Uma curta notícia nas páginas do Corriere della Sera: um pequeno avião francês precipita perto da
ilha de Malta, mortos os ocupantes. Acontece.
Mas depois iniciam os problemas: o governo francês afirma ser esta uma missão europeia, enquanto Federica Mogherini, a chefe da diplomacia europeia, declara:
O voo não estava ligado a nenhuma actividade da UE.
Curioso, sem dúvida, também porque a França confirma apenas três das nacionalidades dos mortos, limitando-se a afirmar que os outros eram contractors (mercenários). Talvez valha a pena aprofundar o assunto, não é?
Descobre-se assim uma história interessante.
Um pequeno bimotor Fairchild Metroliner MkIII caiu pouco depois de descolar do aeroporto internacional de Luqa, em Malta. A aeronave explodiu no impacto com o solo. Segundo as autoridades maltesas, todos os ocupantes eram franceses, mas Paris não confirma a nacionalidade de todas as vítimas: limita-se a declarar que franceses eram os presentes no avião eram três funcionários do serviços aduaneiros, enquanto os ouros eram dois contractors da empresa luxemburguesa Cae Aviation.
De acordo com o relatório do governo de Malta, os três funcionários estavam ocupados a vigiar as rotas utilizadas por organizações criminosas envolvidas no tráfico de drogas e de seres humanos a partir da Líbia. Mas há algo que não bate certo: já há navios e aviões da União Europeia a desenvolver este trabalho, missões às quais participam meios franceses. Por qual razão utilizar um avião civil com pessoal militar privado (os tais contractors) para a mesma tarefa?
É o que pensa também o diário Le Monde que dá uma versão diferente dos factos: os três franceses pertenciam não aos serviços aduaneiros mas à Direcção-Geral da Segurança Externa (DGSE). Isso é: serviços secretos. e nem seria este o primeiro acidente que envolve os 007 franceses: no passado 17 de Julho, em Haftar (Líbia), três soldados franceses em missão de inteligência morreram após o abate do helicóptero no qual viajavam.
Eis então um cenário alternativo, tal como relatado pelo semanal francês Le Point.
Segundo o Le Point, os dois pilotos faziam parte do GAM 56, uma unidade que assegura o transporte reservado por conta dos serviços secretos franceses durante missões "sensíveis". Os serviços pagam salários, fornecem material tecnológico, pessoal e utiliza contractors para intervenções na área.
Moral da história: desde 2011 a Líbia caiu num caos total, cúmplice um governo filo-ocidental que desagradou a população, as actividades de Al-Qaeda dum lado, do Estado Islâmico do outro, as reivindicações tribais e as intervenções não oficiais de norte-americanos e franceses. O País é rico em petróleo e em gás: com missões "em claro" ou com missões "encobertas", é óbvio que não poderá escolher livremente o seu futuro.
No vídeo: o momento do impacto filmado com uma dashcam (câmara de bordo) dum automobilista de Malta:
Ipse dixit.
Fontes: Il Corriere della Sera, Le Point