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Os seres humanos do futuro - Parte II

15 de Março de 2018, 16:30 , por Informação Incorrecta - | No one following this article yet.
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Nos últimos anos, vários ambiciosos projectos entraram em funções, sobretudo no campo da
neurociência, com um único objectivo: aumentar as habilidades humanas.

Elon Musk é o criador de um desses: Neuralink, a empresa dedicada à criação de uma interface homem-máquina que, através de um "lasso neural", visa aumentar as capacidades do cérebro humano. As primeiras aplicações possíveis são médicas: pessoas que sofrem de doenças neurológicas, como Parkinson ou Alzheimer, poderiam beneficiar enormemente do desenvolvimento duma tecnologia desse tipo, como já acontece graças a técnicas experimentais que envolvem a inserção de elétrodos sem fio no cérebro, âmbito no qual foram alcançados sucessos notáveis.
Mas para o futuro a esperança é utilizar a tecnologia para aumentar a memória, poder aprender de forma mais rápida e talvez desbloquear o segredo da telepatia. As experimentações médicas neste sector estão a multiplicar-se; mas representam apenas a ponta do icebergue, a nobre justificação para continuar o desenvolvimento de dispositivos que, no futuro, possam fazer com que todos nós possamos controlar as máquinas, receber informações dos computadores e comunicar usando apenas o cérebro.

Até outros projectos mais realistas parecem perseguir os mesmos objetivos: a equipa da Universidade de Oxford liderada por Roi Cohen Kadosh está a estudar como a estimulação elétrica do cérebro se realiza através do TRNS (Transcranial Tandom Noise Stimulation), algo que poderia permitir aprender a matemática muito mais rapidamente. Pessoas submetidas a esses estímulos eléctricos durante as sessões de teste aprenderam com uma velocidade superior em duas ou até cinco vezes, mantendo 30 a 40% deste desempenho após seis meses.

A humanidade geneticamente modificada

Parar aqui? Nem pensar. Passando dos sistemas tecnológicos para o estudo dos genes e dos modelos preditivos baseados no DNA, empresas startups como Genomic Prediction, 23andMe e outras poderiam identificar os genes responsáveis  ​​pela nossa inteligência e, portanto, reconhecer embriões humanos destinados a ter um QI mais ou menos elevado. Também neste caso, as explicações oficiais são apenas médicas: "Vamos revelar apenas as possíveis condições gravemente negativas; nunca diremos que o seu filho se tornará um jogador da NBA ou um génio da física" explica o fundador da Genomic Prediction, Stephen Hsu no MIT Tech Review.

Mas não será fácil monitorizar os desenvolvimentos: já em 2013, 23andMe causou escândalos criando uma patente que, ao permitir que os pais selecionassem os doadores de gâmetas através de cálculos genéticos, parecia ser o primeiro passo para a eugenia. O mesmo Stephen Hsu (que confirmou repetidamente que a sua empresa destina-se exclusivamente a prevenir o nascimento de crianças com doenças graves, o que levanta vários problemas éticos de qualquer maneira) é também o autor de um relatório publicado na revista Nautilus com o título " Os seres humanos super-inteligentes estão a chegar ", no qual explica como, através da edição genética e técnicas como o Crispr (que permite editar o DNA, cortando e colando os genes), poderia tornar-se possível dentro de alguns anos aumentar o QI dos filhos em 15 pontos sem muita dificuldade, com a perspectiva de chegar, um dia, até valores hoje nem imaginados. No ensaio, Hsu explica que a edição genética com o o propósito de aumentar o nosso QI poderia fornecer uma memória visual quase perfeita, um pensamento super-rápido, uma visualização geométrica extremamente poderosa, a capacidade de formular mais pensamentos ao mesmo tempo.

Dúvida: mas por qual razão devemos querer tudo isso? De acordo com Bryan Johnson, fundador da empresa Kernel, a razão é simples:
O mundo tornou-se muito complexo; o sistema financeiro é imprevisível, a idade da população, os robôs querem nosso trabalho, a inteligência artificial está a nos alcançar e as mudanças climáticas não parecem parar. Tudo parece estar fora de controle. Então, porque não devemos decidir em que direção evoluir? Porque não devemos fazer tudo o que pudermos para nos adaptar mais rapidamente?
Portanto, perante as dificuldades duma sociedade mal projectada e ainda pior conduzida, o remédio não é mudar a sociedade mas os homens. Bastante doentio. Sobretudo porque continua a existir algo que parece não pode ser discutido, como se fosse um tabu: a nosso sistema económico.

O culpado do costume

É o Capitalismo (ou aquela coisa que tomou o lugar dele) cada vez mais rápido que dita os ritmos da
evolução humana: forçará no curto prazo a adoptar dispositivos tecnológicos que parecem ter o objectivo de aumentar tanto a produtividade quanto os os consumos, ao mesmo tempo que fornecem cada vez mais dados; as máquinas, com a sombra da AI, obrigam a estudar as técnicas no médio prazo para poder aumentar de maneira drástica as nossas habilidades intelectuais; a crescente complexidade do mundo obriga a evoluir e forma artificial.

