian Winkler:
As próximas negociações serão cruciais para reduzir a pegada ambiental. Porque a responsabilidade primária do seu aumento é a nossa emissão de carbono.Sim, leram bem: é toda culpa do carbono. Não é a nossa sociedade que está mal, construída de forma a destruir sistematicamente o ambiente para a obtenção de recursos: o problema são as emissões do carbono. Eis o gráfico, tanto para eliminar qualquer dúvida:
Visto? É só um problema de carbono.
E de quem escreve as piadas destes grupos pseudo-ambientalistas.
Ipse dixit.
Fontes: Expresso, Sol, Green Savers, Le Monde