Dúvidas?
O programa é “A Vida Nas Cartas - o Dilema”, que já pelo título se percebe ser algo profundo; nele actua a taróloga Carla Duarte que, como todos os colegas dela, deveria ser obrigada por lei a procurar um trabalho digno deste nome.
Não satisfeita de ganhar a vida à custa da ignorância das pessoas, a simpática Carla põe o nariz em assuntos que ultrapassam em muito as suas capacidades. Como foi o caso de Maria Glória, senhora que ontem ligou queixando-se de sofrer violência doméstica.
Eis o resultado:
A telespectadora assim se queixava:
Há 40 anos que eu sofro de violação doméstica… Ele bate-me, ele faz-me tudo
Depois tranquilizou Maria: o marido não tem outro relacionamento. E, por breve instantes, Carla a Raposa pareceu ter recuperado o bem do intelecto: “O que interessa se ele tem alguém ou não, mediante o que você tem em casa?”. Exacto: estamos a falar dum verme, não duma pessoa normal, alguém do qual a mulher deveria livrar-se o mais rapidamente possível. Era isso que entendia a simpática Carla?
Não precisamente.
"Ahhhh, ele quer uma mãe, ele não quer uma mulher de si, percebe?"
Mas percebe o quê? Uma mãe?!? Mas este é um gajo que deveria levar uma porrada de todo tamanho e esta emérita deficiente diz que a esposa tem que fazer o papel de mãe?
"Você escolheu este homem e, independentemente de tudo, é com ele que vai ficar"? Sim, ora essa, o casamento é sagrado, uma vez unido um casal não pode separar-se, era só que faltava... Doutro lado nas cartas saiu a Imperatriz e perante este, que é um facto, há pouco para fazer: "Paciência e calma" é a receita.
Depois entra em cena a sabedoria: "Quando damos amor, recebemos amor, mesmo que seja em menor quantidade". Ninguém consegue parar Carla a Raposa: é como um atirador enlouquecido que dispara contra qualquer forma de inteligência em circulação, um autêntico seek and destroy.
"Se você recebe violência, corte este ciclo e não dê violência, nem que seja por palavras". Justo. Não dizia o Cristo para oferecer a outra face? Aqui nada de face mas miminho. Quanto mais o marido bater, tanto mais miminhos a mulher terá que dar. Com um sorriso na cara, podemos imaginar.
"Por muito difícil que isso seja". Carla é raposa e sensível também: entende que pode não ser simples, mas sabe que é a estrada correcta. Nada de ir à polícia, apresentar uma queixa e arrastar a besta para o tribunal. É ficar com a besta, ter paciência, calma, e sobretudo miminhos, tantos miminhos.
Nada mais para acrescentar, não vale a pena.
Para boa sorte, a violência domestica em Portugal é crime público (isso é, não depende da queixa da vítima) e não está subordinada à capacidade de discernimento de certo indivíduos. A propósito: agora esperemos que a SIC retire esta deficiente do ecrã, já são suficientes as infinitas novelas para atordoar as pessoas.
O contacto da APAV (Apoio à Vítima) pode ser encontrado neste link.
No Brasil não conseguiu encontrar uma única organização mas várias: uma lista parcial pode ser encontradas nesta página.
Ipse dixit.