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O regresso da bomba

25 de Maio de 2016, 11:57 , por Informação Incorrecta - | No one following this article yet.
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Na passada Segunda-feira, o Ministério da Defesa russo tem convocado o responsável militar da Embaixada dos EUA na Federação Russa por causa dum curioso "acidente".

No dia 22 de Maio, a Defesa Aérea de Moscovo identificou um Air Force RS-135 dos EUA em fase de reconhecimento sobre o Mar do Japão, perto da fronteira da Federação Russa. O avião efectuou o voo com o transponder desligado e nem o rumo tinha sido comunicado ao controle regional: o resultado destas acções por parte da tripulação americana tinha sido a criação dum real perigo de colisão com aeronaves civis.

O que sem dúvida é parte da preocupação russa, mas há mais do que isso. Tais incidentes estão a ocorrer com um ritmo não visto desde a Guerra Fria: é claro que hoje a tecnologia encontra-se mais avançada, mas continua a ser um jogo muito arriscado que tem como pano de fundo o fantasma dum conflicto nuclear.

Será este um medo excessivo? Somos hoje mais conscientes dos perigos ligados ao uso da bomba atómica?

Nas últimas semanas, o Wall Street Journal publicou um artigo intitulado Would the U.S. Drop the Bomb Again? ("Os EUA soltariam a bomba de novo?"), inspirado na próxima visita do simpático Barack Obama em Hiroshima, a primeira dum presidente dos Estados Unidos: no texto, como é fácil imaginar, os dois autores, Scott D. Sagan e Benjamin A. Valentino, perguntam se a América estaria pronta a utilizar novamente a arma atómica, tal como já fizeram em duas ocasiões, em Hiroshima e em Nagasaki.

A bomba de Hiroshima
Os dois professores realçam que em Setembro de 1945, um mês após o lançamento das duas bombas, uma pesquisa demonstrou que 53% dos entrevistados concordava com as ações da Casa Branca e apenas 4% respondeu que não teria utilizado armas nucleares. Ao longo dos anos o consenso sobre o uso da energia atómica diminuiu drasticamente, em particular quando relacionado com as armas: mas como será hoje o juízo acerca da acção dos EUA em 1945?

É o mesmo artigo que responde à pergunta, com os dados duma pesquisa realizada em Julho do ano passado, em ocasião do septuagésimo aniversário dos dois ataques atómicos: 28% dos entrevistados disseram que concordavam com o ataque atómico, enquanto 32% teriam optado para uma acção de demonstração como o lançamento duma atómica numa área despovoada. Nada menos que 3% afirmaram lamentar que os Estados Unidos não tivessem aniquilado o Japão utilizando muitas mais bombas nucleares.

Os autores concordam que o uso das armas nucleares desde o fim dos anos quarenta tornou-se um tabu, e as percentagem da pesquisa demonstram como a maioria dos americanos de hoje não concorda com o bombardeio nuclear de 1945. Mas sobra uma dúvida: e se Washington tivesse que enfrentar uma análoga situação, outra vez? Se os EUA fossem alvo duma nova Pearl Harbor, por exemplo?

Para eliminar qualquer dúvida, Sagan e Valentino encomendaram um novo estudo em que o cenário apresentava mesmo isso: um novo ataque ao estilo de Pearl Harbor e a resposta dos EUA que os entrevistados considerariam lícita.
Hiroshima

O cenário preparado é o seguinte: os Estados Unidos acusam o Irão de violar o acordo sobre o nuclear assinado no ano passado e impõem pesadas sanções contra o País dos Ayatollah. Teherão reage atacando um porta-aviões americano no Golfo Pérsico, o que provoca a morte de 2.403 pessoas, o mesmo número de vítimas do ataque em Pearl Harbor.

Então, continua o cenário, o Congresso em Washington declara guerra contra o Irão e exorta os Ayatollah a uma rendição incondicional. Os generais apresentam ao Presidente dos EUA duas opções: um ataque no terreno para ocupar Teherão, o que custaria 20.000 americanos mortos, ou o lançamento duma bomba atómica contra uma cidade perto da capital iraniana, o que causaria 100.000 vítimas entre a população civil (o mesmo número de mortes de Hiroshima).

O resultado desta pesquisa não deixa muitas margens para dúvida: 59% dos entrevistados aprovariam a utilização da energia atómica e a percentual não desce nem que o total dos civis iranianos caídos for de 2 milhões. A conclusão é que para os americanos o uso de armas nucleares não é um tabu, mas uma opção que deve ser mantida em conta no caso dum conflito.

Resumo: qualquer pessoa que estará na Casa Branca terá menos escrúpulos em utilizar a atómica, consciente de que isso não faria cair as simpatias dos eleitores. E é claro também  que pesquisas como estas fazem parte do esforço para criar um clima favorável à guerra, mesmo que isso implique a possibilidade de recorrer às armas nucleares.

Todavia há um pequeno pormenor: em 1945 apenas os EUA tinham a bomba atómica, os Nazistas andavam perto enquanto a União Soviética lá teria chegado só em 1949. Mas hoje o panorama é bem diferente. Os Países que dispõem de armas nucleares aumentaram: EUA, Rússia, China, França, Reino Unido, Índia, Paquistão, Coreia do Norte e israel.


E a clássica bomba atómica hoje nem é o único pesadelo. Sempre em temas de nuclear há os dispositivos de dispersão radiológico (RDD, a chamada "bomba suja"), a bomba de nêutrons, a bomba ao cobalto. Sem esquecer a bomba hidrogénio, a mais potente de todas: 50 vezes mais forte do que qualquer bomba nuclear clássica...


Ipse dixit.

Fontes: Wall Street Journal, Cambridge University Press: Atomic Aversion: Experimental Evidence on Taboos, Traditions, and the Non-Use of Nuclear Weapons

Fonte: http://feedproxy.google.com/~r/InformaoIncorrecta/~3/nOJNZV1Gl3c/o-regresso-da-bomba.html