Ouçam as pessoas ao vosso redor. Perguntem a amigos que moram em outros países da União. Todos fazem a mesma pergunta: "Como é possível que os Estados Unidos proíbam de negociar com o Irão?".
As pessoas estão ocupadas em outras coisas, mais importantes: futebol, porno, smartphone, política local (mas só as mais cultas). Depois ainda futebol, porno e smartphone. E basta porque já fartaram-se da política. Se alguém tentasse procurar informação encontraria os órgãos de informação unidos em coro: a Síria é má, hezbollah é mau, o Irão é mau, israel é atacado pelos palestinianos com pedras de destruição maciça (por isso têm que responder com balas). E Trump? Trump é louco, mas como é que conseguiram elege-lo, estes americanos são malucos, mas o mundo é assim, as estações já não são que eram, etc..
Os problemas das empresas europeias ficam na página 23 do jornal, secção Economia, a primeira a ser utilizada para limpar os vidros. E nas televisões ocupam programas com títulos como "E de Economia", que como audiência têm não os que jogam em Bolsa (não precisam) mas os reformados com Alzheimer ou donas de casa ao telefone com uma amiga.
E é uma pena, porque com um pouco de atenção seria possível assistir ao primeiro ímpeto... ok, exagerei: ao primeiro soluço independentista da União Europeia. Continua o arguto Guetta:
O problema decorre do fato de que Washington ridiculariza a nossa soberania e Donald Trump alimenta a preocupação ao decidir retirar-se do compromisso nuclear alcançado entre as grandes potências e o Irão.
Hoje, em toda a Europa, opinião pública e governos, incluindo o Reino Unido, condenam Donald Trump e descobrem que a primeira potência do mundo tem, há muitos anos, leis que lhe permitem impor a sua política a outros estados, proibindo que as empresas entrem no mercado americano se o desejo for fazer negócios com países que os Estados Unidos querem boicotar.
É basicamente uma chantagem, e agora que os europeus perceberam isso, despertou um sentimento de aborrecimento na União, levantando várias questões e desencadeando uma consciência, a primeira manifestação de um nacionalismo europeu no qual Emmanuel Macron se apoiou no seu discurso em Aachen.
Com a sua decisão imprudente, Donald Trump forçou a abertura de um debate europeu
É por isso que Macron afirma:
Se aceitarmos que outros poderes, mesmo se aliados, estejam em condições de decidir por nós a nossa estratégia diplomática e de segurança, então perderemos a nossa soberania.
O choque entre os Poderes...
Mas o assunto é muito importante porque é o reflexo da guerra entre os mais altos Poderes.
Bernard Guetta |
É por isso que o jornalista vê pessoas desnorteadas na rua que gritam "Donald, o que fizeste, Donald!". Normal que apoie as ideias europeístas de Macron, porque o projecto da União Europeia é funcional ao desenho das elites económico-políticas europeias. É normal também que Guetta apoie Macron, que é funcionário bancário de Casa Rothschild: não se cospe no prato onde comemos.
Stop, pára tudo: aqui há um problema. Sabemos que os Rothschild são judeus e sionista; Patrick Drahi é judeu e sionista (investe milhões em estruturas de comunicação e redes de informação em israel), o jornalista é judeu, o dinheiro é de editores judeus: como é que falam contra Donald Trump, o melhor aliado de israel sionista?
O ponto é mesmo este: os Poderes não estão todos do mesmo lado, há uma luta muito dura. As corporações não estão todas do mesmo lado. E até no interior do sionismo há duas visões que podem perseguir o mesmo objectivos mas de formas profundamente diferentes.
É apenas uma questão económica? Fundamentalmente sim, é económica, pois um País ou um continente podem ser controlados só se a economia estiver nas nossas mãos. Mas há algo mais, há uma visão política do mundo que é diferente: com Obama o planeta viajava na direcção da globalização, com Trump o percurso parece ser inverso. E isso significa décadas de paciente preparação atiradas para o lixo, com um dos Poderes que agora rema contra.
...e a Europa no meio.
O rugido da formiga é na verdade apenas o eco dum som bem maior: é o som da guerra, não em
nome dum inexistente nacionalismo europeísta; e nem é uma "tomada de consciência" por parte dos políticos do Velho Continente. Pelo contrário, continua a lamber-se a mão do dono: só que este já não tem um amigo sentado em Washington.
Na Casa Branca agora está o simpático Trump que encontrou em israel sionista o aliado perfeito: ambos estúpidos e hipervitaminizados, mostram os músculos e pensam que o mundo é dos fortes. E é, a pacto que além dos músculos haja dois dedos de cérebro também. Este é o ponto fraco deles.
Vice-versa, temos que admitir: a táctica da outra vertente do Poder tem outro nível. A globalização é um projecto complexo, subtil, que pode demorar décadas mas que traz benefícios de longo prazo e uma hipótese acerca do futuro que não tem limites (para quem gere o poder, óbvio). A Esquerda-liberal europeia e aquela americana adoraram esta visão, ao ponto de casar não apenas o livre-mercado em molho capitalista mas até o Poder atrás deste. Dificuldades ideológicas? Sim, claro, mas nada que um cheque com muitos zeros não possa ultrapassar.
Dois blocos, duas visões diferentes, uma guerra de poder, protagonizada por forças económicas preponderantes que disputam a supremacia também política. A União Europeia sai da toca e faz uma clara escolha de campo. Sem surpresa, escolhe a continuidade, optando pelo grupo composto por uma sopa de Esquerda radical-chic, Direita ex-atlantista, sionismo soft, poder económico transacional globalizante.
Entretanto, em Italia parece pronto o governo de Cinque Stelle e Lega, dois movimentos anti-UE que agora estendem a mão para Putin; a Áustria é governada por uma coligação entre Direita e extrema Direita; a República Checa está no meio duma fobia geral contra os migrantes; Polónia e Hungria estão nas mãos dos nacionalistas (como Soros obrigado a abandonar Budapeste); os Países Baixos e os Escandinavos insistem num rigor orçamentário do qual Emmanuel Macron pediu à Alemanha que se libertasse; na mesma Alemanha há quem duvide do Presidente francês; e em Portugal há a crise do Sporting Clube de Portugal, que não tem nada a ver com os problemas europeus mas que, enfim, não deixa de ser uma prioridade absoluta.
Ipse dixit.
Fonte: Internazionale