Os primeiros sinais da direção que estamos a seguir já podem ser encontrados hoje na disseminação da economia on demand, possibilitada pela tecnologia, que deve empregar 10 milhões de americanos até 2021. Um sistema hiper-liberal que obriga a tornar-se "capitalistas de nós mesmos", recompensando apenas aqueles que são capazes de participar com sucesso num mercado de trabalho cada vez mais competitivo e que exige um grau cada vez maior de preparação e dedicação (abandonando todos os outros). Numa sociedade desse tipo, os primeiros seres humanos que podem aumentar artificialmente a sua eficiência gozarão duma grande vantagem sobre todos os outros, enquanto os primeiros capazes de selecionar embriões oferecerão uma vantagem estratégica aos seus filhos.

Mas quem pode pagar isso? Segundo o MIT Tech Review:
Os primeiros a adoptar tecnologias de seleção de embriões serão bilionários e indivíduos de Silicon Valley. No momento em que começam a produzir menos crianças doentes e mais crianças excepcionais, o resto da sociedade só seguirá.
O próprio Stephen Hsu ecoa estas palavras:
Como acontece com a maioria das tecnologias, os ricos e os poderosos serão os primeiros a beneficiar.
Isso, é claro, não será válido apenas para a edição genética, mas também para a possibilidade de explorar os desenvolvimentos concretos da estimulação cerebral, de projetos como o de Neuralink e outros ainda. E assim, os "ricos e poderosos" terão nas mãos uma ferramenta adicional, ainda mais potente daquelas que já possuem para explorar (e transmitir ) os seus privilégios e aumentar ainda mais a já crescente desigualdade.

AI? Não é o verdadeiro problema

Assim como cava-se cada vez mais fundo para encontrar petróleo, da mesma forma o homem é
forçado a tornar-se cada vez mais produtivo e capaz de satisfazer a sede do crescimento do nosso sistema económico. Em tudo isso, as inovações tecnológicas e biomédicas desempenham um papel fundamental, tornando-nos mais integrados ao digital e, portanto, mais eficientes: no futuro será possível até selecionar cuidadosamente os seres humanos, ficando assim mais racionais, mais inteligentes, mais capazes de tomar decisões, mais rápidos.

Realça o escritor Hugh Howey:
Os computadores são dispositivos muito bem projectados. Todos os vários bits foram projectados ao mesmo tempo e com os mesmos objectivos, e foram projectados para trabalhar harmoniosamente uns com os outros. Nada disso, de qualquer forma, lembra a mente humana. Algumas funções cerebrais foram construídas há centenas de milhões de anos, como as que fornecem energia às células. Outras foram construídas há milhões de anos, como aquelas que disparam os neurónios e se certificam de que o sangue é bombeado e o oxigénio inalado. Em direção ao lobo frontal, encontramos os módulos que controlam o comportamento dos mamíferos.
As diferentes necessidades das diferentes épocas às quais lentamente a evolução humana se adaptou fazem com que o homem ainda hoje responda a necessidades ancestrais que a nossa sociedade há muito abandonou: não é um exemplo brilhante de racionalidade e de eficiência. Porque, então, todos esses medos sobre o risco dos cientistas criarem AI igual ao homem?
Explica Howey:
O objectivo não deveria ser esse. O objectivo deveria ser ir na direção oposta. Depois de milhões de anos de competição pelos recursos, o algoritmo do cérebro humano hoje causa mais problemas de quantos consiga resolver.
E de facto é assim: o problema não é criar inteligências artificiais iguais ao Homem, porque a direção que tomamos é a oposta. Para garantir que a nossa sociedade continue a perseguir o mito do crescimento, somos nós que estamos a tentar ficar cada vez mais eficientes, mais racionais e produtivos, tal como a melhor das AI. Mas isso às custas da nossa humanidade e, provavelmente, do nosso bem-estar.

As inteligências artificiais não são o problema: pelo contrário, se bem utilizadas representariam uma enorme mais valia e poderiam garantir um imenso salto qualitativo na vida de todos. O verdadeiro problema reside nos cérebros de que gere o percurso que levará até as AI e nas intenções que determinarão a sua implementação e utilização.


Ipse dixit.

Relacionados:
Os seres humanos do futuro - Parte I Tech-Gleba - Parte I
Tech-Gleba - Parte II
Tech-Gleba - Parte III
Skills

Fontes: Wait But Why, Kurzweil, Le Macchine Volanti, Wired, MIT Technology Review, Nautilus, Harvard Business Review, Hugh Howey: How to build a self-coscious machine, Il Tascabile

Fonte: http://feedproxy.google.com/~r/InformaoIncorrecta/~3/KfpTuHGLtVM/os-seres-humanos-do-futuro-parte-ii.html