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Os políticos são estúpidos?

5 de Maio de 2015, 13:44 , por Informação Incorrecta - | No one following this article yet.
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Um artigo muito simpático do diário inglês The Guardian. Aparentemente muito "leve" mas na verdade nem tanto.

A pergunta é: por qual razão elegemos idiotas?

Esqueçam a política serva de bancos & finança, a falsa Democracia na qual vivemos e tudo o resto. Aqui a questão é diferente: por qual razão nós continuamos a eleger idiotas?

Os políticos têm uma reputação realmente em baixo. Não que seja o maior defeito, e nem é correcto pensar que todos sejam estúpidos: aliás, é estúpido pensar uma coisa desta. Se assim fosse, o mundo inteiro já teria entrado em colapso. Mesmo assim, todos pensamos mal dos políticos e, verdade seja dita, em muitos (demasiados) casos há razões para isso.

Por exemplo: um político implementa uma má decisão? É um idiota. Muda de ideia? É fraco ou vendeu-se. Promete cortes dos impostos ou aumento da despesa? Mente. Quer fazer o contrário? Diz a verdade. Tudo isso é normal: é impossível agradar a todos, haverá sempre pessoas descontentes e só nos regimes totalitários os eleitores parecem (e "parecem" só) estar todos satisfeitos.

Há pessoas que entram na política não para interesse pessoal mas para o bem comum. Da mesma forma, há pessoas inteligentes que se dedicam à isso. Mesmo assim, temos de admitir: uma Sarah Palin não é propriamente o melhor resultado de 2 milhões de anos de evolução. E um George W. Bush até poderia ser o sinal de que a espécie tenha iniciado o processo inverso. E estes não são os únicos dois: exemplos de políticos que parecem (e em alguns casos provavelmente são) "limitados" não faltam.

Por qual razão? Como é que pessoas que mostram uma inteligência não propriamente brilhante alcançam posições de relevo na nossa sociedade, sobretudo no âmbito político? Em teoria, os eleitores deveriam premiar uma pessoa que demonstra a sua inteligência, que aparenta entender as melhores formas de governar um País. Mas não é assim: em alguns casos (repetimos, não em todos) as pessoas parecem atraídas por indivíduos com uma capacidade intelectual questionável. E estes indivíduos eleitos até alcançam o topo da sociedade (o caso de Bush).

A resposta não é simples, pois há toda uma gama de factores envolvidos, incluindo aqueles ideológicos, culturais, sociais, históricos, financeiros; mas há também processos psicológicos que contribuem para este fenómeno. E estes são muito interessantes.

A segurança inspira segurança

As pessoas auto-confiantes são mais convincentes. Isso tem sido provado em muitos estudos.

Uma testemunha é mais convincente com afirmações firmes, do ponto de vista do júri, quando comparada com uma nervosa e hesitante. Isso, como é claro, tem implicações preocupantes no âmbito da Justiça, mas o mesmo se passa em outras áreas.

Imagine o Leitor num concessionários de automóveis, com um vendedor que gagueja, que transpira enquanto tenta juntar alguns argumentos de venda. E imagine a mesma situação com um vendedor descontraído, que emana certezas. O conceito é este: a segurança inspira segurança. E os políticos estão perfeitamente conscientes disso, tal como todos os meios de comunicação: um candidato político que não espalhe certezas e confiança (sintomas de segurança) é logo destruído.

Reparem quanto é difícil encontrar no discurso dum político expressões como "talvez", "se calhar", "pode ser que". Pelo contrário, os políticos falam sempre por axiomas, as palavras deles são sentenças.

Mas não é apenas "marketing": as pessoas menos inteligentes são incrivelmente auto-confiantes. E este não é apenas um lugar-comum.

Dunning e Kruger

O Efeito Dunning-Kruger é o fenómeno pelo qual indivíduos que possuem pouco conhecimento sobre um assunto acreditam saber mais de que outros, mais bem preparados, fazendo até com que estas últimas tomem decisões erradas e cheguem a resultados indevidos. Estas pessoas com pouco conhecimento sofrem duma superioridade ilusória e isso tem consequências nas pessoas mais inteligentes.

A verdadeira competência pode enfraquecer a autoconfiança e algumas pessoas muito capacitadas podem sofrer de "inferioridade ilusória", subestimando as suas próprias habilidades, chegando a acreditar que outros indivíduos menos capazes sejam superiores.

Porquê? Porque a pessoa inteligente duvida, o estúpido não.

O fenómeno foi demonstrado numa série de experimentos realizados por Justin Kruge e David Dunning, na altura ambos da Universidade de Cornell (Estados Unidos). Os dois pesquisadores propuseram as seguintes hipóteses, dada uma habilidade típica que humanos possam possuir em maior ou menor grau:
  • indivíduos incompetentes tendem a sobrestimar o seu próprio nível de habilidade;
  • indivíduos incompetentes não reconhecem a habilidade genuína nos outros;
  • indivíduos incompetentes não reconhecem o grau extremo da sua própria incapacidade;
  • se treinados substancialmente para melhorar o seu nível de habilidade, estes indivíduos serão capazes de reconhecer e admitir a sua prévia falta de habilidade.
Kruge e Dunning estavam certos.
A auto-avaliação é um habilidades meta-cognitiva que exige inteligência; sem suficiente inteligência, não podemos considerar-nos ignorantes, simplesmente porque não temos a capacidade técnica para fazê-lo.
Então, se a ideia for escolher uma pessoa intrinsecamente confiante para representar um partido político, uma pessoa inteligente seria uma má escolha sob muitos pontos de vista, porque a "forma" como se apresenta uma ideia pode ser mais importante do que o conteúdo.

