O Leitor não consegue encontrar o botão "play"? Claro que não, o vídeo não está aqui por uma questão de escolha: as imagens são brutais. Verdadeiras ou falsas que sejam.
É um vídeo de 7 minutos e meio, em idioma árabe; mas o que conta, como é óbvio, são as imagens. O que pode ser visualizado nesta nova realização do ISIS?
- um carro com 4 prisioneiros feitos explodir com uma granada RPG (tudo gravado com várias angulações).
- uma gaiola com 5 prisioneiros, imergida numa piscina até todos morrerem (também com câmaras subaquáticas).
- outros 6 prisioneiros feitos literalmente explodir.
Inútil acrescentar o facto destas serem imagens fortes, não idóneas no caso de sujeitos sensíveis e adapta só a um público adulto. Se, mesmo assim, o desejo for assistir ao vídeo, é preciso clicar neste link.
Ok, agora um par de considerações.
Até pouco tempo atrás, o format de sucesso era aquele da decapitação. Pegava-se num prisioneiro, um bruto vestido de escuro com cara tapada, uma espada: seguia-se uma curta declaração e depois a decapitação.
Mas agora o ISIS decidiu ir além: cada realização é uma invenção nova. Já tivemos presos queimados vivos, 12 cristãos decapitados à beira do mar (na Líbia, numa sequência fotográfica falsa), agora é prisioneiros explodidos, afogados, cada vez com uma modalidade diferente. Sempre presos com fardas da mesma cor, que parecem novinhas em folha, e um realizador que deve ter visto toda a série C.S.I.
Um autêntico festival do horror que já começa a ter contornos absurdos.
Estes vídeos são verdadeiros ou falsos? Paradoxalmente pouco importa: há uma guerra naquelas terras, uma guerra verdadeira onde morrem diariamente muitas pessoas, sejam soldados, milicianos ou civis. O ponto é outro: qual a razão que está atrás da difusão de imagens tão horripilantes? Qual a necessidade de propor ao público (em particular, aquele ocidental) cenas cada vez mais brutais?
É importante notar como aqui nada tenha a ver com o Islão: em nenhuma página do Al-Corão podem encontrar instruções para afogar os infiéis numa gaiola. Estas são invenções que podem fazer lembrar o pior Quentin Tarantino, não Allah.
Então? É só a vontade de "assustar" o Ocidente?
O ISIS não tem esta necessidade: a sua existência é já por si o sinal de que pode existir uma realidade "brutal". Vamos esquecer o que sabemos acerca de quem fica atrás do ISIS, quem o criou, quem o financia, etc.: ficamos apenas com a mensagem superficial, a propaganda.
O ISIS já deixou bem claro ser uma entidade que não quer nem admite compromissos, algo com fortes traços primitivos, carregada duma determinação fanática e dum ódio antigo que pode ser só saciado com o sangue dos inimigos. E algo que o Ocidente parece não conseguir eliminar, como demonstram os avanços e os recuos das forças americana-iraquianas na frente de batalha.
Estes vídeos horripilantes, portanto, têm outros fins. Um é continuar a assustar, sem dúvida, tanto para manter elevada a tensão. Depois é obrigar o mundo dos media e também aquele da informação alternativa a tratar do assunto. Mas há umas perguntas que acho serem interessantes: quem pode falar a linguagem que conhecemos e à qual estamos habituados? E por qual razão? Porque fomos progressivamente acostumados a este tipo de violência? E porque as mesmas idênticas palavras são agora utilizadas por parte de quem, em teoria, fica tão longe da nossa visão da sociedade?
A linguagem hollywoodiana do ISIS tem um objectivo: não o Ocidente no geral, mas nós, as pessoas.
E o fim não é assustar, nem mostrar os "valores" do Islão. O fim é depositar algo nas nossas consciências. O que é este algo? Não sei, de certeza algo que um psicólogo ou, melhor ainda, um sociólogo poderiam explicar bem melhor do que eu: o discurso não é tão simples como parece.
Por aqui ficamos com as coisas simples: há o Bem dum lado (nós, como sempre) e o Mal do outro (os diversos, os intolerantes, os brutos, os primitivos, os insensíveis, os contrários ao nosso sistema, aos nossos valores). Isso justifica tudo: o envio de tropas para outros Países, as medidas de controle mais apertadas, o dinheiro gasto na segurança e nas forças armadas.
Os vídeos do ISIS reforçam isso tudo.
Portanto, num mundo com um mínimo de lógica, o ISIS nunca realizaria vídeos como estes. São contrários aos interesses dele, só afastam os islâmicos moderados (que são a grande maioria dos muçulmanos), conseguem atrair apenas fanáticos dum lado e o desdém da comunidade internacional (islâmica incluída) do outro, justificam o "empenho" (por assim dizer...) do Ocidente contra o Estado Islâmico.
Isso num mundo com um mínimo de lógica.
No nosso mundo, pelo contrário, é perfeitamente normal que circulem vídeos como estes, onde quem sabe que está preste a morrer fala calmamente perante uma câmara, vestido com a sua farda bem engomadinha (as mesmas de Guantanamo, têm todos o mesmo fornecedor?), não chore, não ofereça resistência e nem pareça particularmente assustado. Normal também que tudo isso seja "vendido" como obra do imbatível ISIS...
Ipse dixit.