Os resultados foram publicados na revista Science com o título On being sane in insane places ("Sobre estar são em lugares insanos", ver links nas fontes).
O estudo de Rosenhan era dividido em duas partes.
Na primeira Rosenhan utilizou voluntários sãos, definidos como "pseudopacientes", os quais simularam alucinações sonoras numa tentativa de obter a admissão em doze hospitais psiquiátricos de cinco Estados dos EUA; a segunda parte consistiu em pedir às instituições psiquiátricas que tentassem detectar os "pseudopacientes".
O estudo é considerado como uma importante crítica ao diagnóstico psiquiátrico.
Primeira fase
Rosenhan, três psicólogos, um pediatra, um psiquiatra, um pintor e uma dona de casa (sendo cinco homens e três mulheres) foram os voluntários: nenhum deles tinha problemas mentais e possuíam uma vida bem estabelecida e equilibrada.
Os pseudopacientes foram visitados em doze hospitais diferentes no território dos Estados Unidos, incluindo hospitais públicos degradados e subfinanciados em áreas rurais, hospitais universitários urbanos com excelente reputação e também um caro hospital privado. O único sintoma que podiam apontar era o facto de ouvir vozes, não muito claras, que falavam de "vazio", "oco" e "estouros". Essas palavras foram escolhidas porque sugerem vagamente algum tipo de crise existencial e pela falta de qualquer literatura publicada que os referencie como sendo sintomas psicóticos. Nenhum outro sintoma psiquiátrico foi reivindicado.
David Rosenhan |
bem e que já não ouviam vozes. Os registros hospitalares obtidos após o experimento indicam que todos os pseudopatientes foram caracterizados como "amigáveis" e "cooperativos" por parte dos funcionários. Todos os outros pormenores biográficos (excluídos os trabalhos dos médicos) eram autênticos.
Imediatamente depois do internamento, os pseudopacientes cessaram de simular qualquer sintoma, apesar de alguns ficarem um pouco nervosos por acharem que iriam ser internados ou por medo que a simulação fosse descoberta, ficando expostos como impostores.
Todos os pseudopacientes foram internados, onze com diagnóstico de esquizofrenia e um com psicose maníaco-depressiva: ficaram internados entre 7 e 52 dias, com uma média de 19 dias. As equipas médicas não detectaram a simulação, mas 35 dos 118 pacientes reais com os quais os pseudopacientes entraram em contacto expressaram suspeitas, alguns de forma enfática: "Você não está louco, você é um jornalista ou um professor universitário que está verificando o hospital". Comportamentos normais, como tomar notas, foram catalogados quais sintomas da doença.
O experimento previa que os pseudopacientes saíssem do hospital por conta própria, levando o hospital a liberá-los, embora um advogado fosse mantido em espera para emergências caso ficasse claro que os pseudopacientes não seriam liberados num curto prazo.
Uma vez admitidos e diagnosticados, os pseudopacientes não foram capazes de obter a libertação até concordarem com os psiquiatras que estavam mentalmente doentes e terem começado a tomar medicamentos antipsicóticos, que na verdade eram atirados para o banheiro. Nenhum membro das equipas hospitalares percebeu que os pseudopacientes não estavam a tomar a medicação.
Todos os pseudopacientes foram demitidos com um diagnóstico de esquizofrenia "em remissão", que Rosenhan tomou como prova de que a doença mental é percebida como uma condição irreversível, criando assim um estigma de toda a vida ao invés de ser considerada uma doença curável.
Segunda fase
Para a segunda parte da experiência, Rosenhan utilizou um conhecido hospital de pesquisa e ensino,
cuja equipa tinha ouvido falar dos resultados do estudo inicial, alegando que erros semelhantes não poderiam ter acontecido naquela instituição.
Rosenhan concordou com a instituição que, durante um período de três meses, um ou mais pseudopacientes tentariam ganhar a admissão e que o pessoal médico classificasse cada paciente como real ou como impostor. Dos 193 pacientes, 41 foram considerados impostores e outros 42 foram considerados suspeitos.
Na realidade, Rosenhan não tinha enviado nenhum pseudopaciente e todos os pacientes "impostores" ou "suspeitos", segundo a equipa do hospital, eram pacientes comuns.
Rosenhan publicou as suas descobertas na revista Science, criticando os níveis de confiança dos diagnósticos psiquiátricos, a falta de responsabilização, a natureza e a assistência humilhante ao paciente encontrados pelos pseudopacientes durante o estudo. O artigo gerou uma explosão de controvérsia e a experiência acelerou o movimento para reformar as instituições mentais e demitir muitos pacientes (por quanto possível).
Quão louco és tu?
Em 2008, o programa de ciência Horizon da BBC realizou um experimento relacionado com aquele de Rosenhan num programa intitulado How Mad are you? ("Quão Louco és tu?"). O experimento envolveu dez indivíduos, com cinco condições de saúde mental, previamente diagnosticadas, e cinco sem diagnóstico.
Foram observados por três especialistas em diagnósticos de saúde mental e o desafio destes era identificar os cinco com problemas apenas a partir do comportamento, sem falar com os sujeitos ou ler algo acerca das suas histórias. Os especialistas diagnosticaram corretamente dois dos dez pacientes, identificando incorretamente dois pacientes saudáveis como tendo problemas de saúde mental.
Ipse dixit.
Fontes: AS Psychology - Rosenhan, D.L.: On being sane in insane places (1973), BBC News - How mad are you?, BBC - How Mad Are You? (Parte 1, Parte 2)