Preferem viver num mundo dominado por um imprevisível imbecil ou num mundo onde o líder é uma provocadora de guerras que faz só os interesses da elite?
A resposta normal seria: "Mas um mundo não dominado seria possível?". Não, lamento. E o tempo acabou: ganhou o imprevisível imbecil.
Apelido: Trump. Nome: Donald. Exacto: como o pato. Que, diga-se, também faz os interesses duma elite. O Donald entendo, não o pato. Só que é uma elite um pouco mais pequena. É já algo (talvez).
O Presidente imbecil introduziu uma taxa de 25% sobre a importação do aço e de 10% sobre as importações de alumínio. Pode não parecer uma grande notícia afinal, mas é. Aliás: é uma notícia enorme. Porque é a primeira medida, desde tempo imemorável, que vai contra a globalização. É uma medida já rotulada como "populista". Então seja bem vindo o populismo. Porque podemos gostar ou não, mas Trump tinha prometido isso ao longo da campanha eleitoral e a verdade nua e crua é que manteve a promessa. Tomara outros tivessem mantidos as suas de promessas (tipo Obama-Guantamano).
O Presidente Trump permanece qual imbecil, mas quem o controla pode deve ter notado o constante declínio da economia americana, com um desemprego real acima de 20% (muito longe do ridículo 5% das estatísticas), com infra-estruturas a desmoronar, num País mergulhado no mar lixo que produz. E decidiu enviar um sinal, muito claro.
Porque impor taxas sobre produtos importados é o anti-Cristo da globalização, a suprema heresia. É uma verdadeira criminalização da economia. Impor taxas aduaneiras significa tentar trazer a produção e o trabalho de volta para casa, principalmente para o mercado interno e só depois para o comércio internacional, de forma que o "livre mercado" não prejudique a economia local.
Em boa verdade, Trump (ou melhor: quem manda nele) não inventa nada de novo: é esta a receita que ajudou a retirar os Estados Unidos da depressão dos anos '30; é a receita que na Europa salvou a Alemanha do desaparecimento na mesma altura e que permitiu o renascer do Velho Continente após a Segunda Guerra Mundial. Obviamente não digam isso na cara dum economista moderno, sob pena de ser rotulados de "populista" e "xenófobo". Mas a História aí está, é só ler.
É uma notícia "enorme" porque os chamados acordos de livre comércio (FTA) e os acordos comerciais com vários Países (NAFTA, TTIP e TPP) vão todos na direcção exactamente contrária. Todos, indiferentemente, favorecem o objectivo de maximizar o lucro das corporações americanas, mas não a economia local dos vários Países, nem aquela dos Estados Unidos. Portanto, Trump está certo quando afirma que todos esses acordos comerciais não foram úteis para o seu País: eram e são uma mina de ouro para as corporações, mas em boa verdade prejudicaram a economia nacional dos EUA. São incentivos para que produção e serviços sejam cada vez mais transferidos para Países com mão de obra barata. Não acaso: o primeiro (FTA) está na fase de renegociação e os dois últimos (TTIP e TPP) estão suspensos.
Ao conceder incentivos fiscais às corporações para investir em casa, e não em Países de baixos salários, e ao impor taxas sobre as importações, Trump está a dar um passo decisivo para reavaliar a hesitante economia dos EUA. Será que vai funcionar? Pode ser. É cedo para dizê-lo. A economia não é uma ciência exata, mas sim o resultado de uma interação dinâmica entre elementos diferentes e às vezes imprevisíveis. As verdadeiras economias não estão baseadas numa série de projetos que dizem "branco ou preto", como as teorias neoliberais querem fazem crer; a economia real não é feita de modelos construídos com algoritmos. Restaurar a confiança do trabalho local pode ter um efeito que vai muito além do investimento de capital.
Seria um delito esquecer uma das poucas coisas inteligentes que Trump disse nos últimos 72 anos: no Fórum Económico Mundial em Davos, o Presidente afirmou que todos os parceiros americanos deveriam pensar Make my country great again ("Tornar o meu País grande novamente"). Não é um pensamento muito "globalizador".
Claro, haverá rumores, talvez "retaliação" da China, do Japão, até da Europa (que, lembramos, não é escrava dos EUA mas duma parte da elite americana). Pouca coisa. O que importa é que demorou 30 anos para perceber que quem ganha é apenas uma pequena elite, aquela das corporações internacionais, enquanto quem perde são todas as outras empresas, as economias nacionais, os trabalhadores.
Temos que esperar economistas alarmados, revoltados, zangados, pasmados e tudo aquilo que acaba em "-ados", porque o Ocidente corporativista hoje exige um mercado livre sem confins. Não pode ser posto em discussão o modelo económico globalizante, lembremos as palavras de George Bush: "Connosco ou contra nós".
Trump é um personagem muito imprevisível. Ameaça "fogo e chamas" contra a Coreia do Norte, depois está pronto para sentar-se com Kim Jong para ver quem tem o botão vermelho maior. Trump é sempre o Presidente dos Estados Unidos, é um típico produto made in USA: nada de ilusões, é um americano, o que não é um grande elogio. Certamente não é uma panaceia para todos os males do mundo: Trump fará sempre os seus interesses em primeiro lugar, em segundo lugar os interesses de quem o fez eleger, em terceiro lugar os interesses dos Estados Unidos, nunca os nossos. Trump é basicamente um empreendedor, um especulador, um homem de lucros: inútil esperar dele o que não pode nem quer dar. Nem sabemos ao certo o que há atrás dele e tem sempre a possibilidade de não acabar o mandato pois os EUA têm uma boa tradição em matéria de Presidentes que atropelam balas de chumbo.
E, em qualquer caso, Trump continua a ser um imbecil: o seu conselheiro económico, o neocolonialista Gary Cohn, não viu lógica no percurso do Presidente e pediu a demissão. Talvez Cohn tenha razão, talvez o percurso dum imbecil só pode ser um percurso imbecil. Mas, dada a situação, por aqui a gente está pronta a contentar-se com tudo, até dum imbecil, desde que algo mude. Porque com a outra, a não-imbecil, nesta altura já estaríamos em guerra, não tenham dúvidas.
Ipse dixit.
Max
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