Todavia há o outro lado da moeda: alguns estudos têm mostrado que quando uma pessoa muito confiante for apanhada a mentir ou errar, é considerada muito menos fiável e credível do que uma pessoa não segura de si mesma. Isto pode explicar, em parte, a má reputação dos políticos: falam por axiomas, mas falham e o eleitor fica muito aborrecido, sente-se traído.

Entender isso é também simples: uma coisa é alguém que promete algo "de certeza" e depois não cumpre, outra coisa é alguém que promete esforçar-se para dar este algo mas deixa claro que pode falir.

É tudo? Não, não é. Porque depois há o problema das palavras. Que, lembramos, têm uma força esmagadora.

As banalidades de Parkinson

Uma pessoa bem informada provavelmente irá apresentar dados, conceitos, diagramas. E o que faz o eleitor perante isso? Adormece.

Vice-versa, um candidato que jure existir uma solução simples (e possivelmente rápida), que fale a "língua do povo", é alguém que mantém acordado o espectador.

A política é complicada, gerir um País de milhões de indivíduos é tarefa complicada e raras são as pessoas que têm o dom de fazer entender conceitos extremamente sofisticados numa linguagem muito simples e condensada. Também porque em muitos casos os eleitores nem querem saber de conceitos complicados. Acreditem ou não, há uma lei também que descreve isso: a Lei de Parkinson.

Cyril Northcote Parkinson foi uma pessoa particularmente aguda, que forneceu muitos instrumentos para analisar o comportamento no âmbito do trabalho, da publica administração, do estudo e mais ainda. Ele partiu da observação duma comissão cuja tarefa era aprovar os planos para uma usina de energia nuclear e que passou a maior parte do tempo em discussões inúteis sobre assuntos relativamente triviais: eram assuntos de pouca importância mas fáceis de entender. E o mesmo efeito (efeito bikeshedding) pode também ser encontrado entre nós, os eleitores: as pessoas gastam muito mais tempo e esforços focalizadas em algo efémero mas que conseguem entender, em vez de algo complicado, mais importante, mas que não podem compreender.

Isso é importante, porque na primeira situação (coisa banal mas simples) existe a possibilidade duma maior participação do público e, portanto, de influência. Os candidatos que reduzem os grandes problemas para algo de simples, rápido e inevitavelmente impreciso são potenciais vencedores. Se o candidato for também limitado (não muito dotado do ponto de vista da inteligência), como vimos, será também mais confiante, mais convincente.

Uma das frases mais citadas de George W. Bush era aquela segundo a qual as pessoas sentiam que ele era uma alguém com a qual seria possível "tomar uma cerveja" (isso pensava ele). Portanto, as pessoas sentiam que o simpático Bush era alguém com o qual era possível conectar-se, sentiam-lo perto.

Pelo contrário, o elitismo é uma qualidade fortemente negativa. A ideia de que aqueles que governam o País possam estar "fora" das normas da sociedade é alarmante, provoca uma instintiva rejeição: daqui os constantes esforços dos políticos para "encaixar" na definição de "amigão", mesmo que tal não sejam.

A maioria das pessoas é naturalmente inclinada para preconceitos inconscientes, estereótipos, e preferem ficar num "grupo" (a nossa antiga tribo). As pessoas não gostam ouvir o que não querem ouvir e estão terrivelmente ligadas ao status social; precisamos de nos sentirmos superiores aos outros para pensar que nós continuamos a valer a pena.

Como resultado, alguém "que sabe" mas que diz coisas complicadas, que contêm factos inconvenientes (e precisos), não desperta qualquer interesse; alguém claramente menos inteligente mas que não perturba a nossa percepção do status social, que afirma coisas (como preconceitos) simples e que talvez de forma intrínseca nega os factos desconfortáveis, este terá a nossa instintiva preferência.

...e nós?

É uma situação lamentável, mas é assim que parece funcionar a mente das pessoas. Claro: há muito mais do que isso, estas são apenas linhas gerais e há excepções.

Portugal, por exemplo, vive numa situação retrograda que ainda valoriza o título académico das pessoas em detrimento da sua capacidade de "conectar-se" (o presidente da República, o traidor Cavaco Silva, é um bom exemplo disso); mas, como dito, estamos perante uma excepção, que neste caso tem a ver com o sentimento de inferioridade dos Portugueses, portanto uma área completamente diferente.

Todavia, voltando ao assunto, é precisa uma reflexão: afinal o que oferecem os políticos? Exactamente o que os eleitores querem ouvir. Portanto: os políticos são a expressão da consciência do povo. São a consequência directa das nossas escolhas: são o nosso espelho.
Custa ouvir isso? Ah pois, custa...


Ipse dixit.

Fontes: The Guardian, Wikipedia (versão portuguesa), Library

Fonte: http://feedproxy.google.com/~r/InformaoIncorrecta/~3/npnqCXEJnrU/os-politicos-sao-estupidos.html